Um Tom a Mais

- Hopes of a Better Life -


Entre todos os sentidos que um dia em mim foram escondidos, e devidamente suprimidos por mim mesmo, estar ali naquele momento, como em alguns outros dos dias passados, me abrindo, e deixando claro o meu posicionamento, o sentido que certamente mais me acometia era, como eu de uma hora para outra conseguia tão inconsequentemente ser aberto e despojado de meus próprios receios? Como eu podia sem nenhum pudor, não mais me esconder, e embarcar como sempre em meu ostracismo latente e dilacerante? Enfim, essas eram perguntas e sentimentos que me vinham constantes, porque eu já não era mais dominado por aquele pueril jeito de ser, pensar, de outro tempo da minha vida pacata, eu aos poucos, e sofregamente estava me entregando à verdade dos fatos e àquilo que eu realmente queria ser, falar e pensar, e se isso de alguma forma repercutiria ruim ou bom, isso, bem, isso já pouco me importava, contanto que eu não mais me matasse por tirar de mim, o beneficio da dúvida!

Após Tom, se autodeclarar confuso, em meio aos risos e piadas que fazíamos, ele como sempre, subitamente levantou-se e retirou-se dizendo que havia terminado por ali, mal tocou no prato que comia, e partiu deixando para trás minha cara de idiota sentado a mesa que pouco antes fui forçado para lhe acompanhar naquele almoço estúpido. O que eu fiz fora o mesmo, levantar-me e sugestivamente voltar para a casa do Charles. No caminho para casa, parei em uma lojinha de souvenir que havia na avenida principal de Easthampton para comprar uma pequena caravela de porcelana que avistei e achei perfeita para minha coleção de naus que eu tinha em casa.

– Quanto é este? Perguntei à senhora que estava atrás do balcão.

– Duzentos dólares! A minha expressão foi de profundo desanimo, duzentos dólares em uma caravela de dez centímetros, do que era feito, ouro? Mas me lembrei, eu estava em Hamptons.

– Poxa! Eu realmente queria ficar com ela, mas não será dessa vez! Respondi sorrindo e me dirigindo a porta de saída, quando em seguida escutei uma voz conhecida respondendo:

– Pode embrulhar para ele, eu vou pagar! Quando olhei era Genie saindo de trás de uma prateleira enorme de conchas e estrelas do mar.

– Hey! Perdida por aqui?! Respondi sorrindo e lhe dirigindo um abraço.

– Você também pelo jeito ?! Você sumiu! Ela olhou para mim com um olhar devidamente condenatório a despeito do meu sumiço.

– Sumi não, apenas me retirei deste cenário abastado. Respondi rindo.

– Você e sua mania depreciativa! Respondeu-me ela aos meus mesmos comentários sobre a vida abastada e fútil dos Hamptons. – você precisa deixar de ser menos observador e mais apreciador – disse ela se dirigindo ao balcão com mais algumas conchas e alguns porta retratos e pedindo que a senhora pegasse a caravela da vitrine e embrulhasse para presente.

– Desculpa, eu vou tentar melhorar isso! E não precisa pagar a caravela, eu vou buscar o cartão com minha mãe e volto para pegar.

– Larga mão de ser chato, é um presente!

– Não posso aceitar! É muito caro.

– Bom, se você não aceitar, eu comprarei do mesmo jeito, e a jogarei na primeira lixeira que eu encontrar quando sair daqui. Respondeu ela decidida.

– Você não seria capaz disso! Respondi duvidando.

– Bom, é o que vamos ver agora! Obrigado senhora, adorei sua lojinha, voltarei mais vezes até o fim do verão. E saímos os dois lado a lado – o que você pretende fazer hoje à noite? Perguntou-se Genie.

– Por enquanto nada. Aliás, meus dias têm sido bastante tumultuados para inventar algo.

– Você e o meu irmão discutiram, fiquei sabendo.

– Corrigindo, o seu irmão discutiu comigo, ou melhor, com o seu namorado, depois comigo, numa crise de ciúmes infantil. Respondi a fim de elucidar melhor a informação que ela tinha.

– Calma, não precisa se alarmar, o que quis dizer é que fiquei sabendo.

– Na verdade foi uma besteira. Já está tudo resolvido! Respondi.

– Será? Respondeu-me ela me olhado de canto com a sobrancelha arqueada.

– Como assim será? Claro que sim, já te disse, foi algo totalmente idiota, e não faz sentido levar isso a diante.

– Você dançou com o Tom... – Neste instante eu dei uma leve titubeada, e comecei a olhar para ela, tentando analisar o que queria dizer com aquilo – ou não dançou?

– É... Não foi bem esse tipo de dança que você esta pensando Genie!

– E no que eu estou pensando? Perguntou ela mais uma vez arqueando as sobrancelhas, aquilo parecia um interrogatório.

– Não da maneira como casais dançam eu quis dizer, com algum tipo de sentimento.

– Bem! Recíproco você quer dizer então?!

– Como assim? Perguntei, interrompendo nossa caminhada na avenida.

– Você disse que não era como casais, não com algum sentimento. Quero dizer, talvez não com sentimento da parte dele, do Tom, de garoto para garoto, se é que você me entende, mas acredito que da sua parte tenha rolado sim algum sentimento. Nesse instante meu rosto queimava de ódio e formigava com insinuação dela, como assim, ela havia deduzido tanto sobre mim, como ela podia sugerir algo de mim, se ela não era eu, se não era ela que estava ali dançando com o Tom, foi então que comecei a responder de forma agressiva.

– Acho que você esta começando a confundir o nosso grau de amizade, esse sim, é um sentimento que talvez você ainda não tenha sabido interpretar. Genie então me olhou assustada em seguida dizendo.

– Hey calma, pode guardar os dentes, eu só estou aqui como amiga e conversando com você, quer dizer, se é que nosso grau de amizade permite?! Respondendo-me cínica.

– Do que você esta me acusando afinal Genie, pode falar?! Aonde você quer chegar com todas essas perguntas?!

– Espera aí, ao que me consta você que esta se intimidando, não eu, só te fiz algumas perguntas bobas, e você esta aí todo ofendido como se eu tivesse te denunciado para o mundo. First of all, I am not, accusing you of anything, second, what I have to accuse you? Calm down. Sabe Pim, eu não te entendo, não mesmo, gosto muito de você e tenho ainda que por pouco tempo de amizade um carinho imenso por você, mas ao que me consta você sim, me parece ser o tipo de pessoa que acusa as outras para safar-se de algo. Eu estou aqui numa boa, tentando conversar com você, e você me vem com sete pedras nas mãos como se eu lhe tivesse tomado o mundo. Antes de qualquer coisa eu quero te dizer que o fato de eu ter ficado com o Thomas não quer dizer nada, poxa Pim, rolou, simplesmente isso, eu não fiz a fim de te humilhar ou qualquer coisa do tipo, eu sei que você tem sentimentos por ele, eu sei que você provavelmente gosta muito mais dele do que imagina gostar, e eu sinceramente não quero estar no meio desse fogo cruzado, porque assim como você, ele também é um turbilhão de sentimentos e dúvidas e eu não quero ser parte disso. Eu estou aqui de passagem e não vou engrenar um namoro com um cara que conheço há dias e de outro país, eu quero deixar claro, que não fiz de propósito, e que acredito que você deve sim estar magoado comigo por isso, mas antes de tudo, você precisa definir os seus sentimentos, e pelo o que e por quem lutar. Genie estava categórica em sua fala, carregava um semblante firme e embasado em suas convicções, me deixando atordoado e ao mesmo tempo com vergonha de minhas palavras anteriormente grosseiras. – Pim! Eu estou aqui querendo te ajudar!

– Ficando com o Tom?! Respondi involuntariamente e me silenciando em seguida.

– Pronto, era isso que eu precisava ouvir! Agora sim, algumas verdades. Pim, qual é, eu sei que fui idiota em ter ficado com o Tom, pressenti sim que você tinha uma queda por ele, não vou mentir, mas não imaginei que fosse algo tão forte assim, por isso fui lá e ficamos, mas isso não quer dizer nada...

– Como assim, você fica com uma pessoa e não quer dizer nada? Perguntei.

– Ficamos Pim! Somos jovens, e afinal, você estava com meu irmão, por isso não me importei tanto assim!

– Ah qual é Genie!

– Pim, é o seguinte, nós estamos aqui, frente a frente, e o momento para realmente dizermos o que sentimos um ao outro é agora, por tanto, eu já disse tudo o que eu tinha para dizer! E mais uma vez me desculpa, e afinal, você não precisa mais se preocupar quanto ao meu relacionamento com Thomas, aliás, nenhum relacionamento, apenas... Bem, apenas! Eu então olhei para ela, duplamente surpreso, primeiro, por ela não estar mais com ele, e segundo, pelo seu subjetivo apenas...!

– Como assim? Não estão juntos?!

– Pim, pelo amor de Deus, nunca estivemos! Nós estávamos apenas curtindo, e sei lá, por algum instante poderia rolar algo mais sério, sim, poderia, mas não rolou! Então agora desencana. Pim, eu te adoro, você foi de longe a melhor coisa que me aconteceu aqui em Easthampton, se não fosse nossa curta amizade, eu estaria em mais uma férias chata e parada. Por favor, vamos recomeçar?!

– Genie... Sério, foi mal, eu às vezes tenho essas atitudes infantis, mas, não são por mal! Eu sinto o mesmo por você, de verdade. O que nós construímos nesse pouco tempo, foi e esta sendo bem bacana, então eu também acho que te devo desculpas. O Tom assim como seu irmão, simplesmente aconteceu, mas o Tom, não sei te falar, ele me desconcerta, me desnorteia drasticamente!

– Isso se chama paixão Pim! E contra isso, não há cura.

– Juro, tem horas que ele me faz tão bem, mas têm momentos que ele simplesmente me suga toda a existência, as atitudes dele nunca me ajudam, pelo contrario, me confundem mais ainda! – “Pim!” Me alarmou Genie. – Calma me deixa concluir... E tipo, o Tito, eu não tenho nada do que reclamar dele, porque ele é constante na decisão dele, não tem vergonha de nada, o que de certa forma me deixa até constrangido, - “Pim”, dizia Genie enquanto eu desatava a falar – Calma, eu estou concluindo! Apesar da cena que passamos no baile, ele é um cara bacana, mas Genie, não é ele! E isso me custa, porque seria muito mais fácil se fosse ele...

– PIM! Gritou Genie comedidamente, enquanto eu era tocado pela mão do Tito no meu ombro direito.

Hi Pim! Disse Tito com uma voz calma e ligeiramente baixa, enquanto eu me virava para ele constrangido com o momento, e pela possibilidade dele ter ouvido o que eu havia dito segundos antes.

Hi Ti-To! Genie então me olhou como quem dizia, eu tentei te avisar, porém já era tarde demais. Tito virou-se para irmã e sucintamente lhe chamou para ir embora, que os pais lhes esperavam no carro.

Well, see you later? In my house?

– I… I… I can’t confirm that, but I’ll call you! Ok?! Eu estava nitidamente confuso e constrangido com a presença de Tito.

– Bom, enquanto você vai para o carro, eu vou ali rapidinho no café pegar um frapuccino pra mamãe, vai indo!

– Ok! Pim faz uma forcinha! E saiu em direção ao carro dos pais. Neste momento olhei para o lado e Tito já estava atravessando a rua em direção ao café, e vê-lo caminhando era como se eu o visse perdido em meio a tudo isso, parecia um menino desamparado com as mãos enfiadas no bolso da calça jeans e os ombros devidamente encolhidos e com a cabeça baixa.

– Tito! Eu então gritei seu nome lhe chamando, e acelerando meus passos ao seu encontro. – é... Tito!

Kiddo, don’t worry! This how life works, it’s suck’s I know that, but we all survive in the end. Tito transmitia um semblante abatido e entristecido, enquanto me dizia aquelas palavras, me fazendo sentir um frio ártico no meu coração por vê-lo daquela maneira.

Ty...

– Well, this is new! Disse ele entre suaves risos.

– What?

– The nick-name, I like it!

– Ty, I… I’m sorry?!

– Não há necessidades de desculpas, nós dois fomos pego no fogo cruzado, e contra isso, não há como combater, mas uma coisa eu posso te pedir, sem desculpas, sem pena, sem dó! Talvez eu tenha te assustado com minha atitude no baile, mas esse não sou eu Pim, e talvez você tenha se assustado mais ainda com a minha declaração prematura, “eu te amo”, mas não se assuste, este sim, sou eu, cheio de ímpetos e uma vontade louca de amar! You’re a cool kid Pim, you really, really are! You deserve to be happy, if not with me, with someone who gives you every single day, the feelings of hope to a better life. I won’t fight for you; I don’t need because you already chose! But I like to be your friend. So, see you later at home?!

Quando Tito terminou de me dizer todas aquelas palavras, e eu consenti apenas com uma acenar de olhos, tudo o que me acometia naquele momento, era uma profunda admiração e compaixão por ele, afinal, aquelas palavras haviam de uma vez por todas silenciado qualquer dúvida que eu tivesse sobre seus sentimentos para comigo, aquele garoto de dezenove anos, estava definitivamente me amando, e ainda que por tão pouco tempo, mas com uma devoção o suficientemente sincera para não lutar por mim, sim, a sua escolha em não lutar, não era pelo seu sofrer, mas sim, pela minha escolha, minha vontade, ele poderia, contudo espernear, ir atrás, de fato lutar, mas a sua desistência era, sobretudo pelo meu bem, acima do dele. E eu, ao perceber isso, ao sentir tudo isso vindo dele, me senti nada mais que um lixo.