Alguém que te faz sorrir,
Alguém que vai te abraçar,
Quando a escuridão cair,
Quando você precisar


Rodrigo Tavares caminhava entre os bares da cidade baixa, meio cambaleante. As luzes fortes e o barulho faziam parecer que o dia ainda não terminara. Pessoas de todos os tipos, principalmente roqueiros, transitavam por ali, aglomerando-se em grupos, bebendo, fumando, consumindo drogas. Deviam ser umas duas horas da madrugada. A noite acabara cedo. Há meia hora, o segurança do bar o expulsara do estabelecimento por causa de uma briga. Bêbado, não tinha muita certeza do que iria fazer ou para onde estava indo.

De alguém que não vá mentir,
Que não quer te magoar,


Acordou com a sensação de que não havia dormido nada. Sentia-se ainda um pouco entorpecido e vomitou no banheiro do quarto. Observou seu rosto no espelho e jogou água gelada nele. Depois, cansado, enrolou-se no cobertor outra vez. Passaria o dia todo ali, pensou, enquanto as lembranças do dia anterior surgiam fragmentadas em sua mente.

O bipe contínuo e irritante do celular o sobressaltou. Olhou para a mesa de cabeceira, mas ele não estava ali. Ajeitou-se confortavelmente outra vez, com o rosto virado para o teto, e esperou que o barulho cessasse. Minutos depois, aquele inferno recomeçou. Rodrigo pulou da cama e tateou as roupas pelo chão, tentando encontrá-lo em algum bolso. Viu o objeto prateado debaixo da cama e esticou o braço para pegá-lo. Não fazia idéia de como fora parar ali. Apertou alguns botões e leu as palavras na pequena tela luminosa: Lucas S. – duas chamadas não atendidas.

Sabia que ele ia telefonar de novo. Sentou-se na beira do colchão e esperou. Descobriu que já eram duas horas da tarde. O telefone tocou.

- Oi, amor.

- Oi, amor. Tudo bem?

- Tudo, e contigo?

- Tudo... tu acordaste há pouco?

- Sim. Trabalhei até tarde ontem.

- Estou com tanta saudade!

- Eu também estou. Muita saudade. Tu sabes que eu sempre estou.

- Queria te ver hoje! Mas preciso estudar...

- Eu também queria te ver...

- Não aguento mais mitocôndrias, cloroplastos e complexos golgienses...

- Isso tudo vai passar e tu vais entrar na Federal ano que vem. Vai valer a pena.

- Espero que sim...

- Te amo muito, Rodrigo. E preciso desligar, mas te ligo de novo mais tarde.

- Eu também te amo. Beijos.

- Beijos! Te amo.

- Te amo mais ainda.

Desligaram. Rodrigo largou o telefone na mesa de cabeceira e deitou-se de novo. Não tinha muita convicção de que realmente sentia o que havia dito, tampouco de que pensava de outro modo. Apenas dissera o que estava acostumado. Fechou os olhos. Sua cabeça latejava e ele não queria pensar naquilo. Deixou que o sono o tomasse conta de si outra vez.

Segundos antes de dormir,
De mim você vai lembrar...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.