—“Steve!”, Hill gritou ao notar uma movimentação estranha vinda do céu na direção deles. “O objeto às doze horas.”

— “Deixa comigo!”, ele respondeu, derrubando o último dos legionários e levantando os olhos para descobrir do que se tratava. “É o nosso quinjet, Hill! Literalmente se arrastando até aqui.”

— “Saiam da frente! Saiam da frente!”, ela gritou para os agentes que corriam na pista de aterrissagem. A aeronave pousou aos trancos e barrancos e parou após um intenso solavanco que lhe custou o trem de pouso e a rampa traseira. “Apenas os paramédicos aqui!”

— “Nós estamos bem, comandante.”, a voz de Sam pode ser ouvida. “Sãos e salvos.”

— “Pelo menos até agora.”, Rhodes saiu primeiro, dando suporte para Wanda que parecia bastante cansada e que foi prontamente atendida pelos agentes especializados. “É o Ultron, Steve. Ele é o culpado por o que quer que esteja acontecendo.”

— “Nós sabemos.”, Rogers apontou para o amontoado de máquinas espalhado pelo gramado do complexo. “E como sabemos!”

— “Como conseguiram voltar? Essa geringonça já teve dias melhores.”, Hill disse ao examinar mais de perto a situação do quinjet.

— “Faltando cerca de mil quilômetros”, Falcão explicou, “o motor sofreu uma pane elétrica. Maximoff nos carregou até aqui usando sua ‘magia’.”

— “E essa mesma magia nos revelou que Visão está em apuros.”, Rhodes completou.

— “Visão?”, Steve subitamente deu falta do sintozóide. “Ele deveria estar lutando conosco, Hill. Como não notamos sua ausência?”

— “Talvez porque estávamos ocupados demais tentando salvar nossos pescoços, para início de conversa.”, ela retrucou. “Visão não é um bebê a quem devemos vigiar vinte quatro horas por dia. Ele sabe se virar.”

— “Mas com Ultron a solta, devemos nos preocupar, certo?”, o soldado questionou.

— “Ultron o raptou.”, Wanda disse com dificuldade. “Está tentando tomar o corpo dele para si mesmo. Eu posso sentir… posso sentir sua energia de vida tomando a forma que sempre quis. Precisam ajudar Visão antes que seja tarde demais.”

— “Levem-na para Cho examinar.”, Maria ordenou aos paramédicos. “O resto de vocês, venham comigo. Vamos traçar um plano.”

Na sala de comunicações, Clint continuava empenhado em sua tarefa. Porém, apesar de muitas tentativas, não conseguira estabelecer nenhum tipo de contato com sua equipe mesmo pelo mais simples dos métodos.

— “Digam que acabaram de chegar e que não perdi tempo tentando chamar a atenção de vocês.”, ele falou ao vê-los chegando acompanhados por Hill e Steve. “Como estão as coisas lá embaixo? Stark está bem? Por que estão me olhando desse jeito? Não me digam que Tony morreu.”

— “Fique calmo, Barton.”, Steve se apressou em dizer. “Tony está bem vivo e trabalhando na sala dos Legionários agora mesmo. Neutralizamos a ameaça no gramado e muitos agentes estão atentos a novos ataques.”

— “Ataques? Onde está Natasha?”, ele perguntou ao notar certa inquietação em Maria Hill.

— “Na UTI com Banner e Cho.”, o capitão disse. “Foi atingida quando Ultron tomou o controle dos protótipos da Legião de Ferro. Está estável e sendo monitorada bem de perto, não precisamos ficar tão tensos.”

— “Eu saio por um minuto e isso aqui vira a casa da mãe Joana?”, ele reclamou. “Ah, essa é a parte que alguém conta a notícia boa.”

— “Receio não termos nenhuma.”, Rhodes murmurou.

— “Visão foi levado por Ultron, Clint.”, Hill falou sem rodeios. “E está tentando pegar de volta o que era dele.”

— “Levou para onde?”, Clint perguntou. “Como alguém como Visão é levado sem ninguém ver?”

— “É o que estamos tentando descobrir.”, Sam disse, sentando-se ao lado dele. “Pode estar em qualquer lugar.”

— “Tony pode fazer isso, com certeza. Ele saberá como achá-los.”, Rhodes falou. “Wilson e eu iremos até ele para contar o que sabemos e então poderemos começar logo a busca por aquele maníaco.”

— “Boa ideia!”, Hill concordou. “Aqui é o nosso ponto de encontro, lembrem-se disso!”

Os dois acenaram com a cabeça e saíram pra encontrar Stark do outro lado do prédio.

— “E quanto a nós?”, Steve perguntou. “Clint, Laura e as crianças estão bem?”

— “Estão sim. Fury está com eles agora mesmo.”, o agente respondeu.

— “Não podemos fazer muito até sabermos onde achar Ultron, Rogers.”, Hill falou. “Infelizmente, é sentar e esperar.”

— “E quanto aos aliados da SHIELD?”

— “Não os contatei ainda. Por quê?”

— “Seria bom falarmos com o homem no comando para saber o que estão fazendo para se defender disso, não acha?”, Steve sugeriu.

— “Ah, é claro.”, ela caminhou rumo a saída. “Me esperem aqui. Vou fazer isso agora mesmo. Com licença.”

— “Não posso ir junto?”, ele perguntou. “Gostaria de agradecê-lo pessoalmente pela ajuda em Sokóvia.”

— “Eu agradeço por você.”, Hill piscou para o soldado e saiu sem dizer mais nada.

— “Estranho, hein?”, Steve sussurrou para Clint.

— “Muito estranho.”, Gavião sussurrou de volta, dando de ombros. “Mas é a Hill, né? Quem se importa?”

*****

— “Por que demorou tanto, Helen?”, Bruce perguntou, preocupado. “O que houve lá embaixo?”

— “Rhodes, Sam e Wanda voltaram ao complexo nas últimas.”, ela relatou. “Prestei atendimento médico a Wanda Maximoff, que os trouxe de volta usando suas habilidades telecinéticas. Isso lhe rendeu vários pequenos sangramentos pelo corpo e uma intensa exaustão. Agora ela está em repouso na enfermaria.”

— “Que bom que voltaram, ao menos.”, ele falou, aliviado. “E quanto ao Tony? Já pensaram no que fazer em relação ao Ultron?”

— “A equipe está trabalhando na sala de comunicações. Estão tentando localizar o Ultron, mas nada promissor.”

— “Ao menos podemos usar o berço regenerador para criar um novo rim para Natasha?”

Cho respirou fundo.

— “Não, não podemos.”, ela disse, desanimada. “O berço foi levado junto com Visão.”

— “Levado?”

— “Wanda afirmou que Ultron está tentando transferir-se para o corpo de Visão.”, Helen explicou. “Para isso, é necessário ter em mãos o berço regenerador.”

— “E é por isso que encontrá-lo é a nossa prioridade número um.”, Bruce divagou. “Ou tudo estará perdido.”

— “Precisamente.”

— “Novamente presos num loop temporal.”, ele retirou os óculos e passou as mãos pelo rosto.

— “Mas não estamos de mãos atadas, Bruce.”, Cho tocou no ombro dele. “Estamos vivos e ainda temos recursos para nos manter assim.”

— “Tem razão.”, ele pôs os óculos de novo. “O trabalho não pode parar.”

— “É assim que se fala.”, ela sorriu amigavelmente. “Agora, atualize-me sobre a agente Romanoff.”

— “Bem, níveis de ureia e creatinina normais.”, Banner constatou ao verificar os exames laboratoriais recém chegados. “A incisão parece livre de infecções e não há mais necessidade de utilizar o respirador mecânico, portanto, Natasha já pode ser transferida para uma acomodação comum, onde o resto da equipe poderá visitá-la normalmente.”

— “Muito bem, Dr. Banner. São ótimas notícias!”, Helen disse. “Certifique-se de deixá-la confortável. Vou checar a jovem Maximoff outra vez. Se precisar de qualquer coisa, é só avisar. Com licença.”

— “Tem toda.”, ele respondeu apanhando um par de luvas no bolso do jaleco. “Agora vamos tirar você daqui, Nat.”

Bruce desligou o respirador e o desconectou. Cuidadosamente, removeu o tubo principal, observando com atenção as primeiras respirações de Natasha sem a ajuda dos aparelhos. Ele suspirou ao vê-la tão pálida e indefesa, então estendeu a mão para acariciar os cabelos que caiam sobre a testa.

— “Talvez teria sido melhor se tivéssemos fugido como sugeriu.”, ele murmurou. “Não estaria nesse leito hospitalar esperando por um transplante… Nem magoada com o que fiz. Mas onde estaríamos? De volta à Índia, onde nos conhecemos? Numa casinha no Alabama? Numa vinícola italiana? Qualquer que fosse o lugar, seria mil vezes melhor que aqui… Porque eu estaria com você, Natasha. Provavelmente voltaríamos quando soubéssemos do Ultron, mas quando acabasse, fugiríamos outra vez, não é?”

Natasha permanecia dormindo, vez por outra movimentando-se involuntariamente devido ao efeitos vestigiais dos anestésicos.

— “Sei que pode me ouvir, Nat.”, ele sentou-se na poltrona ao lado da cama e segurou a mão dela, que continuava imóvel. “Sei que pode me ouvir e não vou sair daqui até que acorde.”

Quase duas horas se passaram e Banner acabou adormecendo ali, ainda segurando-lhe a mão. Natasha abriu os olhos com dificuldade por causa da luz e sentiu-se um pouco confusa ao notar onde estava. Uma dor leve percorria seu tórax e abdômen e sentia náuseas. Ela tentou mover um dos braços, mas este estava imobilizado na cama para receber os medicamentos. Tentou usar o outro, mas também não conseguia. Natasha virou-se o máximo que pode e notou que alguém segurava sua mão como se a própria vida dependesse disso. Estaria sonhando?

— “Bruce?”, ela chamou, a voz fraquejando. “Bruce?”

Ele acordou assustado ao notar que adormecera ali, praticamente a deixando sozinha.

— “N-natasha?”, ele gaguejou diante dos olhos marcantes dela. “M-me desculpe por ter dormido! E-eu…”

— “Ei, grandão, relaxa…”, Romanoff tentou acalmá-lo, apertando o toque entre as mãos. “O sol já vai se pôr.”