Unattainable reality ~ sendo reescrita~

Chama da esperança & Desejos


Sinara

O mundo a minha volta ficou verde claro, os pássaros perdiam cada vez mais a velocidade, eu parei e os encarei confusa enquanto eles iam desaparecendo aos poucos e depois tudo se transformou em um sonho, uma lembrança:

Eu estava na minha casa, deveria ter uns onze anos, sentada num canto do meu quarto lendo um livro e minha mãe entrou animada, devo admitir a ver tão sorridente e alegre me fez quase chorar, só de pensar que agora ela está congelada no tempo, tudo por causa da maldita rainha, só de pensar naquela bruxa a raiva dentro de mim explodiu, na visão minha mãe me abraçou e me deu parabéns, eu retribui com um sorriso sem jeito, estava desanimada, mas é claro que estava, aquela ia ser a primeira vez que eu veria novamente todas as pessoas, e elas me olhariam com pena e iriam sussurrar entre si, “Coitadinha! Passou por tanta coisa, era tão jovem, tão fraca, ver todas aquelas coisas ruins deve ter sido traumatizante para uma criança”, eu sei disso, porque foi exatamente oque aconteceu naquele dia, mas porque eu estava vendo aquilo?

Minha mãe segurou minha mão e me ajudou a levantar, ela me deu um forte abraço e sorriu, a cena mudou para um grande salão, o salão do palácio, como eu havia dito antes todos me olhavam com cara de piedade, para piorar o país estava quase em crise, a rainha havia desaparecido juntamente com o filho, o rei estava com uma grave doença que o deixava enfraquecido, todos diziam que no mínimo ele ficaria em coma por muitos anos, oque de fato aconteceu, e isso deixava o clima pior, mas mesmo assim ele fez questão de fazer uma festa pra mim e ainda fez questão de estar presente, já que eu era a única dama da rainha que ainda estava bem, ou quase bem.

O rei era o encanto em pessoa, ele sorriu a me ver e não me olhou com pena, muito pelo contrário, ele me olhou com orgulho. Ele parecia mais pálido do que o normal, se você considerar que ele consegue ser mais papel que o White, ao seu redor muitos guardas estavam a postos, e um mordomo também, todos preocupados com o rei, mas ele mesmo não parecia ligar.

— Olha só! Você cresceu tanto... Sinto que estou mais velho agora. – Ele disse me abraçando e eu sorri.

— O senhor está é mais jovem que nunca. – Comentei ele riu um pouco.

— Aqui está... – Ele começou a falar, me entregando uma pequena caixa branca. — É seu presente, espero que goste.

— Obrigada Senhor. – Eu abri e vi um lindo colar de esmeralda. — É lindo senhor, eu adorei. – O mordomo a seu lado se aproximou e me ajudou a pôr o colar.

— Que bom que gostou, eu mesmo escolhi, a esmeralda é uma joia importante pra mim, eu já passei por momentos difíceis, em que o mundo parecia ter perdido a cor e o som, mas quando o perigo surgiu eu recuperei minha voz por quem amava, e tudo porque essa joia brilhou no meio da escuridão e me fez perseguir seu brilho até achar o meu. Dizem que essa joia serve de proteção para aqueles que estão viajando, as suas características são o amor incondicional e a confiança, fortalece o coração, nos estimula a viver a vida plenamente e a aproveitá-la ao máximo, por isso esse colar vai sempre lembra-la que não importa oque de ruim aconteça, sempre há uma saída.

Uma empregada havia trazido um espelho e assim que o rei acabou de falar eu me olhei e um pequeno sorriso se formou no meu rosto.

A imagem se distorceu e sumiu, quanto voltei a mim, estava de volta ao mundo cinza que agora era verde, senti que estava chorando, mas dessa vez não tentei enxugar as lágrimas e nem muito menos parar de chorar.

Sim! Eu lembrava perfeitamente daquele dia, porque depois de ouvir aquelas palavras uma chama de esperança se acendeu em meu coração, eu acreditei que pudesse superar qualquer coisa, semanas depois o rei entrou em coma e o país em colapso, a rainha de copas atacou uma vez, mas por sorte conseguimos deixar a capital ilesa, só que ela atacou de novo e dessa vez praticamente todo reino foi congelado e meus pais estão lá, congelados e eu fiquei só, com raiva, com ódio, isso me cegou e eu me esqueci daquelas belas palavras, eu me esqueci do calor da esperança.

Mas agora estou aqui, meu coração se aqueceu novamente, “[...] Não importa oque de ruim aconteça [...]”, ainda chorando eu me levantei, ergui minha arma e atirei no nada, “sempre há uma saída”, com um gesto simples eu fiz a arma desaparecer e enxuguei as lágrimas, segurei a esmeralda com força e olhei para céu, surpreendentemente tudo estava ganhando cor, o céu estava azul e um radiante sol brilhava, eu fechei os olhos sentindo a brisa suave tocar o meu rosto:

— EU JURO! –Gritei o mais alto que pude. — JURO, MEU REI, QUE JAMAIS ESQUECEREI ESSAS PALAVRAS NOVAMENTE.

De repente todo o mundo pareceu se destruir, se quebrar em vários pedaços e cair como cartas de baralho, eu fechei os olhos por um segundo e quando olhei de novo estava na sala branca, a esmeralda na minha mão começou a desaparecer e a voz estranha do além me assustou novamente, francamente isso de ficar assustando os outros deveria ser crime:

— Muito bom, parece que encontrou a joia que aquece seu coração. – Disse a voz e eu respirei fundo.

— E PRA QUE SERVIU TUDO ISSO?

— Apenas os dignos podem encontrar o caminho pra realizar de seus menores a seus maiores desejos. – A voz respondeu calmamente.

— Desejos? Isso não se trata de algo tão fútil como desejos... – Retruquei com raiva.

— Todos temos desejos... Até mesmo você possui um desejo.

— Um desejo, sim eu possuo, mas não é algo como um desejo apenas, É UMA NECESSIDADE.

— Você quer a paz para seu coração. – A voz afirmou.

— Eu quero vingança! – Exclamei e por um segundo ouve silêncio, mas depois a voz começou a rir.

— E depois disso? – Ela perguntou.

— Depois disso... Se você está mesmo na minha cabeça sabe que eu não posso acreditar no depois. – Respondi calmamente.

— Vamos ver por quanto tempo vai pensar assim.

— Não vou mudar de ideia. – Afirmei, uma porta se abriu a minha frente, mas essa era azul enquanto a outra era branca.

— Siga seu caminho e vamos ver até onde quer arriscar.

Com raiva daquela voz estupida eu segui em frente, mas antes de atravessar eu parei e disse:

— Não importa oque você e Erick digam, estou disposta a arriscar minha vida e é oque farei. – E então eu atravessei a porta para o mundo azul.