Não conseguiu nem ao menos sentir medo. Manteve os olhos fechados, pensando que era um delírio causado pelos medicamentos, mas quando os abriu, descobriu que havia realmente um homem sentado ao seu lado. Ela não tinha forças para gritar, nem para alcançar o botão de emergência. Pensou que o melhor era aceitar a escuta, mesmo que não conseguisse raciocinar direito.

— É, Dulce. Quem diria que estaríamos nessa situação? — O homem desafiou, puxando a cadeira ainda para mais perto da cama de hospital. — Você por acaso se lembra de mim?

Pela voz, ela não conseguia reconhecer e não enxergava muito bem naquele momento. Queria dormir, mas não podia se render ao sono sem antes saber quem a estava perseguindo. Ela fez o esforço de virar a cabeça, mas a imagem borrada daquela pessoa não a lembrava de nada.

— Nnã… — Ela tentou responder, sem sucesso.

— Não se lembra? Vamos tentar começar expondo desde o começo, como nos conhecemos. Você vai se lembrar, tenho certeza. — Ele esperou algum indício de que Dulce fosse responder, mas ela não reagiu. Apenas olhava para ele com os olhos semicerrados, tentando manter-se acordada. — Nos conhecemos há muitos anos, durante a gravação de um programa de auditório. Éramos os dois bem novos, você já com a carreira se consolidando, fazia parte de um grupo musical da moda. Eu, estava apenas começando como repórter.

“Eu te entrevistei algumas vezes a partir desse dia. Você me tratava bem, tínhamos um bom relacionamento profissional. Até que mais tarde eu fui contratado por uma revista, e então você passou a me evitar. Eu entendo que você evitava sempre esse tipo de mídia, a da fofoca, dos rumores sem sentido. Mas você me conhecia. Eu sempre fiz o melhor para falar de você de uma forma delicada. Até mais ou menos três anos atrás. Você realmente não se lembra?”

Dulce continuou sem responder e sem recordar. Acontecimentos recentes ao acidente eram desconhecidos ainda para ela, e falar sobre isso em alguns momentos a fazia se sentir mal, como se já não servisse, como se estivesse quebrada.

— Ora. Naquele ano eu te vi em uma premiação, acompanhada de outra pessoa, que não seu noivo. Você chegou a comentar que eram amigos e que fazia muito tempo que não se encontravam em um evento e, por isso, estavam conversando e aproveitando o tempo para colocar a tudo em dia.

Ele se levantou, olhando para ela mais de perto, com as mãos apoiadas no leito.

— Eu vi quando vocês saíram juntos. E entraram no mesmo carro. Eu sei para onde foram. E agora você sumiu e eu te vejo com uma menina pequena.

Dulce conseguiu entender. Ele queria contar para o mundo — do jeito dele — tudo sobre ela. Ele pediria algo em troca para ficar calado.

— Agora, eu quero propor um trato. Eu posso ir embora e ficar quieto sobre o que aconteceu e sobre você estar aqui. Mas você também precisa fazer a sua parte, e vamos marcar um dia para isso. Está entendido?

— Oqu vcê qur? — articulou com dificuldade.

— Bem, como eu terei que guardar muitas informações, também vou pedir a você algumas coisas. Falhe em alguma, e eu farei a matéria. — Ele se aproximou um pouco mais de Dulce, e prosseguiu — Primeiramente, você deve imaginar que eu quero dinheiro e eu sei que você tem. Me entregue em três dias quinhentos mil pesos. Nos encontraremos no mesmo lugar que já tínhamos marcado, e então passarei a você o que você me oferecerá em seguida. E vá sozinha.

Dulce tentou assimilar tudo o que tinha ouvido sob efeito dos analgésicos. Nada parecia fazer sentido. Ela não se lembrava dele e não conseguiu perguntar seu nome antes de que ele se afastasse e passasse pela porta, fechando-a com delicadeza, como se fosse um visitante realmente preocupado.

O pensamento, porém, começou a se misturar com outros conteúdos, até que ela finalmente dormiu.

***

Vozes baixinhas misturadas aos apitos dos equipamentos de saúde zelavam o sono de Dulce quando ela acordou e novamente se sentiu como se tivesse sido atropelada por um ônibus. Percebeu que alguém se aproximava e se assustou. Não era possível que esse homem tinha voltado!

— Amiga, tudo bem? Como você está se sentindo? Teve algum pesadelo? — Jorge perguntava, sem nem ao menos dar chance para que ela compreendesse que era ele. — Calma, sou eu…

Dulce respirou fundo, tentando se acalmar.

— Tudo bem — conseguiu responder lentamente, sentindo que os remédios já estavam oferecendo uma reação um pouco melhor. — Eu preciso falar com vocês.

Ela se sentou na cama, com ajuda de Jorge, e esperou que ele e Paola se aproximassem, sentados nas cadeiras que antes estava o repórter.

— Eu acordei em algum momento mais cedo, mas estava dopada pelos remédios… Ele estava aqui no quarto.

— Ele quem, amada? — Paola questionou, confusa.

— O cara das cartas?! — dessa vez, era Jorge quem perguntava.

— Ele mesmo. — Dulce tentou não se afetar pelas expressões assustadas dos amigos, mas era difícil não sentir medo agora que conseguia entender tudo o que tinha acontecido. Organizou os pensamentos o melhor que pode e começou a narrar o acontecido. — Eu acordei e ele estava sentado numa cadeira aqui do lado. Disse que sabe tudo o que aconteceu antes do acidente, e que quer dinheiro para ficar quieto. Quer mais coisas também. E eu preciso ir encontrá-lo sozinha.

— Amiga, tem certeza que não foi um delírio? — Jorge sabia que não era possível que o homem tivesse entrado no quarto sem ser visto. — Não pode ser que ninguém tenha achado diferente esse cara vindo te visitar…

— Ele estava aqui, eu tenho certeza.

— Bem, então quem é? — Paola quis saber, curiosa com a identidade do homem. — Se você souber, fica muito mais fácil de a gente encontrar esse cara antes de você ter que encontrar com ele, não é?

— Então, temos um problema… Eu não sei quem é ele. Ele disse que me conhece desde muito tempo, que trabalhou comigo, digamos. Mas ele não disse o nome. E eu não consegui enxergar direito, porque esses remédios me deixam com a visão turva.

— Ou seja, você ficou cara-a-cara com ele, e não conseguiu vê-lo?! Ai, amiga…

— Eu sei, Jorgito…

— Mas você não vai nesse encontro sozinha, jamais nessa vida! Nós vamos com você. É perigoso, a gente não sabe na real qual é o intuito desse cara. — Jorge parou de falar, de repente, e emendou em seguida — quanto dinheiro exatamente ele pediu?

— Quinhentos mil pesos…

— Nem f***endo você vai ter essa quantia! — Exclamou Paola.

— Pior que eu tenho. Até mais. — Dulce quis rir com as caras dos amigos quando ela revelou que realmente tinha o dinheiro. — Eu disse para vocês que eu comecei a trabalhar cedo. E meu trabalho realmente sempre pagou muito bem. Mas o fato não é esse. O fato é que eu não posso ser difamada assim por algo que nunca aconteceu. Ou se aconteceu, eu não lembro, mas é essa a ameaça dele. Ele quer me fazer passar por traidora, mentirosa e não sei que outras coisas mais… E por um lado, eu sou tudo isso, mesmo…

— E como você chegou nessa conclusão, Dul? — Paola perguntou.

— Bem, eu estou aqui e ninguém sabe de mim. E de repente vão saber pela boca de alguém e por palavras tortas.

Jorge suspirou.

— Amiga, eu entendo que você não quer que esse cara faça mal nem a você nem a sua família. Vamos pensar numa forma de você entender direito o que esse cara está pensando sem te colocar em risco e sem rumores infundados.

— Certo… — Dulce parou de falar no momento em que a equipe médica entrou no quarto para reavaliá-la.

Os exames tinham ficado prontos, e foi revelado que Dulce tinha apenas uma queda nos níveis de glicose e na pressão. E isso poderia ser por não comer, por se preocupar e também pela dor. Mas, de resto, estava bem. Ficaria em casa mais dois dias, já podendo voltar para as atividades logo depois.

***

Os dois dias em que Dulce ficou em casa, refletiu sobre toda a situação. Era de se esperar que a pessoa chantageasse e pedisse dinheiro em troca do silêncio. Por outro lado, o que tanto Dulce temia sobre as pessoas saberem que ela estava vivendo uma “vida paralela” em outra cidade, afastada de todos? Ela não sabia por quê a incomodava tanto. Mas tinha que saber mais sobre sua própria vida antes de encarar ameaças tão duras.

Ela tentou se lembrar de mais fatos, de pedaços de memória que estavam atualmente em branco, mas não era assim um processo tão simples e tão controlável. Se ao menos pudesse ela mesma falar sobre tudo que tinha acontecido, seria mais simples. Mas sem recordar, não tinha jeito.

A volta aos ensaios foi como tinha esperado: as crianças estavam afiadíssimas, tanto na parte musical, quanto nas coreografias. Em um dado momento, ela pediu que eles formassem a roda para conversarem.

— Meninos, eu estou bastante orgulhosa de vocês! — Dulce declarou, sorrindo e olhando para cada um deles. — Vocês têm trabalhado duro e estão fazendo tudo quase, quase sem nenhum erro! Mas nos ensaios é assim, a gente erra mesmo. Na hora da apresentação, fazemos muito melhor.

— Estou com medo de errar na hora, profe… — comentou uma das meninas menores.

— Eu sei, Paulinha. Eu também tenho medo de errar. Mas eu vou contar um segredo: ninguém na platéia sabe o que foi ensaiado. Então se errar, continue, como se nada tivesse acontecido, ninguém vai perceber. Certo?

As crianças assentiram, um pouco mais aliviadas.

— Agora, eu preciso falar com vocês uma coisa séria. Em pouquíssimos dias temos uma competição muito importante e amanhã é nosso último ensaio geral, que vai ser mais rápido, porque vocês precisam descansar também um pouquinho. Mas eu ainda tenho dúvidas quanto a se eu vou conseguir acompanhar vocês.

Em meio a protestos das crianças, Dulce levantou as mãos pedindo silêncio para explicar.

— Eu sei, eu sei… Eu também quero muito ir ver vocês se apresentando, mas eu preciso checar com meus médicos se eu posso realmente ir. Vocês sabem que esses dias tive que ir para o hospital porque não passei bem.

— Profe, mas você já está melhor. A gente precisa de você, a gente não sabe nada do que tem que fazer lá! — protestou José, um dos meninos maiores.

— Por isso estamos conversando. Quero que vocês prestem muita atenção no que vou dizer. Quando vocês chegarem lá, têm que procurar o local que confirma a inscrição. Com certeza vai ter ou alguém para orientar onde ir, ou algum cartaz já informando. E depois de confirmar, vocês vão entrar na parte do camarim. Ali é onde vocês vão se trocar e aquecer a voz, entendido? Não esqueçam por favor de fazer o aquecimento!

Balançando a cabeça positivamente, eles concordaram.

— É só seguirem as ordens dos organizadores. Não vai ter nada de outro mundo, certo? — Dulce sorriu para eles, continuando. — Eu sei que vocês estão assustados por ser o primeiro concurso de vocês. Mas precisam passar pela experiência com ou sem mim para aprender como é. Vocês estão preparados, eu tenho certeza! Agora, quem quer fazer um último exercício antes de irmos embora?

***

O dia seguinte começou já com planos de ensaios e uma ansiedade que Dulce não sabia dizer se vinha da apresentação do dia seguinte ou do encontro com o repórter. O encontro foi o primeiro compromisso do dia, ou melhor da madrugada. Dulce tinha sido intimada a estar na saída da cidade ao amanhecer e, perto das cinco da manhã, ela estava acordada, vestida enquanto tomava um café e olhava fixamente para um talão de cheques ainda por preencher.

— Amiga?

Dulce ouviu Jorge se aproximar da ilha que separava os ambientes da cozinha e da sala, e que também servia de mesa. Ela não queria discutir com ele, porém gostaria que ele entendesse os motivos que a levariam a se encontrar com alguém tão misterioso sem a ajuda de ninguém.

— Jorgito, meu anjo… — Ela começou, tentando escolher as palavras da melhor forma possível. — Eu sei que você está preocupado. Mas eu estou pensando aqui… Ele não pode me fazer mal, ou ficará sem o resto das coisas que disse que quer.

— Ou que ele blefou dizendo que quer…

Dulce suspirou.

— É, pode ser. Mas ainda assim, eu preciso ir.

— Você chegou a conversar com Gabriel sobre isso? Sobre essa doideira dessas chantagens?

— Se eu tivesse falado com ele, ele já teria trancado todas as portas e janelas para me impedir de ir. E eu não quis preocupá-lo.

— Você não quis que ninguém te impedisse. — Ele tinha razão, pensou Dulce. Jorge sabia que não conseguiria pará-la, e por isso não ficou insistindo no assunto. — Você vai preencher o cheque?

— Eu poderia. Mas acho que preferiria fazer na frente dele, se achar que devo. Levar pronto é mais uma mostra de que eu tenho medo dele e que faria qualquer coisa para me livrar do que ele tem para dizer. É como se de fato fosse culpada.

— Entendo, amiga. Então você vai mesmo…

— Eu vou. De uma vez por todas descobrir quem é ele e tentar ficar em paz.

— Eu só peço que você tome cuidado. E coloque os nossos telefones e o da polícia na chamada de emergência. — Ele se calou por alguns segundos, olhando para o chão. — Por que não chamamos a polícia, em vez de você ir pessoalmente?

— Já considerei essa possibilidade, mas acho que isso ia fazer com que ele quisesse chamar atenção novamente como fez antes. Não precisamos disso, se pode ser mais simples. — Dulce se levantou, decidida, colocando a caneca de café na pia e agarrando o talão de cheques. — Deseje-me sorte, Jorgito.

O caminho até o local estava totalmente deserto, considerando que era madrugada e nenhum raio de sol tinha dado as caras ainda. O local combinado era ao final de uma trilha, onde havia uma casa abandonada e uma casa de ferramentas, feita de madeira, bem ao lado. Ela notou que a porta da oficina estava semi aberta e um movimento vindo de lá, quando o sol começou a nascer.

— Pensei que não teria coragem de vir até aqui — provocou o repórter.

— Eu quero saber exatamente o que você quer. Por que está aqui?

— Eu já te disse. Ou não se lembra disso também? — Ele deu mais um passo para a frente, em direção a Dulce. — Eu quero que você faça alguns favores para mim, e em troca não direi nada sobre a sua reputação.

— Eu não me lembro de nada ruim que tenha feito… — Dulce explicou.

— Parece que você não se lembra de muitas coisas, não é?

Ela se sentiu confusa. Realmente não se lembrava, mas não quis contar isso também a ele. Esperou que ele dissesse o que queria, como já tinha perguntado.

— Olhe, Dulce. Nós dois somos amigos…

— Correção: NÃO somos amigos.

— Certo, há muito tempo não falamos nada. Mas entenda que meu prestígio com um furo de reportagem está em jogo.

— Não me parece uma boa forma de conseguir prestígio para você desprestigiando outras pessoas. Ainda mais com mentiras.

— Eu sei o que eu digo — o repórter se irritou. — Sei que não são mentiras. Eu vi muito bem o que houve.

— Eu não vou discutir. Não me interessa as coisas que você criou na sua cabeça.

— Dulce, quanto mais você nega, maior será o tombo que levará quando as coisas estiverem expostas. Agora, te pergunto: você trouxe o que eu pedi?

— Ainda estou pensando se vale a pena — respondeu.

— Então não acredita — ele se aproximou mais, enquanto Dulce deu alguns passos para trás, em reação. — Não acredita do que sou capaz? Robert Biazo é capaz de qualquer coisa.

Então esse é o nome dele. Não podia recordar de onde era, ou quando estiveram juntos. Ela precisava de mais tempo.

— Ah, nisso eu acredito. O que não acredito é que ganhará prestígio com informações falsas, como já disse.

— Entregue o dinheiro, e passaremos para uma nova etapa.

Dulce respirou fundo, tentando se acalmar. Talvez estendendo um pouco essa palhaçada, teria o que precisava. Puxou o talão de cheques e preencheu as informações, enquanto ouvia que Robert se aproximava mais. Ela destacou a folha do canhoto e a estendeu, mantendo uma distância do homem.

— Vejo que você pensou direito nas consequências. Quero que saiba que não irá se arrepender se fizermos tudo conforme os meus termos. Agora vem a próxima etapa, e serei bonzinho, darei alguns dias para que se lembre e me de a informação que preciso. Quero que me conte sobre o escândalo que envolveu a sua gravadora.

Dulce permaneceu sem expressão. Dessa vez, ela sabia do que ele estava falando, mas queria que ele pensasse que não.

— Vamos combinar para quando? Em cinco dias, aqui mesmo? — Ele esperou alguma resposta, mas Dulce não disse nada. — Combinado! Ah. Amanhã estarei lá, prestigiando suas crianças. Espero que cumpra com o acordo e que ninguém saiba da nossa conversa, ou então serei obrigado a divulgar tudo lá mesmo.

***

A noite fora absurdamente longa e Dulce não tinha conseguido pregar os olhos. Pensou em tantas coisas: o concurso, que seria em algumas horas; a proposta incabida feita por Robert; a ida para a Capital. Não havia nada que a impedisse de fato de ir para essa viagem, a não ser o medo.

E eram medos impossíveis de se prever. Ela tinha medo primeiramente da viagem em si. Também tinha medo de encontrar-se com pessoas do passado, aquelas que tinham marcado e que já voltaram a pairar nos pensamentos. Ainda tinha o medo de encontrar Robert e não dar conta de lidar com ele ali, na frente de todos. E se realmente ele a expusesse?

Dulce também pensava sobre as lembranças perdidas. É verdade que ela tinha recuperado bastante coisa nesse período de três anos, mais ou menos. Mas não havia sido tudo. Principalmente, o que havia acontecido antes do acidente? Não devia ser nada demais. Não devia ser nada do que disse Robert, ele só tinha jogado aquelas coisas para desestabilizá-la. E havia conseguido. E ela se odiava por isso.

Tudo rodava em sua cabeça como um furacão, cada hora evidenciando uma questão diferente em que pensar. Quando deu por si, o despertador tocou. Era hora da verdade. Levantou-se e resolveu que iria à Capital, pois a melhor maneira de recuperar suas memórias seria encarando aquilo que mais a assustava.

Ela se arrumou como haviam combinado os professores e pais responsáveis, com roupas básicas e um jaleco que identificava a escola. Essa era a forma de fazer mais fácil que as crianças os encontrassem. Chegou à cozinha para comer algo antes de sair, porém tinha o estômago embrulhado. Jorge já estava lá, igualmente pronto, aguardando a hora de sair.

— Eu sabia que você resolveria ir! — ele exclamou, animado. — Vai ser incrível e não vai ser todo esse monstro que você criou na cabeça. Você vai ver.

— Espero que seja como você está dizendo. Eu estou assustada. Mas eu preciso ir, não é mesmo?

— Precisa. Você está pronta?

Dulce assentiu. Jorge pegou sua mão, e juntos foram em direção à porta da frente. Caminhando, atravessaram as principais ruas da pequena cidade, chegando na escola. Um ônibus estava parado em frente ao portão principal e algumas das crianças já tinham chegado, acompanhadas pelos responsáveis. Alguns dos funcionários da escola que acompanhariam as crianças também já esperavam o horário de saída da excursão. Margaret veio em direção à dupla, com uma animação claramente estampada no rosto.

— Ah, vocês chegaram! Então, como estão se sentindo?

— Ansiosa? — respondeu Dulce, tentando não dizer “enjoada”. — Os meninos devem estar mais nervosos que eu…

— Eles estão ótimos, estão combinando quem vai sentar com quem…

— Eu me lembro de algumas vezes que viajei assim de pequena, com uma turma — referiu Dulce. — É realmente um momento único.

Ela ouviu seu nome chamando numa voz familiar. Gabriel também tinha se disposto a acompanhar a turma como suplente de sua mãe, que era conselheira da escola. Ele se aproximou, cumprimentando a todos e dando um sorriso discreto a Dulce, o que ela sabia que significava um “Tudo bem?”. Ela sinalizou positivamente de volta.

— Profe, você vai com a gente? — gritou José, do outro lado da rua.

Dulce criou coragem para sorrir e respondeu um “Sim!”, deixando as crianças ainda mais animadas. Então era hora de começar a embarcar e Gabriel a acompanhou para dentro da condução, sentando-se a seu lado. As crianças faziam brincadeiras e cantavam canções, enquanto o ônibus dava a partida e acelerava.

— Dul, tudo certo? — Ele perguntou, apertando sua mão.

— Vai ficar.

Deixou que as lembranças fossem guardadas numa caixa por enquanto. Não podia pensar nisso enquanto viajava, ou ficaria louca. Tentou relaxar ao máximo enquanto ia a caminho da Capital.