Umi no Hi

Capítulo 1 - Casa de Mulheres


Os navios britânicos navegavam nos mares em direção a um arquipélago em especial, um arquipélago que era habitado por pessoas bem incomuns; Arthur nunca teria visto tanta gente de olhos pequenos e puxados, homens e mulheres que nem se quer variavam no tipo e nas cores dos cabelos. Sem falar das vestimentas, o que ingleses e franceses até notavam mais do que a própria riqueza da nação descoberta. Os japoneses tinham uma fama de serem pessoas um tanto quietas e extremamente esforçadas, porém, conservadoras dos costumes nativos. Após alguns dias finalmente embarcaram no porto daquele país denominado: Japão, melhor dizendo, Nihon. Os marinheiros que tinham ido àquele lugar pela primeira vez oficial tinham dito que eram até receptivos com pessoas desconhecidas depois de perceberem que vieram em “paz”, também falando que há determinados lugares onde podem passar a noite com mulheres de graça, por simples “cortesia da casa” ou por um preço baixíssimo.

— Pareciam ser umas garotas bem jovens, pelo que vi. – comentava um homem que limpava o vagão.

— Sim, mas eram bonitas até, sem falar da educação. Praticamente agiam como se fossem nossas servas. – contava outro que tirava um barril cheio de suplementos, passariam um tempo indeterminado ali no território – Realmente uma gracinha.

— E vocês passaram a noite tirando as vestimentas dessas jovens, não é? – Arthur perguntava, achando engraçado ouvi-los descrever as mulheres nativas – Vocês vivem sem comida, mas sem mulheres morreriam.

— Certamente, senhor! – respondiam na gargalhada.

O loiro era praticamente um dos comandantes do transporte de navegação onde estava, apesar disso, não gostava muito de ter uma relação muito tensa com os demais ali; por conta disso fazia leves piadas com estes e vice-versa para abaixar o medo dos funcionários, conquistando automaticamente o seu respeito, apesar de se enfurecer às vezes. Mas a sua “característica peculiar” era que nem uma vez na vida dera em cima de uma mulher; ao menos ninguém nunca viu, por mais que a dama fosse linda e inteligente o mesmo permanecia com a mesma educação fria que tinha com outras pessoas.

Descia da embarcação com o capitão para tentar falar com os nativos e negociar outra, ao menos, algumas trocas de produtos e estabelecer alguma relação econômica com o tempo naquela área do país. Observava que pouco falavam alguma coisa, apenas permaneciam com suas caras fechadas e sérias os olhando; por um momento achavam que não estavam entendendo nada do “show de mímica”, mas faziam o possível para serem mais claros possíveis.

O capitão então se aproximou e sussurrou:

— Os nossos que vieram aqui pela primeira vez já tentaram ensinar alguma coisa do nosso idioma para essas pessoas?

— Não sei lhe informar, senhor.

— Assim eles complicam para o meu batalhão!

Foi difícil, porém conseguiram trocar alguns produtos locais com mercadorias inglesas. Não levou muito tempo e foram levados para algum lugar em ato de hospedagem, muitos ficaram em casas onde tinham famílias inteiras, outros, como o próprio capitão com Kirkland, permaneceram em uma casa de mulheres. Pelo menos, era isso que um dos marinheiros lhe dissera antes que pisassem por lá.

Tudo era – apesar do tamanho da casa – voltado à preservação da natureza; haviam até pequenos lagos com peixes no quintal em muitas casas, algo bem incomum nas terras da rainha. Na entrada estava uma mulher idosa, provavelmente os saudando julgando pelo sorriso em seu rosto, e curvando-se. Foram — aparentemente — convidados a entrarem na casa, antes, levando uma “leve” bronca por não tirarem os sapatos para pisar ali dentro (ela apontava para os sapatos deles enquanto gritava). Indo para a sala, haviam cinco garotas ajoelhadas em cima de algum tipo de almofada, todas de kimonos com estampas de flores, duas de coque, uma de cabelo solto e comprido e as duas restantes de tranças, uma moda bem esquisita.

A velha fez sinal para que escolhessem uma para visitá-la de noite, o velho preferiu escolher a de franja com uma trança para trás, o outro preferiu ficar sozinho.

— Você é bobo, Arthur! Olha só isso! Elas estão de joelhos para você! Vai desperdiçar essa chance mesmo? Aproveite que você é solteiro, rapaz.

— A questão é que nenhuma delas me interessa!

O mais velho então olhou para a mulher de cabelos brancos e deu de ombros; agora o barbudo passaria o resto do dia com aquela jovem menina, se aproveitando de sua serventia de todas as maneiras e sentidos possíveis, já o jovem que mais deveria fazer isso do que o barbudo escolheu ficar sozinho. Gesticularam com as mãos por cinco minutos incessantemente e, finalmente, a dona resolveu indicar logo os quartos onde dormiriam; por sorte ficaram separados. Não queria ficar ouvindo os “assuntos adultos” tratados pelo parceiro de navio, até questionava-se se não era melhor dormir na rua em uma ocasião dessas.

Na hora que arrastou a típica porta de madeira e papelão — um material frágil para uma parede — deu de cara com uma garota de costas, ajoelhada e com as mangas enormes rosadas e arregaçadas, arrumando aquele tipo de “cama”. Os cabelos dela eram bem curtos, dando até um pouco além da nuca. O inglês naquele momento não se recordava que essa não estava sentada entre aquelas cinco meninas, talvez fosse a empregada daquele lugar. De repente ouvia a velha berrar, até pulando em um susto e fazendo uma careta.

"SAKURA!"

Em um passo ligeiro já estava em pé, parou diante do hóspede significativamente alto permanecendo sem contato visual, curvou-se minimamente e saiu correndo. Mais adiante pôde ouvi-la responder algo. Aquela palavra "Sakura" fixou-se na sua cabeça, seria o nome daquela menina? Bem exótico, por sinal. Era engraçado vê-la correr em passos tão curtos, a roupa provavelmente limitava mais do que os vestidos da moda europeia. Entrou no cômodo e arrastou para fechar a porta.

— Onde está a chave e a maçaneta? – examinou aquele plano de madeira por completo, foi um fracasso – Diabos, como vou fazer se quiser me trocar? Aqui é mais bagunçado do que pensei, francamente.

Após alguns resmungos ouvia-se berros vindos do andar de baixo e, se estivesse perfeitamente consciente, som de tapas.

— Quantas vezes já lhe disse para não dialogar com os hóspedes?! Você é apenas uma empregada, sua sem-vergonha! – gritava a velha, na frente de todas, que riam.

— Onegaishimasu, senhora, eu não dialoguei com o hóspede em momento algum… – defendia-se, inútil, era como uma mentira.

— E ainda tem a audácia de me responder! Está me chamando de mentirosa? – foi para mais perto – É melhor você se colocar no seu lugar. Vai querer fazer mais um de seus “trabalhos” para gaijin também?

Não era a primeira vez que sofria uma insinuação dessas e nem seria a última, sabia muito bem disso. E que direito tinha de falar alguma coisa? Era aquele demônio que lhe dava um teto, roupas e comida. Tudo o que podia fazer era tremer. Nunca havia feito esse tipo de “trabalho” para ninguém, seja nativo ou estrangeiro. Mantinha a sua dignidade viva o quanto podia.

— Eu nunca fiz nada para nenhum cliente, seja daqui do Japão ou de fora. Onegai, minha senhora, juro por minhas mãos que nunca tocaram ninguém dessa maneira! – ao dizer isso estendeu suas mãos para a velha, trêmula de dedos finos e brancos, cheirando a produto de limpeza.

Pegou em seu pulso e o ergueu, apertando cada vez mais, parecia que uma hora o esmagaria e quebraria.

— Já que você jura pela sua mão: se você tiver relação com qualquer cliente daqui, cortarei sua mão fora. Entendeu?

— Hai.

Nisso, deu-lhe um tapa forte na bochecha branca.

— *Anata wa meinu!

E ficou ali, com as mãos na cintura, observando a mais nova permanecer de cabeça abaixada para aquela situação. Inclusive, o britânico já observava o que acontecia há alguns minutos, via pelo barulho que era escutado pelo andar acima do delas. Desceu a escada e se mostrou atrás da baixinha, quieto, com os braços cruzados, observando a cena com certa tristeza. Talvez, se seus colegas de navegação vissem essa cena, se surpreenderiam bastante, achavam que o dono das íris verdes tinha um coração de pedra.

Quando a velha o viu, ficou assustada e rapidamente estampou o sorriso falso no rosto, empurrando-a para o lado e se aproximando dele, como se estivesse dizendo “O que deseja?”.

Não disse nada, até porque se dissesse não adiantaria de nada; procurou na parte de dentro do casaco e arrancou um saco de moedas de ouro, jogando-o na madeira do chão.

— **Nani?! – franziu o cenho – … Nani o shitaidesu ka?

Apontou para a menina, pálida, agora que pensava que era certeza: perderia a mão mais tarde e, quem sabe, a dignidade também. A mulher fez uma careta, indignada:

— ***Kanojo wa meidodesu! Koreha dekimasen!

— Eu quero ela, não quero outra!

Era nítido que não tinha escolha a não ser ceder ao forasteiro que apontava para a sua tão odiada menina, mesmo contrariada então deixou-os em paz. Arthur pegou-a pelo braço e a levou para cima a força, demasiadamente perturbado principalmente por conta do tapa.

— ****Dono yō ni iyana… – murmurava uma das garotas de tranças.

Chegou ali em cima, a porta foi aberta e fechada com tamanha força, nisso, Sakura apenas se soltou em um puxão seguido de um gemido de dor, recorrendo para o canto do cômodo, se sentando no chão gelado. O clima ficara tenso, Kirkland mal sabia o que fazer, foi tão impulsivo de salvar aquela garota que nem pensou que o dinheiro poderia ser usado em compras das mercadorias de outras nações. Apenas ficou em pé pensando no que fazer exatamente. “Se ao menos ela entendesse o que eu digo... Seria mais fácil.” pensava com ódio do momento. Se achegou vagarosamente nela, ajoelhado em uma distância considerável.

— Você está bem?

Apenas o olhava com certo medo, não sabia se seu corpo estava em perigo ou não. Via que ele apenas permanecia no outro canto do cômodo e estranhou. “Eu não entendo. O que ele quer?” perguntava-se. Arthur então, tentando ver se podia ao menos se aproximar para ver se a moça estava bem, andou lentamente em sua direção e se abaixou, colocando o dedo em sua bochecha marcada pela palmada. Sentia a área ainda quente pelo choque, tremia e tentava recuar do contato, mas a parede não lhe permitia. Kirkland não entendia uma palavra do idioma nativo, mas quando se deparou com aquela discussão já pressentia que algo não ia bem.

A bochecha estava vermelha, não sabia se era vergonha ou do tapa, honestamente. Os olhos dela, ao mesmo tempo que demonstravam medo pareciam esconder muitas coisas, era cheia de segredos. A quantidade de dinheiro que havia entregado grosseiramente à anciã daquela residência dava para até comprá-la de corpo e alma, em outras palavras, se quisesse poderia passar um mês ou até mais juntos. Mesmo assim, tentava ensiná-la ao menos um pouco de inglês. Passou as mãos na frente do próprio rosto como se estivesse acenando para alguém.

— Hello.

Apenas foi o que disse, ela repetiu…

— ...“Herô”…

A tarefa não ia ser fácil, ela não pronunciava a letra "L", mas não iria desistir assim tão fácil; se conseguisse ensiná-la, seria o primeiro “educador” a agir naquele país inexplicável. Ao menos, esse era o seu primeiríssimo motivo de se empenhar tanto. Passaria meses ensinando o alfabeto inteiro, se precisasse.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.