Uma noite misteriosa

Capítulo 4: Perseguição


Amy começa a sentir uma dor de cabeça muito forte e repentina. Ela tenta se concentrar no que Ian estava falando, um monte de coisas que ela não estava entendendo. ’’Você estava fazendo o quê antes de vir falar comigo?’’. Sua mente parece estar uma confusão. Ela só fica olhando para seus olhos, seus olhos muito profundos e que parecem preocupados. Amy... Eu acho... A dor de cabeça fica muito mais forte em apenas alguns segundos, ela tenta se concentrar no relógio de Ian, que estava no pulso, um relógio de ouro? Ou seria prata. Era muito bonito... Sofisticado... Tinha o nome dele gravado na parte da pulseira. 21:59. Começam a surgir pontinhos pretos em sua visão e ela se sente muito mais quente. Faça parar, por favor, faça parar.

Cada movimento do ponteiro do relógio a dor parece aumentar a um nível quase insuportável. A garota começa a apertar com sua mão o lado da mesa, sentindo vertigem e não conseguindo levantar a cabeça sem ficar tonta. O barulho do relógio, antes quase imperceptível era como um barulho ensurdecedor em sua cabeça. Um badalar forte e extremamente irritante. Tudo começa a ficar cada vez mais escuro, os pontinhos pretos parecem ocupar quase toda sua visão.. Quando o relógio dá 22:00, ela desmaia.

Ian tenta falar com Amy, sem sucesso. Ele tenta sacudi-la, ela realmente havia desmaiado e a respiração dela estava um tanto fraca. Conferindo a pulsação, fraca também. Ele começa a ficar em pânico, quem ia avisar primeiro? Fiske? Se não fosse discreto os convidados ficariam tensos e desconfiados. Caramba, ela nem devia ter ouvido o que ele havia dito. Ela parecia extremamente frágil desmaiada e deitada em seu colo.

O que ele deveria fazer? Ele tinha que ser rápido e tomar a decisão mais adequada para a situação. Quanto mais pessoas soubessem, pior ia ser. Mas tinha que falar com pelo menos alguém, alguém responsável que poderia se manter calmo e confiar nele. Basicamente isso já eliminava a maior parte das pessoas que estavam ali. Fiske não estava em lugar nenhum e logo as pessoas a sua volta perceberiam. Opções e mais opções do que fazer rondavam sua cabeça. As pessoas poeticamente se referiam a isso como ''um sopro de vida'', fazia sentido já que a impressão era a de que todas as emoções e adrenalina o atingiam ao mesmo tempo. O que era ruim. A emoção e a adrenalina deixavam as coisas complicadas.

Ele tinha que cuidar dela. Deixá-la com outras pessoas envolveria explicações e principalmente: Tempo.

O garoto toma a decisão prévia de avisar apenas Nellie e levar Amy o mais rápido possível para o hospital administrado por Lucians aliados de sua família. Os Lucians eram os mais experientes e informados no quesito venenos, além de serem extremamente cautelosos, o que significava que cuidariam bem dela e a manteriam longe de qualquer ataque. A pergunta que valia um milhão era: Isso é um ataque?

Ele a pega no colo rapidamente, ela não era muito pesada, e discretamente chama Nellie com um gesto, ela vem correndo e ele explica a situação sem muitos detalhes.

—Amy passou mal. Possivelmente envenenamento. Vou levá-la para o hospital, te passo os detalhes por mensagem. Avise poucas pessoas, mais pessoas só vão atrapalhar. Se alguém perguntar diga que ela bebeu demais. Tome cuidado com as pessoas que estão aqui.

Nellie faz uma cara de preocupação e receio. Ela parece estar travando uma batalha interna, como se estivesse decidindo se ele era de confiança ou não mas acaba concordando. Afinal eles todos eram aliados... E aliados confiam uns nos outros, não é mesmo? Ele havia escolhido a pessoa certa para informar, os outros atrapalhariam provavelmente. Dan estava conversando com Natalie, Ian ignora o olhar inquisitório lançado e faz sinais pra ela continuar falando com Dan.

Ele vai carregando Amy até sair pela porta dos fundos da cozinha. Ninguém pareceu se importar ou prestar muita atenção neles. Hamilton apenas os vê por um nano segundo, e não os procura.

Merda, que carro? Ian decide usar o Porshe marrom de Fiske, ele sabia dirigir principalmente carros de luxo. Ele pega as chaves que estão em uma prateleira na parede. Coloca-a no banco frontal com cuidado e liga o carro. Ele começa dirigindo com pressa, acima do limite. Durante um minuto, Amy fica consciente por um momento, apenas o momento pra fazer um ruído de dor e lhe lançar um olhar confuso.

O lado bom era o fato de ser feriado e as ruas estarem vazias, o lado ruim era que o trajeto demorava no mínimo 5 minutos e tinha algumas curvas.

Um carro azul marinho estava uns 300 metros atrás, ele tinha vidros muito pretos, Ian geralmente ficava desconfortável perto de carros com vidros blindados ou muito escuros, desse jeito ele não conseguia ver que tipo de pessoa estava dentro. Eles pareciam estar sendo seguidos, ou não, podia ser apenas sua fértil imaginação ou um delírio seu. Por precaução, coloca sua pistola, já carregada, no bolso do casaco.

Ele começa a reformular o que havia acontecido naqueles poucos minutos. Ele estava conversando com ela, ela tinha começado a passar mal. Mas o que Amy tinha feito antes de ir falar com ele?

Ele começou a ficar ainda mais preocupado, Amy estava muito quieta. Ian se inclina na direção dela e checa sua respiração. Pressão baixa. Se ela estivesse sobre o efeito do que ele estava pensando... Ele acelera o carro. O carro azul marinho também acelera. Ele acelera mais. O carro azul marinho também acelera mais. Então realmente estou sendo seguido e pessoa em questão não está tentando disfarçar.

Em poucos segundos o carro azul marinho começa a embicar furiosamente em direção a traseira do carro. Surpreendendo Ian. Os dois carros estavam acima do limite de velocidade e logo ele teria que fazer uma curva á esquerda. Ian tinha que decidir entre desacelerar pra fazer a curva e deixar o outro carro bater na traseira do Porshe ou passar a curva e despistar o perseguidor. A confusão dominava sua mente. Era muito difícil tomar uma decisão, alguns minutos podiam ser decisivos. E quem estava dentro daquele carro?

Naquele momento os dois carros estavam a 100 km/hr. A curva era dali a 300 metros, Ian confere a respiração dela de novo. Merda... Está muito fraca. Tente se manter calmo... Tente bolar um plano... Analise a situação.

Era muito difícil tomar uma decisão que poderia acabar com a vida de uma pessoa, uma pessoa que você conhece e se preocupa. Era muito difícil esquecer tudo o que tinha acontecido antes, os traumas do passado. Ele sempre tinha adiado uma decisão, mesmo sabendo que tinha que tomá-la. Foi assim no iate, com Isabel ameaçando Amy. Ele podia ter impedido, e aquilo não era uma brincadeira, ele tinha certeza que Isabel cumpriria suas ameaças. Naquela vez, a vida de Amy estava em risco e ele não tinha feito nada. Ele nunca fazia. A vida dela estava novamente em perigo.

Não dessa vez. Ian diminui a velocidade pra 75 km/hrs. O carro atrás bate com força na traseira e recua um pouco. O carro não parecia ter sofrido nenhum dano muito sério. Segundos decisivos, se a batida tivesse danificado o motor, seria um caminho para explosão e morte certa. Ele começa a acelerar e o carro atrás o acompanha. Então a pessoa em questão parece estar apenas querendo me encurralar. Nesse momento ele vira o volante do carro pro lado direito, o outro acelera e os dois ficam lado a lado. O vidro é tão escuro que nem quando ele passa por um poste de luz dá para ver sequer alguma silhueta de quem está no carro. O carro começa a fechá-lo, ele muda a marcha, com muita habilidade, diminui a velocidade e o carro azul passa a ficar na sua frente. Tudo isso em alguns segundos. 100 metros para a curva. Agora a parte mais difícil.

Ele abre a janela rapidamente e pega sua pistola, enquanto segura o volante com a mão direita. O vento forte e gelado o atinge, seus olhos lacrimejavam, estava muito difícil enxergar. Uma coisa que facilitava atirar no lugar certo era imaginar um quadrado preto ao redor do alvo. Tenta atirar nos dois pneus do lado esquerdo. Era muito mais difícil com a mão esquerda. Concentração, imagine que o alvo é o coração de um pato. Lembranças úteis, porém dolorosas da única vez que ele saiu sozinho com Vikram, para caçar.

Ele acerta o pneu traseiro, da esquerda. Atira mais uma vez, dessa vez acertando o frontal. Estes fazem um barulho, o carro começa a derrapar e perder o controle ao ficar ziguezagueando na sua frente.

No exato instante em que ele chega á curva e consegue virar o volante do carro com muita força, e derrapando muito. A janela ainda estava aberta e o cheiro desagradável do pneu queimado invade o carro. Não havia muito tempo para pensar no que tinha acabado de acontecer. Alguns poucos metros para o hospital.

No resto do caminho, o que equivalia a mais ou menos 3 minutos a agitação e inquietação o dominava. Perguntas rodeavam sua mente. O que poderia ter acontecido? Quem iria tentar prejudicar Amy? Todos eles estavam em perigo?

Ele chega ao hospital e estaciona o carro de qualquer jeito. Ele a carrega diretamente pra recepção, eles a colocam em uma maca e a encaminham para a seção de urgência. Ian explica a situação e suas suspeitas rapidamente para um médico e este acompanha Amy. Depois de encaminhá-la, relutantemente, ele sobe rápido para o andar da administração, precisava falar com Dallas, seu amigo de longa data e herdeiro do hospital. Precisava saber exatamente o que havia acontecido com ela. Ele suspira antes de entrar na sala, a impressão era a de que aquela ia ser uma noite muito longa.