Um Tom a Mais

- These are the Days of our Lives -


Montauk, Hamptons 1985.

– Eu te proíbo Spencer Cohen! – Disse Alice, enquanto voltava a fita pela milésima vez naquela música, que já me havia enojado o suficiente.

– Essa música é boa, mas já tá ficando insuportavelmente chata. – Respondi me afastando do som.

(A-Ha – Take on Me)

– E então, o que nós temos pra hoje? – Perguntou ela.

– Nada demais, briguei de novo com o Green...

– Porra, você ainda está ficando com aquele idiota?! – Indaguei – Liam Edward Green, o perfeito idiota da escola.

– Ai Spence, por favor, não vamos começar discutir de novo por causa dele, ele vai ser o pai dos meus filhos – respondeu ela rindo – Alias, menti sobre não ter nada hoje – me olhou ela com ar de quem queria aprontar – podemos fazer algo na sua casa, o que acha? – Sugeriu, colocando uma jaquetinha rosa e verde limão sobre o tomara que caia azul – e então, o que achou? – Disse ela dando uma volta sobre si mesma, esperando algum elogio.

– Esta linda – respondi – mas porque não fazemos aqui na sua casa, afinal seus pais vão pra NY hoje!

– É pode ser, contanto que você ajude a limpar tudo – respondeu – e afinal, quando é que você vai sair desse casulo?

– Eu já te pedi pra você não tocar nesse assunto Alice... E se alguém ouve?!

– Relaxa Spence, não tem ninguém aqui... O menino da semana passada te ligou?

– Nossa – suspirei me jogando em cima da sua cama – eu estou definitivamente apaixonado – e olhei para ela rindo.

Awn, que lindo! Isso é tão romântico e bacana, parte dos meus sonhos estão se realizando, tenho uma namorado lindo...

– Que te deprecia mais do que tudo – interrompi.

– Larga de ser rabugento... E tenho o meu tão sonhado amigo gay – riu ela eufórica – pena que ele não entende absolutamente nada de moda... – concluiu.

– Graças a Deus – respondi me levantando e agarrando ela por trás fazendo-a rir.

– Será que um dia nossos filhos serão amigos? Assim como nós somos... – perguntou ela.

– Filhos – gargalhei – e quem disse que vou ter.

– Não seja tão pessimista... Os meus já tem até nomes – atou sorrindo.

– Eu sou pessimista?! Ou você sonhadora demais... Aliás, eu já sei o nome de todos os seus filhos... Como é mesmo? Alexis... Tho...

– Alice! – Interrompeu Mrs. Hammer entrando no quarto.

– Mamãe, quantas vezes eu já disse pra senhora bater antes de entrar?

– Desculpa minha filha – respondeu ela me cumprimentando – Olá Spencer, como estão seus pais?

– Estão bem Mrs. Hammer... E o seu irmãozinho Charlie – perguntou rindo – ele esteve aqui semana passada nos vendendo ingressos para sua partida de baseball, uma graça...

– Aquele moleque é uma figura – respondi com um riso anasaldo.

– Ok mamãe, agora fala, o que foi? – interrompeu Alice irritada.

– Estamos indo para Nova Iorque, por favor, juízo.

– Nunca menos do que isso – respondeu ela rindo.

– Bom, casa livre! – argumentou Alice me olhando e dando um sorriso leve.

...

(Bruce Springsteen – Born in the USA)

– Merda! Essa festa tá um porre – argumentei!

– Larga de ser carrancudo Spence, você só esta falando isso porque seu paquera ainda não chegou... Alias, olha quem chegou! – exclamou me cutucando e me fazendo olhar em seguida na esperança de ser Henry, mas era o seu namorado, arrancando de mim algum olhar de desprezo. – Larga mão de ser chato, vai pegar umas cervejas que eu vou receber ele – e saiu ao seu encontro.

– Porra! – pensei em voz alta. Atravessei a sala devidamente apertada com a aglomeração de pessoas que se fazia, alias, mais do que o previsto, mas pra já aquela não era minha maior preocupação. Só parei meus passos largos quando me deparei com a geladeira. Eu queria mesmo era que Henry chegasse o mais rápido possível para me salvar daquilo. Agarrei duas garrafas de cerveja e voltei para sala.

– Aqui – estendi uma das cervejas para Alice, mas Liam tomara da minha mão agradecendo cinicamente.

– Valeu! – e meteu um gole de pressa.

– Não era pra você – respondi!

– O quê? – respondeu ele arrogante.

– Meninos, tudo bem... Spence, eu pego outra...

– Não – respondi irritado – pode ficar com a minha, vou lá fora fumar – atei saindo nervoso – Cara chato meu, como é que a Alice consegue aturar esse filho da puta – dizia eu em voz alta, tentando me consolar.

– Com quem você está falando garoto da praia... – e quando olho para o lado era ele, o mais esperado.

– Hey... Você veio – respondi lhe dirigindo um abraço e dando um beijo em seu pescoço.

– Eu disse que viria... – dessa vez disse me olhando nos olhos fazendo-me notar um certo vermelhidão no olho direito.

– O que foi isso? – perguntei curioso.

– Nada demais, eu bati antes de chegar aqui...

– Não parece ser uma pancada – indaguei.

– Relaxa garoto da praia, isso não é importante agora! Você quer sair daqui?

– Claro! – Respondi animado, enquanto nos direcionávamos para um píer ali próximo.

...

(Simple Minds – Don’t You Forget About Me)

– Jamais! – e gargalhei com vontade – eu jamais faria isso Henry, isso me parece ser suficientemente idiota – e continuei rindo com a cabeça deitada no seu colo, enquanto ele ria junto acariciando meus cabelos, me permitindo olha-lo, e admirar aquela face andrógena adornada por um pequeno chapéu preto na cabeça, deixando a franja encaracolada cair de lado.

– Você deveria tentar – enfatizou rindo – é engraçado!

– Engraçado é poder passar esse momento com você, alias engraçado não, perfeito – respondi me levantando e lhe beijando carinhosamente. – Agora me fala de verdade, o que foi isso no seu rosto?

– Já te disse, não foi nada, larga de ser bobo! – respondeu ele.

– Bobo? – ri, mudando de assunto – vê se isso te parece bobo – e abri o zíper da minha calça deixando algo em evidência, enquanto eu lhe olhava malicioso.

– Não, definitivamente não! – E antes que qualquer coisa ali fosse feita, fomos interrompidos por Alice que gritava por mim na entrada do píer, me fazendo assustar e me ajeitar o mais rápido possível.

– Boa Alice – falei em voz alta – momento bacana para vir nos chamar – descontraí.

– Relaxa, a gente tem a noite toda – respondeu Henry rindo e me tocando, enquanto Alice se aproximava.

Hi guys... Desculpa interromper, mas eu vim chamar vocês pra entrar, principalmente você Spence, Sylvia e Cate já perguntaram por ti um milhão de vezes.

– Estamos indo – falamos em coro.

– Mas antes – disse ela rindo – da um jeito nesse volume – e riu novamente nos acompanhado para a festa.

...

(Tears for Fears – Shout)

– Spence – gritaram Sylvia e Cate vindo ao meu encontro e me abraçando.

– Calma, tem Spence pra todas – respondi rindo – vou pegar cervejas e já volto pra conversarmos...

– Eu vou com você – falou Henry me acompanhando – você conhece o cara de jaqueta preta? – disse ele se referindo a Liam.

– Sim, ele é o namorado da Alice, por quê?!

– Nada demais...

– Como assim nada demais, você me pergunta de um cara, e não é nada demais – ri cordialmente – vou achar que você curtiu ele...

– Cala boca – disse, devolvendo o sorriso – não faz meu tipo!

– Bem melhor dizer que você não faz meu tipo... Viadinho! – surgiu Liam na cozinha respondendo contra Henry.

– Que porra é essa Liam? – perguntei nervoso e curioso.

– O que esse moleque esta fazendo aqui?

– Ele esta comigo, por quê? Algum problema? – respondi puxando Henry e indo para sala.

Hey – disse Liam nos seguindo aos berros – Não dê as costas quando eu estiver falando com você viadinho... – direcionando-se a Henry. Neste instante todos na sala se calaram, e começaram a observar a cena.

– É melhor você calar a sua boca, se você não quiser levar um murro no meio da sua cara Liam – sugeri cerrando os pulsos enquanto Henry pedia para que eu deixasse quieto.

– Que medo! – respondeu rindo cínico e olhando para os amigos que estavam próximos a ele – e quem vai me bater? Você ou esse viadinho? Porque nele eu já dei umas poucas e boas não tem nem meia hora, não é não viadinho?! – falou ele arrogante e dando uma piscadinha para Henry, que demonstrava profundo constrangimento com tudo aquilo. Foi então que eu avancei com toda a minha ira para cima dele, dando-lhe murros na cara e em seguida sendo interrompido pelos amigos dele e por Alice aos berros.

– Spencer... Para, por favor!

– Foi o idiota do seu namorado que começou... Como você pode ser tão otária pra ficar com um cara desses.

– Isso não diz respeito a você – respondeu ela.

– Qual é Spencer – disse Liam cínico, por acaso ele é seu namoradinho? – Atou limpando o sangue que escorria do nariz e dando um riso de canto de boca sarcástico.

Vai se foder seu filho da puta! Eu não te devo satisfações sobre a minha vida...

– Ah, qual é, isso não é novidade pra ninguém... Não é mesmo Ali? – disse ele sugerindo que ela já havia lhe contado algo.

– Liam... – repreendeu-o.

– Todo mundo sabe das suas preferências... Digamos nada convencionais – revelava ele, tirando alguns murmúrios e risos dos que estavam na festa – eu só tenho pena de verdade da Alice – falou virando-se para ela enquanto ajeitava a jaqueta desarrumada – porque você pegar AIDS e morrer, eu to pouco me fodendo, agora ela se sujeitar a isso e achar que eu vou ficar com ela...

– Liam... Por favor, para!

– A escolha é sua Alice – concluiu – Eu, ou esse doente. Neste instante eu apenas olhei para Alice derramando uma lágrima e me segurando para não avançar na cara dele, o que me tomava era um sentimento de impotência infernal.

– Liam... por favor – dizia chorosa.

– Eu vou indo nessa Ali... – pressionou ele encenando para os amigos.

– Liam NÃO... – Interrompeu-o.

(Cindy Lauper – Time after Time)

Olhei para Alice, e segurando na mão de Henry me retirei da sala sob o olhar critico de todos, me virei uma última vez a fim de vê-la e poder de fato sentir se aquela era sua vontade, e por fim, deixei-a sob os cuidados e as pretensiosas caricias de Liam, que lhe dizia – Assim é melhor, assim é bem melhor.

Dias Atuais...

– Pra quem ia embora em dois ou três dias, a semana foi longa – Brinquei com Dylan enquanto atravessava a avenida principal com nossos devidos sorvetes em mãos.

– Isso é maneiro confesso, afinal podemos colocar em pauta nosso distanciamento, o que é foda, são mais piscinas para limpar – respondeu ele rindo.

– Concordo! Apesar de que esses dias não tem sido dos melhores!

– Algum problema em casa? – Perguntou ele curioso.

– Não... Em casa não! Ou melhor, na casa do Charlie... Os problemas mesmo são outros – respondi.

– É o garoto que você mencionou outro dia? O seu namorado...

– Bem – respondi com algum desconforto – é um tanto desconcertante falar de namorado com você – e ri – mas é mais ou menos isso!

– Para Pim, qual é?! Já te disse que eu não tenho problemas algum com isso... Pode se abrir:

– Eu sei, já deu pra sacar que você é diferente, se é que essa é uma boa palavra pra ser usada, mas fica tranquilo, logo tudo se resolve, mas o pior não é isso, a mãe dele como eu já havia dito esta cada vez piorando, ele esses últimos dias tem estado uma pilha, e eu de fato gostaria de estar do lado dele...

– Calma! Logo vocês se ajeitam.

– Pim! – gritou alguém vindo ao nosso encontro – Hey kiddo!

Os nossos encontros estão começando a ficar estranhamente coincidentes – sugeri rindo para Tito, que estava acompanhado de Jake.

Not everything about you – atou ele rindo – remenber that?

– Eu sei – risos – Tito, Jake, esse aqui é o Dylan, amigo meu de infância...

– Prazer – respondeu os dois ao mesmo tempo. – E então, eu estou indo embora esse fim de semana, alias, indo para Boston com o Jake, e de lá para o Brasil, sem o Jake – risos – podíamos fazer algo hoje ou amanha para nos despedirmos... Double date! – Exclamou.

– Isso soou um tanto piegas – respondi rindo – mas enfim, não digo encontro de casal, mas a gente pode fazer algo sim, só não garanto a presença do Tom, afinal Mrs. Green esta cada vez pior. Hoje mesmo é um dia impossível, vou estar com eles essa noite. Sim! Por incrível que pareça, a Faith também.

– Olha só, isso é um ótimo sinal! – Alertou Tito.

Or a threesome – sugeriu Jake rindo.

– Você não perde a mania de ser idiota Jake! – atei.

– Qual é Pim – respondeu Tito rindo – foi só uma brincadeira, e vamos combinar, foi legal – e riu novamente.

– Pior do que ouvir as piadas do Jake, é ver você rindo delas Tito! Enfim, podemos fazer algo amanhã, ou depois, quando você vai afinal?

– Domingo! Eu te mando uma mensagem... Pode ser?

– Ok!

See ya!

– Os seus amigos parecem bacanas – risos.

– Sim, eles são! Quer dizer, o Tito é mais meu amigo, o Jake, é só um idiota que eu aturo.

– Man, eu vou indo nessa, meu pai já deve estar putasso me esperando, a gente se vê?!

– Sim... Vai lá!

...

– Seus dias têm sido mais fora de casa ultimamente do que conosco – atou minha mãe ligeiramente brava, quando eu adentrava a casa.

– Ah mamãe sem dramas, eu não estou fazendo nada demais – sugeri indo em direção à biblioteca – Afinal, a senhora mesmo quem disse que eu devia aproveitar cada instante! – conclui pegando um livro.

– Sim! É verdade, mas poxa, um pouco de tempo conosco também não faz mal... – disse-me sentando-se na poltrona, enquanto Mrs. Cohen entrava aflita a procura de algo.

– Ann querida, você viu aquele meu camafeu? Aquele de esmeraldas e rubis que sempre uso?

– Mrs. Cohen eu o vejo sempre consigo, afinal a senhora sempre o usa. Deve ter deixado no banheiro, já olhou? Eu geralmente perco as minhas coisas lá – argumentou minha mãe rindo.

– Sim, é verdade – risos – não posso perder aquilo, foi um presente do meu filho Spencer.

– Fique tranquila, quer que eu a ajude procurar?

– Sim querida, por favor! – E foram-se as duas a procura da joia. Ufa, nunca havia me safado tão rápido dos sermões de minha mãe como agora.

Naqueles dias, depois de tantas revelações, eu de fato havia negligenciado minha presença na casa dos Cohen, mas sobretudo, havia negligenciado a mim mesmo, as minhas maiores preocupações naquele momento eram o Thomas, e todo o perrengue que ele estava passando, por tanto, qualquer coisa sobre mim, parecia extremamente pueril e sem sentido quando eu me lembrava dele. E justamente pensando nele, recebo uma mensagem.

[Tom] – Pimmie boy, saudades! Minha mãe disse que o jantar vai ser as oito horas, falei com a Faith sobre sua presença, ela me parece estar indiferente, acho que é toda a situação. Hoje estou particularmente triste, não sei porque, mas é como se eu estivesse pressentido algo...

[Pimmie] – Eu imagino o que vc deve estar sentindo, mas não fique remoendo esse sentimento, isso só vai piorar as coisas! Quer que eu vá aí?

[Tom] – eu sei.. mas ta foda :/

[Tom] – a Faith taqui com a minha mãe, as duas passaram a manha toda vendo álbuns meu de BB, isso tá definitivamente mórbido, hoje eu peguei meu avô falando com a funerária... caralho... O que esta acontecendo? Ou melhor... Porque estão reagindo assim?????????

[Pimmie] - :/ eu não sei o que te falar, me sinto tão impotente te vendo dessa maneira... queria poder te abraçar agora...

[Tom] – to indo aee

[Pimmie] – não quero te chatear! Conversa com Faith...

(essa na verdade não era a minha vontade, mas ela era a pessoa mais próxima dele neste momento, e tudo o que eu podia fazer, era desejar para que ela fosse a melhor também).

[Tom] – nãooo, eu to indo aee, a não ser que vc não queira me ver!!!

[Pimmie] – é claro que eu quero!!!

[Tom] – isso aqui ta surreal demais, eu preciso de algo que me acorde... 15 min toaee!

[Pimmie] – ;)

– Crispin! – disse minha mãe entrando na biblioteca novamente – eu e a senhora Cohen iremos a uma loja na cidade conferir se ela não perdeu o camafeu por lá, por que não o achamos aqui, e ela acha que deve ter deixado cair ou algo do tipo enquanto provava as roupas que comprou ontem, você gostaria de ir? De lá pretendemos nos encontrar com Charlie, Sammy e Mr. Cohen no country club...

– Mamãe, eu até iria, mas marquei de conversar com o Thomas, ele tá arrasado com toda essa historia da mãe dele...

– Bem, eu te entendo, diga-lhe de deixei-lhe um beijo.

Beleza!

Aqueles minutos pareciam milhares deles, era uma espera árdua e ansiosa, como se eu não o visse por décadas, entretanto tudo o que eu sentia por aquele garoto, todo o meu amor, me fazia cada vez mais não querer estar longe dele nem por um segundo sequer, a sua presença, o seu cheiro, o jeito de falar e as pequenas delicadezas, me emaranhavam cada vez em seus apegos.

(James Vincent McMorrow – And If My Heart Should Somehow Stop)

E lá estava ele, em seu jeans claro rasgado nos joelhos, com aquela velha camiseta branca surrada, que só deixava-o cada vez mais lindo. E quando surgiam aqueles olhos verdes iluminados pela luz do sol, eram como se faróis pudessem penetrar todos os meus sentidos, e como sempre, não podiam faltar os sorrisos, céus, que sorrisos eram aqueles.

Hi – disse ele com uma vez sutil e me abraçando imediatamente com uma força absurda, abraçava como se não quisesse mais soltar, comprimia todo o meu corpo magro no seu corpo firme e torneado, e cheirando os meus cabelos por de trás da orelha, me apertando cada vez mais. Eu podia ouvir o ritmo do seu coração batendo acelerado, a sua respiração ofegante e penosa, e a cada aperto, a cada toque dos seus braços sobre meu corpo, me faziam estremecer e me perder infinitamente neles. – Sorry... – disse ele se afastando e demonstrando algum desconcerto, procurando ver se havia alguém por perto.

Don’t be, there’s nobody home!

Eu estava quase enlouquecendo dentro de casa – disse ele com a voz embargada.

– Quer ir pro meu quarto? Conversar mais tranquilo... – sugeri.

Yep... – ele então segurou firme na minha mão e estendeu o braço para que eu o direcionasse – dahora essa caravela – disse ele passando as pontas dos dedos sobre ela, que estava no criado mudo ao lado da minha cama.

– Foi um presente da Genie – respondi com um sorriso estampado – senta, fica a vontade – argumentei lhe mostrando a cama – vou lá na cozinha pegar uns snacks e um suco pra gente!

– Não! – Respondeu ele segurando pelo meu pulso enquanto eu ia saindo do quarto – não! – ele então se levantou colocando-se na minha frente e começou a me beijar terno, mas com vontade, acariciando minha nuca e intensificando cada vez mais os toques e caricias. Nesse instante parou, e rapidamente trancou a porta do quarto.

What you doing... – perguntei confuso e ao mesmo tempo ciente de algo.

Shhh... – disse ele levando seu dedo indicador a minha boca e silenciando-me delicadamente, começou a me beijar de novo e aos poucos foi me deitando na cama ficando por cima de mim, jogando todo seu peso sobre meu corpo e me tocando por todos os lados, fazendo com que meus sentidos fossem ao êxtase, (como era maravilhoso sentir seu peso sobre mim), ele então tirou sua camiseta deixando seu torso levemente bronzeado e definido a vista, com sua mão levou a minha sobre seu peito, fazendo-me toca-lo e descendo aos poucos pelo abdômen, cintura, cochas, e num movimento sutil, tirou seu jeans levando junto a cueca preta que usava, ao mesmo tempo arrancando com desejo minha bermuda e camiseta, deixando-nos completamente nus e entregues. Deitou sua boca sobre meu umbigo dando beijos delicados e voltou para os meus lábios novamente.

Its my first time! – Falei baixinho lhe fitando aqueles olhos verdes que penetravam todo o meu ser. Ele então sorriu docemente dizendo:

Lets make the best one… E começou a beijar cada centímetro do meu corpo empalidecido e arrepiado, chegando então ao ponto crucial de tudo, levando-me ao delírio, aquilo era definitivamente delicioso! – Espero que todo esse contorcer seja por estar sendo bom – enfatizou ele, sorrindo e me fazendo corar, quando interrompeu sugestivamente o que fazia.

Well, let’s make you blush now… - respondi lhe dando um beijo e lançando meus lábios, língua e saliva, no meio de suas pernas. Após alguns minutos, me puxou para cima dele selando-me a boca, e me virando de costas, lentamente foi dando inicio as suas vontades, me fazendo subjugado prazerosamente a elas, e com suas mãos firmes e grossas acariciava minha cintura e meu abdômen em seus movimentos, enquanto me penetrava suavemente e delicadamente chupava meu torso, fazendo-me arrepiar por completo, cruzando seu braço forte em volta do meu pescoço levando seu bíceps na altura da minha boca e deixando-o livre para os meus beijos molhados.

...

Eu estava idiotamente admirando o teto em cima da minha cama, estava deitado nos braços de Thomas, e apenas divagando sobre tudo o que havia acabado de acontecer, e como foi maravilhoso cada segundo.

Say something... – disse ele passando a mão no meu rosto.

– Isso tudo aconteceu? – perguntei rindo ficando de bruços em cima dele, e rindo bobamente – desculpa, isso tudo é novo demais pra mim, eu não sei se a minha reação é a mais adequada – respondi corando.

– Pimmie – risos – isso normal, é a sua primeira vez afinal. Alias, a nossa primeira vez... Isso é o que importa! Look at me Pimmie boy... – ele então levantou meu queixo e me olhando nos olhos, acariciando o meu lábio inferior com o dedão deu-me um beijo na testa dizendo:

I Love you! I fucking Love you... – deixei cair uma lágrima, que fora limpada pelos seus dedos e lhe retribuí dizendo com um beijo intercalado.

I Love you more! – sussurrei – I Love you more. – e continuamos nos beijando, dando inicio novamente a todo aquele fôlego.

...

– Caralho, a hora voou, minha mãe deve estar preocupada – apontou ele colocando a cueca em seguida a camiseta. – são seis horas, você trate de já ir pro seu banho, que daqui a pouco já é o jantar em casa!

– Queria tomar esse banho junto com você – respondi jogando o lençol da cama sobre minha face envergonhada, ouvindo uma gargalhada dele, que por sinal, eu não ouvia há algum tempo já.

– Pra quem acabou de dar inicio nessa vida, você já esta bem saidinho... – respondeu ele jogando um travesseiro em cima de mim – calma – disse subindo na cama já devidamente trocado e puxando o lençol do meu rosto – A gente vai tomar muito banho junto ainda – e piscou me dando um beijo na testa e saindo apressado do quarto – Te espero, não vai atrasar heim...

Explicar esse momento para mim mesmo, ou para qualquer um que fosse, seria o mesmo que tentar explicar para um ateu a existência divina, ou melhor, explicar a um religioso, a teoria do big-bang, sim, eu estava eufórico, todo aquele desejo e sentimento eram latentes em mim, mas não mais, sem mais mentiras, pelo menos naquele momento e, sobretudo para mim! Eu estava por fim, livre.

Hey seu puto – Adentrou Sammy com tudo no meu quarto, enquanto eu ainda me desenrolava dos lençóis – cabei de ver o Thomas saindo...

– Porra Sammy, quantas vezes eu tenho que te falar para bater antes de entrar...

Hey... Espera um minuto, você tá... – perguntou ele puxando o lençol com tudo e me vendo: – pelado! Caralho... você meteu com o Thomas – gargalhou – não acredito, por isso essa cheiro de sexo da porra aqui dentro, não to acreditando seu safado!

Sammy... shut the fuck up!

– Awn, I can’t believe it, my little princess is not virgin anymore – disse ele aos risos e vindo para me dar um abraço.

– Sam, cala boca, para de falar asneira! Sai agora do meu quarto. Me deixa, me solta Sam! – eu esbravejava tentando me desvencilhar de seus abraços.

It hurt? – disse ele fazendo uma careta de dor e rindo.

Get the fuck out, douchebag! – falei nervoso e ao mesmo tempo envergonhado.

If you don’t tell me the truth I’ll call mom!

– What? Get out…

– Moooooom!

Ok… ok, I’ll tell you fucking douche – ele então deu um sorriso esperando a minha resposta.

– Eu transei com ele! – respondi de cabeça baixa.

– Doeu? – perguntou ele rindo.

– Sammy?! – atei – Um pouco – respondi inconformado – já deu de humilhação por hoje? – concluí.

– Maninho – argumentou ele rindo – eu já havia lhe falado que eu sempre te zoaria de uma forma ou de outra, então não leve isso tão a serio – risos – Love you! – e saiu do quarto rindo chacoalhando a cabeça.

Dickhead – murmurei – indo em direção ao meu banho.

...

Já no final do jantar, carregado de silêncio e sentimento, pude notar a aparência debilitada de Mrs. Green. Toda aquela cena era para ela um tremendo esforço, pois o câncer havia tomado-a de maneira agressiva e rápida, e eu simplesmente não podia acreditar que aquela era a mesma senhora que eu conhecera semanas atrás.

– O jantar estava maravilhoso Mrs. Green – agradeci cordialmente.

– Oh querido, agradeça a Faith, ela fez boa parte dele, alias, o combinado era o Thomas ajuda-la, mas ele simplesmente sumiu a tarde toda. – e claro, o motive desse sumiço fora por conta do ocorrido.

– Parabéns pelo jantar Faith! – elogiei-a delicadamente.

– Obrigada - respondeu ela, pela primeira vez, gentil.

– Thomas, me ajuda ir até o jardim, pedi para que o vovô ascendesse uma fogueira para nós essa noite a beira do gazebo.

– Mamãe esta ventando um pouco lá fora...

– Não vão ser ventos que irão me matar. Por favor, vamos?! – respondeu levemente brava.

– Bom, enquanto isso eu vou até a cozinha buscar sorvete para nós, o que acham?

– Boa ideia menina Faith – disse Mr. Hammer, avô de Thomas.

– Eu te ajudo Faith! – sugeri me levantando em seguida.

– Ok! – disse tomando o caminho da cozinha.

(David Gray – Lullaby)

– Enquanto você pega o sorvete no freezer, eu vou pegar as taças – dizia educadamente e com o tom de voz suave. No momento em que me virei para abrir o freezer e tirar o pote de sorvete, escutei o barulho de uma taça caindo no chão e se espatifando, quando então dei atenção para o que acontecia, encontrei Faith aos prantos, levando a mão na boca para abafar o choro:

I can’t handle anymore, I can’t handle anymore – dizia ela num choro copioso e dolorido se apoiando no balcão da cozinha.

– Faith! – me aproximei em compadecimento, o meu único gesto fora de abraça-la, sendo então retribuído por ela, que derramara todo o seu pranto em meus ombros. Após alguns segundos, estancou todo o choro e desatou a falar:

– Me desculpa, eu... Você não precisava ver essa cena... Mas, isso tudo simplesmente esta me matando por dentro... – dizia ela segurando o choro – eu conheço a mãe do Thomas desde criança, e ela sempre dizia que eu e seu filho nos casaríamos um dia. – Disse trazendo um suave sorriso – Sempre fomos próximos uma da outra, ela sempre alegava que eu era a filha que ela não pode ter! – eu apenas ouvia e observava o seu desabafo – eu não sou uma pessoa má... Crispin, eu só nunca suportei perder alguém que eu amo...

– Faith – tentei interrompe-la

– Me deixa concluir – argumentou levantando uma das mãos, tremendo o queixo – eu não te odeio! Se em algum momento você pensou isso, não, eu nunca te odiei! Eu só tenho muito, muito ciúme de você... – e sorriu desconcertada – Pois é você quem ele ama! – ela então começou a chorar baixinho – Eu nunca perdi o Thomas Crispin, porque na verdade eu nunca o tive pra mim – revelava tentando embargar o choro – Ele é tudo para a Mrs. Green, e é sim, muito importante para mim, então, a única coisa que posso te exigir de tudo isso é... Cuida bem dele!

– Me desculpa... – Respondi. O que me tomava naquele momento, além da vontade imensa de chorar, era, sobretudo, um sentimento de culpa, pois tudo aquilo que ela falava penetrara de forma fatal dentro do meu peito, e o pior, tudo sentidamente sincero.

– Nunca se desculpe... Crispin, por amar alguém e por ser amado de volta. – concluiu – Acho melhor voltarmos antes que deem falta de nós. – eu apenas acenei um sim com a cabeça, enquanto ela tomava a frente.

– Faith! – Exclamei baixinho, fazendo-a virar-se para mim – Thank you for this... – e derramei uma lágrima limpando rapidamente com a manga da camisa.

...

– Mas que demora foi essa? – Indagou Mrs. Green – foram ao polo norte buscar o sorvete – risos.

– Minha filha, essa piada é sem graça até para velhos que nem o seu pai – riu Mr. Hammer.

– Eu sei papai – risos – é para descontrair! – e riu novamente.

– Então, vamos ao que interessa! – Thomas levantou-se pegando as taças e distribuindo uma para cada em seguida enchendo-as com sorvete.

– E vocês dois com essas carinhas de choro?! – perguntou Mrs. Green.

– Nada disso – argumentou Faith rindo – é de assustada, eu quebrei uma de suas taças Mrs. Green.

– Isso não é nada Faith! Depois se compra mais – Thomas vai lá dentro e traga o som mais próximo da porta, não escuto nada... Alias, volte o cd!

– Aquilo é muito depressivo mamãe!

– Não é depressivo, é arte meu filho, o coloque pra tocar, temos a noite toda para ouvi-lo e conversarmos. Por favor, faça isso...

– Ok... David Gray novamente.

(David Gray – Nemesis)

– Nossa! A melodia, a voz, é muito bonito Mrs. Green, o cantor de fato é muito bom...

– Claro que é... Você é todo depressivo também... – atou Tom sisudo, mas me dando uma piscadela.

– Deixa o menino Thomas. – Ralhou a mãe – gostou do cd filho? – perguntou-me docemente.

– Sim! É lindo Mrs. Green...

– Então é seu...

– Acha! – exclamei – jamais! Não posso aceitar...

– Claro que pode, é um presente... Qual será a utilidade dele afinal, se eu não estiver mais aqui para ouvi-lo, você acha que esse meu filho aqui vai ouvir? É seu e ponto final... Hoje de manhã eu estava me lembrando de quando eu tinha a idade de vocês...

– Bem... Isso faz algum tempo então minha filha – disse Mr. Hammer rindo.

– Claro papai! – respondeu ela, fazendo com que todos rissem. – É engraçado como a vida da voltas... Como ela é cheia de surpresas. Na idade de vocês eu também tinha grandes amigos, mas, tinha um grande amigo em especial, que eu infelizmente não soube valorizar...

– Alice...

– Me deixa contar a historia papai... Não tem nada demais, só o fato de que eu fui errada com ele, ou melhor, errei porque julguei mal aqueles que realmente deveriam estar ao meu lado. O mais interessante Crispin, é que esse meu grande amigo era o irmão do seu padrasto Charlie – risos – coincidência não é verdade?! – disse ela admirando o meu olhar pasmo – e eu sempre dizia a ele que um dia nossos filhos estariam aqui, nessa mesma varanda, em volta de alguma fogueira ou algo do tipo, confraternizando, batendo um papo, mas isso, bem... Isso infelizmente não aconteceu, ou melhor, o pior aconteceu. E como eu me arrependo disso – dizia ela pensativa com os olhos voltados para o céu estrelado que fazia – entretanto, agora, isso é tão passado quanto a minha vida foi um dia. Mas olha que engraçado, hoje não é o filho dele que esta aqui, em volta de uma fogueira com o meu filho, mas é certamente o “sobrinho” postiço dele – risos – e isso, já me é de alguma valia. Se não, a maior delas. Mantenham isso, Faith, Crispin, meu filho – disse ela momentaneamente séria – Momentos assim, são preciosos. - Todos então mantiveram atados em seus silêncios, apenas refletindo sobre as palavras ali ditas e tudo o que ela significava para cada um que ali estava e principalmente para Mrs. Green.

– Bom, eu vou levar a Faith, antes que o pai dela me liga – disse Thomas se levantando, demonstrando uma face cabisbaixa e triste – Pim você gostaria de uma carona?!

– É... Não Tom, eu vou caminhando pela praia, a noite esta propicia! – respondi.

– Ok então! Mamãe – disse ele dando-lhe um beijo – eu já volto.

– Ok meu querido.

– Bem Mrs. Green, Mr. Hammer, muito obrigado pela noite agradável! Eu... Eu estou muito feliz por essa recepção.

– Volte sempre querido!

Voltar caminhando sozinho era certamente a melhor coisa para mim naquela hora, pois eu precisava profundamente refletir sobre tudo o que havia acontecido ali naquele jantar, sobre todos aqueles momentos de cada um que estava ali, presos ao sentimento mutuo de perda, mas sobretudo, a de não deixar perder, jamais. Entre aqueles passos pesados na areia e os pensamentos em forma de turbilhão, chorei. Por Thomas, por Faith, pela Mrs. Green, por nós.