Capítulo 61

Foi horrível! Eles destruíram tudo!

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— Alô? Gotzone, é você? — disse a Cardcaptor, atendendo uma ligação.

— Oi, Sakura! Está tudo bem? Eu tô sabendo o que aconteceu! Me desculpa, me desculpa mesmo! Eu tô muito surpresa até agora, eu já esperava uma coisa dessas, mas nunca pensei…

— Já esperava? Já tá sabendo e ainda tá Surpresa? Sua vagabunda! Surpresa uma ova! — disse Sakura, irritada.

— Vai me deixar me explicar, Sakura, ou vai continuar me xingando?

— Eu já tô sabendo do seu rolo com a professora também, tá? Não basta sequestrar meu pai, meu irmão, seduzir meu marido, Tem que me vigiar esse tempo todo, sua cretina?

— Você fala da Begoña? Ela não te explicou nada direito? Eu vou falar com ela…

— Falar como, se ela morreu! — disse Sakura. Gotzone gelou quando soube da notícia. — Agora vai me dizer que não tava sabendo disso também? Ela tá morta e bem morta! Cortaram a cabeça dela!

— Morta!? — disse Gotzone, saindo do gelo que estava.

— Foi seu amiguinho da Ordem do Dragão, Victor, acho que é isso, apareceu na minha frente e cortou a cabeça dela! Ele tava querendo roubar a minha chave do lacre, sabia disso, sua infeliz!

— Como é que é? Sakura, onde você está? Você tá em Bilbao ainda? Eu vou até aí te buscar!

— E você acha que eu vou ficar paradinha aqui, esperando você vir me atacar? Na cadeia! Eu não sei o que deu nos seus parceiros, mas eu não vou ficar dando mole não! E outra: se botar a mão no meu filho, eu te mato! — disse Sakura, desligando o telefone. Gotzone tentou chamar a cardcaptor de volta, mas não adiantava mais. O telefone já tinha sido desligado. Gotzone ficou muito preocupada.

I

Bilbao, Euskadi, Espanha.

Meia hora depois.

Sakura abriu a porta de seu apartamento e tomou um susto.

Fazia meia hora que havia telefonado para Tomoyo, contando o ocorrido. A amiga lhe recomendou se trocar e pegar um AVE até Barcelona. Tudo para se encontrar com ela, Felipe e Dom Miquel o mais rápido possível a pedido do próprio cardeal. Kerberos já havia voado para lá.

O apartamento estava totalmente revirado. Cacos de vidro estavam por toda parte. Móveis estavam quebrados, os estofado estavam rasgados e as panelas e potes dos armários estavam no chão. Em seu quarto, a coisa não estava melhor. As roupas também estavam no chão e o colchão estava totalmente em frangalhos. Até mesmo o chuveiro foi arrebentado.

A cardcaptor pegou uma chapa de vidro pequena no chão e viu que tinha uma mensagem arranhada nela.

“Não pense que você vai ter paz. Não é só porque você conseguiu parar o Victor que você vai parar a gente. Esteja ciente, vamos atrás de você até no inferno se for necessário”.

Sakura colocou a chapa numa mala e começou a colocar algumas peças de roupa nela também. Pegou alguns cartões e documentos e deu uma última olhada para o apartamento devastado antes de fechar a porta.

II

Barcelona, Catalunya, Espanha.

Noite do dia 2 de agosto de 2016

Na estação do trem de alta velocidade, Sakura olhava triste para o chão, checando a última mensagem que mandou para o filho. Ele disse que estava bem e se preparava para dormir. Era a única coisa que fazia Sakura sorrir em meio às lágrimas que chorava.

Enquanto estava indo para a estação, ligou de novo para Gotzone e perguntou como o filho estava. Relatou tudo o que aconteceu e ameaçou a mulher se alguma coisa acontecesse com ele. A loira se disse surpresa e perguntou onde Sakura estava indo. A cardcaptor desconversou e repetiu a ameaça. Gotzone continuou a ligar, mas ela não atendia.

Quando desligou o telefone, Tomoyo e Felipe apareceram. Ela correu e abraçou a amiga querida, aos prantos, derrubando a maleta no chão. Sakura tremia.

— Foi horrível! Eles destruíram tudo!

— Não fica assim, não fica assim! Vamos arranjar uma solução! — disse Tomoyo, abraçando a cabeça de Sakura em seu peito.

— Eu estraguei seu noivado, né? — disse Sakura, olhando para Felipe.

— Sakura, escuta: o que aconteceu com você é uma coisa grave! A nossa prioridade é resolver isso! Depois pensamos em festa quando a gente acabar com tudo isso! — disse El Rey, encorajando a moça.

— Eu nem tomei banho direito, saí de casa às pressas! Olha como eu tô! — disse Sakura.

— A gente vai descansar agora, vem com a gente… — disse Felipe, pegando na mão dela.

— Será mesmo? Tenho medo até que eles já tenham chegado aqui… — disse Sakura.

— Ainda não… Mas, se chegarem… A gente vai te proteger! — disse Felipe, mostrando uma manopla dourada que carregava dentro da mochila que levava. os olhos de Sakura brilharam de curiosidade. — Agora vamos! — Felipe fechou a mochila e todos entraram num táxi, rumo à arquidiocese de Barcelona, onde Miquel Tossel as aguardava.

III

Dom Miquel abriu a porta da casa paroquial e chamou todo mundo para uma sala reservada. Sakura abraçou o religioso logo que entrou na sala.

— Dom Miquel! Eu não sei o que eu faria sem o senhor! Eu podia estar morta essa hora! — disse Sakura.

— Graças à virgem você não está, minha filha! Entre, sente-se! Tome uma água, coma alguma coisa… Se precisar tomar um banho, pode usar o do quarto do Arcebispo! Eu já conversei com ele.

— Dom Miquel, do jeito que eu tô aqui, eu não tô com fome, nem com sede, nem com vontade de fazer nada! Aliás, eu não sei nem o que eu vou fazer daqui pra frente! — disse Sakura, agoniada. — Falando nisso, o Kero não tá com vocês aqui não?

— Ele veio sim, só que ele fez uma parada na estação de Lleida pra falar com a Ami Mizuno e depois falou que ele vinha… — explicou Tomoyo.

— Deus do céu! Eu aqui, desesperada, negócio de urgência, e o Kero em Lleida! Puxa vida! — disse Sakura, nervosa.

— Sakura, acalme-se. Fui eu quem pediu para o Kerberos chamar a Ami até aqui. Qualquer ajuda nesse momento é indispensável e não podemos recusar. Daqui a pouco, ele tá chegando. Agora, o que você precisa fazer até ele chegar é tomar um banho, comer um pouco e descansar. Não adianta continuar nervosa desse jeito! — disse Dom Miquel, sorrindo timidamente para Sakura, acariciando a face e os ombros dela. A muito contragosto, Sakura seguiu as recomendações do Cardeal, mas antes disso, fez uma última pergunta:

— Como é que vocês podem ficar tão sossegados assim? Que manopla é essa na sua mochila, Felipe?

El Rey sacou o armamento da bolsa e colocou na mão. Uma armadura dourada com uma capa vermelha nas costas montou no corpo dele e de Tomoyo em instantes.

— Se esqueceu dessa armadura, Sakura? Foi há seis anos, mas acho que ainda vale… A Gotzone arranjou um jeito de dar mais poderes pra elas. Ela tava entregando as armaduras pra gente quando você ligou. Se lembra que tinha duas ordens? Uma querendo pegar as Cartas e outra te proteger? Pois é, agora o joio e o trigo foram separados de vez… — disse Felipe. Tomoyo sorria e fez sim com a cabeça. Por um instante, Sakura se arrependeu de ter gritado da forma como gritou com Gotzone no telefone.

— Depois vocês me contam essa história direito… — disse a cardcaptor.

IV

Depois do banho, Sakura vestiu uma jardineira jeans que conseguiu salvar do apartamento. Ela se sentou na ponta da mesa, ao lado de Tomoyo e Felipe. Os dois ainda estavam de armadura dourada e Dom Miquel se sentou na cabeceira da mesa, segurando a placa de vidro que Sakura trouxe de Bilbao.

— Dom Miquel… Eu tenho muitas perguntas pra fazer, muitas mesmo… Sobre como o senhor soube que eu tava passando perigo e… — disse Sakura.

— Coloquei um espírito artificial em você para que me avisasse se alguma coisa acontecesse. É um costume dos magos fazer isso para vigiar os filhos. Você não deve saber ainda porque não vive em uma sociedade mágica, mas esse tipo de coisa é muito comum pra gente… — disse Miquel.

— Eu já vi a Meiling e o Shoran me comentar a respeito… O Shoran uma vez me mostrou como funciona, quando outros magos lançam um feitiço na gente pra saber onde é que a gente tá…

— É exatamente a mesma coisa! Dessa vez, coloquei um fantasminha do "bem" que ainda está do seu lado e me colocou em contato contigo… — disse o Cardeal, mexendo atrás da Orelha dela. Um bonequinho branco saiu de lá, para espanto de todos e depois sumiu.

— Hoe… Tô vendo que esse mundo tá cheio de surpresas mesmo… — disse Sakura, olhando para a mesa com o olhar vazio. — Eu não entendo, eu não entendo essa confiança que vocês tem na Gotzone! Aquela mulher nunca me enganou! O pior de tudo é saber que a minha professora trabalhava pra ela! Nem sei se sinto dor ou pavor aqui dentro de mim… — Depois, Sakura levantou a cabeça e ficou olhando para Tomoyo e Felipe. — Ainda por cima vejo vocês dois usando essas armaduras da Ordem do Dragão… Eu não sei em quem confiar! Eu queria sair correndo, dando um perdido no mundo. Eu só aceitei esse convite porque era com o senhor… — desabafou a cardcaptor, tentando chorar e não conseguindo.

— Sakura, eu sei que você tem muita desconfiança da Ordem do Dragão… Eu digo que eu também tinha no começo. Meu amigo, Martí Piqué, me falou que era de uma ordem mágica anônima que não podia falar muito. Mas também não queria esconder de mim, já que a gente era amigo… Imagina como eu me senti, com essa notícia chocante na minha cara! Eu falei pra ele “Martí, você é louco! Como é que deixam uma pessoa assim entrar no palácio?”. Então, ele me disse “eu não tenho nenhum interesse em você, Miquel, nem quero tirar nenhum proveito disso. Se quiser, eu peço as contas do palácio e vou cozinhar em outro lugar…”. A gente ficou um tempo sem se falar até eu entender tudo o que ele queria me dizer… — disse o Cardeal, gesticulando. Sakura, Felipe e Tomoyo sorriam com a encenação. — Sabe o que eu acho? Acho que você devia escutar o que a Gotzone tem a dizer. Uma vara sozinha é fácil de dobrar, agora um feixe de varas é complicado quebrar, até para o homem mais forte…

— Sakura, complementando o que Dom Miquel disse, eu me lembro a primeira vez que eu vi a Gotzone, lá na praça de Les Glòries. Ela disse pra gente que sempre esteve te acompanhando, acompanhando a gente. Ela sabia que tentariam roubar as cartas alguma hora. Quando você veio pra Espanha, Sakura, a gente conversou sobre isso, sobre a possibilidade desse dia chegar, você se lembra? Eu falei pra você que aqui, você estaria um pouco mais vulnerável… — disse Tomoyo.

— É, eu sei, eu me lembro. Eu sei, Tomoyo, que eu quis vir, que a decisão é minha. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu ia acabar enfrentando os peixes gordos da Ordem. Eu não vou dizer que fui ingênua à esse ponto. O problema é que a Meiling tá em coma até hoje por causa da Ordem. Eu me separei do Shoran. Eu queria ter todo mundo do meu lado, mas não tenho. Vocês falam bem da Gotzone, eu também gostaria de poder contar com a ajuda dela, mas… Me chifrar, me vigiar pelas sombras não é uma coisa que eu gosto muito. Eu já me sentia desconfortável com aqueles caras de farda branca me seguindo toda hora, imagina saber que a Gotzone tem uma rede de espionagem pra me vigiar? — desabafou a cardcaptor.

— Sakura, eu sei que o que a Gotzone fez foi errado, ainda mais para ela que é a que está mais interessada em acabar com toda essa história, essa “outra facção” da Ordem que se rebelou. Mas eu não posso negar que ela vai proteger o Chi. Ela sempre mostrou estar interessada em proteger as Cartas… A minha solução para esse problema seria a gente se sentar numa mesa como essa e conversar, todo mundo junto… — disse Tomoyo.

— Unidos ou não, o problema é que essa “outra facção” da Ordem começou a atacar. A gente precisa dar uma resposta. Eles estão dispostos a ir até o fim com isso, como se já não bastasse os problemas que a gente tem que enfrentar todo dia. — disse Felipe.

De repente, algumas batidas soaram na porta da sala.

— Entre. — disse Dom Miquel.

Um padre entrou.

— Presidente Miquel… Tem uns cinquenta homens e mulheres fora da sede episcopal! Eles tão armados com arcos, flechas e… Eles buscam o senhor!

Todo mundo naquela sala ficou tenso com a notícia.

— E o Kero-chan nem pra chegar, droga! — disse Sakura.

Continua…