Nos últimos dois meses tudo tem mudado, meu pai resolveu dar o ar da graça depois de eu acreditar que ele tava morto, mas eu já o mandei embora, minha mãe está quase morando na casa do vizinho, e Luke acaba de acordar e eu não sei como me comportar perto dele, Rush é o único que permanece, esteve esse dois meses ao meu lado, me levando pra jantar quando eu estava sozinha, estudando comigo nas provas, e até enxugando minhas lagrimas. Ele me comprou desde um pote de sorvete na TPM, até um abajur novo quando o meu antigo eu joguei na parede me culpando por Luke estar em coma. Ele tem sido meu porto seguro, mas ver Luke acordado me fez sentir como se eu estivesse fazendo algo errado.

Estou na casa de Rush, ele está no banho e eu estou analisando as proporções do anel que ele me deu. Ele me deu quando tudo estava bagunçado, mas estávamos tão juntos que não via porque eu não aceitar. Até hoje não conversarmos sobre tal assunto, nós apenas usamos o anel como símbolo que estamos sempre juntos.

Não espero Rush sair do banho, e deixo um bilhete escrito “Fui ver o Luke” isso vai deixá-lo muito bravo, principalmente porque eu fui com seu carro. Chego no hospital e dona Castellan está como sempre ao seu lado.

–Olá, Sra. Castellan.

–Olá Abby.

–Pode nos dar um minuto á sós, por favor?

–Claro, vou tomar um café.

Aproximo-me do leito e Luke está me olhando com um sorriso acolhedor, eu não sei porque mas ele consegue ler meus pensamentos.

– Antes que você comece a falar, eu entendo perfeitamente que você Rush estejam juntos. Linda, eu estive dormindo por dois meses, ó minha mãe me esperaria todo esse tempo.

–Você sempre me entende né?!- suspiro, aliviada. – Esse dois meses foram tão difíceis, tudo está de cabeça pra baixo e o único que permaneceu foi ele. Era difícil não ter você pra conversar, você sempre vai ser o melhor conselheiro.

–Obrigado.

–Eu vim aqui pra te pedir desculpas. Quando tudo aconteceu, eu não sabia o que eu queria você sempre foi meu melhora amigo, conselheiro e confidente, mas Rush..

–Rush sempre mexeu com você. Eu não sou burro Abby, eu sei disso desde o dia da festa.

–Então, eu te vi com uma mancha de sangue ao redor da cabeça e a perna ao contrario. Foi forte pra mim, e depois eu não pude te ver ai tudo veio a tona e a única pessoa que estava ali era ele. Não que eu esteja com ele por falta de opção, mas eu me sinto culpada por não poder te avisar que eu gostava realmente dele. –ele faz força pra sentar, sua perna embora sem pinos agora, ainda não tem movimentos fortes. Minha lagrimas molham o lençol.

–Abby, não se culpe por algo que o destino aprontou. Eu gostava de você sim, mas não desse jeito, eu vi em você a vingança por Rush ter me roubado a Megan. Você sempre vai ser minha melhor amiga.

–Mas, eu pensei que você estivesse chateado.- eu balanço a cabeça confusa. – Se ficar em coma traz tanto entendimento assim, preciso ter a cabeça mais vezes. – nós rimos um pouco e vejo que ele faz força pra não se mexer.

–Ainda dói?

–Não tanto.

–Hum.

–Abby, eu vejo em seus olhos o medo que você tem de magoar alguém, talvez seja porque já foi muito magoada, mas sofrimento não é algo que podemos evitar. Faz parte da vida. Eu nunca vi o brilho de seus olhos tão vivo quanto eu vi você falando dele.

–Eu amo ele, realmente. Mas está tudo confuso, parece um beco sem saida. Estou perdida

–Se não sabe onde está, volte para casa e comece de novo. E antes que você não entenda, é uma metáfora.

Gargalhei e a enfermeira apareceu e pediu silencio.

–Você é hilário. Obrigado por tudo.

Dou um abraço ligeiramente demorado até ele me soltar e eu ouvir passos. Olho pra trás e só vejo o branco dos sapatos.

–Quem era?

–Eu queria saber também.

Dois segundos depois Rush entra pela porta.

–Vocês estão bem?- ele diz com tom de preocupação.

–Sim. Algo errado?

–Fora o fato de ver vocês juntos, a pessoa que saiu daqui estava muito abalada. - ele olha nos olhos de Luke. – E cá entre nós, a Megan abalada é algo memorável.

–Megan?- eu pergunto olhando pros dois.

–Então é ela mesmo. – Luke diz com pesar na voz.

–Sim. Eu não sei o que eu ela viu aqui, mas pra tirar uma lagrima da Megan, deve ser realmente importante. Gostariam de me contar.

–O que ela faz aqui? De branco. – eu pergunto, mas os dois continuam se olhando como se eu não estivesse ali. - Ok, se os dois não vão me contar, eu mesma descubro. – eu sai no corredor e sinto uma mão puxar meu braço forte.

–Você não vai atrás dela.

–Tente me impedir e você verá o que é uma mulher brava.

–Eu vou com você, então. - eu solto me braço e saio pisando forte. Ele me acompanha, eu vejo-a entrar no banheiro feminino.

–Acho que daqui você não passa- eu falo vitoriosa.

–Vou ficar aqui, qualquer coisa grita, por favor. Não confio nela.

Eu entro e aparentemente está vazio.

–Megan?

Sem reposta.

–Megan? Eu sei que está aqui, eu te vi entrar.

–O que você quer? – ela responde, eu sigo o som da voz até parar na frente de um Box com a porta fechada.

–Quero saber por que você estava lá no quarto de Luke.

–Não é da sua conta. Vá acertar seus trapos com ele e me deixe.

–Ah meu Deus! Você está pensando que a alguma coisa entre mim e o Luke?

–Aquele abraço não foi de amigo.

–Não. Aquele abraço foi do meu melhor amigo. – eu agora estou sentada no chão, impecavelmente limpo, na frente de uma porta creme com tranca vermelha. – Escute eu não sei o que você queria lá, mas o que viu foi apenas um abraço. Eu e Luke resolvemos tudo o que havia já.

–Não sei por que está me falando isso. Eu não preciso de explicação.

–Estou te falando porque eu sou mulher Megan, um pouco mas fraca que você admito mas ainda sim sou do sexo feminino. Eu sei o que você fez no passado, e você pode enganar os dois bobos que estão lá fora, mas a mim não.

–Não estou enganando ninguém. E o que eu fiz no passado, afeta terminantemente o futuro e não tem nada que eu possa fazer pra mudar isso.

–A não ser você ir lá ao quarto 308 e falar pro paciente que está deitado que você nunca deixou de amar ele.

–Você pensa que as coisas são fáceis assim. Eu não sou boazinha como você Abby. De mim as pessoas só esperam o mal. – ela agora esta na minha frente, suas lagrimas ainda não pararam de escorrer. Eu a abraço e ela chora mais.

–Eu sei o que as pessoas pensam de você. Eu não disse que seria fácil, mas é possível. Só basta você querer de verdade, sem medo.

–Como você descobriu que a culpa foi minha?

–Eu tenho acesso aos dois bobos. Comparei as duas versões, e juntei com seu depoimento quando encontrou Luke e eu no estacionamento. Pessoas bêbadas costumam não mentir.

–É. – ela agora encarava o chão branco. – Foi minha culpa, eu não agüentei ser amada por alguém.

–Mas todos nós somos amados, em alguma fase da vida. Algumas pessoas só têm medo de mergulhar nesses sentimentos, você e eu somos desse tipo.

–Mas agora eu estou aqui, no chão do banheiro do hospital sem rumo, e com um bebe na barriga.

–Opa! Teremos um baby logo, logo? Quantos meses? - eu digo animada, mas ela me olha triste.

–Não sei se teremos.

–Não diga que você está pensando.. – eu coloco as mãos em seu rosto, aflita. – Você está pensando em tirar o seu filho.

Ela não responde.

–Megan, você não pode fazer isso.

–Então me diz por que eu devo fazer isso. – ela diz apontando pra barriga.

–Porque ele é puro amor. Ele é o amor sendo gerado dentro de você. Ele não tem culpa alguma das coisas que aconteceram no passado, ele é uma vida vindo te ensinar que o amor vale á pena.

Ela chora novamente e me abraça forte.

–E partir de agora, você pode contar comigo pra tudo. Tudo mesmo, até pra ser babá. Mas antes de tudo se acertar você tem que resolver o que ficou mal resolvido.

–Eu sei. - ela diz. - Quem diria que a paty que me roubou meus bobos, me daria o conselho da mina vida.

–Sabe como é né, paty’s sempre tem os melhores terapeutas.