Já fazia mais de duas semanas que tinha visitado a avó em Gramado e ainda não tinha tirado a conversa que tiveram de cabeça, tinha certeza que a avó a interpretará errado, não era como se ela tivesse reclamado da vida, longe disso, é lógico que ela estava satisfeita com a vida dela. Estava casada com o homem que amava, criavam juntos a criatura mais linda e teimosa que já existiu, era realizada profissionalmente, tinha uma vida boa e...
Ela era feliz, não podia dizer o contrário, só que... não conseguiu se expressar direito com a sua vó, teria que voltar a Gramado e desfazer o mal-entendido, a Vó não poderia continuar acreditando que a neta era infeliz, de jeito nenhum. Pediria para o Rodrigo levá-la para ver a Vó no final de semana e se ele tivesse algum compromisso inadiável iria sozinha e diria a Vó que... não sabia o que iria dizer. Mas sabia que tinha que dizer alguma coisa.
Manuela solta um suspiro frustrado e manobra o carro para parar em frente a entrada de casa, pressiona o couro do volante com o máximo de força que consegue como se o ato fosse distrair sua mente frustrada da encruzilhada em que se metera.
O que diria a sua vó?
Mais uma vez ela repassa em sua mente os motivos que possui para declarar com conhecimento de causa que era uma mulher feliz.
Eu me casei com o amor da minha vida.
Temos um casamento feliz e saudável.
A Júlia está cada dia mais linda e mais esperta, só nos dá motivos de orgulho.
O Rodrigo está feliz com o trabalho dele.
Eu estou feliz com o meu trabalho.
Os amigos estão por perto e estão bem.
A família, bem nem todos estão tão perto assim, mas vão todos bem...
Tudo vai bem, não a motivos para alarde, então porque Manuela? Porque você não para de apertar o alarme como se houvesse algo de errado quando NÃO HA ALGO DE ERRADO.... Não tem nada de errado.
Manuela fecha os olhos e deixa a cabeça tombar até a nuca encontrar a resistência do encosto do banco do motorista e antes que consiga impedir uma lágrima brota na comissura de seu olho esquerdo e escorre pela face.
Não há nada de errado. Foram essas as palavras do médico e mesmo assim ela não engravidava. Quatro anos de casados e desses quatro anos pelo menos a metade ela passou sem tomar a medicação e nada, a exatos 24 meses ela espera um uma resposta diferente do seu corpo e a cada mês que se passa, mais uma vez ela tem que lidar com a negativa.
O médico sugeriu que ela trouxesse o marido para a próxima consulta "vamos fazer isso juntos e ver no que dá, se você dispõe de uma saúde perfeita, talvez o problema seja com o seu marido, já vi muitos casos assim poderemos discutir as alternativas juntos" foram as palavras de médico, mas ele não podia estar mais errado. O problema não estava com o Rodrigo, a Júlia era a prova viva disso, se algo existia de errado esse algo só poderia vir dela e de mais ninguém.

Tai ai o problema, como ela poderia chegar na sua vó para dizer que não havia nada de errado se nem ela mesma conseguia se convencer disso?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.