Uma noite misteriosa

Capítulo 9: O garoto


Natalie disfarçadamente observa Jonah. Altura média, pele escura, rosto perfeito, caráter duvidoso, personalidade desinteressante. Era isso que ela enxergava. Ela não nutria nenhum tipo de sentimento por Jonah. Apenas pensava em como alguns aspectos de suas vidas eram parecidos. Uma mãe insana que se tornara ausente. Um pai que a mimava, mas sempre estava longe. Um envolvimento com coisas perigosas como a Busca. Se sentia desinteressada, mas ao mesmo tempo intrigada. Como ele agüentava aquilo tão bem? Jonah parecia estar sempre leve, fazendo piadinhas de coisas sérias, rindo e se divertindo. Apesar das coisas horríveis que tinham acontecido com todos eles, ele era o que parecia nunca pensar que aquele poderia ser o seu último dia de vida, seu último jantar, sua última risada, seu último show... Seria porque ele era um garoto?

Garotos sempre pareceram mais idiotas. Devia ser sua estupidez que sempre os impediam de ver o perigo á frente, coisas terríveis, montanhas em seu caminho. Dan era parecido em certos pontos, ele também era infantil, mas muito mais... Afetado? Sim, aquela devia ser a palavra para descreve-lo agora. Depois de tudo, ele as vezes parecia muito sombrio, com medo, preocupado. Assim como ela se sentia. Natalie tremia de raiva e chorava de tristeza, escondido é claro, apenas em ter notícias de sua mãe, ou de seu pai. Seu pai querido que não tinha pensado duas vezes em deixá-la sozinha com Ian. Claro, tinha sido pelo dinheiro, o dinheiro era muito importante, mas também tinha sido para fugir. Fugir das pessoas que questionavam como Isabel tinha feitos coisas terríveis pelas costas do marido. A resposta era simples. Não tinha. Não pelas costas. Os Kabra eram inescrupulosos, egoístas, maus, os típicos bandidos de filmes clichês. Natalie não se sentia a malvada. Como queria. Se fosse assim, ela não sentiria tudo o que estava sentindo, ela não hesitaria em apertar gatilhos.

A pior parte era encarar as pessoas do seu clã. Elas cochichavam e espalhavam boatos sobre ela e Ian. Ian não se importava. Ian parecia frio e sempre constante. Na sua nova rotina, tinha se aproximado mais dele, era aquela coisa, eles não eram irmãos super felizes e legais um com o outro, mas eles se cuidavam, conversavam, faziam coisas juntos. Não era aquela coisa de ficar contando segredinhos e pedindo conselhos. Mas era bom mesmo assim. Ela ainda tinha Ian.

Ian e Amy... Onde poderiam estar? Algo com certeza estava acontecendo, a garota só queria saber o que. Era irritante não ter controle sobre a situação. Amy... Até que ela não era tão ruim, tinha conversado com ela sobre assuntos bem bobos, mas ela não odiava Amy. Talvez devesse. Talvez fosse mais fácil se ela odiasse os dois. Amy e Dan. Se ela odiasse todo mundo. E fosse pra bem longe, pra Paris, ou Genebra, ou Dubai.

Antes toda vez que mencionavam os Cahills, mais precisamente os Lucians, Natalie se sentia orgulhosa por ser de um ótimo clã. Imagine se ela fosse uma Thomas? Terrível com certeza. Eles só pensavam em esportes e lutas. As unhas de Reagan eram muito desleixadas. As suas eram perfeitamente lixadas, com cutículas perfeitas, e naquele momento, decoradas com um esmalte de glitter azul com verde. Porém, agora ela não sentia nada, as vezes nojo por coisas que alguns Lucians faziam.

E agora aquilo. Reuniões onde todos viam a foto de Isabel, não mais sua mãe, e pensavam que ela era uma criminosa. E olhavam pra ela e pensavam que poderia virar uma criminosa. E por que toda aquela agitação? Os Vespers planejavam algo contra ela e Ian por terem se juntado á Madrigais? Se fosse isso eles poderiam simplesmente mudar de lado. Não. Ela nunca mudaria pro lado de Isabel. Tudo menos aquilo.

Jonah interrompe seus pensamentos:

—Eles estão demorando.-Ele tira os olhos da tela do celular por um momento e conversa com ela, o que era meio raro.

—Quem?- Natalie responde distraída.

—Os dois. Hamilton e Jonah.- Ele a encara como se ela fosse lerda.

—Então é melhor chamarmos alguém.- Ela diz, na defensiva.

—Agora não... Vamos juntos lá... A senhorita vai ter que me ajudar.

—Eu não sou senhorita.- Ela se desencosta da parede e segue Jonah para a churrasqueira.

Se tinha uma coisa que irritava profundamente Natalie era o estilo largado de Jonah. Potencial desperdiçado. Mas as fãs sem cérebro do garoto deviam gostar daquele estilo. De roupa social era como se parte da essência dele não estivesse ali. Era o que parecia, mas ele se comportava da mesma maneira debochada de sempre.

Ele abre a churrasqueira com força, visto que a porta estava com problemas. Lá dentro, nada. Apenas um monte de caixas vazias. E um cheiro forte de enxofre.

—Credo, que cheiro horrível!- Natalie quebra a quietude e segue Jonah para o interior da churrasqueira, iluminando o caminho com o visor do celular.

—Estranho, eles deviam estar aqui.- Jonah investiga atrás do balcão.

—Então, vamos logo. Antes que fiquemos com esse cheiro deplorável.- A garota puxa Jonah com força para fora.

Eles ouvem um Clic.

—Ouviu isso?- Ela diz.

—Deve ter sido sua imaginação, cousin!

—Vamos nos dividir e procurá-los?!

—Não, não posso deixar você a senhorita donzela indefesa andar por aqui perto do bosque sozinha. Procurar juntos vai ser mais divertido, yay!

Natalie encara Jonah com um olhar mortal. Ele simplesmente ignora e aponta para a mansão:

—Devem ter entrado enquanto saímos.

—Eu falei para ficarmos lá dentro.- Ela ergue uma sobrancelha se segurando pra não dizer ''eu avisei''.

—Então vamos voltar! Simples assim.- Ele diz e sai correndo. Natalie se vê obrigada a segui-lo. E ouve um murmúrio sobre os Kabra serem complicados. Complicados? Jonah ainda não tinha visto nada.

Dentro da mansão, eles procuraram no salão que estava sendo limpo por alguns empregados. Nada. Nos banheiros e salas do andar de baixo, nada.

—Vamos subir então.- Natalie observa.

—Tá.- Os dois começam a subir a escada, quando Jonah inesperadamente tropeça em um tubo de ensaio e cai da escada, rolando até cair no chão:

—AI E WTF?- Ele fala alto e fica resmungando. Natalie esboça um sorriso e desce as escadas, pulando o tubo de ensaio e indo até ele.

—Desajeitado. Como fez isso?

—Eu tropecei naquela parada ali!- E fica se remexendo no chão.

Natalie se abaixa para pegar o recipiente. Ela o analisa de todos os ângulos. Era um tubo de ensaio com um rótulo em outra língua, parecia espanhol. E tinha o desenho de uma caveira preta.’’ Altamente peligroso y resíduos tóxicos. Manejar com cuidado.’’Ela sabia espanhol e também sabia o que aquilo queria dizer.

—Arsênico...- Ela sussurra.

—O QUE?-Jonah grita e começa a se levantar.Natalie imediatamente sente seu estado de espírito mudar de humorada para muito irritada. Ela o puxa rapidamente e coloca o dedo indicador na frente da boca, pedindo silencio.

—Está vendo isso? Analise melhor. E não faça tanto barulho. Não quero morrer por sua culpa.- Ela diz em um tom bem baixo, irritada pela burrice de Jonah.

—Veneno...- Ele sussurra.

Natalie faz sinais em direção a escada e aponta para ele. Jonah vai até a sala digita a senha em um cofre atrás de um dos quadros e pega uma arma. Ele vai subindo lentamente, Natalie atrás com uma faca que ela tinha achado na cozinha. Cada passo era uma tortura, era a típica cena de terror, em que os personagens acham uma boa idéia ir atrás de pistas estranhas para ver o que tem lá, mas sempre acaba mal.

Jonah finalmente termina de subir o último degrau e vira a cabeça em direção a esquerda. Nada. Á direita. Um garoto. A princípio ele imagina ser Hamilton ou Dan, entretanto, o garoto não era tão musculoso e parecia ser meio baixo, as sombras escondiam seu rosto:

—Quem é você?- Ele aponta a arma e grita. O menino se vira lentamente, e aponta uma arma também.