Com a respiração pesada e os sentidos nebulosos, silenciosamente ela marchou — satisfeita ao ouvir o eco de seus próprios passos, o som sendo reproduzido pelos companheiros que a seguiam.

Seus pés estavam embebidos em lama , o sangue pingava indolentemente de suas feridas abertas e a cada novo pisar sentia-se a ponto de desabar; mas nada daquilo importava aquele momento.

Grunhiu ao perceber as nuvens, antes dispersas, agora agrupadas, anunciando uma possível chuva e bloqueando sua visão do sol — que mesmo sem ver, sabia que estava desaparecendo ao horizonte.

Aumentou os passos e ignorou o conjunto de vozes zelosas, — que não pareciam concordar ou mesmo fazer sentido — nem mesmo identificando o que diziam.

Quando percebeu estar de frente à espessas grades, que por sua vez protegiam uma porta dourada recoberta por musgo e alguns pequenos insetos, finalmente parou.

— Droga, como vamos...

Suspirou ao ruidoso som da voz do amigo, sinalizando imediatamente para que parasse. Engoliu em seco e pigarreou, exercitando a voz para então perguntar:

— Tem certeza que é aqui?

Jin cotovelou o menor, que ao se dar conta da atenção voltada à ele — exceto por Tigresa, ainda virada de costas — elevou o olhar e buscou por semelhanças da construção com aquelas escritas por Quiong na miúda nota presa ao mapa.

O imponente palácio erguia-se majestosamente inarráveis metros acima deles — dando a ilusória impressão de acariciar o céu levemente acinzentado, afundando seu ápice por entre os borrões cremosos das nuvens.

Suas paredes pareciam ter sido brancas algum dia; mas agora não passavam de um tom frustrado de amarelo, manchadas e recobertas por trepadeiras. Haviam colunas douradas, mas seu brilho original lhes faltava — talvez por culpa da poeira acumulada em suas dobras.

— Bem... parece ser... — o pequeno murmurou em fascínio, mas logo se recompôs — Sim, tenho certeza que é.

Tigresa assentiu; aquela era a confirmação que precisava.

— Mas como vamos...

Respondendo à insistente pergunta de Jin, agarrou as grades sem cerimônia e então arrancou-as da parede, lançando-as numa direção qualquer.

Se permitiu um ligeiro sorriso e guiou o grupo à porta — que, vergonhosamente, cedeu com um simples chute.

À sua frente um corredor estreito conduzia à próxima passagem — um arco negro de onde pendia uma cortinha esverdeada repleta de buracos, sendo impossível enxergar o que havia adiante.

Agachou, sentindo-se um pouco menos zonza, e pegou uma das tantas pedras espalhadas pelo chão arenoso. Mirou o centro do corredor e jogou-a, observando seu trajeto com cautela.

Seria um equívoco dizer que era seguro.

Seria mesmo errôneo afirmar que deveriam seguir em frente.

No momento em que a pedra tocou o chão, foi o que ela descobriu.

E então Kuo gritou.

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Fixando o olhar ao chão, Mestre Shifu foi rápido em ajoelhar-se.

Para Po,era um tanto quanto incomum ver seu tutor demonstrar tamanho respeito e confiança em alguém — ainda mais depois da partida de Oogway. Mas, apesar de tudo, o ato soou firme e natural, parecendo se encaixar de forma quase assustadora no cenário que ele sabia estar sendo mantido em segredo.

Algo ruim estava prestes a acontecer.

Ele podia sentir.

A natureza parecia tentar alertá-lo.

Puxa... até mesmo Louva-Deus sabia!

E mesmo que tentasse a todo custo negar, sentia que a mestra que tanto admirava teria participação crucial em tais eventos — e não havia nada que poderia fazer contra isso.

Direcionando um último olhar à dupla, o panda recuou.

Esgueirando-se e recolhendo a cabeça da multidão de galhos tentando sufocá-lo, o Dragão Guerreiro preparou-se para descer da árvore, pronto para deixar seu mestre a sós com o recém chegado.

Mas, obviamente, seus esforços foram em vão.

— Saia daí, Po.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.