Uma Chance para o Amor

Capítulo 7 - The chance to wait


Apesar de termos lidado com a situação da nevasca da melhor maneira que conseguimos, visto tudo mais que poderia ter acontecido, alguns reflexos daquela quinta e sexta-feira, ainda continuam nos rondando. Mesmo com o fim de semana já tendo passado e agora para muitos, mas não necessariamente para nós, uma nova semana esteja começando...

Meu plantão efetivamente começou junto a um novo dia, pois entrei no hospital a meia-noite, marcando o ponto inicial dessa segunda-feira. E durante a madrugada, fiquei na emergência, mas sem grandes quadros de atendimento, com a maioria dos casos tendo a ver com as temperaturas baixas que estamos enfrentando nesse fim de janeiro.

Contudo, agora pela manhã voltei a focar no atendimento clínico, que é uma das partes que mais gosto, pois é quando posso efetivamente interagir com os pacientes que já trato há um bom tempo.

E acompanhar o desenvolvimento de cada um deles é mágico.

Conheço alguns dos desde o parto e por tal, tenho tido a oportunidade de prosseguir com os cuidados por suas fases de bebê ao despertar da primeira infância. Já que não estou no hospital há tempo suficiente para acompanhá-los a um período maior...

Porém outros conheci assim que comecei a trabalhar aqui e sendo maiorzinhos, a dinâmica que trocamos é simplesmente espetacular.

— Bom dia Theodore, como está?

Saudei a um desses pacientes, que se consulta comigo a mais de um ano. Sendo agora um garotinho precioso de seis.

— Com sono.

Resmungou tão logo adentrou meu consultório.

— Mas já são mais de nove horas querido.

— Só que eu não fui pra escola. – Informou. – Queria ter dormido mais.

— Você justamente não foi para a escola, pois tinha a consulta com a doutora Swan. – Sua mãe contestou, então trocamos um cumprimento rápido. – E ontem mesmo estava falando sobre estar contente por revê-la.

— Mãe!

— Então não sentiu minha falta? – Brinquei diante da contrariedade. – Porque eu senti a sua.

— Pode ser...

— Veja só. – Indiquei para eles sentarem. – Nos vimos antes das festas de fim de ano e você só retornou agora e ainda assim, não estava com saudades?

Ele demorou um instante para responder.

— Eu fiquei um pouco.

— Agora sim. – Sorri animada. – E podemos começar a consulta?

— Podemos.

— Enquanto isso, você vai me contando como foram suas férias e a volta à escola.

Comentei já começando a caminhar pelo consultório, mas sua resposta me travou.

— A escola é chata.

— Theodore.

A mãe o repreendeu, porém não me contive.

— Por que está dizendo isso?

— Não ligue para ele doutora. – Ela pontuou. – Ele está entrando naquela fase birrenta.

— Não, não acredito nisso. – Deixei claro e me aproximei dele. – O que está havendo querido? Por que não está gostando de ir à escola?

E sem mais, ele começou a revelar o que lhe afligia.

— As outras crianças não gostam de mim.

— Eu não posso acreditar em uma coisa dessas. – Pontuei consternada.

— Eles fazem piada da minha bombinha. – Contou cabisbaixo. – E riem porque não aguento correr e brincar.

Quando comecei a atendê-lo, Theodore ainda não tinha o diagnóstico da asma, então iniciamos o tratamento e desde então, já evoluiu bastante. Porém de acordo com seu quadro, ainda precisa manter o uso constante da bombinha de ar.

— Isso está mesmo acontecendo?

Sua mãe questionou demonstrando choque.

— Sim.

— E por que você não contou ao seu pai e eu?

— Porque não.

A resposta simples demonstrou um significado muito maior e troquei um olhar com sua mãe antes de voltar a falar.

— Ouça Theodore. – Esperei ele me olhar para prosseguir. – Nós continuaremos com o tratamento da asma e com o passar do tempo, seus pulmões e o corpo como um todo, se adequarão melhor as atividades físicas. – Expliquei. – Então você poderá correr e brincar por ai como qualquer criança, mas somente se quiser, porque também pode se divertir de outras maneiras.

— Como?

— Do que você gosta? – Devolvi. – O que costuma fazer quando está em casa ou mesmo na escola? Porque tem que ter alguma coisa que lhe agrade lá, não é?

— Eu sei ler. – Respondeu simplesmente. – Muita gente da minha sala ainda não sabe, mas eu sei.

— É verdade. – A mãe concordou. – Os professores sempre elogiam o ritmo de aprendizado e leitura que ele possui.

— Que maravilha Theodore, meus parabéns. Isso é realmente muito bom.

— Obrigado.

— E em casa, você costuma ler?

— Em casa ele só quer assistir aqueles desenhos de super-heróis.

A mãe respondeu e peguei o gancho.

— Então você gosta de super-heróis?

— Sim.

— E você tem um favorito ou gosta de todos?

— Eu gosto do Aquaman.

Começando a entender um pouco melhor a situação, continuei a questionar.

— E por que você gosta do Aquaman?

— Ele é o rei do mar.

Efetuou outra resposta simples, porém bastante efetiva para a sua cabecinha.

— Então ele é realmente importante, não é?

— É sim.

— Hun, você me deu uma ideia. – Contei. – Na verdade, duas.

— Quais?

— Você gosta de ler e também de super-heróis. Mas já leu algum gibi?

— Não.

Imediatamente sua expressão mudou, apresentando um semblante confuso.

— Pois então, acho que será um bom jeito de continuar estimulando sua leitura e aprendizado. Mas mantendo a diversão de acompanhar os super-heróis que gosta.

— Eu posso mamãe?

Perguntou bastante empolgado.

— Realmente é uma boa ideia. – Ela pontuou. – Quem sabe assim, você deixa um pouco a televisão de lado.

— Ouça Theodore, assistir desenhos é muito legal. – Ressaltei. – Eu mesma adoro acompanhar os filmes da Disney com a minha sobrinha, mas para isso, precisa haver um limite.

Ele concordou, parecendo um pouco constrangido diante da ponderação da mãe, mas logo voltou a se animar.

— E qual foi à outra ideia?

— Essa só direi ao fim da consulta.

— Mas eu quero saber.

— Primeiro você conta das suas férias, enquanto faço os exames. – Elaborei. – E depois de avaliar sua evolução, eu falo.

Sabendo que esse é o caminho a ser seguido, ele concordou e iniciamos os procedimentos.

Por já conhecer seu histórico, tratei de tudo de forma regular, apenas mantendo uma analise prévia e em meio à parte clínica, ouvi atentamente seus relatos.

— Você está ótimo. – Conclui ao liberá-lo.

— Mesmo?

— Sim. – Acenei. – Você não teve uma nova crise recentemente, não é?

— Não. A última foi aquela em novembro. – A mãe explicou.

— Muito bem. – Anotei alguns dados em seu prontuário. – Eu vou pedir alguns exames, mas nada novo, somente para assegurar o que avaliei e também para iniciarmos o ano com segurança.

Ambos concordaram, então retomei o assunto.

— Ainda mais após propor o que tenho em mente.

— O que é? O que é?

Theodore perguntou mais do que animado e ansioso.

— Por enquanto, manteremos o comedimento quanto à prática de esportes. – Expliquei. – Porém, caso os exames confirmem a evolução do seu quadro. Efetuarei a sugestão de que comece a praticar natação.

— Natação?

— Sim. – Respondi a mãe, percebendo sua hesitação. – Ele é o melhor esporte para quem tem problemas respiratórios. Porque provoca menos broncoespasmo, evita o ressecamento das vias aéreas, contribui para a ventilação pulmonar mais eficiente e trabalha a resistência aeróbica.

Ela pareceu ponderar a explicação, enquanto os olhinhos do pequeno foram rodeados por um brilho especial.

— Eu vou fazer natação?

— É uma sugestão, mas com tudo se mantendo dessa maneira, acredito que seja algo proveitoso. – Afirmei. – E assim, você se igualará um pouco ao Aquaman.

— Eu quero. Eu quero.

— Pois então, se mantenha saudável e obediente, que em breve isso pode acontecer...

O final da consulta foi preenchido pelo clima leve e ao nos despedir, sua mãe até mesmo me abraçou.

— Muito obrigada por tudo.

— Imagina.

— Você faz tanto por nós. – Proclamou me olhando comovida. – Muito mais do que um simples médico faria.

— Eu amo minha profissão e amo as minhas crianças. – Expus. – Então sempre vou procurar fazer o melhor por elas.

— E você faz, pode ter certeza disso.

Acenei uma despedida alegre aos dois e o sorriso não deixou meu rosto ao ver quem será a próxima paciente.

— Olá princesa.

— Oi...

Eu não resisto à forma como ela arrasta a última letra, prolongando o cumprimento.

Quando conheci Ava, ela tinha somente dois anos, agora aos quatro, continua sendo encantadora demais para o seu próprio bem.

Sem contar o fascínio que tem por brincar de princesas.

— E quem você é hoje?

— A Aurora.

— E o que a Aurora gosta de fazer?

— Ela fala com os animais, canta, dorme.

Enumerou com o auxílio dos dedinhos.

— E você faz tudo isso também? – Ela balançou a cabeça. – Até mesmo falar com os animais?

— Eu falo cum nosso cachorro.

— Ela tagarela na cabeça do pobrezinho o dia inteiro.

Seu pai contou e sorrimos.

— E você também gosta de dormir?

— Muito.

— Dessa parte, até a mãe dela e eu gostamos brincar. – O pai citou. – Não praticamos muito, mas gostamos.

— Tenho certeza que sim.

— Tem mais uma coisa. – Falou animada, levantando o braço. — Mais uma coisa.

— O que?

— Ela tem um príncipe.

— Uau. E você também tem um?

— Ainda não. – Negou balançando os cachos. — Só o papai.

— Então já tem o melhor príncipe de todos. – Assegurei.

— Eu agradeço doutora.

— E com você, tudo bem? – O questionei. – É um prazer revê-lo.

— Igualmente. – Assentiu. – Eu estou de folga essa semana e por isso, pude acompanhá-la na consulta.

— A mãe está trabalhando?

— Tá.

— E podemos começar?

— Sim...

Arrasou novamente a fala e outro sorriso me dominou.

— Para fazer a consulta, precisaremos anotar seu peso e medidas, tudo bem?

— Uhum.

— Você lembra como fazemos isso?

— Eu tenho que ficá de calcinha.

— Exato. – Pontuei mantendo o tom ameno. – E está tudo bem por você?

Ela balançou a cabeça.

— Pai?

— É claro doutora.

— E seu pai pode ficar conosco, não é?

— O papai pode. – Confirmou. — Ele me dá banho.

— Na maioria dos dias acaba sendo função da minha esposa, mas ainda ajudo quando possível. – Ele explicou.

— Muito bem pai. Então pode tirar a roupinha dela e colocá-la na balança, por favor.

Eles trataram de tudo rápido, mas com cuidado e o pai mais a orientou sobre como se despir, do que efetivamente tomou a frente.

Quando me aproximei, novamente a orientei sobre os passos seguintes, sempre pedindo licença e aproveitei para também ouvir o coração, assim como atestar a eficiência dos pulmões, com o término dessa parte, indiquei para se vestir.

Novamente o pai procedeu com tudo de forma carinhosa e delicada, então informei as percepções.

— O coração está ótimo. E ela não tem nada no peito.

— Nada?

— Não se preocupe princesa. – Assegurei. – Eu quis dizer que seus pulmões estão limpos, sem catarro ou sintomas de gripe.

— Temos feito o possível para preveni-la de um resfriado. – Ele contou. – Mesmo com as situações atuais.

— Pois estão de parabéns. Se mantenham assim. – Ponderei. – Quanto ao peso e altura, também está tudo dentro do padrão.

— Quanto eu tenho?

— Você está pesando 17,48 kg. Com altura de 103 cm.

— Filha, você já passou de um metro.

— Eu vô se grande?

— Acredito que ela vá ser alta como a mãe e eu, não é?

— Essa parte não é uma ciência exata, mas se ela tem a quem puxar. – Comentei breve. – Porém o mais importante é que está bastante saudável.

— Isso com certeza.

Finalizei a anotação dos dados e voltei o foco.

— Vocês têm algo mais a acrescentar?

— Então doutora, nos últimos tempos, aconteceu de ela reclamar de um desconforto no ouvido.

— É mesmo? – Fiquei intrigada de repente. – E como é essa dor Ava?

— Coça e eu choro.

— Mas você sente alguma coisa além de coceira? – Tentei descobrir mais. – E consegue me explicar?

— Num sei.

— Vamos ver, dói como uma pontada? – Ela negou. – Então arde? – Outro aceno negativo. – Ok. Incomoda tipo uma dormência? Aquela sensação de quando estamos cansados?

— Acho que sim.

— Certo. E acontece nos dois ouvidos ou em um só?

— Só nesse.

Apontou para o ouvido direito.

— Darei uma olhadinha agora, mas também vou pedir um exame mais detalhado e caso necessário, na volta do resultado, consultaremos um otorrino.

— O que é isso?

— Esse é o nome do médico que cuida somente dos ouvidos das pessoas. – Expliquei.

— Ata.

Dei uma olhada nos dois ouvidinhos, porém não constatei nada de anormal somente com essa observação.

Porém como o pai informou que o episódio aconteceu de forma esporádica, é comum não diagnosticar nada tão de pronto.

— Aqui está o encaminhamento do exame e nos encontraremos depois que o fizerem. – Disse ao finalizar a consulta. – Tudo bem?

— Está doutora. Nós agradecemos muito.

— Não há o que agradecer.

— Dê tchau a doutora Swan.

O pai falou, já segurando em sua mão prestes a deixar o consultório.

— Tchau doutora.

— Tchau Ava. – Acenei em retorno. – Até a próxima.

— Até.

— Tchau doutora. Obrigado e bom trabalho.

— Tchau e mande lembranças a sua esposa.

— Pode deixar.

Eles seguiram conversando e continuei com os atendimentos, até chegar ao último da manhã...

— Bom dia. Como vão?

Cumprimentei o casal que estava à espera, observando cada um segurar um bebê no colo.

— Olá. Doutora Swan?

— Eu mesma e vocês são?

— Eu sou Peter, essa é minha esposa Charlotte. – O rapaz fez as apresentações. – E esses são nossos filhos. Oliver e Mateo.

— É um prazer conhecer todos vocês. – Afirmei, já lhes dando passagem. – Queiram entrar, por favor.

Eles o fizeram e de pronto, indiquei para colocarem os bebês sobre a maca, pois assim, não precisarão continuar segurando-os no colo.

— É a primeira consulta de vocês ou já estão fazendo acompanhamento com outro pediatra?

Questionei, pois situações assim são bem comuns. Alguns pais fazem questão de manter o elo somente com um médico, enquanto outros não veem problema em se consultar com vários, desde que tenha um profissional disponível quando precisam.

— É nossa primeira consulta nesse hospital, pois não somos de Forks. – Peter contou.

— E onde vocês moram?

— Em Port Angeles. – Charlotte respondeu. – Passávamos com um pediatra lá, porém não nos sentíamos muito confiantes e uma conhecida comentou sobre a senhora, então escolhemos dar uma chance a troca.

— Eu compreendo e está tudo bem. Não precisam ter receio. – Pontuei. – Pode ser somente que não houve a conexão necessária entre vocês, os bebês e o médico, mas não efetivamente significa que ele seja um profissional ruim.

Assegurei para que desde já fiquem tranquilos.

— E se escolhemos a dedo os profissionais com quem gostamos de cortar o cabelo, fazer a unha, entre outros. Por que deveria ser diferente quanto aos médicos?

Deixei a questão no ar, mas logo retomei.

— Podemos começar?

— Sim doutora.

— Então me contem sobre vocês e seus lindos filhos. – Sorri para os bebês. – Preciso saber alguns detalhes quanto o histórico da gravidez, como foi o parto e efetivamente a respeito da vida dos seus pequenos.

De forma dinâmica e em conjunto, iniciaram os relatos. Informando sobre a gestação ter ocorrido bem, mesmo sendo gemelar. Que ela conseguiu aguentar até completar quase oito meses, porém teve que fazer uma cesariana para os meninos nascerem. Que ficaram alguns dias no hospital para ganhar peso, mas não nasceram com grandes complicações.

Charlote informou que ainda amamenta, mas que Oliver mama melhor do que o Mateo, enquanto esse gosta mais de dormir e o irmão, alguns segundos mais velho, apresenta maior dificuldade para manter-se ressonando por longos períodos.

— Isso é muito comum. – Assegurei. – Sei que por serem gêmeos, vocês esperavam que fizessem tudo igualmente. O que efetivamente os ajudaria bastante, mas quanto antes entenderem que os dois são seres individuais, com gostos, sentidos e personalidades distintas, mais fácil será a condução.

— Estamos começando a nos acostumar com isso doutora.

Charlotte comentou com um meio sorriso.

— Quanto à amamentação, continue tentando com o Mateo pelo tempo que for possível, eles ainda não completaram seis meses e o leite materno faz total diferença no desenvolvimento, porém se ele dispensar o peito a partir da introdução alimentar, não tente forçar, pois isso prejudicará mais do que ajudará. – Deixei claro. – E com o Oliver, proceda da mesma forma, amamente-o até quando ele quiser ou for capaz.

— Essa é uma questão doutora. Pois voltarei a trabalhar em breve e estou com receio de eles não pegarem a mamadeira.

— Nesse caso, comece a treinar desde agora, porque eles precisam se acostumar. Se for algo que já tem prazo para acontecer. – Passei a informação prévia. – Intercale as mamadas e papai, chegou o seu momento de alimentar seus filhos.

O casal trocou olhares e prossegui com a explicação.

— Enquanto a Charlotte estiver dando o peito, você senta ao lado dela e dá a mamadeira ao outro bebê, para que ele continue sentindo a presença da mãe, mas comece a se adaptar a receber o alimento não só por outras vias, mas também, pelas mãos e braços de outra pessoa.

— Não tínhamos pensado em nada disso, mas é uma excelente ideia.

Ele confirmou e somente consenti.

— Vocês já sabem qual será a rede de apoio?

Questionei quando terminei de examinar os bebês, atestando que estão muito bem.

— Eles ficarão na creche, com babá ou algum familiar?

— Ainda estamos vendo, porém acredito que a opção será contratarmos uma babá.

— Compreendo.

Diante da troca que tivemos, continuei a conversa.

— Quanto a esse assunto, posso fazer um comentário?

— É claro doutora, por favor.

Peter falou e Charlotte também concordou.

— Eu não tenho filhos, porém participo efetivamente da criação de uma sobrinha, junto a sua própria mãe. – Esclareci um pouco nossa dinâmica. – E nossa rede de apoio também são babás. No caso, uma mãe e filha nos apoiam nessa empreitada.

Diante dos olhares atentos, expressei a observação.

— Por que estou contando isso? – Instiguei. – Para orientá-los quanto à escolha da pessoa que será responsável por esse auxílio com seus filhos. – Eles concordaram. – Em primeiro lugar, vocês têm gêmeos, então seria interessante procurar alguém com experiência em lidar com mais de uma criança ao mesmo tempo. Além de serem bebês pequenos, com distintas necessidades, sendo necessário ter alguém com aptidão para esse cuidado. E por fim, tragam para o seio da sua família, uma pessoa que inspire confiança, pois ela será o suporte, mas também outro modelo de cuidado, instrução e educação aos seus filhos.

Eles trocaram olhares entre si e também para os bebês, que já estão começando a demonstrar sinais de sono.

— Portanto, da mesma forma que optaram por não continuar com o outro pediatra, pensem e analisem com cautela quanto à escolha da babá. – Conclui. – Pois como pais, vocês precisam estar atentos a quem deixarão participar da vida dos bebês. Sendo de suma importância cuidarmos dos nossos pequenos vulneráveis.

— Muito obrigada doutora Swan. – Charlotte agradeceu. – A senhora é mesmo excelente.

— Apenas emiti minha opinião e espero ter ajudado.

— O que a senhora disse fará muito mais, pode ter certeza. – Peter afirmou. – E estamos muito contentes por ter escolhido vir aqui.

— Sim. – Ela expressou um pouco emocionada. – A partir de agora, a senhora é oficialmente a pediatra dos nossos filhos.

— Será uma honra e um privilégio acompanhar sua família. – Declarei. – Como adorarei rever esses bebês tão lindos.

Sorrimos em conjunto em meio a confirmação do início dessa nova parceira...

***

— Bella...

Meu pai sorriu e expressou animado assim que atendeu a chamada.

— Oi papai, como está?

— Bem e você?

— Bem também.

— Você está em casa?

Ele perguntou após fixar os olhos, provavelmente enxergando o ambiente da sala.

— Estou.

— Veja só, você teve folga e nem veio nos visitar.

— Papai, não faça drama, por favor.

— Não é drama se estou falando a realidade.

— Pai, hoje é quinta-feira, que eu saiba, o senhor e a mamãe estavam trabalhando. – Indiquei. – E eu tive folga durante o dia, mas passei boa parte desse período dormindo, já que volto ao plantão daqui a pouco quando anoitecer.

— Está bem. – Apesar da confirmação, a expressão não se desfez tão rápido. — Mas quando efetivamente virá nos visitar?

— Prometo que assim que conseguir.

— Sei...

Como posso ter pais tão dramáticos?

Acabei rindo sozinha ao pensar sobre isso.

— E você ligou para falar com a sua mãe, não foi?

— Sim. – Retomei ao foco. – Mas estou contente por ter atendido.

— Também é bom falar com você e ver seu rosto, ainda que só por esse celular.

— Pai...

— Charlie, para de tentar deixar nossa filha culpada.

Apesar de ouvir a voz da minha mãe, ainda não a vi em tela.

— Como se você fosse diferente.

— Mas eu sou a mãe dela.

— E eu o pai.

— Pessoal. – Os adverti. – Eu ainda estou aqui.

— Oi querida.

Mamãe saudou ao assumir o celular.

— Oi mamãe. Tudo bem?

— Sim. Eu estava terminando de tomar banho, por isso seu pai atendeu.

— Vou deixá-las conversar. — Ele indicou.

— Tchau pai. Eu te amo.

— Também te amo Bella.

Continuei sorrindo ao vê-lo se afastar.

— A Anna está em casa?

— Não, está na creche. – Respondi a minha mãe. – Como informei ao papai, estive de folga hoje, mas daqui a pouco retorno ao hospital. E Rose irá buscá-la.

— Vocês estão com plantões trocados?

— Praticamente.

Por conta da situação com a nevasca, os plantões de todos foram reajustados e com isso, Rose e eu não estamos mais com horários tão semelhantes.

O lado bom é que conseguimos nos dividir melhor com cuidados referentes à Anna, ainda mais depois do que houve, mas o ruim é que gostamos de trabalhar juntas e agora pouco estamos nos encontrando, seja em casa ou no hospital.

— Foi por conta do que houve semana passada?

— Sim.

Mal dá para acreditar que já tem uma semana que tudo ocorreu, mas só espero que nada ao menos parecido volte a acontecer, ainda mais ao iniciar o plantão mais tarde.

— Eu fiquei tão preocupada quando soube que estavam passando por aquilo.

— O importante é que não houveram consequências graves. – Atestei. – Com os cidadãos no geral e conosco no hospital.

— Vocês são realmente os heróis da cidade.

— Mamãe...

— Não. Não me contrarie. – Efetuou prática. — A profissão de vocês, assim como policiais, bombeiros e pessoas responsáveis por cuidados em geral, são para seres humanos distintos. E o que fazem pelas pessoas não está escrito.

— Eu agradeço o apoio. – Efetuei sincera. – Mas somente fizemos nosso trabalho. E cada um de nós é preparado para tal.

— Você é modesta demais filha. – Expressou a opinião. — Porém mudando de assunto. Quanto ao resto de suas vidas, como anda?

— Bem. Está tudo muito bem.

— Acho que minha pergunta deveria ser quanto a estarem tendo uma vida para além do hospital.

— Mãe...

— A Rose e o doutor bonitão já se acertaram?

— Mamãe!

Eu não aguento quando ela se refere ao Emmett dessa maneira, mas preciso guardar essa informação para repassá-la quando encontrar o momento propício.

— O que foi? — Exasperou. — Eu não disse nenhuma mentira. Mas e ai, como eles estão?

— Se quer saber da vida da Rose, pergunte a ela.

— Eu pergunto, mas quanto a esse assunto, ela anda muito misteriosa. – Eu não aguento suas expressões. — Então resolvi tentar a sorte com você.

— Pois não tenho nada a acrescentar. – Admiti. – Eu acho e espero que a Rose esteja começando a se abrir. Eles foram ao encontro e acredito que por conta disso, a dinâmica pessoal esteja mudando, porém não posso dizer ou afirmar mais nada.

— Como vocês podem ser desse jeito? — Praticamente exclamou indignada. — Possuem homens lindos disponíveis e não valorizam.

— O que? — Agora eu que fiquei em choque. – Do que a senhora está falando?

— Não se faça de desentendida. – Rebateu. — Você pode até querer não me dizer nada, mas eu sei que o novo médico continua interessado.

— Como a senhora poderia ter conhecimento de algo assim?

— Eu sou mãe. E nós sabemos das coisas...

Travei e ela logo percebeu.

— Escute Bella...

— Eu preciso desligar. – Pontuei. – Tenho que cuidar de uns assuntos e logo me arrumar para seguir ao hospital.

— Está bem filha. Mas preciso falar uma última coisa.

— O que?

— Eu te amo. E só quero o melhor para você. Sempre.

— Eu sei mamãe e também te amo.

— E continuarei aguardando pelo dia que você e Rose contarão as boas novas.

— Ok, mãe. – Voltei a sorrir. – Tchau.

— Tchau Bella...

Encerramos a ligação e efetivamente fui tratar das questões necessárias, tentando não pensar muito em suas últimas palavras...

— Doutora Swan. – Ouvi meu nome sendo acionado nos autofalantes. — Atendimento de emergência.

Nem titubeei em começar a caminhar rápido, quase correndo entre os corredores, a caminho da emergência infantil.

O plantão até que começou tranquilo, mas não seria uma madrugada de sexta-feira sem um acionamento emergencial.

É claro que diante de tudo que poderia acontecer, visto os fatos da semana anterior, essa situação acaba não sendo tão agravante.

Ao menos era o que estava pensando antes de entrar na sala e encontrar um bebê que não deve ter mais de dois anos, se contorcendo em prantos exasperados.

— O que está acontecendo?

Perguntei a enfermeira Stanley, apesar da presença de outros dois enfermeiros, ela é a responsável geral, então segui com o procedimento padrão.

— Ele está com um incômodo muito forte, porém não sei mais do que isso, também acabei de entrar.

— Ele veio de ambulância?

— Não.

Ouvi uma voz e enxerguei uma mulher aflita, provavelmente a mãe do bebê.

— Meu marido e eu o trouxemos. – Completou.

— A senhora é a mãe? – Ela assentiu. – Certo, quando ele começou a chorar?

— Ele acordou desse jeito e não parou mais. – Informou tremendo um pouco. – Achamos que poderia ser cólica, mas com o choro aumentando, ficamos preocupados e decidimos vir.

— Fizeram muito bem. – Atestei. – Agora procure se acalmar, que tomaremos conta da situação.

— Por favor, doutora. – Implorou. – Ajude o meu filho.

— Pode contar com isso.

Após colocar as luvas, me aproximei do bebê e toquei brevemente sua barriga, constatando que não há sinais de cólica, rapidamente indiquei a Jéssica para medirmos sua temperatura e continuei a procurar por sinais físicos.

Nenhuma das extremidades, como pés e mãos ou a boca, estão roxos. Assim, descartei a possibilidade de asfixia ou sufocamento.

Quando constatamos a temperatura, comecei a me preocupar ao perceber que tão pouco apresenta sinais de febre.

E ao ouvir os batimentos do coração com o estetoscópio, percebi o ponto que devemos focar.

Imediatamente passei as indicações necessárias a Jéssica e junto ao restante da equipe, começaram a tratar dos medicamentos.

A mãe exasperou quando aplicamos a injeção, já que o choro do bebê aumentou consideravelmente, porém infelizmente, é um mal necessário.

Enquanto preparam tudo para a transferência. Aproximei-me da mãe para explicar a situação.

— Precisaremos internar o seu bebê. – Comuniquei firme.

— O que? Mas, por quê?

— Ele precisa ser monitorado para recuperação e melhora. – Pontuei. – O coraçãozinho está um pouco acelerado.

— Ah, meu Deus...

— Não se desespere. – Tentei acalmá-la. – O medicamento que aplicamos cuidará de sanar a dor que ele está sentindo. E em seguida, entraremos com a medicação intravenosa para que o desconforto ceda totalmente. Depois disso, analisaremos o que pode ter causado ou estar causando esse quadro.

— Doutora, o meu filho...

— Confie em mim. – Assegurei. – Ele ficará bem.

Ela assentiu em meio a um suspiro.

— Agora será necessário que espere lá fora. E assim que ele estiver estável, liberaremos para que vá ao seu encontro.

— A senhora disse que veio com o seu marido, não é? – Jéssica questionou ao se aproximar e ela concordou. – Pois então, vamos procurá-lo para que possam esperar juntos.

Percebi o olhar contido da mãe ao observar a equipe levando seu filho, mas Jéssica a amparou, enquanto também deixam a sala de emergência.

— Enfermeira Stanley.

Chamei antes que ela saísse de vez.

— Sim?

— Peça para que o doutor Masen me encontre no quarto, por favor.

— É claro, doutora Swan.

Entrei no leito no instante em que os enfermeiros terminaram de acomodar o bebê no berço, seu choro já diminuiu consideravelmente, soando agora apenas como suspiros resignados.

E a partir do momento que aplicaram o soro e também fizeram a ligação cardíaca, comecei a observar melhor a situação.

A equipe deixou o quarto e Edward não demorou a aparecer.

— Doutora Swan?

— Por favor, entre.

— O que aconteceu? – Perguntou ao parar do meu lado. – Em que posso ajudar?

Rapidamente relatei a situação e passamos vigiar o monitor, constatando a evolução e cadência dos batimentos do bebê.

Ele também o examinou previamente, confirmando tudo que analisei há pouco.

— Vamos precisar solicitar uma bateria de exames.

— Sim. – Concordei prontamente. – Gostaria que minhas suposições não estivessem corretas, mas...

— Não se aflija antes da hora, Bella. – Ele pontou ao tocar meu ombro e foquei em seu rosto. – Seja o que descobrirmos, procederemos com o tratamento necessário e ele ficará bem.

— Eu espero que sim. – Direcionei o olhar ao bebê, mas logo voltei ao seu. – Porém fico um pouco mais tranquila em saber que você está aqui.

Os orbes verdes arregalaram, então tratei de completar.

— E não digo isso somente em questão da sua presença como médico e cirurgião. – Declarei. – Mas especialmente, por contar com seu apoio pessoal, como amigo...

Ele assentiu brevemente e levou alguns segundos para responder, mas quando o fez, foi de maneira bastante firme.

— Eu definitivamente estou aqui para o que precisar. – Abri um leve sorriso. – Como seu parceiro de trabalho e amigo...

Quando a palavra deixou meus lábios, senti um comichão me tomar, porém ao ouvi-lo, fui tomada por algo ainda mais indistinto...

CONTINUA.