Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas

Somos uma família, lutamos como família, morremos como família (parte II)


Capítulo 75

Somos uma família. Lutamos como família, morremos como família (Parte II)

I

Badajoz, Espanha

Madrugada do dia 31 de julho de 2017

A cozinha do casarão do sítio estava totalmente destruída por causa do escudo de Maitê. Gotzone, Lorena e Juan estavam alerta com suas armaduras vermelhas da Ordem e armas em mãos. A loira de tranças agarrava sua espada de duas mãos com determinação, enquanto que Juan e Lorena seguravam uma foice.

— O que você quis dizer, Maitê, com esse negócio de quebrar o pescoço da minha neta? — perguntou Juan.

— É exatamente o que você está pensando, Juan! Eu atravessei esse escudo no pescoço dela! — disse Maitê, orgulhosa, flutuando no ar. — Ela nunca foi meu alvo, mas quem mandou se meter a idiota.

— Maldita! — disse Juan, apertando a foice em sua mão. Gotzone segurou o pulso dele antes que começasse a fazer alguma besteira.

— Acho que a única idiota aqui é você, Maitê! Você se meteu a besta de tentar atacar seu irmão e seu próprio pai apareceu pra falar na sua cara “você não é nenhuma rainha”. — disse Gotzone.

— Cala a boca! — disse Maitê, tremendo. Ela arremessou o escudo contra Gotzone e a jogadora rebateu de volta com a espada. O escudo acertou a barriga de Maitê, mas ela não caiu.

— Você é uma cega que não enxerga a realidade a um palmo de distância da sua frente! Você não é rainha mais! Acho melhor você sair desse castelo de areia que você criou na sua cabecinha e ver o que você tá fazendo, sua louca! — disse Gotzone.

— Eu já falei pra você calar a boca! — disse Maitê. Ela estendeu a mão e o escudo voou até ela. Quando ia arremessar novamente, o braço não estava lá.

— Mas, hein? — disse a princesa, vendo o toco que ficou no lugar. Lorena estava ao lado dela, com a foice nas mãos.

— Foi com esse escudo que você arrebentou a minha irmã é? Agora, eu arranquei ele de você! — disse a Interventora, com raiva no olhar, não querendo parar o golpe.

— Pega, Kero! — gritou Gotzone. O grande leão dourado de armadura de jade pulou no ar como se pegasse um disco de frisbee. — Leva pro Aitor! Ele vai saber o que fazer! — disse a loira.

— Tem certeza? Eu posso ajudar… — disse o guardião, falando com o escudo preso na boca.

— Vai ajudar mais levando isso pro Aitor! Vai Kero! — disse Gotzone. Kerberos correu pelos campos de milho, abrindo as imensas asas douradas sobre ele.

— Minha arma! — disse Maitê. Ela tentou voar atrás do guardião, mas uma foice atravessou as costas dela antes que o alcançasse. Era Juan.

— Se lembra de mim, alteza? Eu sou um dos fazendeiros sócio do Paco Ramos, marido da sua irmã, se lembra? Eu visitei o palácio real de Madrid em 94 e você tava lá, no momento que El Rey tava sendo criticado porque não saia da guerra, se lembra? — disse Juan, segurando-a em terra para que não fugisse. — Eu me lembro de ver você se explicando pra todo mundo porque não queria ser rainha mais, que Felipe foi a melhor escolha! Cadê a princesa que defendia o irmão, cadê? Sumiu, é? Não existe mais, é? Agora vem aqui, perturbar a paz da minha família, querendo um trono que nunca foi seu? — disse Juan. A princesa olhava com ódio no olhar para o Interventor da Estremadura.

— Cometeu um grave erro, Juan… — disse Maitê.

— Acho que o único que errou aqui foi você! — disse Juan, apertando a foice nas costas dela. A mão livre de Maitê tremia, com os olhos brilhando em cinza. Gotzone e Lorena posaram ao lado dela.

— Juan, pode parar. Ela já era! — disse a jogadora.

— Você quem pensa, Gotzone. Isso aqui só está no começo — disse Maitê.

II

Ao longe, Kero voava sobre uma planície cheia de gramas dos campos estremenhos. Uma vez ou outra via um pasto ou se deparava com um campo de árvores.

— Agora deve faltar uma hora pra eu chegar em Madrid! Como voar cansa, viu! O Clow podia ter me ensinado umas magias de teletransporte… — disse Kero.

Do corte do braço de Maitê, tentáculos negros e viscosos começaram a crescer. Eles envolveram Kero num instante e derrubaram o guardião no chão.

— Mas o que é isso? — perguntou Kero, enroscado. Ele se contorcia tentando se soltar daquelas coisas que pareciam cintas envolvendo seu corpo. De repente, o escudo flutuou no ar e voltou de volta todo o caminho que o guardião havia voado.

— Que droga! Tanto esforço jogado no lixo! — disse o guardião, tentando se soltar. O corpo dele brilhou em dourado e começou a soltar fogo pela boca.

III

A foice de Juan ainda estava parada nas costas de Maitê. Gotzone continuava a apelar para a moderação enquanto que Lorena estava apreensiva. A menina chegou perto de Maitê e perguntou:

— Minha irmã… Patrícia… O que aconteceu com ela? — perguntou a Interventora.

— A mesma coisa que vai acontecer com o seu vô agora… — disse a princesa. Nesse exato momento, o escudo que ela usava atravessou o peito de Juan. Ninguém sentiu nada, só viram quando ele arregalou os olhos.

— Juan! — gritou Gotzone.

— Vô! — gritou Lorena. A moça não aguentou a dor. Assim que viu o avô se ajoelhando, fincou as unhas no chão e seus olhos brilhavam em vermelho. Fui tudo muito rápido. Suas pernas viraram escamas, escamas cresceram de seus cotovelos e o rosto dela descascou. A capa que outrora estava nos ombros de seu avô voou para os ombros dela, inclusive a foice dele foi parar suas mãos.

— Lorena, para! — gritava Gotzone. Raios saiam do corpo dela. Uma onda de calor veio logo em seguida. Algumas espigas de milho ao redor começaram a pegar fogo. Os olhos dela brilhavam em vermelho. — Ela não escuta! Perdeu a razão!

Num pulo mais rápido que qualquer coisa, Lorena atravessou a foice do avô no tronco dela. Deu outro e mais outro golpe em Maitê até ficar em cubos. Tentáculos viscosos negros saíram de todas as partes do corpo da princesa e tentaram se conectar uns com os outros, da mesma forma que aconteceu com Ignacio.

Lorena não desistiu. Tentou cortar os tentáculos, mas a cada vez que fazia isso, mais dois ou três tentáculos cresciam do ramo decepado. Olhando de longe, Maitê parecia um monstro. Seu crânio havia se dividido em quatro metades, seu tronco em outras oito mais e seus braços e pernas estavam totalmente separados. Parecia uma teia de aranha com uma série de partes humanas presas nelas.

Quando Lorena tentou dar mais um golpe, a espada de Gotzone se adiantou. A loira de tranças agarrou o pescoço de Lorena e derrubou-a no campo de milho. A jovem se debatia. Foi preciso rasgar um longo trecho do milharal até que ela parasse.

— Para, Lorena! Não tá vendo que a cada golpe que você dá, você cria um monstro novo? Se aquieta! — berrou a jogadora. Com relutância, Lorena parou. Nessa hora, as quatro metades da cabeça de Maitê conseguiram se juntar e ela falou:

— Tá vendo, Gotzone? O meu poder é superior ao seu! O que é a Ordem do Dragão agora? O que é essa convivência de magos agora? O que vai ser a monarquia daqui uns meses? Eu vou ser a Rainha de um mundo novo, onde comuns vão aprender a respeitar este planeta! — disse a princesa, em tom ameaçador.

— Mas enquanto… Gente como eu… Continuar a lutar… Contra isso… Você não é rainha… Nem esse mundo… É só de magos… Tota… litários como você… — disse Juan, erguendo-se do chão aos poucos. Um círculo mágico vermelho apareceu debaixo dos pés do homem. Outro e mais outro círculo mágico menor apareceu nas mãos e no pulso dele. Era como se o machucado no peito não fosse nada para ele.

— Vô… — disse Lorena, chorando lágrimas rubras. Gotzone a segurava, para evitar que ela fizesse besteira.

Em poucos segundos, o corpo monstruoso de Maitê ficou coberto de chamas. Ela deu um grito de agonia terrível e começava a enfraquecer.

— Meu vô… Ele tá usando as últimas forças dele pra acabar com ela… — disse Lorena, recuperando a consciência.

— É o que qualquer um daqui de nós faria, Lorena. — disse Gotzone, tocando no ombro dela.

Maitê não pereceu. Um círculo mágico preto apareceu debaixo do pés dela e a ex-interventora desapareceu. Juan se ajoelhou no solo e desmaiou.

— Vô! — disse Lorena, correndo até onde ele estava. Ela virou o corpo dele sorrindo, mesmo com o rasgo no peito. Apesar da cicatriz, Juan ainda tinha forças para falar.

— Lorena Ortiz,filha de Javier Ortiz e Isabel Gamarra… Essa luta não acabou… Eu só dei o primeiro passo, eu peço que você continue o resto…

— Vô, não fala mais nada! — disse a Moça, segurando a mão dele.

— Seu pai… Sua mãe… Ainda tão aqui. Você ainda tem eles…

— Vô… O senhor é que é a minha família!

— A Gotzone e toda a Ordem do Dragão é sua família também, minha filha… Você agora é a Interventora da Estremadura… Não hesite diante deles! Eu sei que você não vai hesitar… Só toma cuidado com essas espigas que eu levei anos pra fazer crescer… Cuida delas pra mim…

— Vô, não se vá! Eu não vou conseguir cuidar delas sozinha! — disse a moça, chorando no peito ferido do avô. Ele colocou

— Vai sim! Você já venceu! Só continuar vencendo… Lute pela nossa terra... Como eu lutei… — disse Juan. Ele fechou os olhos para nunca mais voltar a abrir.

— Vovô — berrou Lorena. Gotzone tocou no ombro dela e ela sentiu o peso da capa em suas costas. Não podia mais continuar a chorar e chamar pelo avô ou pela irmã. Tudo o que fez foi pegar a foice que foi do avô, a arma lendária da Ordem e erguê-la contra o céu. E gritou:

— Aparezca, Dragón! — A armadura da Ordem que foi do avô colou no corpo dela de imediato.

Continua…