Alice

Por um segundo eu quase me apavorei, tudo bem eu gritei como uma menininha, ei, eu sou uma menininha, mas mesmo apavorada com a ideia de uma de minhas mil e uma formas de morrer em queda livre estar se concretizando, eu realmente confiava em Alli, e nada, nem estar gritando de medo e nem estar á beira da morte, vai diminuir essa confiança.

Então senti a queda estagnar e em um grande ato de coragem, mentira era desespero mesmo, eu abri os olhos e vi que meus braços haviam sido envolvidos em algo que parecia ser cordas, mas eram diferentes porque pareciam feitas de luz, as cordas começaram a me puxar para cima e quando eu cheguei bem perto de onde eu havia caído Alli me puxou com força, me sentei na ponte ofegante e agradecida por estar em terra firme, Alli se sentou ao meu lado e segurou minha mão, eu o encarei e me surpreendi ao ver uma única lágrima em seus olhos.

— Por um segundo... – Ele tentou falar, mas parou e respirou fundo, limpando a lágrima e baixando a cabeça.

— Obrigada. – Murmurei baixinho e ele apenas assentiu. — Você não me deixou cair Alli.

— É... Que seja. – Ele se levantou rapidamente, pareceu um pouco tonto no começo, mas depois se acalmou. —Precisamos andar rápido, tenho a impressão que logo as coisas vão piorar.

— Piorar? Só pode ser brincadeira... – Resmunguei me levantando e encarando o nosso caminho, que agora era duas vezes menor que antes, eu suspirei, imaginando se essa viagem chegaria ao fim. - Ele começou a andar na frente e eu o segui sem muita pressa.

— Anda logo. – Ele pediu revoltado quando notou meus passos de tartaruga e eu me revoltei.

— Acha que to fazendo oque? E anda mais devagar... Eu acabei de quase morrer eu preciso me recuperar. – Reclamei enquanto tentava acompanha-lo. — Seu insensível sem coração.

— Alice você sempre precisa de recuperar.

— Esta dizendo que sou fraca? – Perguntei parando de andar e ele me encarou revoltado.

— Eu nunca disse isso. – Ele se defendeu.

— Mas pensou! – Retruquei em tom de desafio, ele bagunçou o próprio cabelo e suspirou.

— Da um tempo, você lê mente por acaso? Merda, você é irritante.

— Você é um idiota, e não preciso ler mente para saber que todos duvidam de mim.

— Todos? Todos quem? – Ele quis saber e eu respirei fundo, porque ele tinha que ser tão curioso? — Ei, me responda... Quem disse isso?

— Ninguém Alli, ninguém. Agora vamos, não era você que estava com pressa? – Tentei passar na frente, mas ele me segurou meu braço.

— Prometeu que confiaria em mim... Então porque esta fugindo? - Havia algo estranho em sua voz, acho que tinha algo diferente, preocupação? Ó Deus... — Eu sei que não sou a pessoa mais sentimental e emocional do mundo... Mas posso te ouvir, eu quero te ouvir.

— All, eu... Ah, pensei que a gente estivesse em perigo. – Reclamei tentando fazer com que ele me soltasse. — Cadê sua pressa agora? Que coisa não... Quando eu queria não tinha tempo. Como explica isso em?

— Pare com isso... – Ele me olhava nos olhos, oque me incomodou, ás vezes eu esqueço dos sentimentos dele.

— Parar com oque? – Questionei indignada. — Olha só estou querendo seguir até longe desse lugar... Eu quase morri aqui.

— Tudo bem... – Ele murmurou baixo e desviou os olhos, depois me soltou e começou a andar devagar. — Vamos sair daqui o mais rápido possível, este lugar é instável.

— Claro! – Resmunguei.

Nós atravessamos a ponte rapidamente, com cuidado é claro, por algum motivo conseguimos chegar ao outro lado, não fazia sentido antes aquilo parecer não possuir um fim e agora conseguirmos atravessar, mas não foi fácil, volta e meia alguns tremores me assustavam e pequenos pedaços da ponte iam caindo, eu acabei me agarrando a Alli, embora o clima entre nós dois estivesse um pouco tenso, eu não queria magoa-lo e justamente por isso não queria falar sobre certos... Bem, acontecimentos que eu preferiria esquecer a ter que lembrar, talvez se fosse antes eu até poderia contar sem problemas, mas agora? Sabendo do que ele sente por mim? Não, isso poderia magoa-lo, ou enfurece-lo e cá entre nós, não é a coisa mais normal do mundo dizer a um garoto que gosta de mim, que eu já me apaixonei perdidamente por outro, inconcebível e eu ainda posso arruinar o pouco de positividade na minha imagem que eu consegui por aqui.

— Acho que aqui poderemos descansar um pouco antes de seguirmos. – Alli comentou me tirando do meu mundinho interior e me trazendo de volta a realidade, ou uma tentativa de realidade, descansar, nunca fiquei tão feliz ao ouvir essa palavra, eu estava detonada, sem força, assustada e precisava de um belo e longo descanso.

— Ah! Já era tempo! – Exclamei olhando ao redor, o lugar era até bonito, havia areia para todos os lados e ao fundo uma floresta não muito densa, e nem muito menos inabitada, já que havia trilhas em varias partes dela. Lembrava até uma praia, só que sem o mar e sim um precipício, lindo, só que nunca.

— Sim. – Ele se limitou a concordar, eu admito que fiquei por alguns segundos esperando algo mais, porem ele apenas se limitou a observar ao redor, tudo bem certo? Ele concordou comigo, isso é raro, mas não quer dizer que ele esteja chateado, quer? Eu suspirei e sentei na areia, peguei meu punhal, ah, que saudades de poder me sentir armada, então um envelope caiu e eu me lembrei das cartas que Lyh tinha falado, eu o abri e vi que havia 4 folhas cada um endereçado a um de nós, eu peguei a minha e do Alli e guardei a dos outros.

— Alli. – Chamei e ele me olhou de relance, eu ergui a carta dele e ele a pegou e guardou no bolso. — Tem alguma ideia de onde estamos?

Insulam de peccato. – Ele murmurou. — Ilha do pecado. Esse lugar não passa de uma lenda, o que reforça minha teoria de que isso é uma ilusão fatal.

— Ilha do pecado? Eu nunca ouvi falar disso...

— Sete cavalheiros que se perderam do caminho da luz acabaram caindo em uma ilha encantada, os cavalheiros se separaram e seguiram cada um para um canto, as trilhas que você vê, representa cada um dos caminhos.

— Mas tem oito... – Notei e Alli sorriu secamente, como se fosse por educação.

— O primeiro andou sem olhar para onde ia, os seres mágicos o alertavam a cada segundo para tomar cuidado, mas ele nem deu ouvidos alegando ser totalmente capaz de se virar, acabou caindo do precipício, o Segundo viu um belo príncipe descansar na entrada de uma caverna, um fantasma na verdade, o fantasma tocava lira e cantava lindas canções, depois foi para dentro da caverna e o homem o seguiu na intenção de o destruir e tomar seu lugar, este nunca mais voltou.

— Eu definitivamente nunca ouvi isso. – Fui ignorada.

— O terceiro se apaixonou por uma sereia, mas não se sentia confiante para conquista-la e passou a observar sua amada de longe, enquanto procurava formas de ficar tão belo quanto ela, ele parou de comer para ficar em forma, passava horas olhando o próprio reflexo na água, um dia quando tomou coragem nadou até a sereia, esta o desprezou e ele morreu de tristeza, culpando-se por não ser belo como ela. O quarto sobrevivia de frutas e peixe, e achava muito pouco, sempre ansiando por algo melhor, ansiava tanto que não pensava em outra coisa, um dia encontrou muitos cogumelos e os devorou sem pensar duas vezes, mas estes eram venenosos e o homem assim morreu.

— Ninguém tem final feliz nessa história não? - Ignorada novamente.

— O quinto acampou ao lado de um rio calmo e tranquilo, um dia notou que tudo em voltar do rio possuía uma cor dourada estranha e essa cor pegava em tudo mais que se aproximasse, ao encostar sua espada na água essa surpreendentemente ficou dourada, e mais do que isso, ela virou ouro, o homem ficou tão chocado que jogou muitos de seus pertences no rio, depois pôs a mão na água para recolhe-los, mas assim como tudo, ele virou ouro e a quem diga que sua estatua beira os arredores do rio até hoje. O sexto acabou se alojando em um canto qualquer, por que era o mais perto da comida, ele dormia o dia quase todo, dormia tanto que não notou que se alojou perto da toca de um urso, bem... Já deve imaginar como esse morreu... O sétimo decide ir atrás de cada um dos seus companheiros, mas não encontra nenhum vivo, então ele jura se vingar a todo custo, mas acaba enlouquecendo e se perdendo pela floresta. Dizem que ainda hoje quem tem o azar de encontrar o espirito do homem louco.

— Uau! Quem te contou essa história possui uma mente psicopata sério mesmo. – Comentei e ele sorriu. — Mas qual é a do oitavo caminho?

— Ah! É o caminho mais seguro, só que o mais difícil de ser seguido pelos pecadores, o caminho foi criado quando os cavaleiros se separaram. Mas eu não sei muito sobre isso, sabe é... Uma história de Jadis, meu avô nunca teve tempo de me contar o final exato. E também não importa, é só uma história, as lendas de Jadis não possuem muita realidade, eles focam mais no significado, essa história é uma advertência.

— Advertência?

— Dizem que só encontram de fato a ilha, quem cegamente a procura, e estes acabam sempre morrendo... É algo como, talvez, não siga o caminho do mal, ou você pode acabar... – Ele fez uma pausa e olhou para o horizonte. — Morto!

— Inspirador!

— É que seja, vou procurar algum lugar que tenha água ou comida. – Ele disse e saiu andando para dentro da floresta, eu fiquei o observando e depois de um longo suspiro e de reclamar comigo mesma e me perguntar pela milionésima vez o que eu estava fazendo ali, peguei a carta de Ás e comecei a ler mentalmente, a letra dele era meio torta, mas era lindinha:

Leia isso quando estiver só!


Alice, eu sei que não é uma hora muito boa, mas você conquistou minha confiança e provou que estava certo quando trouxe Jas em segurança, te agradeço muito por isso e como consideração, na verdade, é mais por precaução mesmo, eu sei que você se preocupa bastante com esses pirralhos ai, principalmente com Alli, então, conversando com Will eu decidi, que bem,,, Pense assim, a algo sobre o nosso coelhinho arrogante que quase ninguém sabe, um segredo e eu vou te contar esse segredo agora [...] “