Já passa do meio dia, eu não fui pra aula e não pretendo ir tão cedo. Minha mãe já acordou e eu ouvi passos e cochichos pelo corredor mas não fui ver. Meu celular já tocou mais de um milhão de vez e eu só não desliguei porque está muito longe da cama, eu não quero falar com ninguém, eu não quero ver ninguém, eu só quero ficar aqui no meu quarto até o mundo acabar. Tá isso foi dramático demais, mas eu não quero ver gente tão cedo.
– Acorda moça! – minha mãe fala entrando pela porta. – Hora de almoçar, hoje vamos comer fora, então vai toma banho.
– Ah mãe num to afim não, vai lá e trás algo pra mim.
– Você vai sim. Sou sua mãe e na ultima semana eu não passei mais de meia hora com você, então nós vamos sair sim. Estou te esperando lá em baixo. – ela termina e fecha à porta, eu rastejo pra fora da cama e vou pro chuveiro.
Coloco uma calça jeans, moletom, e meu all star branco. Desço as escadas e ela me espera na porta, joga a chave pra mim e eu alcanço rápido.
– Você dirige!
Ótimo, tá cada vez melhor. Antes eu não queria sair de casa, agora eu já tomei banho e estou dirigindo ainda, o que será que falta agora?
A cidade tava vazia, e os restaurantes lotados. Acabamos por comer chesseburguer com batata frita no Mc Donald’s. Minha mãe está com aquela cara de “eu tenho algo pra falar, mas não sei como” eu não vou perguntar por que não quero tocar no assunto de “á que horas eu cheguei”. Ela fala do seu trabalho, do processo que está defendendo para uma família que quer adotar um filho. Eu concordo não ouvindo direito, minha cabeça continua a repetir a cena de ontem, Rush com Megan e Luke sendo o cara da noite, e ainda tinha a bomba de Rush canalha desde sempre.
– E a festa ontem, como foi?
– Nada demais. – eu respondo querendo apagar tudo isso. – Só musica alta, dança e pessoas.
Terminamos e novamente eu dirijo, minha mãe pede pra eu passar no mercado. Estaciono e vejo a moto de Rush no estacionamento. Definitivamente hoje não era meu dia.
– Mãe vou esperar no carro ok?
–Ok. Eu já volto.
Não tinha nada pior do que sair de casa e dar de cara com o canalha da noite passada, então é melhor prevenir.
Passam alguns minutos e vejo Rush sair pela porta, ele carrega algumas garrafas de Whisky nas sacolas. A aparência dele é péssima e sua roupa está suja. Ele olha em volta e eu abaixo rapidamente, fico lá até ouvir o ronco da Harley e então levanto. Minha mãe sai logo depois, e finalmente vamos pra casa.
Estou dirigindo na minha rua e preparo para entrar na garagem quando vejo a Harley em frente a minha casa, imediatamente olho pra minha mãe e ela ri.
– Ele é pontual mesmo.
– O que você fez mãe? – pergunto com um tom ameaçador.
–Nada. Ele perguntou de você, e eu disse que você estava comigo e já iríamos pra casa. Falei algo errado?
Eu não respondo, encaro Rush que me olha serio encostado em sua moto. Desço do carro, e vou direto em direção a porta ele corre e para em minha frente antes que eu entre. Minha mãe fica atrás dele e pronuncia sem som “Desculpa”.
– O que você quer Rush? – pergunto sem olhar em seu rosto.
– Anjo, me desculpa. Não é o que você ta pensando.
–Claro, não é nada do que eu to pensando, por que eu não pensando nada eu vi não pensei eu vi com os meus olhos. – faço uma pausa, e enxugo a lagrima que quer cair. – Rush tenha decência de assumir que você é um canalha. – Passo por ele, mas ele me segura.
– Anjo, foi uma armação da Megan. Ela não me queria com você. Você tem que acreditar em mim, eu não sabia de nada. – ele segura em meu rosto e eu olho pra ele. – Eu te amo!
– Armação da Megan? Assim como foi armação você roubar ela do seu melhor amigo há quatro anos? – tiro a mão dele do meu rosto. – Rush, não ache que eu sou idiota.
– Do que você está falando? O que o Luke te falou?
– A verdade, Luke me falou a verdade. Contou-me a verdadeira historia dos amigos inseparáveis que se separaram por uma traição. Você o traiu, esperou ele faltar eu beijou a namorada dele.
– Eu não sei o que ele te contou, mas não é verdade. Eu não o traí, ele que traiu Megan. – ele passa a mão na cabeça, e já não olha mais pra mim. - Seja lá o que ele tiver te dito, não é o assunto em questão agora.
–E qual é o assunto? Rush canalha? Rush mentiroso? Ou Rush igual a todos? – ele me encara e suspira. As olheiras em seu rosto são escura, dá pra perceber que ele não dormiu desde ontem, e sua tensão e as garrafas de whisky indica que não pretende ir tão cedo pra cama.
– Anjo. Eu te amo! – ele diz como ultima tentativa. Eu entro pela porta e o encaro.
– Não me chame de anjo, nunca mais. – fecho a porta e subo correndo com as lagrimas escorrendo.
...
Já é de noite e eu estou no meu quarto desde a tragédia de hoje à tarde. As lagrimas já secaram e eu finalmente atendi o telefonema da Mary que gritou tanto que parecia que tava do meu lado. Ela falou que a Megan estava bêbada e que acredita em Rush, mas que ficaria do meu lado pela nossa amizade. Estou assistindo Arrow, e já assisti jogos mortais 1,2,3 e 4, acho que eu preciso ver as pessoas morrerem pra não matar ninguém.
– Filha, vou sair pra ver um amigo.
– Está bem.
– Vá comer alguma coisa Abby, por favor! – ela se aproxima e beija minha testa. – Boa noite filha.
– Boa noite mãe! – ela sai. E eu dou play novamente no vídeo.
A madrugada chega e minha mãe não voltou ainda. De repente algo atinge minha janela. De novo. E de novo. Estão atirando pedras na minha janela, e eu estou sozinha em casa. Discretamente vou a te a janela e espio por trás da cortina. Está escuro e eu não vejo o rosto da pessoa só vejo o carro. Um porche panamera preto. Coloco o roupão e desço até a porta e espio pelo olho mágico. Não melhora muita coisa só consigo enxergar o loiro dos cabelos e juntando com o carro só pode ser uma pessoa, Luke.
– Isso é hora de assustar donzelas indefesas? – pergunto saindo pela porta. Apesar do meu dia péssimo achei que ele não merecia desfrutar do meu mal humor.
– Perdão, só queria falar com a senhorita. – rimos e ele se aproxima. – Só vim ver se você está bem. Você não me ligou, eu achei que sua mãe tivesse te matado mesmo.
– Desculpa, é o que o dia não tava muito bom e acabei me esquecendo de ligar. Estou viva e sem castigo, minha mãe não me viu chegar.
– Que bom. – o silencio se instala e ele me analisa. Eu não acredito que eu estou de pijama e roupão no meio da rua, ou pior na frente dele.
– Está com fome? – ele pergunta.
– Não, já jantei. – minto, mas antes de qualquer aceitação dele meu estomago ronca alto me entregando. Eu abaixo a cabeça e rio.
– Mentindo pra mim? Que coisa feia, pensei que donzelas não mentiam. – ele sorri e eu encaro seus olhos verdes agora visíveis. – Eu te perdoo se subir e trocar o modelo pijama de bolinha por um jeans e sair comigo pra comer algo.
– Luke, muito legal da sua parte mas..- ele não me deixa terminar e me empurra porta adentro.
– Eu sei, sou um ótimo amigo. Agora vai lá trocar, que eu te espero aqui na sala. – eu subo o primeiro grau da escada, olho pra ele e sorrio.
Eu podia ter perdido um namorado mas ganhei um amigo e tanto.