– Não – Amy gritou. Ela estava em um daqueles momentos que ficam marcados para a vida toda. Seu cérebro estava a mil. Sentiu uma descarga de adrenalina. Se ela tivesse ao menos uma ideia... talvez pudesse mudar aquele triste destino. E foi aí que ela teve! Ela teve uma ideia! Talvez não resolvesse o problema, e poderia ser muito perigoso... Mas qualquer coisa que pudesse tirar Ian daquele buraco valeria a pena.

Ian estava tenso de novo. Estava agora nos seus últimos segundos. Apenas o seu nariz aparecia de vez em quando na superfície e ele podia puxar um pouco de oxigênio. Mas em breve isso não seria possível.

Amy tirou do bolso da calça o pequeno vidro. O vidro que Ian tinha trazido que continha em seu interior uma poderosa fórmula: o veneno que há anos vinha sendo desenvolvido pelos Lucian, e no qual acreditavam ser o mais poderoso veneno existente até hoje. Ela já tinha visto em uma de suas pesquisas que o tal veneno era uma mistura de ácido fluorantimônico diluído, considerado um dos mais fortes e com maior quantidade e íons H+, capaz de dissolver os ossos se em contato com a pele, e outros ácidos, além de outras substâncias que os Lucian até hoje se recusam falar.

Seria possível que um veneno contendo ácidos tão poderosos também seria capaz de corroer o ferro instantaneamente? Isso ela veria agora. E tinha que ser rápida. Se o líquido entrasse em contato com a água e, consequentemente com Ian, ele estaria morto.

Com cuidado, ela pingou apenas uma gota nas regiões em que a grade se encontrava com o cimento. E então ela viu acontecer algo extraordinário: Sim, o veneno estava transformando o ferro em contato em fiapos! Agora ficaria bem mais fácil arrancá-la.

– Rápido, me ajudem! – E então os outros dois ajudaram-na a levantar de vez a pesada grade.

Enquanto isso, Ian já tinha inspirado, pelo que ele considerava, a sua última vez. Agora ele segurava aquele oxigênio dentro de si com todas as suas forças, tentando prolongar sua vida, nem que seja por alguns segundos. Mas estava muito difícil. Ele já estava acostumado a ficar bastante tempo submerso; lembrou de quando fazia isso na piscina da mansão kabra. Mas agora era tudo muito diferente. Seu cérebro, seu metabolismo em geral, parecia consumir muito mais energia naquelas circunstâncias. Ele precisava de ar. O tempo estava acabando. A concentração de gás carbônico em seu interior tornava-se cada vez mais alta. E então seu centro respiratório assumiu o controle de tudo. Ian abriu a boca inspirou, involuntariamente. Doeu. E então foi o seu fim. Ian sentiu sua alma ser arrancada do seu corpo. “Eu já devo estar morto?”

Mas logo percebeu que seu corpo havia sido arrancado dali junto. Ele estava deitado no chão, ao lado do buraco em que passara os últimos 40 minutos, e colocando pra fora o que ele achou que fossem uns 15 litros de água. Depois de alguns minutos tossindo, Ian pôde finalmente respirar novamente. O ar parecia muito mais doce agora, mais puro. E olhe que ele ainda estava dentro de um túnel subterrâneo. Deu-se conta de que não há nada melhor do que respirar. E mesmo assim, ainda somos muitas vezes tão ingratos a esse dom: o dom de viver. Mas tudo o que Ian mais queria agora era sair daquele lugar.

– Você está bem agora? – Amy perguntou, e Ian pôde perceber a mesma pergunta no olhar dos outros garotos, que o encaravam, pasmos, como se ainda não estivessem acreditando no que tinham acabado de ver.

– Agora sim. Estou melhor do nunca. – Mas na verdade não era bem assim. Seus músculos se recusavam a lhe obedecer. O frio intenso daquele lugar e o contato com a água o haviam deixado hipotérmico.

Amy tocou o ombro de Ian. Estava frio. Ele não está realmente bem. Seus lábios não tinham cor. Então Amy o envolveu em seus braços. E ela estava quente. Ian sentiu seu sangue volta circular a partir dali. Todos os órgãos do seu corpo, que pareceram já acostumados com a ideia de morrer, voltarem a funcionar.

– Precisamos sair desse lugar! – Apressou Hamilton – Não podemos pôr tudo a perder! Se nos encontram estamos mortos – Sim, eles precisavam sair dali. Agora eles sabiam mais do que nunca do que aquele homem é capaz.

Devagar, Ian conseguiu levantar-se e caminhar com eles no seu percurso de volta. No longo percurso de volta. E todos iam em silêncio. Mais uma vez, era possível apenas ouvir o som de suas respirações.

Caminharam alguns minutos. Geralmente sempre o caminho de volta parece mais curto. Mas aquele parecia mais longo. Eles subiram a velha escadaria de madeira. Ian agradecia por estar a cada passo mais longe do buraco em que ele quase perdeu a vida. E quanto mais alto ficavam, mais facilmente o ar penetrava em seus pulmões. Chegaram ás pedras. Era difícil passar por elas, mas a ansiedade de sair daquele lugar pavoroso era tão grande, que qualquer obstáculo tornava-se pequeno.

Mas o maior obstáculo apareceu quando eles chegaram ás pegadas, de onde Amy, Jonah e Hamilton haviam descido. Mais adiante, havia uma porta, a qual conduzia a uma escada que lavava á porta metal que dava na casa, por onde Ian havia sido levado preso. Mas logo ali, próximo á porta, estava dois homens. Ao ver os quatro se aproximar, eles correram em direção a eles.

– Oh não, o que faremos agora? – Amy perguntou em voz alta. Mal teve tempo de perguntar, um deles a segura por trás. Mas ao receber um chute entre as pernas, ele tombou e se afastou um pouco. A lanterna caiu no chão, e sua luz diminuiu. Lutavam agora praticamente no escuro. Jonah sentiu ser atingido nas costas, e caiu no chão. Viu apenas a sombra do homem, que estava bem na frente da lanterna. Pôde distinguir suas botas. E então ele pegou sua arma que estava dentro do casaco e atirou.