Juntos para sempre- único

Certo dia eu passeava pelos limites de um dos campos de concentração. Gostava de me aventurar naquelas trilhas como qualquer menino adora sentir adrenalina de correr riscos. Talvez ali fosse um refúgio para mim que tinha tudo e ao mesmo tempo nada.

Foi quando em um desses dias avistei um garoto de cabeça raspada e com pijama listrado empurrando um carrinho com material para descarregar perto da cerca. Minha curiosidade foi tamanha que não me contive, eu precisava me aproximar dele.

Frente a frente nós ficamos, e no início ele parecia assustado, mas depois foi gentil como se nos conhecêssemos de longa data. Eu prometi-lhe que todos os dias que pudesse iria vê-lo. Senti-me estranhamente conectado a ele de uma forma especial.

Provavelmente porque apesar de não ter pipa, bicicleta ou brinquedos ele era feliz. Isso chamou a minha atenção — eu diria que até me deixou intrigado. Deu-me ainda mais vontade de conhecê-lo. E pela primeira vez eu senti que tinha um amigo de verdade, e não um interesseiro só porque meu pai tinha uma excelente reputação com o fuhrer.

Com o passar do tempo nossos encontros se tornavam vitais para ambos. Divertíamos-nos o quanto nos era possível separados por uma cerca. Contudo, eu quis fazer algo maluco e resolvi deixar de lado minha vida com meus pais e colegas para ser como ele. Só assim nunca mais poderiam nos separar porque tornamo-nos como irmãos.

Vestido como tal e de cabeça raspada trabalhei ao lado dele e experimentei como era todos os dias ter uma vida assim. Porém, um dia soldados ordenaram que todos entrassem em uma espécie de sala estranha, e que ninguém fizesse escândalo. Era tarde demais quando percebi do que se tratava. Eu e meu amigo nos abraçamos e assim permanecemos enquanto inalávamos o gás até nosso último suspiro.

Pensando bem isso era uma libertação porque estávamos indo para o melhor dos lugares: O paraíso. Lugar este em que não haveria pranto ou dor, mas apenas paz e alegria por toda eternidade. E assim ficaríamos juntos para sempre.