Um toque francês

Capítulo 12- Sentimentos e Sorrisos Indeterminados


Era como se tudo tivesse apagado ao meu redor. As únicas coisas que pareciam estar presentes eram meu corpo, mente e coração.

Ah! O meu coração. Ele batia tão forte que, por um momento, achei que ele fosse escapar de dentro de meu peito. Porém, existia uma questão que ecoava em minha mente: Era o porquê de isso estar acontecendo. Eu não podia. Eu não queria. Eu não deveria me apaixonar por Morin. Mas, sem perceber eu estava correndo, minhas pernas se mexiam sem a minha permissão. Eu ia em direção à luz, a única que iluminava aquele extenso corredor escuro.

E a luz saia da porta do quarto de Morin que parecia estar entreaberta. Eu corria mais rápido. E mais rápido. E lá estava eu. Na frente dela.

Porém, eu não havia entrado.

Algo havia me impedido.

Algo que se chamava: Claire.

Seu rosto estava claro, eu não conseguia vê-lo. Mas conseguia imaginá-lo. Era uma garota loira com cabelos lisos, olhos cor de mel e lábios rosados. Ela era uma princesa. A mais bonita delas. Porém, dentro dela havia tristeza, decepção. Alguma coisa estava acontecendo.

– Quem você pensa que é para desligar o telefone na minha cara? Eu sou sua namorada, esqueceu? - ela gesticulava, mostrando indignação.

– Dá um tempo, Claire. Falei que estava em aula. – bufou Morin.

– O que aconteceu com você? Você anda tão estranho ultimamente, tão seco, tão sem paciência. Faz mais de uma semana que não nos vemos e você não mexe um dedo para que isso aconteça. – ela o seguia, enquanto ele se afastava, fazendo de conta que estava encarando a paisagem.

Mas ele não respondeu. Aliás, os dois ficaram em um silêncio desagradável por um bom tempo.

– Diga alguma coisa. – ela implorava.

– Eu... Eu não sei. Não sei de mais nada. – ele finalmente respondeu.

– Não sabe do quê? – ela insistia. De alguma forma, ou de outra, o que ela mais precisava escutar eram suas respostas.

– Não sei de nada, Claire. Não sei o que está acontecendo comigo, não sei por que as coisas estão acontecendo dessa forma e... Muito menos, sei o que sinto. – ele não conseguia olhar em seus olhos. Ele encarava o chão e não queria tirar os olhos dele.

Ela estava paralisada. Não acreditava no que havia escutado. Não queria escutar a frase que sabia que viria em seguida.

Então, em um movimento imediato, fechou os olhos, evitando pensar no pior, tentando não chorar.

– Não sei se quero continuar com você, Claire... Eu... Eu não... Eu quero terminar. Vai ser o melhor para os dois.

A frase que eu tanto esperava e que ela tanto desprezava havia chegado.

Era oficial: Ele havia terminado.

– Não! – ela não conseguia mais ficar em pé. Era fraca demais. – Por favor! Eu sei que essa distância está acabando com nós dois, mas sei que ano que vem você irá se formar e não teremos que ficar mais distantes um do outro. Mas, por favor! Eu te amo. Você não pode fazer isso! – ela abraçava as suas pernas. Lágrimas escorriam de seu rosto, encharcavam sua face tão perfeita, a qual eu tanto havia imaginado.

– Por favor, Claire. Para com isso. – ele afastava suas mãos de suas pernas, mas não conseguia. Ela soluçava e o segurava de todas as formas, ela não poderia deixar que ele escapasse. Mas havia uma coisa que ele poderia fazer. A única que faria esse pesadelo acabar. Dizer a ela o que ele sabia que sentia: os seus novos objetivos, suas novas alegrias, a sua nova conhecida. – Eu... Eu... Acho que estou gostando de outra pessoa. – ele admitiu.

Minha respiração era fraca. Meu coração já havia saído de meu peito há muito tempo. Eu tinha que entrar. Eu tinha de beijá-lo. Eu não aguentava mais.

Porém, a fúria e a tristeza que surgiram nos olhos de Claire foram um dos motivos que me impediram. Ela se levantou instantaneamente e botou as mãos no rosto, como se estivesse derrotada. Enquanto ele a observava sem dizer absolutamente nada, ela respirava fundo, várias e várias vezes. Até ter coragem para perguntar o que mais lhe atormentava em sua mente:

– Quem?

– Drew!

Porém, não era mais sua voz que repercutia em meus ouvidos.

E sim, a de Desi.

De repente, eu já não estava mais na frente da porta de Morin, nem em um corredor escuro e, muito menos, assistindo a tristeza que se invadia em Claire.

Eu estava onde sempre estive. Aqui, no corredor, com Desi e Ed, observando Morin indo embora.

Fora tudo minha imaginação, a qual havia me tirado do presente somente para retratar o término de Claire e Morin.

O que estava acontecendo comigo?

– Drew! Drew, você está bem? Estou tentando chamar a sua atenção já faz um tempão, garota. O que deu em você? – ela me chacoalhava como se estivesse tentando me acordar de um sono profundo.

– Desculpe-me, Desi... Eu só... Estava tentando me lembrar de alguma coisa e, acabo de perceber que preciso fazer o teste para dança. Sinto muito pelo almoço, marcamos para outro dia, ok? – disse, livrando-me de suas mãos.

– O quê? Você precisa de teste? Mas você é praticamente uma profissional... – ela gritava pelo corredor, enquanto eu me afastava rapidamente, fugindo de tudo que me cercava. Eu suava frio. E, tudo por causa dele.

Por causa de Morin.

Que droga! Pensei.

Quando avistei a porta da sala de dança, abri-a imediatamente e entrei em um só movimento.

Que talvez tenha sido rápido demais.

– Ei! Quem é você? Aqui é uma sala de dança e não uma festa onde se pode entrar do jeito e a hora que quiser. –gritou uma garota, a qual eu não tinha dúvidas de quem era: Sophie. Porém, ela não havia me reconhecido.

Ainda.

– Eu sei o que isso é. Obrigada pela informação. – disse em tom irônico cujo ela não havia gostado. Mas, logo um sorriso ameaçador estava em sua face.

– Ah, eu sei quem você é. Você é aquela que está sempre com Morin. Vocês são parentes? - perguntou-me curiosa.

– Quê! Eu e Morin? Não! Somos apenas... Amigos. – foi o melhor que pude dizer.

– Amigos? – ela riu. – Típico de Morin, não acham garotas? – ela virou-se para encarar suas amigas, que agora riam do que ela havia dito.

– O que quer dizer? – não deixei de mostrar curiosidade.

– Ah, nada! Sabe como é... Todo ano é a mesma coisa, ele adora fazer amigas. Se é que você me entende. – ela piscou.

Eu não havia respondido. A raiva invadiu-se dentro de meu corpo.

Quer dizer então que ele estava me usando?

Não! Pare com isso, você não gosta dele.

Ao notar que havia me afetado, ela riu de satisfação e se afastou para pegar o microfone em cima da mesa.

–Alô? ALÔ!- gritou. – Pronto, assim está melhor! Bom, meninas hoje é um dos nossos últimos treinos antes da semifinal. Sabemos que a Inglaterra já se classificou para a final, então temos que treinar muito e acumular o máximo possível de pontos se nós quisermos ganhar delas! Mas sem se esquecer de que haverá outros países concorrendo. Então... Como se diz, dançamos para quê?

– Para ganhar! – gritaram as meninas presentes.

– É isso aí, então vamos lá! Hora de ensaiar por onde paramos. – e foi até as caixas de som, conectando seu Ipod em um dos cabos USB.

– Ei! – fui atrás dela. – Eu vim fazer o teste.

– Primeiro, meu nome não é “ei”. É Sophie. – praticamente soletrou. – Segundo, somos uma equipe de profissionais, não se pode entrar qualquer garota que ache bonitinho e comece a balançar o corpo. Terceiro, estou com pressa! – disse bufando.

– Sophie, espere! –Margot gritava, tentando nos alcançar. – Espere! Ela é a Drew Kimberley, ela dançava na equipe da Inglaterra. Está aqui para dançar em nossa equipe. – e de repende todas as meninas se viraram para mim, todas me encaravam e cochichavam com as outras mais próximas.

Por um momento, quis muito matar Margot.

– É verdade? – Sophie perguntou e eu concordei com a cabeça.

– O que você está fazendo aqui? Por que trocou de equipe? – ela perguntava indignada.

– Bem... Sem querer ser grossa, mas isso não interessa! Para ninguém! – e virei para encarar as outras. – Se estou aqui foi por alguma razão pessoal, mas vou representar vocês e treinar como vocês. Então me deixe fazer o teste, afinal você está com pressa. – disse, desafiando Sophie. Ela me respondeu com um olhar de desaprovação.

– Vamos ver se você consegue essa. – disse, pondo a música When I grow Up, das Pussycat Dolls. - A única coisa que você terá que fazer é acompanhar as meninas que já sabem essa coreografia. Você tem que fazer tudo o que elas fazem, com os mesmos passos, acha que consegue? – perguntou-me.

– Quê? Sophie, isso é quase impossível! Deixe ela dan... – Margot me defendia.

– Eu quem mando aqui Margot e isso aqui é uma equipe de profissionais, se você se interferir na minha autoridade outra vez, sinta-se fora do grupo. – disse olhando-a de cima a baixo. – Vamos lá, novata.

– Drew, você não precisa fazer isso se não quiser. – dizia Margot para mim.

– Esqueça Margot! Se for isso o que ela quer, ela terá. – disse, ainda olhando para Sophie.

Mas a pergunta era: Como eu faria?

As meninas já estavam posicionadas, a música já estava tocando. Os movimentos vinham aos poucos. Por enquanto, eu conseguia imitá-los.

Os passos começaram a aumentar, mas eu continuava acompanhando-as. Tudo estava indo bem, eu iria conseguir.

Até que acabei pisando em um dos pés das participantes e os problemas vieram aos poucos:

Primeiro, a pisada, depois os empurrões e, para finalizar os erros imperdoáveis de uma dança sincronizada.

– Chega! Chega! Está péssimo. – Sophie gargalhava. – É uma pena, novata! Mas parece que você terá que voltar para a Inglaterra se quiser dançar. – disse em tom irônico.

– Por favor, deixe-me fazer de novo. Se eu não tivesse pisado... – disse imediatamente, mas fui interrompida.

– Mas você pisou, acabaram as esperanças. Está fora! – disse rindo.

Porém, estava longe de ser minha última esperança.

– Encantador, Sophie! Realmente, encantador... – dizia uma mulher que vinha em nossa direção. Ela vestia roupas esportivas com uma caderneta em sua mão.

Então, ela era a treinadora.

– Treinadora Jean! Uau, treinadora! Que susto você me deu... Você disse que viria só mais tarde. – dizia Sophie, que parecia estar assustada.

– Na verdade, eu disse a todas vocês que talvez chegasse mais tarde, mas aqui estou. E, vejo que você se encaminhou de meu comando de novo, não é Sophie?

– Bem... É que... Ela queria entrar e eu... Bem... Expliquei sobre o teste... – ela gaguejava.

– E ainda passou o teste errado para ela, como se qualquer uma de nós fossemos conseguir dançar uma coreografia jamais aprendida. Achei que tivesse lhe ensinado isso, Sophie. – a treinadora repreendia-a.

– Ensinou, treinadora. – respondeu Sophie de cabeça baixa.

– Se você fizer isso de novo, você é quem será expulsa. Entendido? – ameaçou-a e ela apenas concordou com a cabeça. Logo, seus olhos se dirigiam para mim com um sorriso no rosto.

– É um prazer conhecer você, senhorita Kimberley. – disse estendendo a mão para que eu a cumprimentasse. – A sua equipe da Inglaterra era excepcionalmente maravilhosa, parabéns. – ela sorria.

– Ah... Obrigada. – respondi carinhosamente.

– Mas, sabe que você terá que fazer o teste de qualquer forma, afinal, regras são regras. – alertou-me.

– Eu sei, mas já fiz o teste professora. E, não passei. – disse decepcionada.

– Pode ter certeza de que aquilo não era um teste, senhorita Kimberley. – disse virando-se para encarar Sophie, que continuava de cabeça abaixada. – Vamos fazer algo diferente. Quero que você dance a mesma música que Sophie pôs, mas você terá de inventar a coreografia. Tudo bem? – perguntou, agora olhando para mim.

– Sim. – respondi.

– Prepare-se então. – disse indo em direção às caixas de som. Sophie e as outras meninas se afastaram. Todos agora me assistiam com precisão.

A música havia começado, eu me movia em tom lento. Meu corpo me controlava, enquanto meus braços seguiam os movimentos. Era uma música sexy, boa de dançar, o que me fez esquecer tudo e dançar livremente. Eu inventava os passos e eles eram perfeitamente sincronizados, conseguia ver as meninas largando longos sorrisos pelo rosto, como se estivessem admirando uma das 7 maravilhas do mundo.

Eu rebolava, sem que o movimento fosse vulgar. Eu mexia os braços que combinavam com os movimentos de minhas pernas. Enquanto a música aumentava, eu a seguia. Eu conseguia, eu sabia disso.

De repente, Margot estava ao meu lado, fazendo os mesmos passos que os meus. Ela dançava extremamente bem. Piscou para mim quando notou que eu havia prestado atenção em sua presença. Dançávamos em um ritmo perfeito e logo, mais meninas começaram a nos acompanhar. Trabalhávamos como se fossemos uma equipe, no mínimo 10 meninas estavam na pista dançando comigo. Eu estava muito feliz, mas o melhor de tudo, é que eu sabia que havia encontrado o meu lugar.

Sem perceber, a música havia acabado e todas batiam palmas e se abraçavam. Como se estivessem ganhando um título, ou uma medalha. Margot me abraçou com força e eu retribuí.

– Pelo visto, não me enganei ao seu respeito. Você dança muito bem, Kimberley. – elogiou-me a treinadora.

– Obrigada, treinadora Jean. – sorri.

– Está na equipe. O treino é todos os dias, nesse horário. Quero te ver aqui todos os dias, escutou? – e piscou para mim.

– Será um prazer. – respondi sorrindo, ao vê-la sair. Notei que todas estavam sorrindo, menos uma.

– Fique longe do meu caminho, novata. – ameaçou-me Sophie.