“Marguerite, do que está falando?” O professor fez sinal para que a mulher entrasse na casa.

“Ora, Arthur. Não se faça de desentendido. Quero saber o que aconteceu e por que se afastou, não foi conhecer minhas filhas, não responde minhas mensagens...”

“Tenho tido muitos afazeres nos últimos dias, e Benjamin me mantém informado sobre o seu estado de saúde. Sabia que estavam bem... e além disso, não é educado visitar uma família durante o puerpério” o botânico tentava disfarçar o nervosismo que a visita surpresa da herdeira lhe causou. Mas, Marguerite era perspicaz, não havia passado despercebido o fato do professor evitar olhá-la nos olhos. Ela se aproximou do senhor e tocou sua mão que agora se atrapalha em preparar o fumo para seu cachimbo, indicando seu nervosismo.

“Escute... eu sou sua amiga, me importo com você e sinto sua falta. Diga-me o que lhe incomoda?”

Summerlee pela primeira vez a encarou. Marguerite não conseguia identificar os sentimentos refletidos em seu olhar. Havia pena, remorso, medo, mas, também transmitia carinho e compaixão. O professor estava pronto para inventar uma resposta evasiva quando observou que a jovem adornava seu delicado pescoço com um conhecido relicário em formato de coração. Um turbilhão de memórias invadiu a mente do senhor. Ele sabia a quem pertenceu aquela joia e mesmo que vivesse mais cem anos seria capaz de esquecer a linda jovem de olhos verdes acinzentados que sorridente lhe mostrou o presente que havia ganhado do pai em seu baile de debutante: Marguerite Olívia Horward, seu primeiro amor. Sentimento esse que o atormentou por anos apenas pela simples imposição de não poder vivê-lo. Arthur ficou por alguns minutos hipnotizado pela peça, lembrando do sorriso, dos trejeitos e das palavras da mulher que foi a sua primeira dona. Isto despertou a preocupação da herdeira diante do silêncio do homem.

“Summerlee? Você se sente bem?”

“Essa corrente...” disse pausadamente, aindaem estado hipnótico pelo adorno.

“Era da minha mãe” ela sorriu com ternura ao tocar o pingente, recordando o encontro espiritual que teve com mulher “o nome dela era Marguerite... Roxton descobriu a verdade sobre meu passado e ...”

“Receio que não toda a verdade, minha cara” ele a interrompeu. Não havia mais espaço para mentiras e omissões, ele precisava encarar seus erros do passado. O botânico temia perder o carinho e respeito da jovem que tanto admirava. A verdade era que os dias longe da companhia de Marguerite tinham sido tristes e vazios. O carinho que sentia pela herdeira era genuíno e só fez aumentar diante da possibilidade dela ser sua filha biológica. Nada o deixaria mais orgulhoso e feliz. Marguerite era corajosa, inteligente, bonita, fiel as suas convicções e sentimentos, leal aos amigos, e, pelo que Benjamin o contava, ela estava se revelando uma mãe dedicada e carinhosa. Arthur sentia por não tê-la visitado e sabia que isso a magoava, mas não podia fazê-lo...não antes de ter dignidade de dizer-lhe tudo.

“O que quer dizer?” Marguerite desviou o olhar do pingente diretamente para os olhos do professor. Ele não teria como fugir, e era melhor assim. Ele falaria tudo antes que perdesse a coragem. Marguerite merecia isso. Ela já havia sofrido o suficiente por conta de sua irresponsabilidade e isso não duraria nem um dia a mais.

“Eu conheci sua mãe” ele começou “foi a muito tempo, em Lancashire”.

“Eu imaginei que isso pudesse ter acontecido...” ela sorriu “Lancashire não é um condado muito grande e ao que parece, a família de minha mãe era influente na época”

“Lorde Howard era um homem poderoso e autoritário... tão autoritário que foi capaz de casar sua filha, a contragosto, com um político eminentepara afastá-la do filho da jardineira” havia rancor e dor na sua voz, como se estivesse revivendo ahumilhação da noite em que pediu a mão daquela donzela em namoro.

“Summerlee, você fala com muito conhecimento de causa. Do que sabe que eu não sei?” O sorriso de Marguerite sumiu de seus lábios, ela estava convicta que o professor estava preste a revelar algo que mudaria totalmente sua vida e ela não sairia dali sem saber o que era.

“Eu era afilhado de seus avós... filho da jardineira e do cocheiro. Lady Howard não tinha filhos e quando eu nasci proveu da minha educação... depois de alguns anos ela concebeu crianças gêmeas... duas meninas... assim como você”.

Marguerite ouvia o que homem falavacomeçando a compor suposições em sua cabeça. Seu coração agora batia acelerado e sua respiração estava densa. Ele e sua mãe foram apaixonados e impedidos de viver esse amor. Porém, isso não eratudo...havia mais... ela sabia disso, e, não tinha certeza se estava preparada para ouvir o que vinha a seguir.

“Querida, eu e sua mãe nos apaixonamos e fomos covardemente separado pelo preconceito e pelas conveniências. Ela era muito jovem e eu, embora fosse mais velho, também conhecia pouco sobre a vida e sobre o amor. Nós seguimos rumos distintos, eu logo me casei com Anna e tivemos nosso filho. Marguerite também se casou com Sir Rothemere e passamos muitos anos sem nos ver, eu a acompanhava pelas colunas sociais. O casal Rothemere não tinham um lar fixo, devido a carreira diplomática de Robert eles viveram em muitos países e eu cheguei a acreditar que não a veria novamente... até aquela noite...” O homem fez uma pausa, a recordação era vívida em sua memória. Oluxuoso vestido de suede azul escuro, os botões forrados, o elegante chapéu que cobria parte do belo rosto da mulher, as luvas de cetim, o perfume suave... ele se lembrava de cada detalhe, de cada palavra.

“Continue...por favor” diante da prolongada pausa do botânico, a herdeira pediu quase em um sussurro. Ela precisava saber de tudo.

“Naquela noite nós nos rendemos a paixão que nos atormentava a mais de 20 anos. Nenhum dos dois havia esquecido o sentimento que um dia nutrimos um pelo outro e a dúvida de nunca ter experimentado aquele amor era mútua” ele fez mais uma pausa, era preciso ir até o fim, Marguerite tinha que saber que podia ser sua filha e por mais difícil que fosse escolher as palavras ele tentou ser objetivo. A jovem já tinha demonstrado mais de uma vez sua sensibilidade e compreensão acerca dos erros humanos. Ela mesmo já havia cometido váriosdeles, dos quais se arrependia, quase sempre foi vítima da ocasião, onde, a escolha errada parecia ser o certo a fazer se quisesse sobreviver. O que magoava Arthur era o fato de que muito do passado tortuoso da herdeira era consequência de sua irresponsabilidade. Então, ele se sentia culpado mesmo que indiretamente pelo que aconteceu de ruim em sua vida. O professor voltou os olhos em direção a mulher que o encarava ansiosa. A visão dele começava a ficar turva pelas lágrimas que se acumulavam esperando um leve piscar de pálpebras para rolarem por seu rosto. Ele respirou fundo “Marguerite, você...você pode ser minha filha”.

A notícia atingiu a herdeira como uma flecha direto no peito. Imediatamente seus olhos se inundaram de água e ela se virou de costas para o homem apoiando-se no móvel de mogno. Seu cérebro trabalhava a mil sinapses por segundo, ela tentava entender o peso da revelação que acabava de ouvir ao mesmo tempo que lutava para controlar o ritmo respiratório e a pulsação. Arthur seu pai... ela não precisava comprovações biologicas, o que sua mãe havia lhe contado no “sonho” fazia todo sentido agora. O destino havia colocado sua origem ao seu lado no platô, desde do primeiro momento a empatia entre ela e o professor Summerlee foi inevitável. Era evidente que ele tinha acesso a quem ela era realmente com muito mais facilidade que os outros amigos. Ela não sabia o porquê, mas confiava e tinha carinho pelo botânico desde sempre, e essas eram duas coisas que ela custava a sentir por alguém. Mas... porque ele escondeu isso dela? Respirando pausadamente para tentar manter a calma ela apenas perguntou, ainda de costas.

“Há quanto tempo você sabe?”

“Eu soube na noite em que você passou mal, mas...”

“Então é por isso que você se afastou? Porque uniu os pontos e deduziu que eu podia ser sua filha. Se envergonha de ter uma filha como eu e por isso decidiu cortar relações, não respondendo as minhas mensagens.”

“Marguerite, eu nunca...”

“Summerlee, eu esperava um pouco mais de dignidade da sua parte. Eu achei que pelo menos algum respeito você tivesse por mim. Não espero que você esteja feliz diante da possibilidade de ter algum vínculo biológico comigo, mas, em nome da amizade que eu achei que tínhamos eu imaginei de você alguma consideração. Você me deixou preocupada com sua saúde e bem estar, enquanto a realidade era que não queria nenhum tipo de contato com a mulher de caráter duvidoso e que repudia a possibilidade de ser meu pai” as palavras eram duras e carregadas de magoa.

O botânico não podia acreditar na forma errônea que Marguerite entendeu seu afastamento. Ele não sentia vergonha dela, ao contrário, sentia orgulho. O que o envergonhava era sua atitude covarde e irresponsável e o que o torturava era saber que sua filha poderia ter tido uma vida melhor e mais confortável se tivesse sido criada perto de si. Uma dor incontrolável no braço esquerdo o impediu de falar qualquer coisa em sua defesa. Summerleesentia que iria sucumbir a essa desagradável sensação. As semanas de privação de sono e de má alimentação estavam cobrando sua conta. A saúde do bondoso senhor não era mais a deu um garoto e os últimos dias tinham acabado por deixá-lo ainda mais vulnerável. Marguerite demorou um instante para perceber que ele não se sentia bem, logo que notou que a coloração cianótica de seus lábios e como o mesmo apertava com desespero o braço,ela esqueceu totalmente a discussão.

“Arthur! Fale comigo! O que está sentido?” Ela apurou-se em socorrê-lo. Mas ele não conseguiu responder, desmaiou sobre o sofá. “Socorro! Ajuda!” Ela gritou desesperada.

Roxton passou apressado pela entrada principal do Sta Mary’s Hospital. Durante todo percurso desde a residência de Summerlee, ele vinha repassando mentalmente o sermão que iria aplicar a esposa por conta de sua escapadela. Como ela podia ser tão irresponsável de sair sozinha depois de quase ter morrido e ainda com a adulação de sua mãe. O que seria da vida dele com aquelas duas se unindo contra ele? Quando foi buscá-la pessoalmente na casa do professor, ele foi informado que Arthur havia se sentido mal e conduzido ao hospital, é que Marguerite o acompanhou. Isso não o surpreendia porque a morena sempre muito próxima do amigo e não permitiria ficar sem ter notícias sobre seu estado. Entretanto, ao chegar na sala de espera, o nobre sentiu seu coração apertar diante do estado emocional que encontrou a mulher. Marguerite estava sentada num canto da sala segurando as luvas nas mãos, o roso banhado por lágrimas e parecia sentir medo. John refletiu que ela lembrava uma criança apavorada que acabara de ficar sozinha e não sabia o que fazer. Todo o corpo do caçador se contraiu em compaixão e ele esqueceu toda e qualquer raiva que pudesse estar sentindo por ela ter saído sem avisá–lo. Ele só queria abraçá-la o mais rápido possível e confortá-la com o seu amor. E foi o que fez, em passos largos ele cruzou a sala.

“Marguerite! O que aconteceu?”disse enquanto se aproximava.

“John!” Ela despertou de seu infortúnio e uma suave sensação de alívio a invadiu. Levantou-se correndo e foi em sua direção. Encontrou o calor agradável do abraço de seu amado, isso a fez se sentir melhor. “Que bom que você está aqui comigo”.

“Querida, diga-me o que houve? Como está Summerlee?” Pelo estado em que a esposa se encontrava ele suspeitou que o pior pudesse ter acontecido.

“Ele é meu pai...Arthur é meu pai. Ele não pode morrer, não agora... depois das coisas que eu disse a ele” soluçava a mulher agarrada as golas do terno xadrez de Roxton que agora encontravam-se molhadas por suas lágrimas.

John franziu o cenho sem entender. Como assim Arthur era seu sogro? Mas aquele não era o momento para perguntas, quando ela estivesse mais calma contaria toda a história. Agora ele precisava fazer a única coisa que podia para ajudá-la: oferecer seu carinho e compressão. Apertando-a ainda mais em seu abraço, ele permitiu que ela chorasse sem reservas.

Alguns minutos depois Benjamin veio ao encontro deles com notícias de Summerlee.

“Como eles está ?” Perguntou a herdeira aflita ampara pelo marido.

“Ele teve um bloqueio do fluxo sanguíneo para o músculo cardíaco. O coração dele já estava apresentando avarias, e nas últimas semanas ele esteve muito deprimido, se alimentando e dormindo mal. Apesar do susto, ele ficará bem. Um pouco de dieta saudável e exercícios físicos e ele ainda viverá mais alguns bons anos”

Roxton e Marguerite sorriram aliviados, ela derramou algumas lágrimas de alegria que rapidamente foram secas com as costas das mãos. Embora, tivesse evoluído muito em termos de relacionamento, a herdeira ainda tinha dificuldade de mostrar seus sentimentos em público e chorar era em seu código de honra uma demonstração clara de fraqueza.

“Ele acordou e quer vê-la” Benjamin disse com tranquilidade.

“Eu?!” Marguerite não estava decidida se era prudente Summerlee encontrá-la agora, logo após o trauma “eu não sei se é uma boa ideia”.

“Marguerite, ele acordou e a primeira coisa que fez foi perguntar por você... o que quer que tenha acontecido entre vocês precisa ser resolvido, para o próprio bem do meu avô”.

Ela olhou para o marido buscando sua opinião. Roxton concordou com um olhar de compreensão. Ele estaria ali para apoiá-la sempre, seria seu refúgio em meio a tempestade e queria que não houvesse dúvidas quanto a isso.. A mulher assentiu com a cabeça e seguiu o médico até o quarto do professor. Marguerite parou em frente a porta branca extremamente larga, apropriada para passagem de macas com maior facilidade, ela respirou fundo antes de bater com delicadeza indicando que iria entrar. Mesmo não ouvido resposta, ela decidiu que entraria. Com muito cuidado ela abriu uma pequena frecha, o suficiente para enxergar o paciente solitário deitado na cama ainda ligado a uma bolsa de soro e com máscara de oxigênio. A herdeira ponderou o que significa tê-lo como pai, talvez esse tenha sido seu maior desejo desde que o conheceu. Em algumas oportunidades inclusive havia dito isto a ele e ele também havia confessado que gostaria de ter uma filha como Marguerite. Existia a possibilidade dela ter interpretado errado, não deu oportunidade de ouvi-lo mas estava disposta a fazê-lo agora.

“Marguerite ...” a voz fraca do professor por trás da máscara a despertou de seus pensamentos. Ela ameaçou um pequeno sorriso e adentrou o quarto.

“Bem, Arthur, você sabe bem fugir de uma conversa...” ela tentou uma brincadeira, mas, o clima estava muito pesado para isso.

“Sente-se e me escute antes de tirar conclusões” ele removeu a máscara de oxigênio e indicou a poltrona. Ela obedeceu, e ele continuou. “O motivo pelo qual me afastei de você quando descobri que podia ser seu pai não tinha nenhuma relação com vergonha... ao contrário... eu tinha medo que você me desprezasse e ao mesmo tempo não podia encará-la sem lhe contar a verdade. Além disso, eu me sentia culpado pelas coisas ruins que aconteceram em seu passado... você cresceu sem a proteção de uma família... de um pai. E depois, durante a guerra...eu... eu sempre soube que você era Parsifal, eu fui membro do alto escalão da inteligência britânica... ajudei a mandá-la pra operações arriscadas tantas vezes, sem saber se voltaria com vida” ele fechou os olhos e duas lágrimas silenciosas rolaram por sua face se perdendo em sua vasta barba branca.

Houve silêncio. Marguerite também estava muito emocionada e não conseguia encontrar maneira de expressar o que sentia, mas, ela precisava livrá–lo desse sentimento de culpa. Ele não era o culpado pelo sei infortúnio. Ele a protegeu quando foi possível, por coincidência ou chamado do sangue, ele sempre esteve ali para ela e o destino tratou de aproximá-los porque assim tinha que acontecer.

“Você não tinha como saber” ela disse tocando a mão dele que estava repousada sobre a cama. Começou a desenhar com a ponta dos dedos veias de sua mão idosa, ainda sem encarará-lo. “Caso não se lembre, você me protegeu sempre que foi possível.. enquanto eu era Parsifal você tomou todas as precauções para manter minha identidade sob sigilo e isso me manteve segura. No platô, inúmeras vezes você me defendeu quando todos acreditavam que eu era uma pessoa fria e egoísta, sem contar, a vez em que se fez barreira entre mim e o piloto alemão que queria me executar” ela sorriu com a lembrança.

“Eu sabia porque ele queria a sua morte e jamais permitiria isso. Tudo que Parsifal fez durante a grande guerra foi executar ordens, você não pode jamais se culpar por isso”

“Eu sei, mas, nem isso faz de mim uma pessoa melhor, todas aquelas mortes eu carrego no meu passado e na minha consciência” ela lamentou.

“Você precisa se perdoar, querida... esse é o primeiro passo para aceitar a felicidade”

Marguerite o olhou assustada. Aquelas palavras... eram a mesma que ditas por sua mãe no sonho.

“Arthur...quando estive em minha experiência de quase morte eu encontrei com ela...com minha mãe” virou o rosto para ver os seus olhos e teve certeza que ele acreditava no que ela estava dizendo. Summerlee apesar de ser um homem da ciência sempre aceitou que a espiritualidade exercia forte influência sobre a realidade humana, talvez por sua descendência celta, o velho homem acreditasse na perfeita harmonia entre a natureza e o cosmo, e, apenas compreendesse que existiam alguns mistérios que jamais seriam totalmente esclarecidos. “Ela me disse que o destino tratou de colocar ao meu lado o que eu sempre procurei” a herdeira continuou “ela disse que eu precisava aprender a me perdoar para viver a felicidade que me esperava”. O homem sorriu emocionado pelas palavras da jovem “Bem, nunca teremos certeza sobre nosso vínculo biológico, mas, eu ficaria muito feliz se isso fosse real” ela apertou a mão de Arthur com delicadeza e afeto.

“Talvez sim, querida” o botânico parecia ter lembrado algo e Marguerite o olhou com curiosidade “Existe uma característica peculiar nas mulheres de minha família. Aconteceu com minha mãe, minha avó e a avó de minha mãe... todas elas tinham uma marca de nascença nas costas, um pouco abaixo do ombro direito... não sei por qual motivo essa marca só aparece nas mulheres, minha mãe, falava sobre uma lenda relativa aos nossos ancestrais druidas”

Conforme Arthur ia contando sobre a herança genética, Marguerite começava quase que inconscientemente a desabotoar os primeiros botões de seu vestido de linho ocre. Desde que se tornou mãe, a rotina de amamentação a fez optar por peças de vestuário mais simples de se desvestir, afinal, as gêmeas não tinham nem um pouco de paciência quando estavam com fome e um acesso rápido era fundamental (Lorde Roxton também tirou vantagem dessa mudança, e a adorou por sinal). Assim que abriu o suficiente para expor parte do ombro, a mulher afastou a mannga deixando exposta a alça de sua combinação de seda.

“Veja.. é como esse sinal?” ela se ergueu ficando em pé, mas, de costas para Arthur que pode observar a marca idêntica à de sua mãe e a de sua avó. Um sorriso inevitável surgiu em seus lábios. Não haviam mais dúvidas, Marguerite era sua filha. Um sentimento de alívio e gratidão tomou conta de seu coração até então carregado de remorso. Sim... o destino se fez e ele poderia finalmente dizer:

“Filha”.