POV BELLA

Estendi a mão para pegar o pacotinho quando me lembrei de tudo que passei, que foi com essa linha de pensamento que tudo aconteceu. Então a peguei pelo braço e a levei até a porta.

__Sai daqui! E não volte nunca mais! – eu gritei, quando a joguei para fora do quarto. Ela fez cara feia e saiu correndo.

Eu fechei a porta e comecei a chorar novamente. Esse era o preço por tudo que fiz comigo e com todos que conheço. Quero minha vida de volta, meus sonhos! Quero fazer a faculdade que sempre sonhei!

POV JOHN

Estava na sala de TV quando escutei alguns gritos no corredor. Eu conheço essa voz. Levantei-me depressa e fui lá ver, mesmo estando fora de meu expediente.

Bati na porta e entrei, e ela estava ela em seu fosso novamente. Ela me olhou e começou a limpar as lágrimas. Ela já ia falar alguma coisa, mas eu fui mais esperto:

__Isabella, estou aqui como amigo, nem em meu expediente estou. Então, pode baixar a guarda. O que aconteceu?

__Nada! – ela disse, rudemente.

__Quer que eu chame a Carol?

__Não, eu não quero nada. Quero apenas que me deixem em paz! – ela subiu o tom de voz.

Mesmo ela sendo rude comigo não consigo ficar ofendido. Há algo especial nela. Percebi desde que a olhei nos olhos pela primeira vez. Mesmo estando destruída pela droga, consigo enxergar sua beleza interior e exterior.

Quando voltei à realidade, ela estava me encarando.

__Que foi? – perguntei.

__Que foi digo eu. Você que estava com o olhar vago aí. – ela disse.

Ela já havia enxugado as lágrimas, mas algo me dizia que ela iria derramar mais algumas antes de dormir.

__Não foi nada. – respondi – É só que... Todo esse choro e esse comportamento não são só arrependimento de ter entrado no mundo das drogas.

Ela me olhou espantada. Então era verdade, não era só por isso. Havia algo mais, uma ferida escondida ali.

Ela se levantou pra sentar e eu pude ver alguns machucados ao longo de seu corpo que não foram cuidados.

__Já volto! – eu disse à ela e fui buscar meu kit de curativos.

POV BELLA

Eu não entendi porque ele fez isso, até porque ele nem estava em seu expediente. Mas ele buscou sua maleta de curativos e começou a cuidar de meus ferimentos.

Cuidou delicadamente de cada ferimento, passando soro e anti-inflamatórios. Vez ou outra ele olhava em meus olhos e sorria. Qual era o sentido de tudo isso? Não faz sentido algum.

Mas eu estava vem enquanto ele cuidava de mim e conversa comigo. Quando terminou o último ferimento, ele se sentou ao meu lado na cama.

__Está melhor? Sobre os machucados? – ele disse.

__Estou sim, melhor de tudo. Obrigada por conversar um pouco comigo. Há tempos alguém não conversa comigo sem mencionar drogas.

__Tudo bem, é meu trabalho.

__Mas você nem está em seu expediente.

Ele hesitou.

__Não importa. Sinto necessidade de cuidar de você.

Fiquei surpresa com suas palavras. Ele era tão doce.

__Mais algum ferimento? – ele perguntou, cortando o silêncio.

__Na verdade sim. Mas esse não vai ser tão fácil de curar. Acho que não tem cura. Nunca mais.

É claro que não haveria cura para o meu coração. Ele estava todo despedaçado e guardado em um potinho que eu procuro esconder. Ele nunca mais se juntará de novo.

__Talvez sim, quem sabe. – disse ele, me olhando com ternura.

Nesse momento, me senti arrependida de ter sido rude com ela. Ele era um homem tão bom.

__Agora você precisa dormir. Descanse bem, amanhã você começará a sair desse mundo. – ele disse, tirando meu cabelo do olho.

__Obrigada! – eu disse, enquanto ele saía do quarto. Ele olhou pra trás e sorriu.

Quando ele fechou a porta, fui tomar meu banho e pensei em tudo que aconteceu nesse longo dia. Eu sabia que era hora de mudar, e eu seguiria o tratamento corretamente pra que eu possa sair daqui o mais rápido possível e recomeçar minha vida!

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Na manhã seguinte eu acordei bem mais disposta. É claro que eu sentia os efeitos da falta de droga, mas eu tentava não pensar nisso. A primeira pessoa que veio me ver foi John; ficou feliz por me ver melhor. Depois foi a vez de Carol. Ela me fez contar como entrei nesse mundo e eu contei tudo. Bom... não tudo! Mas mesmo assim, me senti mil vezes mais leve.

E os dias eram assim, John cuidava de mim como nenhuma outra pessoa e Carol sempre me dizia “Cada dia é uma vitória, uma conquista! Sinta-se vitoriosa a cada anoitecer!” E eu estava mesmo vencendo todo dia. Me sentindo melhor a cada hora que passava. Com as sessões de desintoxicação, eu já não sentia mais a falta de droga. Eu estava me refazendo, me encontrando de novo. E grande parte disso era por causa de John. Ele passou a ser meu melhor amigo ali dentro, não deixando nunca me sentir sozinha. Numa manhã de sábado, ele meio me ver, como sempre.

__Oi, John! – eu o abracei.

__Oi, Bella! Como está melhor, hein! Seus pais vão gostar de ver isso!

__O que? Charlie e Reneé estão aqui? Não brinca!

__É sério! Posso mandar chama-los?

__Por favor!

Senti uma explosão de alegria dentro de mim. Já faziam 3 meses que eu não os via. John saiu do quarto e voltou minutos depois acompanhado por eles. Meus olhos brilharam.

__Mãe! Pai! – eu corri e os abracei bem forte, começando a chorar de emoção.

__Oh, Bella, que saudade filhinha! Olha como você está ótima! – disse Reneé.

__É mesmo! Já engordou um pouquinho e não está com cara de esqueleto! – brincou Charlie.

Eu os soltei do abraço e nós sentamos na cama.

__Que bom que vocês notaram a diferença, porquê me esforcei muito. Segui o tratamento direitinho, não é mesmo John?

__Claro, perfeitamente! Vou deixa-los a sós.

Ele saiu e eu contei detalhadamente pra eles como era o tratamento. De acordo com Reneé, eles disseram na secretaria que eu já estou em fase final de tratamento, e que com mais um mês eu estaria livre. Fiquei mais feliz ainda.

__O que é isso, filha? – perguntou Reneé pegando meu caderninho que estava na mesinha de cabeceira.

__Não é nada! – falei, pegando o caderno de volta. – Na hora certa vocês vão saber.

Eles assentiram. Passamos o resto da manhã conversando e rindo, e em hora nenhuma o assunto Edward surgiu. Talvez os Cullen nunca mais deram as caras em Forks. Depois do almoço, eles tiveram que ir embora, e eu os deixei ir sem receio, pois havia um porto seguro aqui dentro.

Passaram-se os dias e cada vez mais eu sentia mais afeto por John. Ele nunca me deixou sentir solidão aqui dentro, estava sempre me ajudando e cuidando de mim, mesmo quando estava de férias. Ele sempre vinha me visitar. E foi numa dessas visitas que aconteceu nosso primeiro beijo.