Passamos por dentro do palácio, para desviar de todos na festa de Stefan, e saímos pela porta próxima a estufa. Ali eu tinha certeza de que não seríamos interrompidos, ou ouvidos.

Não nego. Eu quis voltar atrás.

Mas por quanto tempo mais guardaria aquele segredo dele?

"Já tem um tempo que eu poderia ter te falado isso, mas não queria causar problemas entre você e o Lorenzo. Na verdade, tudo ficou mais difícil depois que você disse que gostava de mim."

Osten franziu a testa imediatamente. Continuei.

“No início, estava morrendo de vergonha e confesso que iria esconder isso de todo mundo, mas depois que eu e você passamos a ter algo, senti que devia te dizer. Só que ainda não sabia como. Eu estava com medo de estragar as coisas.”

Uma voz na minha cabeça estava me alertando de que eu só estava sendo repetitiva.

"O Lorenzo se declarou para mim, já tem um tempo. Mas eu nunca senti o mesmo, e ele entendeu. Sempre me respeitou e apoiou a gente."Eu não consegui olhar a expressão de Osten assim que disse." Acontece que ele tinha me dado um colar de presente e me disse que não queria de volta. Por isso eu só guardei... Mas hoje ele viu que Amy estava usando e para piorar, eu admiti pra ele que nunca usei, porque sempre ficava me sentindo mal com tudo. Então... ele está é mais chateado comigo pela falta de consideração com o presente."

Um suspiro. Foi isso o que saiu de Osten. Deixei o nervosismo de lado e encarei seu rosto. Não havia uma profunda decepção ali, ao menos não consegui detectar.

"Olha, eu já esperava algo do tipo... Não esperava por essa do colar, admito." Ergueu as sobrancelhas "Lorenzo não te superou."

"É, eu acho que não..."

"Não há dúvidas."Meneou a cabeça."Ele claramente ainda gosta muito de você."

"Osten..."

"Não estou bravo." buscou minha mão."Escuta: isso ficou no passado. No passado entre vocês. E está tudo bem."

"Tem certeza que..."

" Eu não vou negar os meus ciúmes, mas eu sempre soube que você tem o direito de gostar de quem quiser."

"Mas eu não..."

"Eu sei. Desde o início, você me disse que gostava de outra pessoa. Eu sabia que o Lorenzo nunca foi meu maior concorrente. E não foi muito legal ver que estava perdendo de 10 a 0 para o Tyler. A minha sorte é que o jogo virou."

Um filme se passou na minha mente. Eu tentava lembrar de algum momento em que tivesse dado a entender que sentia algo por Tyler, porque de jeito nenhum havia dito. Ele entendeu minha confusão em um instante.

"Eu desconfiei assim que você me contou sobre a briga com ele. No banco, lembra? Não é tão difícil reconhecer um coração partido, esqueceu que eu também já passei por isso?"

Soltei o ar que prendia, enquanto ele cruzava os braços com um sorriso. Como se a um segundo atrás não estivéssemos em uma conversa delicada.

"Você sabia disso há muito tempo mesmo..."

"Sim. Mas, voltando, eu vou conversar com o Lorenzo, e não vou destratar ele, ou coisa parecida, não se preocupe. "Seu olhar se conectou ao meu novamente." Não quero também que se sinta mal com tudo isso a ponto de não falar com ele direito por minha causa."

Assenti e ele me puxou para um abraço. Fui tomada por um grande alívio, pois estar entre dois amigos de infância e perder Osten por um mal entendido estava se tornando um medo cada vez maior... Até aquele momento.

Lorenzo viajou no dia seguinte, como tinha me dito, o que me impediu de procurá-lo para uma conversa. Porém, pelo fato de Osten e ele trabalharem juntos em várias situações, era certo que acabaríamos nos encontrando de novo.

"Quanto tempo de voo até Madrid?" Amy perguntou.

"Umas doze horas e meia pelo que me disseram."

"Isso quer dizer que só chegaremos à noite."

Assenti para ela e olhei para a movimentação que se fez na entrada do avião, onde aguardávamos a partida. Osten finalmente tinha chegado.

Ele tinha ficado até o último momento resolvendo o que seria dito contra Bridget com Romenie e outras testemunhas, e também deu uma passada pelo local do julgamento.

“Falta muito tempo para decolar?”

“Acho que não muito, agora que Osten está aqui.” falei.

“Desculpa a ansiedade… Nunca viajei de avião.”

“Que isso.”

Troquei um sorriso com Audrey, que havia se sentado na janela. No meio de nós estava Amy.

Como não queriam muitas pessoas viajando, tentaram reduzir o número de acompanhantes que cada participante da Elite poderia levar para dois. Lee se prontificou a ficar por ter saído do palácio comigo da última vez.

Espiei algumas fileiras na frente. Encontrei Suki na cadeira da ponta, na fileira oposta. Ela estava com sua almofada para pescoço, sempre dormia no voo. A minha eu já tinha dado para Amy.

Osten se sentou ao lado de seu velho amigo, Benjamin, um senhor que se apresentou para nós na sala de espera do aeroporto. Ele era um diplomata aposentado, com idade provavelmente entre 60 e 70 e que já trabalhou como assessor de diversos ministros de Estado.

Quando o príncipe completou quinze anos e passou a participar de reuniões diplomáticas, esse homem foi indicado para o instruir durante as viagens.

'Achei que Ben seria algum tipo de velho arrogante, mas ele acabou por ser um avô que nunca tive'.

Atualmente, Benjamin acompanhava Osten como um parceiro de serviço voluntário.

"E as nossas malas?" Perguntou Paige, assim que nos desviaram do lugar onde também achei que ficaríamos à espera de nossa bagagem na esteiras.

"Estão cuidando de tudo isso já." Disse Jade, seguindo o homem que nos chamava próximo a uma porta automática. Nos deparamos com um estacionamento interno, que apesar disso, não tinha mais a ambientação do aeroporto de Madrid, o que nos proporcionou um primeiro contato com o clima, digamos, mais ameno.

“Que frio.”Audrey sussurrou abraçando-se a Amy, enquanto nos ditavam as instruções.

Madrid não era uma cidade fria, não perto de vários outros locais da Europa. No entanto, naquele dia em especial a temperatura não estava lá boa para desprezar um casaco. Ainda mais para o nosso pessoal que estava acostumado ao calor de Angeles.

Algo a se considerar era que o inverno estava cada vez mais próximo. Então deveríamos esperar por mais frio em breve.

Em geral, escolhemos vestidos de manga comprida para aquele dia, mas já tinham nos avisado anteriormente que não precisaríamos usar esse vestuário para cima e para baixo se não nos sentíssemos aquecidas.

Suki era de todas nós a mais plena, por vir de uma região mais fria. Senti pena de Katie, que morava anteriormente em Clermont e parecia estar bem incomodada com o clima. Por falar nela, iria comigo no carro.

Percebi de cara que as criadas que a acompanhavam não eram apáticas, mas também não possuíam assuntos em comum com Amy e Audrey, o que tornou o primeiro passeio de carro quase que um completo silêncio.

A maior parte do trajeto foi por uma estrada, e como estava de noite, não havia muito o que ver, contudo, assim que nos aproximamos do Palácio de Madrid, o número de casas começou a aumentar e gerou uma boa distração. Construções antigas contrastando com modernas. Comércios, praças, estátuas e alguns pontos turísticos, eu supunha. Passamos muito rápido por eles.

Tal como a saída do aeroporto, nosso destino estava com muitas pessoas curiosas pela nossa passagem. Agradeci internamente por não sermos abordados pela mídia quando o carro estacionou em frente uma das portas após cruzar o portão principal.

Havia apenas um conjunto de fotógrafos no saguão de entrada na companhia da segurança e dos funcionários para nos receber.

"Tapete vermelho, que chique" Ophelia disse, me fazendo rir.

A família real estava nos esperando na Sala do Trono ao final de uma passarela com tal tapete vermelho.

O palácio real de Madrid também era conhecido como palácio do Oriente. Os reis e rainhas não moravam mais lá a gerações, mas sempre utilizavam o local para eventos e recepções. Eles passariam um tempo ali por causa de nossa ida.

O rei Carlos tinha por volta de 40 anos, assim como a rainha consorte Dulce. Ele vestia uma farda com várias estrelas douradas, enquanto sua esposa estava com um visual no estilo gala, com uma imensa coroa prateada na cabeça.

Pensei no quanto era baixa a cada passo, sobretudo com a referência dos filhos do casal. O príncipe herdeiro Fernando, de 15 anos, devia ter 1.80 ou mais de altura, e seu irmão Filipe, de 11 anos, era uns cinco centímetros mais baixo. Ambos tinham o mesmo tom de cabelo da mãe, castanho acobreado, mas apenas Filipe tinha vários cachos.

"Sean bienvenidos¿ Fue agradable el viaje?" O rei Carlos se pronunciou primeiro assim que o cumprimentamos segundo o protocolo.

"Sean bienvenidos."Imitou-o a esposa.

"Es un inmenso placer estar aquí de nuevo, majestades, altezas. El viaje fue tranquilo." disse Osten e olhou para nós." Permítanme presentarles a Élite."

O que chamava atenção naquela família é que todos tinham o tom de voz e postura mais formal que eu já tinha visto na vida. Comparei quando ouvi Eadlyn falar pela primeira vez com as selecionadas, e não tinha nem comparação.

Acho que as outras meninas também sentiram o mesmo que eu, porque olhei de soslaio e vi que estavam estáticas. Uma a uma, foi abaixando a cabeça apenas quando Osten pronunciou seu nome. Ninguém ousou dizer nada mais, não seria eu a dizer algo.

O rei olhou para os filhos, e só então eles nos deram boas vindas. Deduzi que seria também parte da formalidade. Os dois tinham basicamente as mesmas vozes. A propósito, eles quase não falaram nada durante o jantar que se seguiu. As conversas paralelas se mantiveram em baixo tom, apenas Osten e o rei Carlos conversaram em tom mais alto.

“Você tem certeza que não cometemos nenhum erro?” Audrey me questionou mais uma vez e eu não tive como não rolar os olhos.

“Relaxa, Audy, vocês foram ótimas.”

Ela e Amy ficaram muito nervosas quando descobriram que o jantar seria para todos na mesma mesa. Dei explicações sobre talheres, postura e coisas do tipo, e elas aprenderam bem rápido.

“Rosie, a banheira já está cheia aqui.” Amy anunciou.

“Pode tomar banho primeiro.” joguei-me numa das camas. Audrey foi para a varanda dar uma olhada na vista que dava para um lago projetado. A melhor parte era que as duas iriam dividir o quarto comigo durante todo tempo fora de Illea. Não conseguia imaginar o que seria dividir o mesmo espaço com Jade ou Katie.

Minha bagagem chegou alguns minutos depois. Me surpreendi por haver um closet só para ela. Audy e eu dispensamos ajuda e começamos a desfazer as malas para guardar tudo ali. Apenas o essencial ficou espalhado pelos criados mudos do quarto.

Não conseguiria pegar no sono tão cedo. Me convenci disso. Para melhorar a ansiedade (ou não) andei até a bagagem e puxei o meu caderno. A carta que eu tinha trazido estava na primeira folha.

Querida Rosie,

Já tem um bom tempo que deveria ter me apresentado. Imagino o que deve ter sentido durante esse tempo, com todos os recados que recebeu. Algumas palavras podem ter sido mal interpretadas e é normal que desconfie da pessoa que vem falando com você anonimamente.

Sei da possibilidade de que, ao final dessa carta, você ache que estou mentindo sobre quem eu sou. Mas você merece saber a minha versão dos fatos para que, assim, possa decidir se irá me dar ou não um voto de confiança.

Esse é o meu passado:Ainda jovem, perdi meus pais e briguei com a única família que me restava. Fui para França, a fim de começar uma nova vida e consegui um emprego em um restaurante de luxo.Foi lá que conheci uma mulher que achei ser incrível. Ela sempre visitava aquele restaurante sozinha, quase duas vezes por semana, admirava a bela vista do local durante a maior parte do tempo e sempre pedia o mesmo do cardápio. Ela era linda e educada. Fiquei enfeitiçado por ela.

Começamos a conversar casualmente, mas descobrimos muito em comum e os nossos diálogos passaram a ser mais longos. Ela não saia do restaurante até falar comigo. Foi assim que nos aproximamos e passamos a sair. Eu esperava de tudo, menos que não estivesse sendo honesta comigo sobre quem era.

Marie Artois Beaufoy, de uma linhagem 'nobre', com proximidade com a família real francesa, e casada com Allan Beaufoy, um diplomata de destaque e os dois já tinham um filho pequeno. Um de seus empregados me procurou uma semana depois de rompermos. Ela estava grávida e, de acordo com a contagem de meses, a criança não poderia ser de seu marido, que passou uma temporada viajando.

Eu fiz o que tinha que fazer. Eu exigi ter contato com a criança, assim que ela nascesse. Marie me surpreendeu ao dizer que não te queria, minha filha. Doeu aceitar, mas a verdade é que ela faria de tudo para se livrar de você. A qualquer custo. Minha proposta, porém, foi em parte ouvida por ela.

O anúncio do desaparecimento do bebê, no hospital que nasceu, rendeu meses de discussão na mídia. As buscas foram de alguma forma compradas por Marie. Eu não tinha permissão para morar na França por muito tempo, visto que a licença estudantil estava acabando. Lembro de ter saído de lá com você em meus braços e com a ajuda daquela mulher que conseguiu uma documentação falsificada para seu 'registro' em Illea.

Achei que a história tinha acabado e que poderíamos construir nosso próprio final feliz, mas Marie foi astuta. Segundo o que me disseram, o evento traumático foi apagado. Ela planejou um acidente para mim e planejou coisas para você, tenho certeza. Embora eu não saiba exatamente como você escapou por tanto tempo das mãos dela.

Passei todos esses anos tentando recuperar a minha memória. Tenho a sensação de que alguém te tomou de mim. Há momentos em que consigo me lembrar de entrar em um táxi, já em Illea, e pedir para que ele fosse com a maior velocidade possível e perseguisse alguma pessoa. Você não estava comigo mais nesta memória.

Tentei de todo jeito me lembrar com detalhes, mas as coisas retornam à mente não no ritmo que quero. Foram muitos anos sem resposta.

Fiz o que pude para te achar, mas quando se trata de Marie, as coisas ficam perigosas. Achei ter te perdido para sempre. Mas você apareceu no Jornal Oficial de Illea. Você é a cópia dela, foi impossível não associar e a confirmação estava no colar que você usava. Ele foi feito como herança da família de seu avô, Marcel Artois, o pai de Marie.

Não me julgue, por favor. Mas eu o levei junto para vender, porque não tinha muito para você e estava com raiva de Marie. Assim que te vi, entrei em contato com alguns amigos, dentro do palácio de Illea. Por isso, os meus bilhetes chegaram tão facilmente.

Nunca fui tão claro quanto estou sendo agora, porque tive medo. Ainda tenho medo de que algo te aconteça. Por isso, por favor, tome cuidado em todos os lugares para onde estiver indo nessa viagem. Fique atenta, em especial, na Itália, se chegar a ir para lá.

Avise à sua segurança. Creio que não conseguirei enviar quem quero dentre os meus aliados para te proteger. Evite contato com Marie e sua família. Não converse com ela, não confie nela se disser que veio em missão de paz.

E se você queria um diálogo, acho que estamos muito perto de um. Espero ansioso por nosso encontro. Entrarei em contato, assim que possível. Me perdoe pelo tempo perdido.

De seu pai, que te ama incondicionalmente,

Brian.

...

Querido Brian,

ou melhor, pai, não se preocupe comigo. Não farei contato algum com Marie. Se ela nunca me quis como filha, vai ter a garantia de me não ter em seu caminho. Não existe motivo para ter que se desculpar. Você mesmo sabe que as coisas saíram de seu controle. Eu entendo a sua postura de não se aproximar assim que soube de mim, mas espero que a gente não tenha que permanecer nessa por tanto tempo.

Sim, são anos perdidos. Tudo o que sei sobre você é o seu nome. E tudo o que deve saber sobre mim deve estar baseado em notícias, ou no que ouviu falar pelos seus mensageiros. Você poderia me dizer quem exatamente tem sido seu informante? Assim eu poderia me unir a ele, e seria mais fácil saber quem está como apoio.

Além disso, se tiver algo para me falar, essa pessoa pode me passar por telefone enquanto eu estiver fora. Serão vários países, por isso acho que cartas enviadas iriam demorar...

Espero que não demore muito para nos conhecermos.

De sua filha,

Rosie.

A carta de Brian havia chegado à noite e eu passei a manhã do dia seguinte, véspera da viagem, esperando pela investigação de Eduard. No entanto, a má notícia era que ninguém morava no endereço contido na carta. Era simplesmente uma casa abandonada em Angeles.

A resposta que escrevi, no início daquela tarde parecia ser boa, apesar de curta. Apressei-me até à agência de correios, e sem querer atrapalhei um momento especial de Sullivan e Amy.

Lancei um olhar malicioso para Amy, que estava vermelha como um pimentão.

A vingança era tão doce.

"É o seguinte. Envie para onde veio. Por mais que ninguém more lá, pode ser que verifiquem a caixa de correios."

Sullivan se levantou e colocou a carta na pilha de prioridade para enviar.

“Não se preocupe. Estará no destino no máximo até amanhã de manhã. Está na hora do basebol?”

“É daqui a uns quinze minutos, acho. Aproveitem por enquanto.” pisquei para os dois me retirando.

A ideia foi de Phoebe e Stefan, para variar. Ela ficou por mais uns dias com a gente, e obviamente os dias não seriam entediantes.

“Eu tenho uma notícia para você.” me sentei na cadeira do escritório de Osten, enquanto ele terminava de guardar seus papéis no armário à frente.

“Hum…o quê?” Ele prestou atenção metade em mim, metade em seu documento. Balancei a cabeça esperando que ele terminasse de ler o que lia.

“Respondi a carta do meu suposto pai.”

“Ah… Espera aí, sério?” Assenti, explicando a minha estratégia.

“Ah,sim. Isso talvez ajude a encontrá-lo mais cedo.”

“Vai ser ótimo se ele estiver mentindo, ou também se for outra pessoa tentando se passar por ele.”

Osten sorriu fraco.

“Você já tá cansada de muita mentira.”

“Sim.”assenti.” A carta dele eu admito que me balançou. Tem muito detalhe que encaixa, mas vários pontos que me dão essas dúvidas.A família de Oliver continua na Itália, certo?”

Osten concordou. Allan disse a ele que pretendiam voltar a morar na França, mas ainda havia alguns assuntos a resolver na Itália.

“Isso quer dizer que vamos nos encontrar em não muito tempo..”Suspirei.”É melhor. O teste já dá negativo, e eu me desvinculo para sempre deles.”

“De qualquer jeito.” ele fechou o armário.” Eu acho que você tem que tomar cada vez mais cuidado agora.”

“...Como?”

“Ainda mais quando estivermos viajando, não vou estar do seu lado o tempo todo. Não dá pra confiar em ninguém. Então não se descuide andando sozinha por aí, e já que não tem certeza de nada, por favor, não se encontre com nenhum de seus supostos pais biológicos, sem avisar ou…”

“O que te faz pensar que sou tão imprudente assim?”

“Não é isso.”franziu a testa” Olha, eu sei que vou soar como um superprotetor, mas eu não ainda não achei uma boa da sua parte quando saiu respondendo aquele bilhete e pedindo comunicação com quem quer que fosse. Sem falar que você saiu andando por aí, pelo jardim e pelo bosque várias vezes. Pode conhecer de vegetação e se virar melhor do que eu, mas nada muda o fato de que nunca soube se alguém mal intencionado poderia estar atrás de você.”

“...Você tem um ponto.” Suspirei.” Mas eu quero que você confie um pouco mais em mim. Eu vou te avisar se precisar tomar alguma decisão. Não vou me arriscar de…”

“TIO OSTEEN.” O grito veio do corredor, junto com o conjunto de passos urgentes de Kerttu. Ela abriu a porta e seu sorriso murchou.

“Eu atrapalhei vocês. Droga. Eu só queria lembrar que o jogo de basebol já vai começar e o Tyler já disse que você vai ser o capitão do time adversário.”apontou para Osten. “NÃO DEMOREM” gritou já longe.

“Não precisa dizer mais nada.” Osten quem retomou.” Me desculpa. Eu garanto que vou tentar não ficar mais tão ansioso daqui pra frente.”

Sorri de volta pra ele.

" Eu sei que você só queria… ajudar.” olhei para cima e retirei o objeto, no caso o boné que tinha ido parar sobre minha cabeça. O que eu havia lhe dado de presente. Ele também levaria a bola, e um de seus antigos bastões.

Coloquei o boné de volta nele, argumentando que de qualquer jeito todos nós receberíamos um quando chegássemos lá fora. E o dele tinha uma decoração diferente, todo mundo iria reparar nisso se eu usasse.

As marcações do campo já estavam prontas, pois no dia anterior, a partida havia sido com guardas e funcionários. Eu estava perplexa com a quantidade de pessoas que convenceram a vir dessa vez.

Tyler foi o primeiro a escolher os integrantes de seu time e me chamou. Osten escolheu Aspen, o pai de Stefan. Me surpreendeu ele também jogar.

O primeiro time ficou sendo: Tyler, eu, Phoebe, Kerttu, Eadlyn, Jade, Maxon, Sullivan, Eduard. O outro foi formado por Osten, Aspen, Suki, Stefan, Ophelia, Katie, Paige, Erik e Ethan.

Na torcida havia vários funcionários- alguns que iriam entrar na próxima rodada- além de America, Sra. Brice, Amby, Darlan, Lucy, Neena e Josie. Entre as criadas vi Amy, Audrey e Lee.

“Você não está burlando seu horário de serviço?”

Tyler riu.

“Kerttu.”

“Eu deveria imaginar.”

“Na verdade, ela e Stefan foram bem convincentes. Mas quem mexeu os pauzinhos e convenceu meu chefe de abrir a exceção foi ela.”

Meu amigo reuniu o time para tirar as últimas dúvidas sobre o jogo. Ficou a explicar melhor as regras para Jade e Sullivan por ser a primeira vez deles jogando.

Parei ao lado de Eduard propositalmente para avisá-lo sobre a decisão de responder às cartas.

“Ótima ideia.” Assentiu.”Sabe que não fui indicado para viajar com vocês, mas posso te manter atualizada sobre o que conseguir de informação.”

“Você sempre foi de grande ajuda. Obrigada.”sorri não contendo o riso.

“O quê?”

“Deixa pra lá.” abanei a mão e fui para a minha posição no campo.

Lee conversava com Ethan, o chefe da agência de correios, chefe de Sullivan. E a atenção de Eduard tinha ido por alguns segundos especificamente para eles.

É um bichinho verde que cresce sem você perceber.

A piada quase saiu, mas me detive. Sue era a atual namorada dele, ele a escolhera, e seria maldoso de minha parte brincar com qualquer indício de paixão dele pela Lee. Isso era assunto deles.

'Nãooo." Phoebe quase pulou de ódio quando errou suas três tentativas, ao contrário do pai de Osten que só soube rir. Tyler bateu no meu ombro quando chegou a minha vez.

"Acaba com ele,Ro."

Osten me lançou um sorrisinho antes de lançar. Aceitei na segunda tentativa, rendendo gritos ensurdecedores de Suki e Kerttu.

“Nunca te vi correr tanto na vida…”

O príncipe se aproximou de mim para me ajudar a levantar quando cheguei à última base, pontuando para meu time, que começou a ganhar vantagem pelas jogadas de Jade, Tyler, Eduard, Kerttu e Eadlyn. Do outro, Osten, Aspen e Stefan tinham conseguido pontuação.

Stefan, inclusive, se mostrou um ótimo lançador. Kerttu acertou de primeira e não parou de se gabar por isso nem por um segundo.

Após o jantar, Kerttu, Stefan e Phoebe me chamaram para a cozinha. Osten acabou ouvindo e veio junto. Não me surpreendi ao encontrar Tyler por lá, já que ele estava ficando um pouco além de seu horário de serviço para fazer receitas com as crianças nos últimos dias.

A ideia era fazer alguma sobremesa rápida de no máximo 20 minutos, mas demoraram uns dez minutos para entrar num consenso. O trio dinâmico resolveu que faríamos um pudim e uma salada de frutas.

Fiquei de cortar as frutas, com Osten, enquanto Tyler fiscalizava o que o restante fazia no fogão.

Não demorou muito tempo e Tyler quem veio para o meu lado, olhando estranho para a mesma direção que eu. Osten estava pegando uma panela.

"O que você tá fazendo aí, chefe?"

"A revanche pelo jogo de hoje."

"Logo na minha especialidade?!"Tyler riu."Lamento te dizer Rosie, mas você arranjou um baita sonhador."

“Vocês vão se arrepender depois de provarem esse bolo.”

Osten me lançou uma piscada e voltou a atenção para o fogão. Era engraçado e difícil aceitar como em todo esse tempo ele sabia sobre minha antiga paixão por Tyler.

“Phoebe, desse jeito você vai botar fogo na cozinha!” Tyler se pôs na frente dela quando ela quase escolheu ligar a boca do fogão, onde tinha deixado o pano de prato.

“Ops. Eu sou péssima nessas coisas.”Ela riu de nervoso”Mas não seria a primeira vez.”

“Mentira! O que aconteceu?” Kerttu se agitou.

“Ela deve ter esquecido o fogão ligado, é bem a cara dela.” Stefan caçoou levando um olhar mortífero.

“Não foi assim. Eu só fui fazer um doce de leite, e esqueci de apagar um fósforo e coloquei ele em cima de um pano sujo de óleo.”

“Que isso.”

“Céus.”

“Pelo amor, Phoebe.”

Kerttu e Stefan só riram.

“Mas meu irmão estava lá pra me socorrer com um pano úmido, então deu tudo certo.”Ela sorriu.” Estou com fome, não tem nada pra comer por enquanto?"

Tyler olhou para Phoebe e apontou para a geladeira.

" Última prateleira.Tem uma sobremesa por lá."

"Essa torta de limão?”

"Isso. Comam um pedaço pequeno para terem apetite quando tudo ficar pronto.”

"Nossa, que maravilha gastronômica! Está de parabéns, Tyler. "

" Não foi ele quem fez. E que bom que gostou. Foi feito às pressas e não dei o melhor de mim nele."

Segui o olhar espantado de Phoebe até a porta. Jade andou e parou diante de nós.

“... Você cozinha?!”

“O que parece?” Ela cruzou os braços, e caminhou até minha amiga tirando a bandeja de sua mão.”Vim pra pegar um pedacinho, mas não esperava por essa surpresa.” Olhou na direção de Tyler, que levantou as mãos.

“Eu só ia deixar eles comerem um pedaço, isso aí é enorme,vai.”

Eu já não estava entendendo mais nada.

“Mas você sempre disse que não gostava do programa de Culinária Juvenil. Isso não faz nenhum sentido!”

“Na verdade, meu pai era um grande chef de cozinha. A gente costumava fazer algumas receitas inovadoras, sempre pela manhã.”Jade disse cortando a torta.” Minha mãe era aspirante à moda, e eu sempre segui os passos dela, mas tenho um pouco da influência do meu pai. E respondendo sua pergunta”Olhou para Phoebe.” Só porque gosto de cozinhar, não significa que eu goste de qualquer programa de culinária.”

Phoebe olhou para mim como quem iria surtar a qualquer momento. Ela então se deu conta.

‘Meu pai era’.

“Ah, Jade, pelo jeito que você falou, por acaso, seu pai…”

“Sim.”

“Sinto muito.”

Ela deu de ombros.

"Eu descobri sobre isso esses dias.”Tyler se pronunciou enquanto Jade oferecia um pedaço para cada um.” Sempre chego cedo e uma vez vi que Jade não tinha terminado uma de suas receitas da madrugada. E já que você está aqui, quer se juntar a nós?”

Jade aceitou na hora. Ela se colocou ao lado de Osten para ajudá-lo. Troquei um olhar com Phoebe, não queríamos muito ela ali, mas pelo menos ela não estava sendo insuportável como sempre.

Estreitei os olhos para Tyler, ele me olhou. Não era preciso dizer. Ele entendeu o meu questionamento.

Desde quando ele tem toda essa proximidade com a Jade?

" Não é o que está pensando."

" Será que não?"

Ele estalou a língua.

" Ache o que quiser, mas eu falo sério quando não tenho paciência pra mas ninguém"

“Ok. Foi mal.” Escondi o meu sorriso.

" Eu notei que você ficou meio desconfortável do lado da Suki hoje... "

Phoebe tinha sugerido uma espécie de ‘festa do pijama’ depois do tempo que passamos na cozinha, já que era seu último dia em Angeles.

Respirei fundo. Ela se referia ao momento do intervalo do jogo de basebol, quando estávamos conversando com Josie e Suki..

Josie lamentou o fato de que Kaden teria amado o momento se não estivesse trabalhando. Mas, em breve, ele iria tirar férias um pouco mais prolongadas. Assim poderia acompanhar a primeira fase de recém nascido do bebê, que estava para chegar.

"Quero muito ter crianças também, e bem no início do casamento. Se tudo der certo. Mas para isso eu preciso ter certeza de que Osten iria conseguir estar presente. Do jeito que ele trabalha... "

" ...Acho que o problema do trabalho sempre vai ser real."

Percebi o olhar rápido de Josie sobre mim ao responder Suki. Sua voz saiu desconfortável.

Como se não bastasse, a asiática comentou que tinha gostado da ideia de não saber o sexo do bebê até o nascimento, e por brincadeira disse que iria querer uma peça ou outra do enxoval preparado para Ian ou Sarah. O silêncio foi milagrosamente cortado quando nos chamaram de volta para o jogo.

"Bom sim.” respondi Phoebe” Eu me sinto culpada perto da Suki, porque eu e Osten... estamos a passo de ficar noivos, e eu não sei como contar a ela. Fui adiando isso, mas hoje levei um banho de água fria e me convenci de que preciso falar logo. "

"Aquele momento foi muito estranho, cara. Fiquei constrangida por você."Ela fez uma careta."Eu já queria te perguntar sobre isso há um tempinho. Não tenho dúvidas de que Osten te escolheria de olhos fechados, mas vocês nem sinalizaram oficializar nada até agora e... as meninas continuam aqui achando que podem ser escolhidas, né?"

" Infelizmente. Eu e Osten já conversamos sobre esse assunto, mas a viagem já era certa no cronograma da Seleção, então ele me pediu mais esse tempo, pelo menos.."

" Espera, então foi ele?!" Franziu a testa e riu, me deixando sem reação.."Desculpa. Achei se fosse para pedir mais tempo, a pessoa seria você!”

Ela riu mais, me pedindo desculpas novamente.

“Mas, enfim, não acho que tá muito fora. Vocês acabaram de entrar num relacionamento."

"...Sim." suspirei.”Eu gostaria de ter mais tempo pra conhecer ele melhor. De uma maneira normal, entende?"

Phoebe assentiu.

"Olha eu sei que vou soar meio contraditória, mas apesar de não ser bom enrolarem, acho que essa viagem vai ser boa para você. Digo. Para amadurecer vocês.” ela segurou a minha mão.”Mas, aqui, eu entendo que você não quer magoar a Suki, e ficou mais difícil dizer isso, porque parece que ela está meio gamada no seu noivo.”

“Quase noivo.”

“Noivo pra mim.” deu de ombros.”Mas, sério, use a viagem para deixar isso claro para ela.”

“Eu sei, eu já tô bolando um jeito,pode deixar.”

Recebi um abraço de sua parte.

“Confio em você, amiga. E se der tudo errado, pode ligar pra mim.”

Ri sem humor.

“Ótimo encorajamento seu.”

“Você me entendeu.”

...

“Não, não atenda!” Audrey segurou Amy que se levantou ao som da batida.”Todas nós sabemos de quem se trata.”

Respirei fundo com os seus olhares.

“Se não for ele, vou te denunciar para Lee por se recusar a me ajudar."falei recebendo uma careta. No fundo eu torcia para que ela tivesse razão no palpite.

E tinha.

Fechei a porta atrás de mim, ao som de risadas.

“Parece que estão se divertindo com a viagem...”

“Sim, foi ótimo para elas saírem da rotina de sempre.”

“E você? Está bem acomodada?"

"Sim."

"Sentiu frio aí dentro?"neguei" Esse lugar costuma fazer frio mesmo com tudo fechado. Em alguns quartos mais do que outros, por isso se precisar trocar…”

“Osten, por favor” segurei seu rosto com as duas mãos”Está tudo certo, sempre somos bem tratadas.”

Ele assentiu, aproveitando a proximidade para acariciar meus lábios com os seus. Não continuamos devido aos passos que ouvimos.

Trocamos um sorriso sem graça e com o guarda que apareceu na esquina corredor. Ele pareceu entender o momento, tanto que aumentou a velocidade da passagem, o que me deu uma estúpida vontade de rir.

“Isso foi igual a um clichê de filme adolescente.”

“Foi mesmo...” Osten meneou a cabeça, antes de me puxar novamente, dessa vez para trás de uma pilastra, o que nos deu certa privacidade.

Paramos um tempo depois. Permaneci com os braços ao redor de seu ombro e afaguei a parte de trás de seu cabelo, enquanto ele sorria concentrado em colocar minhas mechas atrás da orelha.

“...Está tudo bem com você?” Meu questionamento o pegou de surpresa. ”É que você parece com alguma coisa. Não aconteceu nada de ruim que…”

“Não, não esquenta. É que amanhã tenho que negociar de novo com alguns sujeitos que… "suspirou” Eles me fazem perder a paciência. A agenda de vocês também vai ser bem puxada, então, por favor, descanse bem e não fique lendo nada até tarde...”

“Olha quem fala… Fazendo projetos e lendo um milhão de documentos até as altas horas da noite.”

“Mas hoje vou dormir no horário certo.”

“Ah, eu duvido…”

“E você deveria seguir o meu conselho.” me olhou em súplica. Só pude revirar os olhos.

“ Ok… Boa noite”

Ele depositou um beijo em minha testa.

" Bonne nuit, ma princesse."