Por impulso , o caçador abriu a porta de uma só vez, assustando as duas mulheres.

“John? Isso são modos” Lady Elizabeth tentou disfarçar, ela não sabia o quanto do conteúdo da conversa o filho havia escutado.

“Mamãe, como você foi capaz de algo tão baixo?” Dirigindo-se pra a para assistente “E você, Christine, tão talentosa para os negócios, se sujeitou a uma atuação dessas” John mal conseguia conter o desprezo pelas duas.

“John... eu sinto muito...” começou a se justificar a assistente.

“Me chame de Lorde Roxton, não somos mais amigos, nem você é mais digna da minha confiança. Você está demitida, Srta. Fraser. Agora, retire-se daqui”.

A jovem não argumentou. Deixou a sala em silêncio, ciente da oportunidade que acabara de perder. Seu único objetivo era ascenderprofissionalmente e para isso ela tinha feito uma aposta de risco ao aceitar o acordo com Lady Elizabeth em troca de sua promoção. Agora teria que lidar com as consequências de suas escolhas.

No escritório, a matriarca da família Roxton tentava manter a postura gélida diante do seu flagrante. Embora não deixasse notar, a mulher não queria ter decepcionado o filho. Suas artimanhas tinham por finalidade apenas proteger John e o patrimônio de sua família.

“Ora John, você vai demitir uma excelente secretária por conta de uma bobagem como essa?” apesar de manipuladora, Lady Elizabeth era uma mulher justa, e sabia que a demissão da garota era sua culpa, isso de certo modo a incomodava.

“Como você soube sobre mim e Marguerite?” John respondeu a mãe com sua principal inquietude, ignorando o assunto da assistente.

“Não seja estúpido! Você realmente acha que nestes quatro anos eu estive parada pacientemente esperando o retorno do meu único filho, sem fazer nada a respeito? Contratei pessoas que estavam no seu encalço no Brasil, descobrindo uma maneira de chegar a este maldito planalto e lhe resgatar com vida. Nenhum deles obteve sucesso” ela lamentou “Quando eu estava perdendo minhas esperanças, o professor Summerlee veio ao meu encontro secretamente. Ele me falou sobre como havia escapado e que pretendia enviar o seu neto para trazê-los de volta. Eu financiei todo o seu retorno, com a única exigência que ninguém soubesse disso. Enviei um batedor disfarçado, um investigador de minha confiança, que seria meus olhos e me encheria de informações privilegiadas. Você sabe o quanto eu odeio surpresas, e eu queria saber o que me esperava quando você chegasse a Londres” ela riu com sarcasmo antes de continuar “algo me dizia que você não chegaria sozinho. Foi fácil descobrir que você e a Srta. Krux eram amantes, aliás, vocês não são nada discretos. E atuação como bons amigos foi um tanto quanto engraçada, confesso que me diverti um pouco. Vocês realmente acharam que iam me enganar?”.

Roxton observava a mãe, incrédulo com a frieza que ela confessava seu plano.

“A Srta. Fraser é uma excelente administradora e tem uma qualidade importante... é ambiciosa. Eu ofereci a ela uma promoção em troca dela mantê-lo ocupado e afastá-lo da sua bela viúva. Conhecendo-o como eu conheço, sabia que isso seria muito fácil. Você é exatamente como seu pai, seu ponto fraco são as mulheres” ela disse com algum pesar.

“E é por isso que a senhora nunca gostou de mim? Porque eu sempre fui idêntico ao papai, não só física mais em personalidade também?” o caçador extravasou uma pergunta que estava a anos retida. Sempre se sentiu preterido pela mãe e desconfiava que isso fosse por que a mulher o associava ao seu pai. Lorde Peter Roxton era um bon vivant, embora John tenha tido excelentes recordações de momentos com o pai, ele não podia negar que seu progenitor não era um referencial de bom marido. Sempre cercado por amantes, noitadas, aventuras, além de ser extremamente obsessivo com a esposa.

“O que você está dizendo?” a mãe parecia confusa e indignada.

“Eu sempre soube, mamãe, da sua preferência por William”.

“Agora você está sendo ridículo. Não acha que está um pouco grandinho para ciúmes” embora a mulher tentasse parecer altiva, a pergunta do filho a desconsertou.

“Não são ciúmes, e a senhora sabe disso. Sempre se dedicou mais a William que a mim”.

“Isso não é verdade, vocês dois tiveram acesso às mesmas coisas, a mesma educação. Você nunca pareceu dar muita importância para isso, e agora quer me culpar?” Lady Roxton começava a se desestabilizar pelo rumo que a discussão estava tomando e ela realmente não queria remexer nesses assuntos.

“Tivemos acesso à mesma educação, mas não ao mesmo carinho, a mesma cuidado. Nunca passou pela sua cabeça que meu jeito extravagante de viver era uma tentativa desesperada de fazê-la me notar?” a pergunta foi quase um apelo “A senhora sempre preparou William para ser um bom lorde e se viu desconsolada quando ele se foi” ele fez uma pequena pausa e falou em um sussurro “Sempre me culpou por isso, embora, nunca o confessasse”.

“NUNCA!” pela primeira vez em anos Lady Elizabeth se alterou a ponto de gritar. “Eu nunca o culpei, nunca mais diga algo assim!”

“Então por que se afastou ainda mais de mim? Por que me deixou sozinho com a minha culpa e com a minha dor?” o caçador não tentava mais controlar as lagrimas que desciam pelo seu rosto livremente.

“Eu não sabia que você se sentia desse jeito” a mãe também não controlava a emoção diante do tema que jamais tiveram coragem de tratar anteriormente.

“A senhora nunca se importou em perguntar o que eu sentia ou como estava lidando com tudo que estava acontecendo. Sempre ordenando e tirando conclusões por conta própria, como bem lhe convém. Exatamente como fez agora, em relação à Marguerite”.

“Do que você está falando? Não tente me convencer de que você realmente ama aquela mulher” a nobre disse incrédula “não consegue perceber que ela é apenas uma caça fortunas?”.

“O que a senhora sabe, além do seu preconceito, sobre Marguerite ou sobre nossa relação?” ele a desafiou. “Consegue imaginar por quantas coisas passamos juntos enquanto estávamos perdidos na selva? Parei de contarquantas vezes Marguerite me salvou a vida. Ela é uma das mulheres mais fortes, dignas e corajosasque eu conheço. Ela não precisa do meu dinheiro, e na verdade sempre o recusou. Me custou muito trabalho convencê-la do meu amor e fazê-la concordar em um relacionamento comigo. Aliás, a “ideia ridícula” de parecermos bons amigos foi dela. E ao contrário do que a senhora pensa, não tinha por objetivo enganá-la, era sim uma tentativa de que eu recuperasse a sua confiança e seu perdão sem nenhum tipo de interrupção. Foi um sacrifício oferecido por ela em troca da minha reconciliação com a senhora”.

“Que história é essa?” Lady Roxton tinha dificuldade em acreditar que alguém pudesse abrir mão do seu próprio bem estar em troca da felicidade de outra pessoa. “Você está sendo ingênuo, essa mulher já foi casada várias vezes... sempre com homens a beira da morte. Se isso não se chamar golpe é porque mudou o nome”.

“Não fale sobre o que você não sabe. Marguerite foi casada uma vez, na juventude e abandonada pelo marido de forma covarde. Depois disso, os outros casamentos foram disfarces enquanto ela trabalha como espiã para o exército britânico”.

Lady Roxton estava surpresa com o que o filho lhe contava. Nunca podia imaginar que aquela mulher fosse digna de tão nobre respeito. Sentiu um algo ao qual não estava acostumada, o remorso, por tê-la julgado tão mal.

“Essa “caça-fortunas”, como a senhora a chama, está grávida... à espera de dois filhos meus, e por sua causa não deixa eu me aproximar. Ela acha que serei capaz de requerer a tutela das crianças, e nesse momento, deve estar planejando uma fuga... com a ajuda daquele médico oportunista” o caçador estava a beira do desespero, começando a perder a compostura.

“Ela não pode fazer isso.” Lady Roxton estava tocada com tudo que o filho lhe contara.

“E o que a senhora pretende fazer? Sequestrá-la?” ele disse com indignação, quase aos gritos. “Não se meta nisso! Você já complicou demais minha relação com Marguerite... e talvez jogou fora a minha chance de ser feliz, e tudo isso, por quê? Pela conveniência de um título, ao qual eu não pedi para ter. A senhora passou a sua vida inteira se dedicando a tornar minha existência medíocre e miserável, e agora parece que finalmente o conseguiu. Você merece a solidão que sempre buscou” John estava dominado pela mágoa e antes que pudesse falar mais alguma coisa da qual se arrependesse, ele deixou a sala.

A mulher desabou no sofá esgotada. Não se importou em conter as lágrimas. “Deus, o que eu fiz? Quanto mal causei ao meu filho sem me dar conta” disse para si mesma. Ela refletiu se havia se tornado essa pessoa que John descreveu, mesquinha, autoritária e manipuladora. Como seu filho poderia ter uma visão tão deturpada dela? Por mais que Lady Roxton não tivesse sido um exemplo de mãe carinhosa, ela tinha consciência de que se esforçou até suas últimas forças para tornar os filhos homens de bem, distintos do seu pai, um aristocrata inescrupuloso. Ela sabia da importância que o título da família podia ter nas decisões políticas e sociais da Inglaterra, e por isso, sua maneira de fazer alguma diferença era moldando seu filho Lorde com valores de justiça e igualdade. Nunca percebeu que isso afetaria tanto a John, na verdade, ele nunca pareceu se importar com isso e ela por sua vez, também não lhe deu a devida atenção. O peso da culpa por todas as falhas que cometeu recaíram de uma só vez sobre a mulher e ela sabia exatamente o que tinha que fazer.

Em seu confortável quarto, Roxton esvaziou com facilidade uma garrafa de whisky escocês. A discussão com sua mãe tinha sido a cereja do bolo de cum dia angustiante. “Como pode uma mãe ceifar a felicidade de seu próprio filho sem nenhum pesar?” ele pensava. A imagem de Benjamin acariciando o ventre de Marguerite também era uma tortura maior do que John estava disposto a suportar. Quando finalmente sucumbiu ao desgaste e a embriaguez ele sonhou. Em seu sonho, e estava no platô com sua linda Marguerite, se amando na areia branca da praia do mar interior, e ele era o homem mais feliz do mundo. Ao despertar, lamentou por estar em casa, por ter conhecido Benjamin e por ter retornado a civilização.

A manhã demorou em chegar para Lady Roxton que não havia sequer cochilado durante toda a noite. Ela esteve a maior parte do tempo, repensando o que deveria fazer para consertar o estrago do qual ela mesmo foi a responsável. Passavam das 11 a.m. quando finalmente decidiu sair da cama.

“Alfred, meu filho ainda está dormindo?”

“Receio que sim, milady” ela se sentiu confortável por não precisar encará-lo logo pela manhã. Gostaria de ter boas noticias antes que conversassem novamente.

“Prepare o automóvel, iremos sair” ordenou.

“Imediatamente, senhora” Alfred trabalhava para a família Roxton há anos. O mordomo percebeu um semblante diferente em sua patroa. Havia muito tempo e que a mulher não expressava quase nenhuma emoção, mas, naquela manhã, algo havia mudado.

Na residência dos Summerlees, Marguerite havia acordado mais calma, apesar de todas as emoções do dia anterior. Ela se recusou a sair do quarto e após um exame rápido, Benjamin concluiu que não havia nada de errado com ela ou com os bebês, e que um dia de repouso também não lhe faria mal algum. O médico já havia saído pra seu consultório quando a campainha da casa soou. A empregada aviou a Arthur que Lady Roxton o aguardava na sala principal. O homem ficou confuso, o que aquela senhora estaria fazendo em sua casa? Ele decidiu atendê-la antes que Marguerite e ela se encontrassem.

“Lady Roxton, como vai?”

“Bom dia, Arthur. Soube que a Srta. Krux é sua hospede. Eu preciso conversar com ela com urgência”.

“Veja bem... eu não sei se essa é uma boa ideia. A Srta. Krux...” o professor não sabia quais informações a mulher tinha e não queria contar que Marguerite estava grávida e por isso, não podia permitir que Elizabeth a visse.

“Eu sei de tudo professor... sei que Marguerite está grávida e sei que essas crianças são meus netos. Por favor, eu lhe imploro, preciso ter a chance de reparar um grande erro que cometi. Sei que você sente muita estima por ela e por meu filho, por isso peço que me ajude” a mulher quase suplicava.

Summerlee observou a bela senhora a sua frente. Ela era altiva e tinha uma postura autoritária, ele mesmo já conhecia sua fama de conseguir todos seus objetivos sobre qualquer circunstância, mas, apesar disso, naquele momento o professor apenas enxergou uma mãe aflita e se sentiu tocado a ajudá-la.

“Tudo bem, Lady Roxton, vou falar com Marguerite, mas, não prometo nada. Tentarei persuadi-la para que a receba”.

“Muito obrigada”.

Arthur subiu as escadas que levavam aos aposentos que Marguerite ocupava, com a gentileza de costume ele bateu na porta até que a herdeira deu sinal para que entrasse.

“Minha querida, como se sente hoje?”

“Muito melhor, obrigada por perguntar” ela sorriu.

“Você tem uma visita” ele disse com suavidade.

“Arthur, se for Roxton, diga-lhe que não quero recebê-lo” a jovem começou a se exaltar.

“Não é John”.

Marguerite se surpreendeu. Quem mais poderia estar á sua procura? Challenger e Jesse haviam saído de viagem há algumas semanas e ninguém mais se importaria em visitá–la.

“Quem é?”

“Lady Elizabeth Roxton”.

“E o que ela quer? Como irei recebê-la neste estado?”

“Ela já sabe da gravidez” o professor confidenciou.

“Lógico, agora tudo faz sentido. Roxton deve ter contado a mãe sobre os bebês e ela veio me oferecer algo em troca para que eu suma de Londres. Pois ela pode ficar tranquila, que farei isso de graça”.

“Eu receio que este não seja o assunto, querida. Ela me parece muito aflita. Algo relacionado a John.”

O coração da herdeira se apertou ao pensar que o caçador poderia estar com problemas, embora ela estivesse magoada e com muita raiva, não poderia se enganar dizendo que não o amava. É impossível ficar indiferente a uma situação que o envolvia.

“Arthur, por favor, diga a ela que desço em um minuto”.

“Certamente, minha jovem”.

O professor sabia que mencionar o caçador em problemas era a chave para abrandar o coração de Marguerite e ela aceitaria receber Lady Roxton. Em poucos minutos a herdeira descia as escadas para encontrar a misteriosa mulher que a aguardava. Lady Elizabeth era uma mulher muito conservada, apesar, de todas as desgraças que se abateram sobre sua vida. No auge dos seus 56 anos, ela ostentava as primeiras mechas de cabelo branco em sua exuberante cabeleira dourada presa impecavelmente em um coque alto. Os olhos azuis e a pele alva nada se pareciam com as características de John, mesmo assim, ela era uma belíssima dama, que no seu tempo, provavelmente, provocou suspiros apaixonados em nobres e plebeus, Marguerite deduziu.

“Marguerite Krux, finalmente nos conhecemos” a mulher mais velha a examinou minuciosamente com os olhos, mas isso não a incomodou. A herdeira estava costumada a lidar com pessoas da categoria de Lady Roxton e isso não a assustava.

“Lady Elizabeth, estou curiosa. Ao que devo a honrar de sua visita?”

“Aqui não. Há uma cafeteria muito elegante a algumas quadras e acho que um doce seria a companhia ideal para o assunto que preciso tratar com você”.

Marguerite pensou em recusar o convite, mas, sua curiosidade era maior que a sua cautela e ela realmente não se sentia insegura na presença daquela senhora, ao contrário, sua intuição dizia que a mulher era portadora de uma revelação importante e que isso mudaria sua vida.

“Aguarde-me um momento enquanto busco o meu chapéu e luvas”.

Elizabeth observava atentamente a jovem dama a sua frente enquanto ela degustava um Earl Grey servido luxuosamente em uma louça de porcelana pintada à mão. A senhora percebeu os modos elegantes de Marguerite, sem dúvida ela tinha uma postura aristocrática e se encaixaria perfeitamente em qualquer posição da sociedade.

“Obrigada por ter aceitado meu convite. Meu filho tem razão sobre você, é uma mulher peculiar, Marguerite”.

“Tomarei como um elogio, milady. Mas, algo me diz que seu convite não tinha por objetivo apenas me elogiar”.

“Além de tudo você é inteligente e sarcástica. Você lembra muito a mim mesma na sua idade”.

A herdeira ficou supressa com tal declaração.

“Marguerite, eu sou uma mulher que cometeu muitos erros. De alguns me arrependo, de outros nem tanto. Alguns males precisam ser feitos para que coisas boas aconteçam”.

A gestante entendia perfeitamente o que a mulher mais velha queria dizer. Ela também sentia esses mesmos arrependimentos.

“O que eu vou lhe contar agora não justifica minhas atitudes, mas talvez as explique. Peço que não me interrompa, irei remexer em fatos dolorosos do meu passado. Alguns dos quais eu nunca tive a coragem de compartilhar com ninguém. Temo que se eu não os falar de uma só vez não terei coragem de fazê-lo novamente”.

Marguerite apenas concordou.

“Você deve conhecer minha reputação de mulher antissocial, fria e manipuladora, mas, nem sempre foi assim. Eu nasci no condado de Yorkshire, filha de nobres, fique órfã de mãe ainda muito jovem tive pouquíssimo contato com meu pai, talvez isso tenha sido uma benção. Minha educação ficou a cargo de uma tutora que semeou em mim ideais de liberdade, independência e igualdade. Eu queria ser dona do meu próprio destino, sonhava em fazer coisas grandes, ser reconhecida e valorizada. Todos os meus sonhos foram esmagados quando meu pai me ofereceu em casamento a um nobre com mais que o dobro da minha idade. Eu tinha dezesseis anos” ela disse com lamento. “Lorde Roxton era um homem com muitas posses e em busca de uma jovem debutante. Meu pai achou que eu estaria segura casada com ele. Talvez em algum momento meu marido chegou a me amar, mas, fracassou miseravelmente em demonstrar este amor. Ele era um homem abusivo e às vezes violento, me afastou de tudo que eu mais amava. Os livros, a arte, a música. Praticamente me trancafiou em Avebury permitindo que eu saísse apenas em sua companhia. Sofri calada as piores humilhações. Perdi as contas de quantas vezes encontrei as camisas manchadas de batom vermelho ou cheirando a perfume barato. Com dezessete anos dei a luz a William e com dezenove já era mãe de John. Eles se tornaram meu objetivo de vida, minha missão. Não acreditava mais na minha liberdade, mas, sabia que poderia educar dois homens para serem diferentes do seu pai. Tentei fazê-los justos e leais” ela parou e sua voz se entristeceu “Mas, em algum momento eu falhei como mãe. Minha ânsia fez com que eu não os observasse como indivíduos distintos que eram. Dediquei-me tão ferozmente a formação de William, sabia que ele herdaria o título e seria capaz de tomar decisões diretas, que acabei inconscientemente preterindo a John. Eu não percebia que estava afastando meu filho mais novo, criando rivalidade entre os irmãos. E depois quando William se foi, eu fui tão egoísta com a minha dor, sequer percebi o quanto John me necessitava. Fechei-me dentro de minhas muralhas e o ignorei, não imaginava que minha atitude o faria pensar que eu estava o culpando” Lady Roxton não podia conter as lágrimas e Marguerite sentiu empatia pela mulher. Num gesto espontâneo segurou sua mão e a apertou com delicadeza.

“Lady Roxton, não se culpe. Você fez um ótimo trabalho com seu filhos. Poucas pessoas passaram pelos seus sofrimentos para terem o direito de julgá-la. Não tive a oportunidade de conhecer a William, mas, posso lhe garantir que nunca conheci um homem mais leal e corajoso que John. Além disso, ele é honrado e capaz de oferecer sua vida em troca da de seus amigos” a herdeira percebeu que acabara de fazer uma confissão de amor e rapidamente tentou se retratar “Bem, ele tem alguns deslizes de conduta quando a assunto é o sexo feminino” ela revirou os olhos.

Elizabeth sorriu percebendo que a jovem queria esconder o amor e admiração por seu filho.

“Marguerite, não precisa esconder seus sentimentos. Eu sei que você o ama e nunca vi meu filho tão apaixonado por alguém como por você”.

“Senhora, com todo o meu respeito, eu e John... nós não... não tem como funcionar. Há certas coisas que eu não saberei suportar e ele...”.

“Escute, o real motivo que me fez encontrá–la hoje foi reparar um erro que cometi. Um daqueles erros dos quais me arrependo terrivelmente. Já fui responsável pela infelicidade de meu filho muitas vezes e não pretendo fazê-lo novamente”.

“Eu não a entendo...”.

“John e Christine não estão tendo um romance. Foi tudo uma armação minha e Srta. Fraser aceitou em troca de uma promoção. As cartas que John a enviou foram interceptadas por Christine sob minhas ordens, por isso você achou que ele havia se desinteressado. E o beijo que você assistiu, foi milimetricamente calculado para que você os flagrassem”.

“Mas seu plano deu certo, porque você está aqui me contando isso?” perguntou a herdeira incrédula.

“Porque eu percebi o quanto estava errada em relação a você. John me contou sobre a gravidez e sobre como você sacrificou sua felicidade e conforto para que ele e eu nos harmonizassem. Eu achei que você seria um empecilho entre John e suas responsabilidades, pensei que a qualquer momento ele abriria mão de tudo para segui-la em mais alguma aventura, e eu não suportaria perdê-lo novamente. Desculpe-me Marguerite” ela pegou as mãos da herdeira entre as suas “Hoje estou aqui para lhe fazer um pedido de mãe para mãe. Logo você terá seus filhos em seus braços e saberá que não há amor maior que este. Por favor, reconcilie-se com John. Não permita que eu lhe negue novamente a felicidade que ele só encontrará ao seu lado. Ele a ama desesperadamente e está sofrendo com seu rompimento” Lady Roxton não era acostumada a implorar, mas a ocasião era necessária. Ela devia isso a eles.

Marguerite demorou um tempo para racionalizar o que Lady Elizabeth tinha lhe contado. Em um ímpeto ela apenas responde:

“Leve-me até ele”.