Uma Aventura Para Recordar

Lágrimas de um pai e palavras de um panda


No palácio de jade:

Já se passara semanas desde a "morte" de Tigresa, mas durante todo esse tempo os Furiosos assim como Mestre Shifu e Po procuraram incansavelmente qualquer vestígio da presença dela, e falharam tragicamente.

As esperanças já eram quase esgotadas, os treinos estavam suspensos, e sempre que os Furiosos tinham uma visão de mestre Shifu seus olhos estavam inchados e ele apresentava enormes olheiras como se não dormisse há um bom tempo.

Não era muito diferente para os outros; Víbora queria com todas as suas forças consolar seus amigos, mas ela não podia consolar a si mesma e nem mesmo tocar no assunto sem cair no choro; Macaco sentia que o palácio sem ela estava incompleto e não via sentido nem em apostas ou brincadeiras; Louva-Deus perdera o senso de humor e a única feição que demonstrava era uma tristeza que pareci drenar seu próprio ser; Garça estava sempre pensativo tentando encontrar alguma esperança a que pudesse se agarrar, em qualquer suposição de que ela estivesse viva; Po parecia morto, seus pratos tão saborosos não tinham mais sido os mesmo, tinham um gosto amargo e pareciam a cada vez ficar pior, o panda não via graça em mais nada, andava se arrastando e parecia fazer um esforço enorme para ficar de pé. Eles não eram mais os mesmos sem ela.

Era um dia nublado, mais um dia depressivo e sem graça; Po não conseguia parar a dor que transbordava de seu coração, de qualquer forma ela também transbordava de seus olhos e a angústia parecia se multiplicar, ela era tão forte a avassaladora que o panda sentia vontade de gritar, ela o sufocava cada vez mais, respirar parecia uma tarefa difícil para ele, e se mover era quase insuportável; a dor emocional era tanta que chegava a ser física, tudo parecia difícil sem ela, até mesmo viver parecia difícil; e a esse ponto ser feliz parecia impossível.

O panda arrastou seus pés em direção ao pessegueiro olhando firmemente para o chão, mas se conteve no meio do caminho, virou-se e correu o mais rápido que pôde, permitindo que todas as suas lágrimas caíssem.

Ele chegou finalmente a seus destino, o quarto dela.

Sua mão empurrou lentamente a porta e adentrou no quarto, ele tomou coragem e ergueu o olhar avistando um pequeno panda vermelho de joelhos próximo a cama usando-a de apoio, ele logo reconheceu Mestre Shifu e sentiu que precisava fazer algo.

– M-mestre?

O panda vermelho levantou a cabeça lentamente e o encarou por um longo momento com se estivesse alienado demais para raciocinar.

Po permaneceu imóvel e observou as feições terríveis de Shifu, seus olhos vermelhos e os sacos roxos abaixo deles assim como o rosto pálido e inchado e a expressão que o faziam parecer outra pessoa.

– Sim Po?

– O-o que o senhor esta fazendo aqui?

As lágrimas escorreram pelos olhos do velho mestre, o panda se ajoelhou ao lado dele e o envolveu em um abraço e depois sussurrou baixinho:

–Eu sei como se sente mestre

–N-não Po, eu era seu pai... eu estraguei tudo

– A culpa não foi sua mestre...

– Você não entende, eu estraguei sua vida...

– Mestre Shifu...

–Por minha culpa... ela nunca... ela nunca foi totalmente feliz

–Não... eu...

–É minha culpa - disse entre soluços com o corpo trêmulo

–Você não entende... quando eu a encontrei no orfanato seu coração já tinha sido partido, mas ela logo se alegrou e ela tinha a chance de ser feliz, mas eu estraguei tudo...

O panda não interrompeu, mas chorou junto ao mestre e prestou atenção ao desabafo

– Ela era uma criança feliz e calorosa, sensível como uma pequena flor e por minha causa ela se tornou fria e nunca mais sorriu, ela... era tão meiga, tão inocente, tão doce... tinha uma energia vibrante, um brilho, uma luz e um sorriso que era capaz de trazer esperança até nos tempos mais sombrios... ela era minha garotinha

As lágrimas caiam cada vez mais, o corpo tremia violentamente

–Então eu... eu drenei todas as suas expectativas, sempre que ela esperava algo de bom minha indiferença era como um tapa, e aquele sorriso foi desaparecendo até que um dia ele nunca mais voltou...

– Eu sempre a amei como minha filha, mas... eu tinha medo, medo de que ela fosse como ele, mas ela nunca foi, eu transformei sua sensibilidade em rigidez, retração, aquele brilho de seus olhos sumiu... e ela nunca mais me chamou de pai.

–Mas mestre ela só...

–Cumpriu ordens? Eu... eu gostava de ser chamado de pai, eu nunca a proibi disso, eu apenas disse que se referisse a mim de maneira mais formal durante os treinos ; no início... uma vez a levei a um restaurante e ela me chamou de papai.

Ele abaixou a cabeça antes de continuar a história

–Depois seu treinamento começou, eu a pedi que me chamasse de mestre durante as sessões , no início eu era um bom pai... um bom mestre, mas depois as lembranças de Tai Lung voltaram a me atormentar passei a ser mais rígido, sem incentivos... e mesmo quando ela acertava em um golpe eu apontava todos os defeitos que era capaz de encontrar, ela passou a ser mais distante, mais dedicada e forte, com o tempo ela parou de chorar por errar, com o tempo ela parou de errar e também parou de me chamar de papai.

Seus braços não pareciam fortes o bastante para sustentá-lo, após alguns segundos ele desabou e foi ao chão chorando e soluçando intensamente até ser erguido pelos braços grossos do panda

–Mestre a culpa não é sua, tudo aconteceu mas...

Ele começou a dizer palavras de conforto mas foi bruscamente cortado por seu mestre

–Não. Po por favor... me deixe sozinho

O panda saiu ainda chorando e ainda mais abalado, ele foi ao pessegueiro e recostou-se na arvore, um fio de esperança penetrou nele do nada, ele olhou para o céu e disse palavras que estavam entaladas em sua garganta fazia muito tempo, sem ter noção de que era observado por uma serpente

– Eu te amo Tigresa...

Enquanto isso uma figura no quarto em que o panda acabara de estar chorava deitada ao chão,Shifu dizia entre soluços algo que nunca havia dito na vida antes daquela tragédia

–Eu te amo minha filha