Havia já se passado duas semanas. E eles finalmente voltaram para casa. Ambos amaram a viagem, mas já estavam sentindo falta da bagunça das crianças, das trapalhadas das irmãs Garcia... Era bom estar de volta.

Soluço estava no quarto de James naquele momento. Agora, como já eles já eram uma família, o Strondus fez questão de criar um quarto só para seu enteado, que agora era como seu filho. Assim, James ouvia atentamente a história que seu padrasto contava a ele.

—Bom... A história é meio longa, então eu prometo que conto tudo amanhã. Até porque você está caindo de sono... – Soluço afirmou, fechando o livro e sorrindo levemente para James. –Boa noite.

Ele já estava se preparando para abrir a porta, quando ouviu James falar uma frase. O que chamou sua atenção não foi a frase, e sim, a palavra dita no final dela.

—Boa noite, pai. –Desejou o pequeno, dando um bocejo e logo após caindo no sono.

Como já estava dormindo, o garoto não viu o sorriso bobo que se formou no rosto de seu padrasto, agora chamado de pai. Soluço sentia uma alegria tão imensa ao ouvir aquilo, que era impossível expressar.

—Boa noite, filho. – O Strondus falou mais uma vez, depositando um beijo na testa do loirinho, e logo em seguida, apagando a luz do abajur.

Agora, Soluço não tinha apenas uma filha. Ele tinha um filho, que mesmo não tendo o mesmo tipo de sangue, era seu filho de coração.

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A família estava toda reunida, e junta tomavam café da manhã. Além de Soluço, Astrid e as crianças, estavam junto com eles, Stoico e Valka, e as irmãs Garcia, as quais Astrid convidou já que ela e as trigêmeas viraram amigas bem confidentes.

Depois do café, Soluço conversava animadamente com seus pais. Sim, ele estava muito feliz, pois depois de tantos anos, eles estavam novamente juntos. Enquanto isso, do lado de fora, Astrid estava empurrando James e Nina no balanço que havia no quintal da casa.

—Mamãe, eu posso ir lá dentro e pegar um picolé pra mim e pra Nina? –Interrogou James e Astrid assentiu ao seu pedido.

—Posso te fazer uma pergunta, mamãe? –Indagou Nina e Astrid deu um leve sorriso. Era tão bom ouvir sua menininha chamá-la de mãe. A garota prosseguiu, após a loira ter feito que sim com a cabeça. –Por que a mamãe Michelle foi embora? Ela... Ela é má? –Disse Nina.

Por um momento, a Hofferson ficou sem palavras.

—Eu não sei, minha linda, mas acho que não. Não acho que a sua mãe seja má, ela... Tomou decisões sem pensar direito.

Astrid não tinha certeza do que estava falando, mas não queria dizer para uma garotinha de cinco anos de idade que sua mãe era uma pessoa ruim. Tudo bem que abandonar o próprio filho sem nenhum motivo compreensível é uma ato um tanto insensível e egoísta, mas... Não queria que Nina criasse ódio ou mágoas da mulher que a trouxe ao mundo.

—Mas, mesmo ela tendo ido embora... Tô feliz por ter você ao meu lado, mamãe... – Comentou Nina, dando um abraço em Astrid, que a beijou no topo de sua testa.

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Assim, que se aterrissou o avião, e foi permitido aos passageiros saírem, desceu de lá dois irmãos, o irmão mais velho tinha um certo olhar de tristeza, ou talvez, decepção por causa da irmã, que olhava para todos com um desprezo, como se fosse superior.

—Ah, Berk continua a mesma coisa... Uma cidade que não importa o quanto cresça sempre vai ser miserável... –Comentou a moça nem todos os adjetivos ruins do mundo poderiam definir o desconforto em conhecê-la. Quem é ela? Michelle Moore.

—Para de reclamar, Michelle! Você quem quis vim pra cá... – Falou Noah, seu irmão mais velho, que nunca gostou do comportamento esnobe e maldoso que a irmã tinha com as pessoas.

Eles continuaram andando na cidade que não visitavam há muito tempo. A cidade em que foi provado em que o egoísmo de Michelle não tinha limites.

—Eu só não entendo a razão... – Alegou Noah.

—A razão de que, Noah? –Perguntou Michelle aborrecida.

—A razão da gente estar aqui! Você abandonou o seu marido! Abandonou a sua filha, e agora aparece pra quê? Pra dar um “oi”? Por que não trouxe flores também?! –Exclamou ele com ironia.

—Ainda não entendeu, não é? Eu não vim aqui por causa do Soluço, e muito menos por causa de Nina! Nunca quis ser mãe, e muito menos me casar! Eu só estou aqui pois o nosso dinheiro está simplesmente no fim, agora só nos restou cem dólares! Você sabe que por causa daquela empresa o Soluço está cada vez mais podre de rico! –Afirmou ela. – Se eu aparecer lá dizendo que estou sem dinheiro, que não tenho onde ficar, é óbvio que o Soluço vai me deixar ficar lá! Eu sou a mãe da filha dele! Daí depois de um tempinho, roubamos o dinheiro dele, e fugimos! –Afirmou Michelle.

—Você é uma oportunista, igualzinho o papai! – Acusou Noah, com certo desgosto.

—E você é um frouxo, assim como era a mamãe! –Retrucou ela. –Não pode ir embora, Noah! Não pode fugir disso! Além de você não ter dinheiro, eu sou sua irmã e a única pessoa que você tem! –Lembrou. Michelle era mestra na arte de manipular as pessoas, fazê-las acharem que ela estava no controle, e que não tinham outra opção.

Noah abaixou a cabeça ainda triste, mas sua irmã o convenceu. Ele não concordava, sabia que era errado, mas Michelle era a única tudo o que ele tinha.

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As crianças brincavam na sala, e Soluço resolveu procurar Astrid, já que ela havia subido a meia hora e não voltou. Ele a achou sentada na cama com o semblante pensativo.

—Tá tudo bem? –Ele indagou preocupado, sentando-se ao lado dela.

A Hofferson o encarou com seus olhos azuis.

—Vai acontecer alguma coisa ruim, Soluço... Eu tô sentindo. –Astrid o respondeu.

—Desde quando você é sensitiva? –Comentou o Strondus rindo, mas ao receber um olhar mortal de sua namorada, se conteve.

—Seja lá o que acontecer de ruim... Eu vou estar sempre aqui. Com você. –Afirmou Soluço, fazendo a loira dar um sorriso. –Mereço um beijo depois dessa frase motivacional, não mereço? –Ele pediu, e Astrid assentiu, o beijando.

O simples beijo acabou virando algo mais intenso. Eles se deitaram, mas de repente, foram interrompidos.

—Mamãe, papai, eu e o James... –Falou Nina abrindo a porta, fazendo o casal se separar rapidamente.

—O que você estavam fazendo? –Questionou James, confuso.

Os adultos se entreolharam.

—A- a gente só tava conversando! –Mentiu ele, e Astrid assentiu com a cabeça, dando um sorrisinho de nervoso. – O que vocês estavam dizendo? –Tentou mudar de assunto.

—Nós montamos uma cabaninha lá no meu quarto! Venham ver! –Pediu James, e Astrid se levantou para acompanhá-los. –Papai, a gente vai fazer uma surpresa pra você, então o senhor tem que vim depois da mamãe, alegou o garoto, fazendo o pai assentir com a cabeça.

—A gente termina essa conversa mais tarde... –Sussurrou Astrid para seu namorado, já saindo do quarto, e fazendo o coração dele disparar.

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A campainha toca, fazendo Carmem ir lá e atender. Mas, ela não esperava ver as pessoas que estavam esperando do outro lado da porta. Ela não os recebeu com seu costumeiro sorriso, ou dizendo que já iria chamar seu patrão, a trigêmea mais nova apenas ficou olhando para as pessoas que estavam lá, como se estivesse vendo fantasma.

Soluço ia para o quarto de James ver a tal surpresa. Pela visão que tinha na escada, pode perceber que Carmem olhava perplexa para quem estava na porta. Começou a descer rápido e preocupado para ver quem era.

—Pelo que vejo, Soluço ainda não se livrou dessas empregadas incompetentes. –Comentou Michelle, fazendo na hora Soluço reconhecer de quem era aquela voz.

Ele desceu a escada chocado e podendo ver as pessoas que estavam a porta.

—O que está fazendo aqui? – Indagou incrédulo.

A Moore sorriu ironicamente.

—Sentiu minha falta, amorzinho? – Ela disse com seu típico sorriso esnobe.