Uma força Emprestada

Começa por uma vontade de superar


“Fiquei forte admirando a força dele, mas nunca achei que seria digna de sua atenção.”

A minha rotina monótona se seguia calmamente. Não quer dizer que sou ingrata pela vida que levo hoje em dia, nem que me sinto infeliz. Só sinto que me falta algo. Talvez nostalgia? Eu observo a paixão dos Bladers ao batalhar, sua felicidade em vencer e relembro os dias que eu fui uma campeã com meu amado Aquario. Minha mente pensa a todo momento na alternativa de voltar a ter novamente, aquela diversão, mas meu coração também lembra o terror que senti ao testemunhar a escuridão de Ryuuga. E o medo me impede.

Me sinto uma covarde por permitir que as trevas me controlem.

Ao ver a determinação e a coragem de meus amigos, sou ainda mais pequena diante de tamanho poder. Ginka, Ryuuga, Tsubasa.

— HEY! Você não olha por onde anda, menina? — A voz ativa de Benkei me chama atenção. Só agora percebi que andava distraída na rua e quase atravessei a rua sem olhar. Meu braço foi puxado e estava sendo segurado por...

— Vê se toma mais cuidado. Depois é tarde demais.

Kyoya.

— K-Kyoya? É que eu — Ele nem esperou eu explicar. Saiu andando com as mãos nos bolsos, com Benkei o seguindo.

Eu não posso me esquecer de mencionar o dono de Fang Leone. Nunca vi tanta garra num garoto, tanta força e confiança! Kyoya encara tudo e todos que ficam em seu caminho sem medo algum. Deixa claro seu poder para todos ficarem de boca aberta. Inclusive eu. Será que algum dia poderia me ver como uma oponente? Provavelmente não.

Continuei olhando suas costas. Até seu olhar inspirava confiança, parecia um mesmo leão desfilando no meio da Savana. Como eu queria ser assim também. Kyoya virou seu olhar em minha direção sem cessar os passos e paralisei.

Algo se acendeu em meu coração.

Disse para mim mesma que era uma chama de determinação.

Meu velho amigo Aquario, enfim saía das profundezas de meu sobretudo. O coitado estava até um pouco sujo de poeira, mas eu jamais o esqueci. O lançador girava em minhas mãos, que tremiam, seja de ansiedade, medo ou emoção. O Bey estava posicionado e pronto para girar lindamente.

Mas eu o impulso não veio.

Eu fiquei parada na mesma posição quase uma hora. Fazia papel de ridícula. Por que agora é tão difícil fazer uma coisa que eu amava tanto? Suspirei e voltei a minha pose normal. Coloquei Aquario de volta no bolso fundo e me preparei para ir pra casa decepcionada. A imagem de Tategami me veio a mente do nada. Comparada a ele sou um fracasso. Na verdade, mesmo antes daquilo acontecer comigo, duvido que ele sequer me olharia. E por que de repente comecei a me importar tanto com ele? Com que poderia achar de mim?

Talvez eu seja simples demais.

Balancei a cabeça. Kyoya deveria estar ocupado sendo o rei da cidade. Outro dia vou tentar lançar meu Bey.

Já era o vigésimo dia e eu já estava com lágrimas nos olhos. Por que eu não conseguia esquecer? Estou realmente traumatizada? Não queria frequentar sessões com a psicóloga para poder seguir em frente.

— Droga! — Choraminguei e caí de joelhos derrotada. — Por que Ryuuga fez isso comigo?

Se Kyoya estivesse aqui, me olharia com desprezo.

— A única pessoa que está fazendo algo, é você mesma. — Um timbre masculino e agradável aos meus ouvidos, me fez ficar envergonhada. O que ele estava fazendo aqui?

— Kyoya? P-por está aqui também? — Indaguei confusa e nervosa. Por que estava assim? É o Kyoya! Eu já o vi milhares de vezes. Não é normal eu atuar como se estivesse afim dele.

— Esse é o MEU território!

A resposta do moreno me obrigou a olhar ao redor e constatar que de fato, havia invadido o hábitat de um leão e agora sou uma presa indefesa. Porém não foi por mal, eu não queria o desafiar, pelo menos não no momento.

— Me desculpe, foi um acidente. — Desculpei-me com o olhar baixo e tímido. Estava quase correndo dali.

— Espera aí. Ninguém entra e sai daqui sem mais nem menos. Por que VOCÊ tá aqui?

Fiquei em silêncio, esperando que ele poupasse o pouco do orgulho que tenho. Era vergonhoso demais. Kyoya emite um “Tsc” e se aproxima perigosamente de mim. Não consegui mover um músculo. Eu parecia dominada apenas por sua presença. Meu pulso é agarrado. Me senti perdida, ele iria me punir?

— Não vai conseguir lançar esse Bey nunca, se ficar segurando desse jeito.

Kyoya ressalta minha fraqueza. Me desesperei ainda mais diante dele. O que eu jamais ia esperar era o fato do rapaz se posicionar perto de mim e segurar meu braço, dando-me a firmeza que eu não estava tendo, pois tremia freneticamente. Eu literalmente paralisei com seus toques suaves. E corei com o calor que Kyoya emanava. Confusa, eu não fazia ideia do que ele fazia, mas nada disse. Não o empurrei, não o xinguei, apenas deixei que fizesse o que queria.

— Vai. Lança. — Mandou, mas o toque obscuro de Ryuuga ainda permanecia firme em mim. Estava mais que estagnado. — Tsc. Aquele cara te dá tanto medo assim?!

Vergonha queimava meu corpo todo.

— Olha... Tá tudo bem. Ele não vai mais fazer aquilo.

Me assustei.

— Então vê se concentra aí! — Sua ordem me deu forças para lançar meu Aquario depois de tempos. Pode não ter sido grande coisa, mas para mim, ele dançou naquele solo. Quando dei por mim, Kyoya já tinha se afastado, me deixando fria e sozinha. — Pronto. Você não precisa mais tremer... Hika.

E assim, o Tategami sumiu depois de falar meu nome incompleto. Meu coração me diz que foi de propósito. Talvez seja ilusão. Só sei que o rei da selva fez a gentileza de emprestar um pouco de sua força.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.