Um toque francês

Capítulo 25- O esperado tão inesperado


Uma manhã fria amanhecia em Paris. O vento rugia fazendo os galhos das árvores dançarem em torno dele. A chuva participava do espetáculo dando ao céu um frescor das massas quentes e frias, que logo se despencavam em forma de gotículas sobre a terra. Ou somente sobre a terra onde se encontrava Paris.

Eu avaliava o clima em minha cama, não mais conectada aos tantos fios que tomavam conta de meus braços, mas somente esperando ser liberada do hospital para voltar à realidade. Nicolas havia ido embora há alguns minutos. Ele disse que iria até Stranger’s Place resolver suas autorizações, mas que estaria me esperando com a sua surpresa, a qual eu não fazia ideia do que era.

Mas que eu esperava que fosse surpreendente.

– Oi linda. – entrava uma médica simpática em meu quarto, esbanjando um sorriso em seu rosto. – Como está se sentindo? – perguntou.

– Melhor. – respondi lhe concedendo um sorriso. –Mas como sabe que eu só falo inglês? E como as enfermeiras sabiam também? – perguntei, estranhando seu sotaque.

– Olhamos nos seus documentos quando estavamos escrevendo a sua ficha. Mas voltando a falar sobre você, é bom que esteja se recuperando, aliás, a senhorita nos deu um susto. – ela revelou, passando a mão em meu joelho tapado pelas cobertas da cama.

– Dei? – perguntei envergonhada. – Desculpe, eu não me lembro de muita coisa.

– E como. – respondeu sorridente. – Você bateu a cabeça fortemente no chão e isso a deixou inconsciente. Mas o problema aconteceu porque você havia bebido álcool demais e logo batido com a cabeça. Ficamos todos bem preocupados, mas principalmente o seu namorado. – explicou-me, porém sua última frase fora a única que havia me deixado alucinada.

– Meu namorado? – perguntei curiosa.

– Sim... Aquele menino que estava com você. – ela disse passando a mão na sua testa, mostrando que havia esquecido. – Nicolas! Nicolas Morin. – revelou, fazendo-me corar.

–Ah... Bem... Não namoramos. – admiti, deixando-a surpresa.

– Não? Pensei que namorassem. Afinal, ele parecia bem preocupado. Esteve com você o tempo todo. Acompanhou-te na ambulância e até teve que ter sido segurado pelos seguranças dos hospitais para não entrar na sua sala. Ele foi realmente bem participativo. – disse, fazendo-me rir. – Mas é bom que você tenha amigos assim. Fará bem para a sua recuperação. – e levantou-se lentamente.

– Sobre a recuperação... Eu gostaria de saber se eu poderia ir embora agora? – perguntei.

– Só mais alguns minutos e você poderá. Enquanto isso, por que você não toma um banho? Deve estar precisando mexer um pouco as pernas. – ela disse tocando na maçaneta para ir embora.

– Ah, doutora. Só mais um detalhe. Como faço com o meu pagamento? – perguntei rapidamente.

– Ah, não se preocupe. Seu amigo já pagou tudo. – sorriu e saiu do quarto. Quase me fazendo me perguntar qual amigo havia pagado minha diária.

Mas como se isso realmente fosse necessário.

Não poderia ser ninguém além de Nicolas.

Lembrar de Nicolas me fez pensar em sua tão misteriosa surpresa, deixando-me ansiosa, mas ao mesmo tempo nervosa. Eu não iria mais perder tempo, eu deveria vê-lo. Por isso, levantei-me da cama rapidamente e fui até o banheiro para poder tomar o meu banho. Joguei as roupas no chão e liguei a água na temperatura máxima, para que ela pudesse me aquecer completamente. Mesmo estando ansiosa, eu não parecia com pressa. Muito pelo contrário. Esfregava o sabonete em meu corpo com muita delicadeza, com a intenção de não esquecer nenhuma parte de meu corpo. Eu deixava que somente a água alinhasse o meu cabelo, deixando meu banho cada vez mais demorado. Porém, cada vez mais dedicado.

Notei que havia algumas roupas para mim em cima de uma bancada, então as coloquei e logo em seguida sequei completamente o meu cabelo. E enquanto botava um pouco de rímel em meus grandes cílios, uma pessoa batia em minha porta. Era outra enfermeira.

A qual carregava um buquê de flores.

Quel est votre nom? – a enfermeira perguntava o meu nome.

– Drew Kimberley. – respondi calmamente.

Cer fleurs sont pour vous. – dizia que as flores eram para mim e as colocava na tal bancada.

– Ah... Merci. – agradeci, olhando desconfiadamente para as flores. O buquê era lindo. Só continha rosas vermelhas dentro dele. Eu o girava apressadamente tentando achar algum bilhete, ou o nome da pessoa a qual havia me presenteado.

Até que eu o achei. E nele estava escrito exatamente assim:

“ Ps.: O buquê contém dezessete rosas vermelhas.
Ps.: Venha buscar a sua décima oitava comigo, assim seus dezoito anos estarão completos.
Ps.: Quando você estiver exatamente embaixo da Torre Eiffel, olhe para frente e você me verá, e a partir daí sua surpresa será desvendada.
Ps.: Por favor, tente não errar o caminho.
Ps.: Está frio, leve um casaco.
Ps.: Sem mais Ps. ”

Nicolas

Idiota, pensei enquanto ria de seu bilhete. Não iria demorar mais nem um segundo. Eu iria atrás de minha oitava rosa. Então, vesti o meu casaco como o bilhete havia mandado, peguei minha mochila em que dentro dela havia meu vestido azul junto com meus saltos pretos. Mas antes de ir, eu precisava pedir autorização para sair do hospital. E então fui até a recepção para que isso se resolvesse logo e eu fosse engolida pelas ruas de Paris.

– Ah... Oi. – chamei atenção da médica, a qual havia falado inglês comigo. E ela veio até mim.

– Olá, linda. Já está pronta? – perguntou. – Que flores lindas. – ela disse surpresa.

– É... Estou... Obrigada. – misturava as frases. – Bem... Será que eu poderia ir? – perguntei esperando tremendamente que a resposta fosse um sim. Eu já não agüentava mais ficar lá.

– Claro que pode. Mas não se esqueça de fazer a recuperação em casa. Nada de bebidas. – ela me alertou e eu concordei correndo para a saída. Porém, lembrei-me de uma coisa que ela ainda poderia fazer por mim.

– Antes de ir... Você pode me dizer como eu chego exatamente na torre Eiffel? – ela sorriu como resposta e veio até mim explicando o caminho. Eu absorvi cada detalhe em minha mente e fui correndo até o meu destino. Eu corria cada vez mais, não sentindo que minhas pernas iriam se cansar. Até me esbarrei em um homem, o qual me xingava escandalosamente na rua, mas eu continuava correndo. E minutos depois, a tão esperada torre Eiffel estava na minha frente. Percebi que ela se encontrava praticamente ao lado de Stranger’s Place, fazendo-me pensar o quanto fui boba em nunca tê-la visitado antes. Eu a amava.

Mas quando voltei meus pensamentos para o que eu realmente amava no momento, eu vi Nicolas. Ele não estava perto. Não. Ele estava a quilômetros de distância de mim. Estava em pé em cima de um muro, fazendo sinais para que eu fosse até lá. E claro, balançando a décima oitava rosa vermelha que se encontrava em suas mãos.

Atravessei a rua rapidamente, assim como a ponte e a outra avenida. Faltava apenas subir uma colina e alguns degraus.

Apenas.

Mas nada me cansava. O meu coração batia fortemente. Meus olhos estavam absurdamente abertos. E eu corria cada vez mais em sua direção até, finalmente, estar em seus braços. Ele me abraçava fortemente acariciando meus cabelos e eu retribuía cada movimento. Cada gesto. Cada detalhe.

– Desculpa não poder ter estado com você hoje. Eu realmente tinha que fazer isso. – ele disse se afastando.

– Você já fez demais, Nicolas. – disse sorrindo graciosamente.

– Ainda não acabei. – ele disse, deixando-me nervosa.

– O que falta? – eu perguntei.

– Me dê sua mão. – ele pediu e eu pus minha mão na sua, entrelaçando-as. E ele me guiou até o muro para que eu subisse. Quando subimos, conseguíamos ver toda a torre. Conseguíamos ter a visão que até hoje eu jamais havia visto. Eu sorria nervosamente, não tendo palavras para lhe dizer. – Bem vinda ao Trocadéro...Gostou? – ele perguntou.

– Eu... Eu amei Nicolas. Está perfeito. – respondi, fazendo-o sorrir de satisfação. Ele desceu do muro e logo em seguida me ajudou a descer. E, quando estávamos um de frente para o outro, percebemos que ainda estávamos de mãos dadas. Mas ninguém fez nem um movimento. Continuávamos ainda parados com as mãos entrelaçadas. Olhando um para o outro.

– Agora sim. Tudo está perfeito. – ele disse, fazendo-me corar. Fazendo-me suspirar de alívio, mesmo eu estando sem oxigênio. Nossas testas se colaram imediatamente, fazendo com que cada um só sentisse a própria respiração, a qual era fria e intensa. Nossos olhos azuis ainda estavam ligados um ao outro. Nossas bocas estavam a centímetros de serem aventuradas.

– Eu preciso... Preciso te beijar. – ele disse quando estávamos com nossos narizes colados. Eu não sentia mais nada. Eu sabia que minha cabeça estava presa ao meu corpo, mas eu continuava não sentindo. Meu coração batia fortemente. Meu sangue circulava pelas minhas veias como nunca havia feito. O choque elétrico estava presente em nossas mãos entrelaçadas. E, finalmente, eu fechei meus olhos.

– Então... Beije-me. – eu pedi e assim foi feito.

Ele me beijou.

Eu o beijava como nunca havia beijado ninguém. Era forte, era intenso, era verdadeiro. Ele retribuía da mesma forma, esmagando-me em seu corpo. Era como se nossas vidas dependessem daquele beijo. Nossas línguas dançavam perfeitamente, em um ritmo coordenado. Era um encaixe perfeito. E, sem perceber, estávamos no chão. Não sentíamos mais frio. Muito menos calor. Nós fazíamos o calor acontecer. Nicolas segurava minhas mãos contra o chão, enquanto eu arrancava a sua camiseta sem ao menos tirar a minha boca da sua. Ele rasgava a minha, mas nada fazíamos, pois não conseguíamos parar de nos beijar. Era uma necessidade. Era inimaginável. Era o esperado.

– Como você pôde fazer isso comigo?! – gritava o inesperado.