Um Tom a Mais

- The 4th of July Ball – Parte 2


À medida que os convidados chegavam à casa dos Cohen, eu percebia que aquele evento era sem duvidas “O Evento” dos Hamptons, a festa, decoração, tudo estava devidamente perfeito, pairava no ar (pelo menos para mim), uma nostalgia daquelas festas super chiques dos anos cinquenta, tinha uma banda de Jazz sensacional acompanhada de um vocal poderoso, era uma mulher exuberante, negra, vestida em renda branca e gesticulava e cantava como se lhe fosse a coisa mais fácil do mundo, a música por fim era o que mais me agradava, se antes havia algo que me fazia pestanejar quanto a estar ali, bom, o clima, o ambiente, e Nina Simone, era o que tocava, já havia me convencido o suficiente. (Nina Simone – Wild is The Wind)

– Você esta lindo! Sussurrou uma voz ao pé do meu ouvido, me fazendo olhar ávido para trás. Visualizando então Tito, que estava, digamos muito lindo. Aquele ar de rapaz rebelde e cabelos curtos, vestindo um tux, certamente me excitou.

– (risos) Você não perde o costume de me surpreender! Respondi acanhado.

– Para! Hoje é festa, extravasar é o lema! Respondeu sucinto.

– Cadê a Genie? Perguntei curioso.

– Adivinha?! O Tom deve chegando com ela. Para minha decepção momentânea. – Nossa isso aqui tá animal, vou procurar algo para beber!

Quando Tito saiu, vi entrar pela porta principal o Tom. Era um príncipe, um verdadeiro lorde inglês, estava mais do que nunca lindo, muito lindo, além da beleza natural que sempre exibia, parecia que o tux que ele usava era uma vestimenta extramente trivial para ele, era como se portasse uma armadura, e sem exageros, chamava devidas atenções de certa parte dos que ali na festa estavam. Enquanto eu descia todo o meu olhar sobre ele, pude perceber então uma mão seguramente atada a de Genie, eles entravam ali, mais do que nunca, como um casal. E aquilo me fez perder toda e qualquer definitiva esperança.

– Pronto, consegui com alguma dificuldade, os garçons me olharam feio, mas acho que em festa de ricos, eles não questionam muito (risos). E entregou a bebida em minhas mãos enquanto eu o puxava mais para o canto a fim de não perceberem dois moleques se embebedando no meio da sala.

– Toma mais cuidado, se minha mãe ver isso, ela surta!

– Relaxa, ninguém está preocupado com isso agora. Acabei de ver a Genie entrando com o Tom, vou lá chamar ela, você vem?!

– Não! Respondi seco – vai você.

– Ok! E saiu.

Naquele momento, eu estava ali, sozinho e ponderando sobre a entrada majestosa de Tom na festa, aquele filho da mãe tinha realmente o dom de me desestabilizar. Ao mesmo tempo eu cobrava de mim mesmo uma posição a respeito de Tito, afinal, aquele garoto desde o começo havia sido comigo tão gentil e amável, sempre com elogios e me colocando para cima, e eu insistia num amor platônico por um garoto que certamente não me via da mesma forma. É incrível como o ser humano tem a sofrível tendência de se apaixonar por aquele que não lhe corresponde. Eu estava ali, entre a cruz e a espada, entre o meu desejo e paixão latente por Tom, e entre o amor claro, leve e sincero de Tito.

Por um instante, vi minha mãe atravessando o salão de mãos dadas com Charles, com um sorriso que eu não via há muito tempo, ela estava alegre, era nítido, e assim como ela, eu queria de alguma forma estar motivado em estar ali, a minha decisão então fora rápida. No matter what, I’ll make this happen. E decidi que beber tudo o que eu podia, era a melhor opção.

– Acho melhor você ir como calma, se a mamãe te pega! Disse Sammy me pegando de surpresa virando uma taça de champanhe.

Porra, você não vai contar pra ela vai? Respondi. Ele então me olhou profundo nos olhos e disse.

– Pim, a bebida não vai te fazer melhor e nem vai te trazer o melhor, ou pelo menos aquilo que você acha ser o melhor para você. Para, pensa um pouco. Eu então comecei olhar para ele com uma estranheza do cão, como assim? O que ele estava tentando me dizer? Era como se ele tivesse de alguma maneira decifrado o que eu estava tentando fazer.

– Eu... Eu só estou tentando relaxar um pouco! Respondi confuso.

Tá bom! Mas pega leve, você não vai querer estragar isso aqui tudo ? Apontando o dedo para a festa monumental que corria.

– Deus me livre, acho que a mamãe me colocava num internato até meus vinte um anos.

Be cool! E saiu andando, enquanto eu meditava nas suas palavras, que confesso, me deixaram confuso, afinal o que ele quis dizer com tudo aquilo. O Sammy era desses garotos mais músculos e menos cérebro, só que de vez em quando como um acaso da vida, soltava essas palavras que certamente me deixavam bastante confuso e pensativo.

CARALHO! Ouvi um grito histérico fazendo algumas senhoras olharem desconcertadas com o palavrão. – Como você ficou lindo Pim. Era Genie e toda sua desenvoltura – nossa eu te pegava heim (risos), o meu irmão lá na piscina, parece que ele achou um amigo do simpósio de medicina em Boston, e tá trocando uma ideia com ele, vamos lá com a gente!

– e o Tom?

– Relaxa, nesse momento ele esta fazendo um social com a família dele e os amigos dos pais dele. Boring! Na verdade a minha pergunta não era para evita-lo e sim para saber onde de fato estava. Eu queria nem que fosse um olá ou uma boa noite, o ouvir falando comigo, pois as situações mal resolvidas dos últimos dias ainda me tiravam o sono.

– Ok! Vamos. Enquanto eu atravessava parte da casa, pude avistar Tom aos risos com os pais, e neste momento eu o olhei a fim de encara-lo quando subitamente ele fizera o mesmo, por leves segundos eu continuei, mas em seguida abaixei a cabeça e continuei andando com Genie em direção à piscina.

– Aqui estamos! Disse Genie me empurrando para cima do irmão dela e me deixando devidamente desconcertado. Porém a atitude de Tito para comigo, fora sem dúvidas o que realmente me fizera sentir vontade de enfiar a minha cabeça num buraco.

Branson, this is Pim, my boyfriend! WHAT THA FUCK! Pensei como se tivesse realmente gritado isso, eu simplesmente fiquei atônito, sem reação, enquanto Genie ria abaixando a cabeça e Tito passava o braço pela minha cintura como quem dissesse – esse tem dono – nesse instante, eu olhei para ele e abri a boca como quem fosse responder, mas a gravidade da afirmação dele me deixara mudo. Subitamente olhei para o lado e avistei minha mãe e Charles do outro lado da piscina, foi quando eu então consegui tomar alguma atitude.

– Tito – enquanto eu desvencilhava o braço dele de mim – eu acho melhor eu ir ali cumprimentar minha mãe – como se eu já não a tivesse visto, mas naquele instante, aquela fora a única frase que consegui formular. Ele então olhou para mim e veio como quem quisesse me dar um beijo, afastei o rosto e disse-lhe no ouvido – o que tá acontecendo com você?! Ele então me olhou deu um sorriso e disse:

– Vai lá, vou pegar uma bebida pra nós!

– Melhor você maneirar! Respondi de saída.

Eis que enquanto eu caminhava em direção a minha mãe comecei a pensar, será que realmente Tito pensava que estávamos namorando, como assim, aquilo de fato começou a me preocupar, porque eu de forma alguma queria iludi-lo, não que eu não sentisse nada por ele, sim eu nutria algum sentimento, mas não ao ponto de ser apresentado como um namorado, ainda mais um namorado numa festa de gala do namorado da minha mãe, e se isso caísse no ouvido dela, deles. Eu não havia sequer se assumido para mim, quanto mais assim, dessa maneira. Encostei-me em um dos bares temáticos da festa a fim de desafrouxar a gravata e respirar um pouco, quando o bartender sem nem perguntar me trouxe uma bebida na mão, eu então olhei para ele como se entregasse a minha idade, lhe fazendo sorrir e dizer:

– Calma garoto! Eu percebi que você é menor, mas você se quiser, vai conseguir beber de qualquer maneira, e a propósito, me parece que você realmente esta precisando de uma bebida, mas para não dar problemas pra mim e pra você é melhor sair, antes que eu te tome o copo.

Então eu saí, e lhe dei um cordial sorriso de canto de boca, e direcione-me para um dos jardins que evolviam a festa, sentei-me em um banco de ferro que estava coberto por uma tenda de madeira decorada com seda e rosas brancas. Não haviam muitas pessoas envolta, aquele era um lugar mais afastado do ápice da festa, estiquei minha pernas tirando os sapatos e dei um gole superficial na bebida, olhei para cima e comecei a admirar as estrelas, fechei os meus olhos por alguns longos segundos e abrindo-os novamente me deparo com ele.

– Pra mim nunca é difícil te achar, basta eu deduzir o lugar mais escondido, que certamente você vai estar lá. Disse ele, calmo e sutil, me fazendo sentar de forma mais ereta possível. – A festa tá tão chata assim?! Perguntou ele.

– Não... É que, eu só queria espairecer um pouco! Ele então se sentou do meu lado ajeito o cabelo liso que lhe caia na testa, e tirou um cigarro do bolso esquerdo, me fazendo indagá-lo. - Desde quando você fuma agora?

– Não fumo! Respondeu ele levando o cigarro na boca e dando uma tragada profunda. – Mas hoje eu quis espairecer também.

– Bem, essa não é a forma mais saudável! Respondi grosseiramente.

– Bem, a sua sinceridade também não é a mais saudável! Respondeu irônico.

– Se você veio aqui com o intuito de me insultar, acho melhor eu sair, ou melhor, você sair, porque eu cheguei aqui primeiro!

– (risos) Calma Pimmie, primeiro foi você quem começou, segundo, eu não vim te insultar! Mas se você quiser que eu saia, eu saio! E olhou para mim com aquele olhar que só ele sabe dar.

– É, não, você não precisa sair! Respondi disfarçando o meu olhar para o lado.

– Eu voltei mesmo. Eu voltei aquele dia a noite de novo para falar com você. Mas pelo jeito não foi tão importante assim pra você! Ele me respondia o que eu já sabia sobre ele ter voltado na casa do Charles no dia em que brigamos, e havia dito no café que eu sabia do seu retorno.

– Como assim? Eu nem sabia que você estava lá!

– Mas você viu quando estava chegando que eu estava lá, me viu indo embora e não fez nada! Respondeu ele me olhando como quem perguntasse por quê.

– Eu... Eu não sabia como reagir. Respondi direto.

– Nem eu, por isso eu voltei! Eu então assustei com a informação, e um milhão de pensamentos começou a bombardear minha mente. Ele começou a me olhar como quem pedia por respostas e mais respostas, e a única que eu conseguia dar em pensamento era, o que esta acontecendo aqui? – Pimmie, me desculpa por aquele dia no café, me desculpa pelo empurrão que eu te dei, me desculpa, eu... Eu só queria resolver isso! Ele se levantou e parou em minha frente, de lado com as mãos no bolso da calça enquanto olhava para o mar do outro lado do jardim. Fazendo com que eu também me levantasse e me pusesse ao seu lado.

– Eu também te devo desculpas! Você não tem culpa de nada, nada mesmo, desculpa se em algum momento eu te fiz parecer isso, mas tudo isso, tudo mesmo, me pegou de surpresa tanto quando você. Eu, eu... Gosto muito de você Tom, e sinceramente não queria que nossa amizade acabasse dessa maneira. Ele então virou para mim e deu um terno sorriso, tirando uma das mãos do bolso e me puxando pra perto dele, para minha total inércia se aproximou de mim e me deu um beijo no rosto. Era um beijo molhado, demorado, e consciente, era, sobretudo terno e cheio de carinho, aquilo fez com que minhas pernas ficassem bambas, afinal, o que era aquilo, porque ele fazia aquilo, porque ele decidiu mais uma vez me atormentar com tal atitude. Ele então se afastou e sussurrou no meu ouvido – Não vai acabar! Mais uma vez eu estava ali, a mercê das minhas interpretações pueris, afinal, eu estava vendo coisas demais, e aquele era apenas um amigo hetero bem carinhoso, ou ele estava me dando sinais e apenas me pedindo para ter (indiretamente), paciência. Naquele instante começou a tocar uma música que estava na minha lista das top dez, (Diana Krall – Bye Bye Blackbird – Version).

– I love this song! Fazendo-me lhe olhar surpreso.

– What?!

– I love this song! Disse ele novamente.

– Uau…This is definitely the surprise of the night!

– Eu não sou só músculo Pimmie, caso você não saiba, eu toco piano.

– Na verdade, duas surpresas então! (risos)

– (Risos) Você tá achando o que? Que eu só me interesso por futilidades? Claro que esse tipo de música não é a minha favorita, incluindo a sua lista de músicas depressivas – entre risos – mas essa música em especial eu gosto, era a favorita da minha avó. Naquele instante eu fui novamente me adaptando com seus sorrisos e brincadeiras, eu estava de certa forma com saudade daquilo, quando ele subitamente virou-se para mim e me puxando para si disse, - vem, vamo dançar – e me agarrou, passando seu braço sobre minha cintura e me conduzindo aos seus passos enquanto eu lhe olhava assustado e envolta, a fim de avistar algum conhecido. Tom então deu um leve sorriso e disse, - relaxa, a gente não fazendo nada demais – bom, aquilo por certo poderia não ser nada demais para ele, mas para mim era definitivamente o céu. Num instante enquanto ele me conduzia aos risos e desconcertadamente eu ria junto, olhei para o lado e avistei Tito nos fitando, em seguida se aproximando segurando o braço de Tom e dizendo;

Take off your fucking hands from him, asshole!