Aturar a Leda não estava sendo nada fácil. Primeiro que a cachorra tinha a cara cínica para mim enquanto dava em cima nitidamente em Liam. Segundo, suas indiretas mencionando meu passado de forma irônica perto de todos. Mas nenhum dos Bracho me interessavam. Minha única preocupação era que Liam percebesse o veneno que tinha por trás das palavras de Leda.

E eu ainda tinha que ficar fazendo teatro, sorrindo forçado para ela, para os demais e fingir que amava crianças, e que adorava meus “novos sobrinhos”. Tudo isso para não perder a confiança que Liam tinha depositado em mim.

A raiva estava subindo para minha cabeça. Para ter a certeza que o meu futuro maridinho não fosse contaminado, deixei que ele ficasse na ponta do sofá e sentei-me ao seu lado jogando meu corpo pra trás em seu peito e Leda na outra ponta.

A imbecil riu um pouco pela minha reação, porque eu nunca havia feito isso com Carlos Daniel. E muito menos havia sido tão áspera com as palavras. Isso porque não o amava como amo o Liam.

– Então me conta, querida... como está sendo morar nos EUA? – Leda perguntou fingindo interesse como sempre fazia para saber dos meus amantes, como o Donato.

– Igual como eu morava no México, Leda. A diferença que tenho que falar inglês – respondi nada amigável e entalada até a garganta.

– Que explicativo. Poderia ser menos seca e responder com detalhes. – retrucou a víbora.

– Quer que eu jogue um pouco de agua na minha resposta pra ver se desce pra você menos seca? – minha resposta tirou alguns risinhos de alguns.

– Eu acho que devemos ir dormir, Paola. Amanhã todo mundo acorda cedo – Liam fala tentando me acalmar e evitar uma discussão. – Ryan... vamos?

– Eu não quero ir dormir – meu gatinho resmunga. - Eu ainda quero brincar.

– Amanhã você brinca na festa, Ryan. – Paulina tomou a frente – Agora o Carlinhos e a Lizete precisam dormir também, não é verdade crianças?

– Sim, mamãe. – responderam os dois juntos.

– Mas eu não. – ele continua batendo o pé.

– Você, sim senhor – olhei bem séria para ele – Se não dormir agora, quando for amanhã você não vai ver a festa porque vai estar dormindo e vai se zangar. Então por tanto, trate de desfazer essa carranca e subir pra ir dormir feliz.

– Ah mamãe – ele fez um bico, que a minha vontade era de agarrar ele ali mesmo e encher de beijos só pra ouvir ele rir e desfazer a cara feia – deixaaaaa.

– Não, Ryan. – olhei brava, mas meu coração derretendo por dentro sempre que ele falava mamãe.

Quando terminei de falar todos ficaram olhando para mim, em choque e petrificados. Ver eu tomar as rédeas na educação de uma criança era novidade para os Bracho, parece que meu passado ia ficar me perseguindo para sempre. Aquilo só me fez revirar os olhos.

– Bom... já que todos vão dormir, eu vou indo. Já que amanhã é um grande dia e eu não posso perder por nada. Pode me acompanhar até a porta Liam? – Leda não perguntou aquilo... Não mesmo, só podia ser uma brincadeira ou meu ouvido estava com problema.

– É claro que não. Porque você sabe o caminho sozinha até a porta – segurei no braço dele -daqui até seu carro ninguém vai te assaltar e porque já vamos subir para dormir. Boa noite a todos. Vem Ryan.

Liam agradeceu o jantar e deu boa noite, subindo comigo. No caminho ele foi rindo o tempo inteiro.

– Posso saber qual é a graça? – perguntei ríspida.

– Claro que pode. A graça é seu ciúmes, e a forma como você fica nervosinha quando Leda dá em cima de mim.

O maldito percebeu tudo aquilo e não fez nada?

– VOCÊ PERCEBEU!! – gritei acusadora.

– É lógico. Mas queria ver até onde você ia e esse seu autocontrole prestes a explodir. – ele continuou rindo – eu acho você muito linda dessa forma. Com vontade de querer matar a primeira que chega perto de mim.

– MARAVILHOSO. LINDO. PARABÉNS. Você sabia que a biscate estava dando em cima de você e você adorando. Então quer dizer enquanto eu fico descendo do salto pra proteger o que é MEU, o bonitão fica se divertindo. – nunca me senti tão fora de mim. E minhas emoções estavam fora do controle. E não sabia nem o que se passava dentro da minha pessoa. – Ciúmes de mim você não sentiu.

– Não precisei porque aqui nem Carlos Daniel e nem Rodrigo parecem te olhar com cobiça. Ao contrário. Me intriga porque olham pra você com ódio. E me irritou essa forma como se dirigem a você.

Engoli seco porque ele havia notado a indiferença deles comigo. Para minha sorte amanhã seria apenas o casamento e depois iriamos embora. Eu não aguentava mais ficar pisando em campo minado.

Ryan pulou na cama e se enfiou dentro do lençol.

– Vou dormir hoje com vocês. – ele fala todo empolgado – vou poder dormir com a mamãe, e agarrar ela a noite e você vai ficar só na vontade papai.

Em segundos eu deixei minha intriga com a Leda de lado e soltei uma gargalhada.

– E você por acaso PENSA que vou deixar? – Liam puxou o lençol descobrindo o Ryan e o atacou com cocegas.

Meu garotinho riu até ficar vermelho e não se aguentar mais e pedir para respirar.

– Não vale, covardia – ele se defende – A mamãe prefere eu do que você.

Meu coração aquece quando escuto ele falar mamãe. Tudo torna as coisas especiais com meu pirracento predileto.

– Será que ela prefere? – Liam continua o provocando enquanto tira a roupinha dele e põe o pijama.

– Sim, eu prefiro – abraço meu ciumento e encho suas bochechas de beijos deixando marca por todo seu rostinho, ele se contorce parecendo uma minhoquinha, enquanto o seguro firme e continuo beijando – Prefiro, porque o meu gatinho pelo menos gosta de mim e não olha para outra mulher. – A indireta era para o Liam.

– Boba, eu tenho olhos só para você. – Liam abraça nós dois juntos e me beija.

Mesmo quando quero me zangar com esse garanhão eu não consigo. Definitivamente capturou meu coração.

– NÃÃÃÃÃO. Mamãe é minha e só minha. – Ryan me agarra e olha feio para o pai.

– Okay, garotão. Mamãe é só sua. Desculpa.

Nossos olhos se encontram e eu sorrio.

[...]

A manhã passou voando, todos ocupados com os preparativos do casamento e claro, ocupados em ajudar a Paulina a se arrumar.

Enquanto a melhor amiga da Paulina, Célia e a pobretona da Filomena estavam ajudando ela com o vestido, eu brigava para entrar no meu sozinha. A droga da roupa havia encolhido, e eu não conseguia levantar o zíper sem ajuda de alguém. Não tive outra alternativa e chamei por Lalinha que prontamente veio até meu quarto.

– Poxa Senhora, esse está apertado, a senhora está um pouco acima do peso. – olhei para trás com meu olhar gélido – desculpa.

– Quando comprei estava servindo perfeitamente, essa loja vagabunda que vende tecidos de terceira qualidade. – encolhi a barriga e segurei a respiração, foi quando senti o zíper subir.

– Seus seios estão maiores também. Vai atrair muitos os olhares.

– Quero o olhar apenas de um homem. – disse e Lalinha com um sorriso cínico cruzou os braços e me olhou de canto – Tá. Tá. Talvez eu queira o olhar dos outros homens também. Mas nada além disso.

Caminhei até o espelho e me olhei, nunca havia me sentindo uma baleia como estava me sentindo naquele momento. Ainda estava bonita, mas com certeza estava com uns quilinhos a mais. E meus seios estavam maiores realmente.

Mas ainda assim eu iria atrair mais os olhares no casamento do que a minha irmãzinha gêmea. Depois de ficar me admirando foi quando percebi que não havia colocado as sandálias de salto, e se eu fosse me abaixar eu não iria voltar a posição ereta. Nunca havia me sentido tão dependente e numa situação tão ridícula quanto aquela.

– Precisa de mais alguma coisa?

– Sim, preciso – me sentei na cama e estiquei a perna – você vai ter que pôr as sandálias pra mim. Não posso me abaixar e elas estão naquela caixa bem ali – apontei para o canto direito e no mesmo instante ela foi e voltou já se abaixando a minha frente colocando em meus pés.

– A senhorita Paulina já está pronta, agora só estão te esperando, dona Paola.

– Eu já estou indo. – respondi quando vejo ela terminar de me ajudar – Cadê o Ryan?

– Lá em baixo com o Carlinhos e a Lizete, Adelina e eu já demos banho e o vestimos

– Perfeito, Liam está com ele, não está? – olhei para Lalinha e percebi seu travamento, algo não estava cheirando bem – Onde o Liam está, Lalinha? – eu estava esquentando por dentro.

– Com a senhorita Leda que acabou de chegar. – Lalinha morde o lábio e fecha os olhos. – Se eu fosse a senhora desceria correndo, porque ela não está pra brincadeira.

Leda estava declarando guerra de verdade. Essa imbecil parecia que nunca se interessava por um homem solteiro, ela tinha que caçar por homens com donas. E especificamente falando, a dona desses homens tinha que ser EU.

Diabos!

– Essa biscate por acaso não foi logo para a igreja não? – a raiva me subiu tão rapidamente que eu senti que teria um AVC ali mesmo.

– Nem todos foram para a igreja, seu Carlos Daniel com a vovó Piedade já foram, mas o senhor Rodrigo está aqui para levar a senhorita Paulina ao altar. E a dona Leda disse que iria ficar para acompanhar os dois juntos.

Acompanhar eles juntos, claro. Ahã... Não é por causa de um certo homem lindo charmoso que estava lá em baixo não.

– Já estou descendo – fui até o espelho e verifiquei a maquiagem e o decote do meu vestido

– Poxa, essa dona Leda ama competir com a senhora. Não deixou o senhor Liam nem pra respirar.

– Se eu ouvir mais uma provocação Lalinha, eu vou coletar sua língua com um alicate. – eu estava com tanto ódio, que eu jogaria da escada qualquer pessoa que cruzasse meu caminho mesmo que fosse pra dar um oi pra mim. Eu estava a flor da pele.

Meu vestido apertado, eu estava gorda e uma desgraçada dando em cima do MEU homem.

Alguém aquela noite estava pedindo pra morrer.