Uma Casa de Estrelas

narcisa está habituada a fazer esse trajeto


narcisa está habituada a fazer esse trajeto - quadragésimo quarto capítulo

uma casa de estrelas, por lyn black

Tic-toc, tic-toc.

Narcisa olha para o espelho, o espelho olha para Narcisa. Ela gira lentamente, observa-se por sobre o próprio ombro e repara em como seu corpo esguio irá facilmente se mesclar à noite. Vestes escuras, os cabelos presos e o lábio pálido, suas mãos tremem por apenas um instante enquanto ela agarra a adaga, herança da família Black.

O grande banheiro da Mansão Malfoy sempre deixa-a claustrofóbica. Aquela casa - aquilo não é um lar, aquilo é uma arquitetura da tormenta e das máscaras - dá arrepios pelo seu corpo, mas é o que ela tem. Foi a sua escolha, não foi? Cissy olha para o seu anel de casada, que cintila com pedras preciosas e tem vontade de atirá-lo contra o espelho. Ela olha para a barriga que ainda não se mostra diferente, mas ela sabe: está grávida e enquanto puder manter isso para si, manterá. Ela deveria fugir, desonrar o nome, sumir no mundo? Ah, mas Cissy adora a alta sociedade bruxa, os eventos, posar elegantemente no topo da sua bela e dramática ruína.

Trajes escuros, adaga em punho, o que será que Cissy Malfoy fará essa noite? Ela poderia simplesmente sorrir, oferecer chá com arsênico toda manhã para Lucius e esperar que o peso de ser a Senhora Malfoy fique mais suave quando enterrar o corpo dele. O ponto central do rosto pálido e pontiagudo de Narcisa, porém, é que ela não é muito diferente de sua louca irmã Bellatrix. Ela quer sangue nas mãos, no corpo e manchando seus cabelos loiros.

Então, Narcisa sorri para o espelho, pouco reconhecendo quem é a mulher na imagem. Destranca com um aceno da varinha a porta, e começa a recitar o seu trajeto, pensando em como atravessará o corpo de Lucius com a ponta afiada do punhal que aperta contra a mão. Ela percorre corredores, desce escadas e termina em frente ao escritório de Lucius. Seria tão fácil... Não é de seu estilo envenenar, ou adormecer e matar desacordados, ela quer os olhos vivos de Lucius encarando-a nos últimos instantes. É um desejo ardente e prateado. Depois de matá-lo, ela reconstruirá a pele, e falseará com a magia que ninguém pensa que ela tem capacidade de fazer, um problema cardíaco. Parece um plano promissor, não?

Um segredo do futuro: Cissy repetirá esse trajeto incontáveis vezes durante a sua vida.

A mão repousa com cuidado na maçaneta quando ela escuta um movimento vários metros atrás de si, e vira o corpo agilmente, varinha em riste. O Lorde das Trevas sorri, muito metros distante, para a caçula dos Black, e com um aceno da cabeça e um pedido de desculpas, ela baixa a varinha. Narcisa adoraria enfiar um punhal em Lucius, herdar o dinheiro e criar sozinha a criança que está gestando, mas aquela é uma guerra. Beijando a mão de Voldemort, e retornando para o seu reflexo no espelho, ela pensa quantos corpos teria que atravessar com seu punhal caso quisesse, realmente, ser quem ela é. Ah, mas Narcisa está tão confortável entre as sedas e as farsas... Quem ela é, afinal, não importa muito para ninguém. Talvez somente para ela, em algumas noites em que se mune de sede de sangue, um punhal antigo e encara a porta da sala do marido.

Será que um dia ela realmente puxará esse gatilho? Adoraríamos ver o resultado, mas Cissy... Ela sustenta o sorriso munida dessa sede. É bem possível que não sobre muito dela se ela abrir aquela porta e realmente cravar a adaga no coração de Lucius. A vontade é uma tormenta, porém Cissy Malfoy é movida pelo desejo nunca saciado de dar o bote.

Parece horrível, mas ela está acostumada. Sempre foi desse jeito, não?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.