Um Tom a Mais

- Um Pouco de Todos os Sentimentos -


Na medida em que eu ia me aproximando da casa o meu coração acelerava por ver Tom ali, sentado na soleira da porta, deduzi eu, que estava me esperando, mas fora por pouco o nosso encontro, ele então se levantou e sem me avistar olhou mais uma vez para porta da casa e seguiu em passos rápidos para fora dali, enquanto eu o via partindo, sentia uma vontade gigante de gritar seu nome, por algum motivo, eu não conseguia fazer aquilo, medo, estase, mil sentimentos dentro de mim.

...

Estávamos na semana do feriado de quatro de Julho, e os Cohen, digo, a senhora Cohen, ia de cima para baixo aflita com as preparações para a festa de gala que ela recepcionaria ali. Já fazia três dias que eu não falava com Tom, não tinha eu nenhuma noticia dele, enquanto que Tito, diariamente me bombardeava com mensagens fofas, nada pegajosas, mas fofas e maduras, porém eu respondia com certa animosidade, não era ríspido, mas não soava na mesma sintonia que Tito, fazer o que? Se eu nutria por aquele infeliz do Tom, uma paixão, um amor, sabe-se lá o quê, mas era forte, por vezes sufocante. Foi então enquanto eu cruzava a sala principal da casa ouvi a senhora Cohen conversando com alguém que era familiar na sala de chá ao lado, quando passei e olhei fui simpaticamente cumprimentado por nada mais nada menos que a mãe do Tom.

– Olá querido! Eu estava imaginando aqui comigo entre a conversa com sua avó – a senhora Cohen nesse momento então olhou para mim, como quem pedisse para consentir a parte da avó, o que eu fiz desconcertadamente, mas fiz – qual seria o momento em que eu lhe veria?! Você não apareceu mais em casa, o Tom está lá insuportável por esses dias, principalmente porque a namoradinha dele a Faith foi para Paris de uma hora para outra. Rindo suavemente e levando a xícara de chá a boca, enquanto a senhora Cohen me observava pedindo aproximação e que sentasse junto com ela.

– Bom Mrs. Green, realmente eu estive meio sumido, mas foi por correria. A senhora Cohen então riu suavemente como se eu realmente tivesse alguma “correria”.

– Mas dê uma passada lá ainda hoje, ele parece estar evitando alguns amigos nativos também – disse entre risos – o Tom tem disso às vezes, confuso! Mas de toda forma ele virá à gala comigo. Estamos todos ansiosos por isso não é verdade Eloise. Direcionando seu olhar para senhora Cohen que consentiu com um breve sorriso e dizendo:

– Sim, claro, mas todo ano fico confusa com tanta coisa para resolver e acredito que de certa forma seja a idade – entre risos – por isso dessa vez lhe pedi ajuda querida, porque sei que você promove as melhores festas de Hamptons. A conversa foi ficando cada vez mais entediante, quando por deuses, fui chamado por meu irmão que atravessava a sala para sair.

– Pim... Vamos! Disse ele como se realmente tivéssemos combinado algo. E levantei-me pedindo por educadas licenças e fui em direção ao meu irmão o mais rápido possível. Já na área externa enquanto ele caminhava em direção à praia lhe agradeci pelo gesto, ainda não estávamos às boas devido o viadinho, quando ele então respondeu:

– Foi mal pelo outro dia! Espero que isso nos tenha deixado quites. E saiu daquele jeito distraído e sem muitos sentimentos, o que era natural dele, me senti rapidamente comovido por aquilo e por fim, me pus a pensar ali, na praia, olhando para a direita, olhando para a esquerda, tentando ali, descobrir para qual lado eu iria, para a casa do Tom, ou para casa do Tito.

(David Gray – Now And Always)

– Enquanto eu tentava de alguma maneira aumentar mais ainda o volume do meu fone (e como àquilo me irritava, porque sempre que achava ter encontrado um bom, via que talvez o problema fosse uma possível surdez), à medida que ia fazendo isso, caminhando a esmo na praia que se encontrava mais vazia que o normal, aquele era um dia nublado, atípico dos ensolarados e cheios de vibrações, nesses passos, eu negava as minhas vistas a aproximação entre mim e Tito, que fez questão de esbarrar em mim, mas com força tal que me jogasse na areia, caí assustado e olhando rapidamente para cima para ver o que havia acontecido, parecia eu, ter trombado desapercebidamente em um poste. Neste momento Tito então riu com a cena, e estendeu o braço para me puxar, e quando dei a mão, ele então se retirou, jogando-se em cima de mim, e numa fração de segundos deu uma leve mordida no lóbulo da minha orelha sussurrando em meu ouvido - e a fera pegou sua presa, e ela, nunca mais foi vista – Neste momento me assustei e comecei a olhar envolta, receoso por ser visto, enquanto ele agia com uma naturalidade absurda.

– Você doido, alguém pode vendo! Respondi receoso e ainda desnorteado pela queda. Ele então, riu solenemente em resposta a minha aflição.

You have so much life to live Kiddo, but you have to do it right now, cause you never gonna know when you’re gonna die! Ele era definitivamente louco, pensei comigo, enquanto ele se levantava e me puxava para o seu lado. – então estava indo me ver? Perguntou de forma presunçosa com um sorriso estampado no canto da boca.

– Pretensioso você! Respondi.

– (risos) Você é osso duro mesmo garoto, não dá o braço a torcer! Mas não sou mais pretensioso do que “Ó desculpe-me por ter te usado”. E riu sarcasticamente, me fazendo corar.

– Desculpa aí senhor adulto. Respondi irritadiço. Enquanto ele mais uma vez no seu ímpeto me puxou para perto dele fazendo nossos corpos se comprimirem fortemente, me olhou fixo com os olhos brilhosos e de um verde eloquente. Deu-me um beijo macio e suave, me deixando outra vez nervoso com a cena.

Como assim em tão pouco tempo, aquele rapaz me fazia ser tão fora de mim daquele jeito, com suas loucuras e declarações e sem nenhuma autonegação, pelo contrário, era como se ele quisesse mostrar para o mundo – olham, vejam, eu também posso – ele era assim, impetuoso, mas não era um ímpeto pueril, era consciente e fortemente desejoso. E aquilo, aquelas loucuras, confesso que me deixavam excitado.

– O que você tá ouvindo dessa vez depressive boy?! Indagou-me ele, me pedindo que dividisse um dos fones com ele enquanto caminhávamos. (Bedouin Soundclash – Fools Tattoo)

– E que você esta armando para o feriado? Perguntou-me ele.

– Vai ter um baile de gala na casa dos meus... Dos meus parentes!

– Ah, to ligado, meus pais foram convidados, não sabia que os Cohen eram seus parentes!

– Bem, não são, ou são de certa forma, minha mãe namora Charles, o filho da senhora Cohen, por isso minha hesitação em definir o que somos, acho que nada afinal! (risos)

– (risos) Bom isso é o de menos, mas bacana que você vai estar lá, vou ficar menos entediado! Mas afinal você não me respondeu para onde estava indo?!

– Apenas andando. Respondi.

– Uma coisa eu tenho certeza, não era pra me ver! Mas do que eu posso reclamar afinal, você só esta me usando né. E riu novamente. – bom, se você aceitar, eu estou indo no Sea Dock tomar um café, bora?! A minha irmã já esta lá, e não se preocupe eu não vou fazer isso aqui lá. Puxando-me novamente e tascando-me um beijo.

...

Chegando ao café, para minha surpresa e estrema irritação, não estava somente Genie, estava com ela aos beijos e abraços Tom, que quando me viu evidenciou um constrangimento legitimo, me fazendo corar e disfarçar meus olhares contra ele.

– Nossa, que demora meninos! Já tomamos café, comemos muffin, enfim, estamos indo agora para a cheesecake de frutas vermelhas que chamando pelo meu nome faz meia hora. Então ela se levantou e foi junto com o irmão ao balcão fazer novos pedidos, me deixando completamente sozinho com o Tom e pior sem conseguir abrir a boca.

– Tudo bom! Perguntou-me Tom, com um ar sério. E antes mesmo de eu responder, deixei sair entre meus dentes, boca e língua, o que eu sabia sobre ele.

– Eu vi que você voltou em casa naquele mesmo dia a noite! Ele então se assustou, ficando sem reação, e abria e fechava a boca como quem tentava falar algo, mas não conseguia. – Mas conforme fui me aproximando você se levantou e foi embora, e... Você não me viu, mas eu te vi, e, não te chamei de volta porque já estava tarde. E fui interrompido por Genie e Tito.

– Bom já fiz meu pedido kiddo pedi algo para você, mas é surpresa – dando um sorriso de criança que apronta algo – tomara que você goste! – passando rapidamente os dedos na minha orelha e voltando a conversar com sua irmã. Enquanto que Tom me fitava entre alguns carinhos e cheiros de Genie.

– O que podemos esperar afinal dessa gala Pim?! Eu estava com um olhar distante quando fui cutucado por Tito.

– Perdão Genie, o que você disse? A festa de gala, o que podemos esperar dela? Estou bastante animada!

– Ah festa de ricos , piano, musica clássica, champanhe, canapés – eu ia aos poucos desenhando em minha face um ar tosco, de deboche, como quem repreendia toda aquela pompa – e gente rica circulando, muita gente rica, claro! E ri sinicamente suscitando em Tom um cenho irritado e revoltoso, que respondera de imediato.

– Se essa gente rica te incomoda tanto, o que você ta fazendo aqui?! E houve um silêncio abismal na mesa, seguido de uma sútil repreensão de Genie enquanto ele me fitava como quem fosse me arrancar a jugular nos dentes. Ele então se levantou deu um beijo no rosto de Genie e se despediu categoricamente, deixando o estabelecimento em passos firmes e nervosos.

– Nossa Tom, me desculpa! Disse Genie.

What a dick this fucking jerk!

– Por favor, Tito, vamo amenizar!

– Relaxa gente, eu tive culpa também!

– Mas não justifica a atitudes esnobe e elitista dele. Respondeu Tito nitidamente nervoso.

– Tito, por favor! Menos, bem menos. Eu vou conversar com ele Pim, não se preocupe.

Eu sentia vergonha naquele momento, sentia ódio, sentia pena, aliás, sentia tudo, menos vontade de estar ali. Não queria estar, por ter conhecido Tom, não queria, por ter conhecido a Genie e tê-la feito involuntariamente conhecer o Tom, e não queria, por através da Genie ter conhecido o Tito. Era um circulo vicioso aquele, meio amor, meio ódio, meio paixão, meio amizade, e eu, eu estava no cerne de tudo, era o pivô! E aquilo estava começando a ficar cada vez mais, complicado e perigoso.