Quando finalmente abri os olhos, dei de cara com o cabelo incrivelmente brilhoso de minha mãe. Os brilhos entornavam a sala, apertei os olhos, tentando clarear a mente. Não parecia cedo. Eu havia ficado tanto tempo inconsciente?

Abri os olhos novamente, e para meu espanto, noto que estou com aquelas camisolinhas de hospital. Deixando meus braços inteiramente a mostra. Até que focado o olhar a minha frente, dou de cara com minha mãe.

- Oi, mããããe! – disse, forçando uma felicidade ao vê-la.

- Olá, Lily querida, como você vai?

- Bem... tirando, isso – apontei para o lugar – por falar nisso, onde eu estou?

- Na ala hospitalar. Soubemos que você havia passado mal na noite anterior e durante a madrugada. Viemos até aqui para ver como você está.

O “viemos” me chamou a atenção. Meu pai estava aqui. Cacetadas.

- Onde está o papai?

- Falando com os meninos – ela disse e um mau pressentimento passou por mim. – Lilian Luna, precisamos conversar.

- Fale, mamãe. – respondi com um arrepio na espinha.

- Depois das férias, eu estava organizando o seu quarto e por acaso, encontrei isto – ela puxou de algum lugar um pano roxo todo manchado de vermelho, o meu pano roxo – pode me dizer o que é?

Um silencio assustadoramente grande demais fez com que ela repetisse a pergunta:

- O que é?

- Mãe – eu falei, era agora ou nunca, um nó se formou em minha garganta – isso, bom, é a conseqüência de um ato... um ato meu. – estendi meu pulso esquerdo por cima da coberta e mostrei-o.

Minha mãe parecia completamente ciente de tudo muito antes. Como se tivesse trazido para provar, para morrer tendo razão. Como sempre. Esperei. Esperei. E esperei.

Nenhuma reação da qual eu esperava. Eu fitava seus olhos assustadoramente azuis, e observava seus gestos. Nada havia mudado. Como se houvesse uma imensa bolha em sua volta e ela não estivesse ouvindo, nem vendo.

- Mãe? – chamei

- Por que, Lily? Fui eu? Eu fiz alguma coisa? – ela estava só se controlando para não cair no choro, nas perguntas que eu deixaria sem resposta, nas lágrimas que eu não saberia secar.

- Não mãe! – eu falei um pouco mais alto – não foi você, em momento algum! Foi idiotice – eu começara a chorar – foi... foi... por causa de...

- De um garoto? De Will? – ela completou.

Olhei-a, assustada. Como nada falei, ela continuou.

- Lily, te acomoda que nossa história vai longe... – ela disse, aproximando-se mais, fazendo carinho em minha cabeça – eu era apaixonada por seu pai... desde antes de entrar em Hogwarts. Um ano antes, para ser mais exata. – ela falava como se a cena, de repente, passasse em sua mente. – no outro ano, finalmente, vim para cá. Deixei de ser a menininha que ficava na casa da mamãe – sorrira, como se por acaso a história se encaixasse.

“Foi nesse ano que Tom começou a conversar comigo pelo diário. E era ali que eu depositava todo meu sentimento e confiança. O resto da história você sabe. Ao longo do meu quarto e quinto ano, eu namorei uns quatro ou cinco grifinórios” ela sorrira “lembro do beijo de cada um até hoje” nós rimos “mas, enfim, namorei seu pai. Ele sempre certinho e sistemático, não quis prosseguir o namoro, ‘era perigoso’. Eu sofri demais com isso, Lily. E estava decidida, a não contar isso para ninguém, nem seu pai sabe...” minha mãe respirou fundo e disse “Eu havia me apaixonado por ele com dez anos, e quando finalmente o consigo... o perigo o mantém longe de mim, eu fiquei arrasada, Lily... eu também ‘me cortava’. Não era uma coisa comum nesse tempo. Não que seja hoje. Mas era raríssimo. Eu vivia dentro do dormitório, e conversava muito raramente com a tia Hermione... E eu só tenho a te dizer, que quando a gente se machuca tanto por um garoto... é porque a gente deve se casar com ele.”

- E mãe... – comecei – como você... sabe... parou?

- Com força de vontade e nessa mesma época, havia a guerra. Não havia espaço para um capricho adolescente de uma garota apaixonada. Agüentei no osso. – minha mãe me abraçou. Eu chorava.

- Eu te amo, mãe. – eu falei

- Me promete que vai parar? – ela pediu, examinando meus pulsos, as unhas rosas deslizando pelos cortes. – não contarei uma palavra disso a seu pai, será nosso segredo, meu amor. Eu te amo. E aproveite o Will até o ultimo segundo. Vai ser o melhor.

- Prometo, mamãe. – uma pequena pausa – mãe! To com fome! – resmunguei

- Já estava na hora, né – ela puxou uma bandeja com remédio e essas coisas – Madame Cotton deixou aqui, não demora Will vem aí e seu pai também.

- PAPAI E WILL JÁ SE ENCONTRARAM? – perguntei, assustada.

- Já. Mais de uma vez...

- E PORQUE DIABOS NÃO ME ACORDARAM?

- Você vai ficar muito agitada e Sra. Cutton vai querer me bater. Dorme um pouquinho mais, meu anjo, dorme.

- Mãeee – choraminguei. – deixa eu ver eles. O Will ta vivo?

- Como você é dramática, Lily! Só para te avisar, hoje não teve aula,graças a pouca quantidade de alunos na primeira aula.

- Táááá – falei – posso falar com o Will? Por favor, por favor. – pedi.

- Ai meu Deus, vê ele todo dia e eu que sou sua mãe e estou aqui e você quase nunca me vê... TUDO BEM, LILIAN – ela saiu, rindo. Will entrou.

- Meu amor! – ele falara, me dando um beijo – está melhor, parou de suar frio?

- Estou sim... como foi o encontro com o Sr. Potter? – brinquei.

- Tranqüilo. Sua mãe sabia né?

- Sabia – concordei, espantada – não sei como, mas ela sabia até o motivo.

- Lílian, vocês são iguais... e desculpa, eu estava ouvindo a conversa.

- Ai seu mongo – eu ri. – quando eu vou sair daqui?

- Daqui a uma semaninha... – ele disse

- AHAHAHA – ri – to louca que vou sair só daqui a uma semana – falei, saindo da cama e vestindo meu casaco que estava ali do lado. Saí da ala hospitalar com um Will gritando atrás “LILY, VOLTE AQUI AGORA”.