A turma veio abaixo a gargalhadas. Dean sentiu seu rosto esquentar de vergonha. Queria um buraco para se enfiar. Por que aquele gigante com cara de criança estava jogado à seus pés fazendo aquela cena? Por que sismou logo com ele, que era tão tímido...

O professor se aproximou, e, segurando os ombros de Sam, pediu silêncio a turma. Saiu de sala e mandou que o menino o acompanhasse. O moreno estava pouco se importando se havia agido como um maluco. Finalmente tinha dito a Dean que o amava, e apenas isso importava. E seu lourinho estava lá, vivo, lindo, olhando para ele. Pobrezinho... Ficou visivelmente envergonhado, sem entender nada... Sam sorriu lembrando da cara assustada que Dean fez. Depois se conheceriam de novo, e dessa vez Sam não deixaria que nada de mal acontecesse ao seu amado, de jeito nenhum.

O professor levou o menino até a sala da psicóloga, Dra. Holly. Pediu que o garoto esperasse um pouco enquanto ele mesmo, aparentemente, explicava à moça o motivo que o levara a encaminhar Sam a ela.

Sam, essa é a Dra. Holly, ela vai conversar com você. - Disse o professor, antes de se retirar.

- O que aconteceu, Sam? Perguntou a moça, amavelmente.

- Ah, foi só um sonho... - mentiu ele. Não queria que a mulher achasse que era doido.

Como ele poderia dizer a verdade? Ninguém iria acreditar... Mas o que vivenciara não havia sido apenas um sonho... Fora intenso demais, verdadeiro demais... O sofrimento dele em ver seu amor morto em seus braços fizera com que alguma coisa o fizesse voltar no tempo. Ele não sabia o que exatamente. Um milagre de Deus? Seu anjo da guarda? Sua fada madrinha? Tudo o que sabia é que havia recebido uma segunda chance, e dessa vez ele não deixaria que nada de ruim acontecesse com Dean.

Dra. Holly foi amável. Entendeu que Sam estava estressado com o fato de ter deixado a família pela primeira vez para estudar em uma escola interna. Recomendou que o menino descansasse aquele dia e fosse dormir cedo para que acordasse bem disposto no dia seguinte.

Sam agradeceu a psicóloga e foi para o seu quarto. Talvez não fosse má ideia ele dormir um pouco e tentar relaxar depois de tudo o que vivenciara. Há muito pouco tempo havia presenciado a morte do amor de sua vida, e logo em seguida o vira ressuscitar. Ainda estava abalado, é claro. Agora era hora de colocar a cabeça no lugar e pensar em um plano de ação. Teria que desvendar a futura doença de Dean depressa e se precaver das consequencias dela. Ainda tinha dúvidas se o seu amado teria contraído a famigerada doença de sua família ou se haveria sofrido de uma pneumonia qualquer, morrendo por falta de cuidados médicos.

Dean sentou-se em sua carteira assim que o professor se retirou levando Sam consigo. Todos os colegas riram da cara dele. Após sentir-se terrivelmente envergonhado, Dean só conseguiu pensar na cena: Sam ajoelhado a seus pés, dizendo que o amava. Nunca ninguém havia dito que o amava, pelo menos não que ele se lembrasse. Mas o que mais o intrigava era a emoção que vira estampada naqueles olhos verdes. Sam estava até chorando... O que quer que o moreno tivesse sentido quando se declarou a ele, devia ter sido bastante intenso. Aquilo tocou Dean de alguma forma que ele não pôde entender, deixando-o angustiado.

Dean sentiu-se aliviado quando o professor voltou para a sala sozinho, sem Sam. Não estava muito a fim de encarar o moreno, ficava sem graça só de pensar. Durante todo o dia Dean prestou atenção por onde andava, temendo topar com Sam por aí. Não encontrar com ele em momento algum foi motivo de comemoração.

Sam, que estava emocionalmente exausto, conseguiu dormir bastante durante o dia e também a noite. Decidiu que procuraria Castiel no dia seguinte e contaria tudo o que se passara com ele. Castiel era cabeça aberta, haveria de acreditar nele e ajudá-lo, mesmo que naquele momento eles ainda nem fossem amigos. Não sabia exatamente como deveria falar com Dean, mas Castiel sempre tinha bons conselhos para dar.

Assim que se levantou, o menino se trocou e foi tomar o café-da-manhã. Estava preparado para encontrar Castiel e contar-lhe tudo. Quem ele avistou logo de cara, entretanto, foi Clark. Sam assustou-se ao cruzar seu olhar com o dele e estremeceu. Lembrou-se com infelicidade que teria de aturar o “mala”, que naquela época ainda era amigo de Castiel e Oliver.

Clark usava uma calça de couro preta justa que fez Sam rir. O menino nunca havia visto o valentão vestido de forma tão afeminada. Talvez o babaca fosse mesmo um gay enrustido. Sam teve vontade de gozar da cara dele mas se conteve, afinal Clark não fazia ideia de quem ele era. Ele apenas se manteve por perto de Clark, que estava sozinho, esperando que seus amigos chegassem.

Ninguém veio se sentar com ele, entretanto, e tanto Sam quanto Clark tomaram o café-da-manhã sozinhos.

“Que droga!” – pensou Sam. “Onde será que Castiel e Oliver se meteram?” Sem opção, Sam se encaminhou até a sala de aula. Os dois também não estavam lá. O menino sorriu ao avistar Dean, que logo se encolheu na carteira quando avistou o moreno. “Que bonitinho, está com vergonha de mim...” – Sam pensou, e nem se intimidou. Acenou para Dean, que quase teve um piripaque. Alguns colegas repararam, riram e gozaram.

Sam almoçou sozinho e passou o dia todo procurando por Oliver e especialmente Castiel, sem sucesso. No fim do dia já estava sem paciência. Resolveu que iria contar a verdade para Dean, pois queria que o louro entendesse o que se passava com ele. Dean devia estar pensando que ele era louco, e que as palavras que dissera não significavam nada. Isso não podia ficar assim. Por sorte Dean também era uma pessoa bastante crédula, afinal acreditava em coisas tão doidas quanto tratamentos com sanguessugas. Não haveria porque não acreditar que Sam estivera no futuro. Bastava ele mostrar a Dean que sabia tudo a seu respeito.

A noite Sam foi até o quarto de Dean a bateu na porta. Dean abriu e se espantou ao ver o moreno.

- Oi... – Disse Dean envergonhado. Esperou que Sam dissesse alguma coisa.

- Dean, eu preciso falar com você.

- Pode dizer... – respondeu o louro apreensivo.

- Me desculpa... Eu não queria te assustar... – Sam disse ainda muito sério.

Dean sorriu meio sem graça

- Não tem problema, esquece. Eu sei que você teve um sonho... – respondeu cordialmente.

- Não Dean, por favor, me escuta. Eu te amo. Te amo demais... Por favor, nunca duvide disso.

Sam olhava para Dean com tanta emoção e intensidade que o fez estremecer.

- Você nem me conhece... – Dean então respondeu com um fio de voz. Não sabia o que pensar.Com certeza Sam era doido, não podia de fato amá-lo como dizia.

- Não, por favor, me escuta – o moreno disse. O louro ficou calado olhando para ele, e Sam prosseguiu.

- Dean, eu vou te contar uma coisa, e você precisa acreditar em mim...

Dean continuou apreensivo, apenas esperando que Sam soltasse a “bomba”.

- Eu convivi com você durante vários meses, mas alguma coisa fez com que eu voltasse ao passado...

Dean olhou para Sam arregalado. Cada vez o moreno lhe parecia mais maluco.

- Hmm, é mesmo? Legal... – disse Dean sem muita convicção.

Sam conhecia seu amado muito bem. Viu que ele estava dizendo aquilo apenas para se livrar dele. Muito típico do louro aquela reação...

- Não, Dean, é sério, e eu posso te provar!

- Provar como? – Dean ficou um pouco curioso. Como aquele doido pretendia provar a maluquice que dissera?

- Eu te conheço como a palma da minha mão!

Sam pensou em dizer a Dean sobre a morte de sua mãe e irmão, e o comportamento covarde do pai, mas não queria aborrecer o seu amor com lembranças tristes. Poderia ter mencionado o fato de Dean tocar piano ou pintar quadros na praia. Sua primeira escolha, entretanto, foi bastante inusitada.

- Eu te conheço tão bem que até sei que nome você daria a um ratinho de estimação.

Dean teria rido se não estivesse tão chocado. A cada palavra do moreno o menino se convencia mais que seu lugar era internado em um hospício.

- E que nome é esse? – perguntou o louro.

- Ben – respondeu Sam orgulhoso. Dean com certeza ficaria espantado em ver como Sam o conhecia bem.

- Ben? Como naquela música do Michael Jackson? – Dean perguntou incrédulo.

Sim, Michael Jackson tinha uma música com esse nome. Sam conhecia...

- É, como na música do Michael Jackson...

- Eu acho que nunca seria tão óbvio... – Dean respondeu quase indignado.

- Óbvio por que?

- Porque Ben é o nome do ratinho do menino na música, não é? Eu acho que eu escolheria um nome mais original, como Greg ou Bob... – Dean então disse pensativo – Nunca Ben, Mickey ou Jerry...

- Eu não sabia que o Ben nessa música era um rato... – Disse Sam com sinceridade.

Dean balançou a cabeça sem acreditar. Por que estava conversando sobre o nome que haveria de dar a um rato? A ideia em si era completamente louca.

- Me dá licença, Sam, está tarde e eu vou dormir. E eu acho que estou ouvindo os passos do inspetor. Se ele te pegar aqui no corredor vai nos dar uma bronca!

“Mais uma vez querendo se livrar de mim...”, pensou Sam. Dean nunca se preocupara com inspetor antes. Estava prestes a reclamar quando o homem apareceu e foi logo dando uma bronca. Sam, contrariado, teve que voltar para o seu quarto. Que hora péssima para esse inspetor aparecer... Teria que deixar a sua conversa com o louro para o dia seguinte.

Dean fechou a porta aliviado.