Capitulo 3

- Como isso aconteceu Annabeth? – Matthew Perguntou estático, o irmão não fazia nada além de olhar para os sapatos.

- Eu recebi essa ligação hoje, ainda não sei de muitas coisas Matt – Disse esfregando as mãos uma nas outras, um milhão de sentimentos passavam por mim, Matt não chorava, nem eu. Talvez isso seja uma característica de família, os Chase nunca choram em publico, só em ocasiões muito delicadas, e chorar também entre família era algo tão raro que eu mesma só vi poucas vezes. Ele estava se segurando, mas algo me diz que tanto quanto eu, quando ele estiver sozinho ele chorará inconsolavelmente.

- Pode ter sido um trote Annabeth, uma brincadeira de mau gosto...- Meu irmão falava tentando convencer mais ele mesmo que a mim.

- Matt, eu não sei...eu..é – Ate agora estávamos sentados um em cada sofá, até agora. Eu cheguei simplesmente cheguei perto dele e deixei miseras lagrimas escorrerem pelo meu rosto. O decreto final para ele também deixar algumas saírem e tentar ao máximo esconder

- Eu tenho que sair – Ele disse secando algumas poucas lágrimas abrindo a mochila e tirando de lá a carteira. Matt andava abalado como Annabeth nunca tinha visto. E tudo se repetia como quando foi com Atena, só que dessa vez nem Frederick estava lá para consolar. Annabeth também tinha pensado em sair e respirar um pouco de ar fresco, só que ela era uma Chase, por mais que ela estivesse tentando ser forte, ela sabia que se saísse ela iria chorar feito uma criancinha.

III

Afrodite (ou melhor, Tia Afrodite), era o nome da pessoa que falava com Piper, que segurando um telefone sem fio andava de um lado para o outro. E a “Tia Afrodite” era na verdade a mãe dela, que morava a milhares de distancia, Estados Unidos, para resumir. Annabeth tinha que morar com alguém, e esse alguém seria a tia Afrodite, afinal, sem pai e sem mãe talvez o único resto de família que ela possa ter é nos Estados Unidos. Os únicos parentes ingleses da família eram velhos demais para cuidar de uma adolescente e ainda moravam numa cidadezinha no interior, sem duvidas, a hipótese de morar com Piper era mil vezes melhor que morar com velhos em fazendas.

Piper era uma prima de Annabeth por parte de mãe, Ela e tia Afrodite eram parte da família que foi para os Estados Unidos, afinal, a família tinha se dividido em tantas partes a partir da avó materna de Annabeth que nem sabe mais onde devem estar os tios-avôs e etc...talvez até num lugar latino como Argentina ou Brasil, ou até mesmo na Nova Zelândia ( Annabeth não devia ter certeza, mas talvez o Tio Albrecht era de lá).

Afrodite se deu bem nos Estados Unidos, virou uma famosa estilista e atualmente está com Tristan McLean, mas Tristan não é o único figurão que a tia estilista já pegou, Silena, minha prima e irmã mais velha de Piper era filha de um dos sócios de uma das maiores empresas de chocolate do mundo, só não tinha certeza se era a Hershey’s ou a divisão de chocolates da Nestle. Definitivamente, Afrodite era uma grande socialite nova-iorquina.

A oportunidade estava posta:

Tristan McLean, maior galã dos anos 80 voltará as telas no novo filme de faroeste dirigido por Quentin Tarantino, anunciava os jornais.

Era uma oportunidade perfeita para Piper, ela que antes estava sendo obrigada a ir embora da Europa no final do ano agora poderia levar Annabeth também, era só unir o útil ao agradável, e pronto, Annabeth poderia ir também! Claro que não tinha nada útil e agradável na prima virar órfã mas era melhor Annabeth junto da família do que morando sozinha, sabe-se lá o que a Chase mais nova poderia fazer longe de supervisões adultas? Ok...Afrodite também não era lá muito madura para sua idade – Também, esperar o que de alguém com esse nome? – mas legalmente ela ainda era uma adulta capacitada de viver em sociedade, e de “criar” Annabeth até os 18 anos, pelo menos Piper esperava que fosse capaz.

III

- Sim mãe- Concordava Piper basicamente em 5 em 5 segundos – Estarei esperando- Finalmente se despediu desligando o telefone, após algumas risadas no começo e muito choro no final. Parecia teatro por telefone.

- Você não pode levar Annabeth para os Estados Unidos- Berrava Luke um tanto quanto exaltado enquanto Annabeth prestava mais atenção nos livros empoeirados na estante da sala particular de Atena, onde há alguns anos ela já trabalhou.

- Annabeth não pode ficar mais aqui, não percebe? Isso faz mal para ela! – Dizia Piper gesticulando como se tentasse convencer Luke que o ovo veio primeiro que a galinha. Annabeth que parecia estar no mundo da lua estava sim prestando atenção em toda a conversa, desde a parte que Piper tocou em leva-la para os Estados Unidos até os resmungos de Luke contestando que qualquer forma que ela não podia ir.

Luke e Piper pareciam um casal divorciado brigando pela a guarda de Annabeth.

- Aqui ainda é o lar dela, junto dos amigos! – Luke contestava nervoso, era obvio que ela não queria perder a “melhor amiga” que ele tinha uma queda que parecia mais um precipício.

- Quais outros amigos que ela tem aqui Luke? Lá ela terá a família! Irá morar em outra cidade, conhecer pessoas novas – Luke engoliu em seco. Aquela antiga casa dos Chase não era mais ambiente para Annabeth por mais que Luke soubesse que Piper estava certa ele não podia admitir caramba! Annabeth era parte dele, era a pessoa que ele mais chegou perto de pensar “romanticamente” – E como pensava- E agora a simples hipótese de deixar a loirinha dos olhos cinzentos ir para um país mais longe que qualquer lugar que Luke já viajou era algo digno de cadeira elétrica!

- Arghhhh – Ele simplesmente balbuciou, ele não queria admitir, mas morar em outra cidade (em outro país) seria melhor para Annabeth, mas não para eles, ou melhor, a quase relação deles.

- Por onde será que Matt deve estar? – Perguntou Annabeth tentando se distanciar de mais brigas da parte dos dois. Parecia que os egoístas não se tocavam que tudo que a mais jovem órfã dos Chase precisava era de paz.

Ela queria passar simplesmente pelos conhecidos cinco estágios do luto, 1° Negação e Isolamento, 2° Raiva, 3° Diálogo, 4° Depressão, 5° Aceitação. Bom, segundo Elisabeth Kübler-Ross eram esses.

Annabeth estava no terceiro entrando no quarto, era inevitável, a danada da Elisabeth era tão boa psicóloga que Annabeth leu On Death and Dying (Um dos seus livros publicados) Várias vezes. Annabeth mal havia entrado na quinta fase com Atena, e já recomeçou os estágios do luto novamente, agora para piorar com Frederick. E dessa vez dividiria esses estágios novamente com Matt, ou pelo o menos pretendia. Chorar junto à pessoas que entendem a sua dor é melhor que chorar sozinho.

- Não sei, ele precisa de um tempo só para ele. Imagina, como ele deve estar se sentindo – Disse Piper soltando um suspiro, todos também tem que dar um tempo para o rapaz. Ele estava sofrendo tanto ou mais que a pequena órfã. Matt e Frederick eram tão amigos quanto ela e Atena.

- Annabeth, irei dispensar Frida hoje e trarei nosso almoço, ok? Sem a comida integral ou politicamente correta dela hoje – Concluiu Piper, esperando alguma objeção de Annabeth ou de até mesmo Luke. Nada foi falado, ela só observou um pequeno concordar vindo de Annabeth, talvez comida alegrasse Annabeth, ou pelo menos o estomago – Talvez comida oleosa do The Batter Plaice ou o velho pote de frangos do KFC – Novamente Annabeth somente concordou, é talvez nem o estomago fosse alegrar, pensou Piper.

Annabeth subiu e tentou dormir, fechou os olhos e esperou o sono vir, e nada, ela já estava desistindo quando percebeu que alguém chegou. Luke.

Ele se aproximava lentamente como se não quisesse fazer barulho, e aos poucos ela sentiu o toque macio dele em seu rosto.

- Somos uma família Annabeth – Ele disse tão baixo que ela não soube ter certeza se fora isso mesmo que ele disse – Não quero te deixar, mas eu sei que é minha obrigação.

Annabeth queria abrir os olhos e beija-lo com toda paixão que tinha, mas ela não fez isso, ela simplesmente segurou a sua mão antes dele se levantar do lugar da cama que ele tinha sentado, ela queria que ele ficasse lá.

- Fica aqui – Ela disse inocentemente deixando a Annabeth mais frágil que existia aparecer. Ela abriu espaço na não tão grande cama e Luke deitou espremido.

- Nunca achei que a dois anos atrás estaria passando por tudo isso– Disse Annabeth sendo sincera, a dois anos atrás ela e Atena viviam felizes por ai como as melhores amigas do mundo e rindo das piadas velhas do pai, sem precisar se preocupar com funerais e culpas de acidentes

- Digo o mesmo – Ele falou se alinhando ainda mais a ela, que agora deitava a cabeça no ombro de Luke – A dois anos atrás eu era mais bobo – Dizia ele se lembrando de memorias idiotas que tinha com Annabeth.

- E eu menos chorona- Disse Annabeth dando um risinho e aos poucos caiu no sono.

A vida parecia debochar até nos sonhos. O que se esperar quando se há uma perda importante para uma pessoa? Ter no mínimo sonhos tranquilos, correto? Mas não foi isso que aconteceu.

Annabeth tinha 7 anos naquele sonho, naquela lembrança do passado ela estava sentada com Atena afagando seus cabelos , Alf, seu cachorrinho tinha fugido durante à noite, graças ao gênio do irmão mais velho que esqueceu de fechar a porta de animais que era anexada à porta dos fundos. Alf era um lindo beagle que toda criança gostaria de ter, um presente de Frederick no aniversário de 6 anos da pequena loirinha. Quando ela acordou e não encontrou o cachorro ao lado da cama, ela saiu casa a fora procurando o filhote de beagle de um ano junto com o irmão.

Annabeth voltou primeiro que o irmão, que por ser mais velho, saiu pelo quarteirão com a bicicleta. Annabeth por ser mais nova, não podia procurar em muitos lugares a não ser a rua e o quintal de casa, então depois de procurar em todos os lugares, ela pela primeira vez desistiu. Foi para casa e se sentou no colo da mãe.

Atena lhe afagava os cabelos e falava palavras bonitas, mas a única coisa que era queria era o cachorrinho, Annabeth chorava baixinho e a mãe sábia lhe disse:

- Minha pequena Annabeth, vou lhe contar um segredo – Annabeth parou de choramingar um pouco e olhou para a mãe com os olhos murchinhos – Eu sei que você é muito inteligente, nossa sabidinha, e que vai intender – Ela riu com o comentário e continuou a olhar para a mãe.

- Annabeth, nada é duradouro minha filha, assim como o Alf, tudo se acaba ou se vai, mas as pessoas inteligentes como eu e você sabemos que elas sempre estão conosco nos nossos pensamentos e no nosso coração – A pequenina sabidinha no momento não entendeu o que a mãe quis dizer com aquilo, talvez quando fosse maior intenderia, mas até o presente atual, Annabeth não se recordava dessa lembrança de infância.

- Porque esse sentimento que o Alf deixou no seu coraçãozinho, não será substituído por nada, ele será infinito – Atena deu uma pausa e segurou a mão da criança, a minha mão , e continuou – Prometa que você se lembrará dele pela coisas boas e deixar de lado a mágoa? – Eu até aquele momento não tinha entendido o que aquilo significava, mas infantilmente eu prometi.

- Sim mamãe, eu prometo.

- O que você promete? – Disse Luke dedilhando os livros na minha estante, como se ele fosse ler algum daqueles títulos.

- Eu prometo aceitar, aceitar que tudo vai acabar bem – Eu disse sem me importar se Luke entendeu, porque naquele momento, todo que eu queria era esquecer qualquer momento de tristeza ou mágoa para somente me lembrar das recordações boas com meus pais e cumprir a minha promessa.