Tigresa se encontrava deitada, em uma situação nada boa. Sua saúde parecia frágil, sua respiração e pulsação eram fracas, seu corpo, normalmente rígido, apresentava um aspecto fraco e desprotegido.

Lentamente a guerreira abriu os olhos, incerta do que poderia encontrar a sua frente.

Quando foi capaz de enxergar o lugar onde estava, sentiu seu coração bater mais forte; ela rapidamente se sentou e se permitiu expor seu espanto por um breve momento.

Seus olhos se encontraram.

Aquele que estava diante dela... ele era... era a pessoa que estendera a mão a ela há muitos anos atrás, o único que não teve medo dela e que jamais acreditou que ela fosse um monstro, apesar de ela mesma acreditar nisso.

Ela podia sentir o peso de seu olhar, de certa forma sentia como se estivesse sendo reaprendida, como fora muitas vezes. Ela pensou seriamente no que falar, mas não tinha nenhuma certeza de quanto ele poderia saber,ela não sabia o que diria sobre...

Seu coração quase parou, ela se sentia pesada e sua cabeça latejava. Finalmente fora capaz de lembrar, finalmente sua mente processara a informação corretamente, e agora ela era capaz de entender o significado de estar aqui.

–Tigresa, você está bem?

Ela ergueu a cabeça lentamente, se dando conta de que perdera o contato visual com Shifu no momento em que recobrara as memórias. Tigresa não sentia vontade de mentir, ela não queria fingir estar bem, estava cansada de tanto lutar, cansada de sentir dor, cansada de fingir; mas apesar de tudo, ela apenas assentiu rapidamente, sem saber ao certo como sairia sua voz caso ela tentasse falar.

–Tigresa?

–Sim? Sim, mestre?

–Tudo bem? Sente dor?

–Não, não... sinto dor alguma

Ela falava lentamente com voz rouca e baixa, arrastando cada palavra, tentando sustentar a mentira que saia de sua boca, e falhando miseravelmente.

–Preciso fazer algumas perguntas

–Sim, mestre?

–Tigresa... você esteve desaparecida por cerca de três meses, e... recentemente foi encontrada boiando em um lago próximo a floresta de bambu. Minha pergunta é: Onde esteve?

As lembranças retornaram abruptamente, e a guerreira lutava para não demonstrar, dessa vez obtendo sucesso.

–Não sei, mestre

Shifu ergueu uma sobrancelha. Desde quando Tigresa respondia apenas "não sei"? Sem detalhes, sem fazer qualquer esforço em lembrar?

"Ainda não deve estar se sentindo bem"

– Pense com calma. Agora tem alguém que quer vê-la,resolveremos isso depois.

O pequeno panda vermelho saiu lentamente pela porta, permitindo a entrada de cinco vultos, que logo tomaram formas conhecidas, aqueles eram seus amigos.

–Tigresa, você acordou!

–Eu trouxe o jantar!

–Vamos comemorar!

–Ei, ela ainda não está em condições de...

–Vai ser divertido!

–Mas...

–Vamos comemorar o retorno de Tigresa!

Ela apenas observava a discussão, sem muito interesse, sem mesmo atenção no que se passava, não conseguindo livrar sua mente das memórias, não conseguindo libertar seu coração da dor.

Enquanto o jovem tigre estava distraído, um panda se aproximou sorrateiramente, e começou a fazer diferentes perguntas, com uma preocupação e agitação obvias em sua voz.

–Ei, Tigresa, você está bem?

–Sim

–Sente dor?

–Não

–Fome?

–Não

–Sede?

–Não

–Sente o que como então?

–Nada. Eu não sinto nada.

–Mas...

–Tudo bem, já disse, não sinto nada.

–Você... está muito estranha

–Eu sei - sussurrou para si mesma

–E então... quando vai poder levantar? Quero treinar com você outra vez, agora sou um oponente à altura, não precisa mais se segurar e...

–Poderia treinar agora mesmo - disse com voz monótona, se levantando da cama num salto

Nesse momento seus companheiros pareciam ter chegado ao fim da discussão, e todos olhavam intensamente para ela, avançando e dando fim a distância entre eles. Ela se sentiu envolta em abraços aconchegantes, e quando pensou que tinha acabado foi envolvida por um par de braços negros e peludos,e apesar de querer retribuir ambos os abraços sentiu seus braços fracos, incapazes e desmotivados a fazer tal coisa, então apenas ficou parada, sem qualquer expressão.

As palavras de Mestre Shifu ecoavam em sua cabeça.

" resolveremos isso depois"

Sim, ela ainda tinha muito para resolver, muita coisa para ser vivida, e sabia que trilharia um longo caminho até que alcançasse seu objetivo.