Um Tom a Mais

- Eu Mesmo Sou uma Confusão -


– Você que é doida! Como assim por todo esse tempo você não me falou sobre um irmão, tipo ele não é da sua família?

(Risos) – Distração Pim, pura distração... Há qualquer momento você ia conhecer ele também, mas foi distração mesmo, e o mais engraçado, eu cheguei falar de você pra ele! Ele é gay também.

Naquele momento os meus sentidos paralisaram, meu senso, ou bom senso foi de up para low em frações de segundos, estava eu tentando me lembrar onde foi a parte que eu havia demonstrado isso, qual movimento, qual gesto, qual palavra alem da infeliz escolha de atores que eu havia denunciado à mim mesmo. Me deu um calafrio no estomago, sentia meus dedos dos pés formigarem, aquela afirmação voltada para mim - ele é gay também – me abalou demais, me deixando estático e sem reação, quando ela então olhou para mim entre os risos e percebendo o que havia feito, através da minha reação começou a se desculpar profundamente.

– Pim, me desculpa, não foi isso que eu quis dizer... Quer dizer eu quis dizer, mas não tive a intenção de ser invasiva dessa maneira, nossa... Mil perdões – eu ainda esboçava um silêncio e estado de choque – Pim, fala alguma coisa, me desculpa é que...

– Quando foi que você achou que sabia disso?! Perguntei sério.

– Eu não sei! Sério, me desculpa, eu não tinha esse direito! Respondeu ela envergonhada e sincera.

– Em qual detalhe, momento ou algo que fiz isso transpareceu para você?! A minha curiosidade sobre mim mesmo, era legítima!

– Pim... Mais uma vez me desculpa, é... Eu não sei, alguns detalhes, fatores, me desculpa, me perdoe por chatear você dessa maneira, não foi minha intenção!

– Eu não estou chateado com você. Eu só perguntei por que talvez isso seja algo que eu precise descobrir. E comecei ali mesmo a chorar, enquanto ela me puxava para um abraço firme e acalentador.

– Ah Pim, como isso me entristeceu agora, me desculpe, mais uma vez, me desculpe, não seria o suficiente, eu não queria te colocar em confusão.

– Eu mesmo sou uma confusão, você não me colocou em nenhuma, eu já estou nela algum tempo atrás. Relatei.

– Eu consigo imaginar o quanto isso é doloroso para você, essa descoberta, ou falta dela! Mas o que eu posso-te dizer agora é, vai passar, juro, isso tudo vai passar de forma tão rápida e uma hora você vai poder se definir lindo e belo como você por fora, por dentro também. Neste momento voltei a chorar novamente, as palavras dela preenchia meu coração de paz, mas ao mesmo tempo de receio, será mesmo que vai passar? – O meu irmão passou uma barra quando resolveu assumir, sofreu muito, e sabe com quem, com minha mãe, se fosse com o pai seria clichê demais (risos), ele sofreu demais, porque a minha mãe simplesmente menosprezou ele de todas as formas, o meu pai que a principio havia criado algum tipo de rejeição, se compadeceu tanto pela situação e tristeza do meu irmão que ele então decidiu ajuda-lo, levou-o num psicólogo, conversou com ele, mas, sobretudo disse que o apoiava, e que gradativamente minha mãe o faria também, depois de um bom tempo, um longo tempo, aliás, aconteceu! Claro que não foi abraços, beijos e conto de fadas, os dois lidam com isso diariamente, mas a aceitação e o respeito ao menos chegaram, e posso te garantir meu amigo, chega, uma hora chega!

– E se nunca chegar?! Perguntei entre lágrimas silênciosas e com a voz embargada.

– E se a sua felicidade nunca chegar? É isso que eu te pergunto! Você vai decidir depender da aceitação de alguém para ser feliz, ou vai ser no matter what?! Neste instante fui tomado de um ímpeto corajoso, eu parecia um desbravador da minha própria natureza, engoli o choro e abracei-a novamente. Mas não seria fácil. – Conversa com o Tito, ele é um máximo, super inteligente, atencioso...

– Mas eu tenho só dezesseis anos. Denunciando a nós dois que se houvesse algum relacionamento, seria criminoso, rindo e segurando a mão dela. (risos soltos)

– Espertinho, de olho no meu irmão, tudo bem, ele é lindo, cheiroso, gostoso, aff que nojo é o meu irmão... Mas não foi isso que eu quis dizer. Disse para vocês conversarem para se entenderem, para buscar alguma resposta caso queira, e a propósito, ele mantém aquela pose pretensiosa de homem mais velho por puro charme, (risos), ele tem só dezenove anos.

– (risos) Agora dá pra encarar! Ri como se de alguma forma já fosse me entregando a mim mesmo.

– (Gargalhadas) Há meia hora você estava choramingando sobre isso, agora já esta aí, querendo o corpo do meu irmão, que mudança drástica!

– (risos) Apenas brincando, você acha que eu realmente tenho peito pra isso?! Foi quando escutei alguém chamando pelo meu nome e o da Genie. Era o Tom, veio atravessando a rua em nossa direção e indescritivelmente lindo, deu um belo sorriso para mim, e antes de me abraçar deu um selinho em Genie.

Eu estarreci, respondi ao aperto de mão dele automaticamente, não tinha entendido ainda, era isso mesmo, eles tinham se beijado? Estava afinal rolando algo? A minha cara de surpresa era nítida ao ponto de fazer Genie notar e questionar.

– Pim?

– Pimmie. Disse Tom para Genie em correção ao primeiro apelido – Pimmie é bem melhor! (risos). Eu então dei um sorriso de canto de boca e perguntei curioso;

– Então vocês estão juntos?! Perguntei invasivamente.

– Calma rapaz, foi apenas um selinho! Respondeu Tom, para a decepção nítida na face de Genie olhando para o Tom e respondendo:

– É! AQUI foi apenas um selinho. E olhou para ele maliciosamente, como se já tivessem feito algo a mais, fazendo com que o Tom corasse de vergonha. Eu então disfarcei meu desconcerto com a resposta um tanto saliente da Genie e engoli a seco, o ciúme que eu havia sentido naquele momento, por hora, eu não podia culpar a Genie, ela era jovem, linda, atraente, qual cara não ficaria com ela ou até transaria, eu estava mesmo com raiva de mim, por nunca ter feito nada a respeito, e por não ter entendido afinal, que eu estava apaixonado por Tom.

– Pizza em casa hoje?! Perguntou Tom.

– Claro que sim né Pim... Pimmie?! Ah posso levar meu irmão?! Enquanto me dava uma leve cutucada ao falar do irmão.

– Claro, claro que sim! Bom, vejo vocês hoje à noite em casa.

...

Cara essa pizza tá muito boa! Disse Tito eufórico por já ter comido vários pedaços e não dava sinal de parar, enquanto Tom trocava caricias singelas em Genie, e eu sempre de alguma maneira dava um jeito de chamar a atenção da Genie para mim na tentativa de livra-la dele. – Pimmie, me ajuda pegar umas cervejas na geladeira. Eu então olhei para Tito com um tremendo ódio, não queria eu deixar os dois sozinhos, mas respondi que sim.

Estávamos do lado de fora da casa, em baixo de uma brisa suave, próximo a um gazebo cheio de orquídeas brancas, neste caminho até a cozinha eu que estava na frente dele, senti abruptamente o cós da minha calça jeans serem puxados firmemente pelos dedos de Tito que denunciava um olhar mal-intencionado para mim quando virei a fim de entender o que estava acontecendo. Ele então me puxou para um pequeno hall que dava acesso a cozinha dos empregados me segurando firme contra a parede e os meus pulsos. Sentia seu peitoral pressionando meu peito, ele era forte. Enquanto eu simplesmente não agia, apenas consentia com toda a sua movimentação, tudo ali era novo, extremamente novo. Então eu, que já estava sem força alguma contra aquele ímpeto, antes que ele entregasse seu beijo em mim, disse;

– Por favor, não! Respondi firme e ao mesmo tempo enfraquecido pelo desejo que aquela cena me suscitava. Ele então olhou pra mim profundamente, e continuou ali, me prensando contra a parede e me admirando, quando então soltando uma das mãos de meus pulsos, levou-a até meu cabelo ondulado que caía no meu olho e jogou para trás dizendo:

– Agora eu daria tudo para o ser o Tom! E se retirou para a cozinha pegando as cervejas, passando por mim e me chamando para acompanhá-lo. Enquanto eu perguntava se ele havia percebido a beligerância entre mim e Tom, ou teria sido alguma especulação de Genie que achava saber algo.

Quando chegamos vi um risinho por parte da Genie, e um acenar de cabeça do Tito como quem dizia não aconteceu nada. Até aí pude perceber que a cena havia sido armada por Genie, que do jeito dela, queria me ver feliz, porém o que realmente me deixara putasso foram as palavras de Tom.

Caraca, que foda rápida! Rindo agressivamente. Foi aí que meu ciúme, meu ódio, tudo me tomou, fiquei com raiva da Genie por ter me revelado ao Tom, afinal a amizade entre mim e ele era tão nova, para já ser abalada com tamanha noticia, e depois fiquei mais puto ainda por ela ter se dado esse tipo de liberdade. Foi quando eu agarrei a minha mochila que estava sobre a grama, joguei nas costas e saí, sem antes deixar de dizer algo.

– Você realmente me surpreende Genie, compreendo que lá no seu país vocês são assim, turbulentos e invasivos, mas isso, isso eu não aceito. E quanto a você Thomas, cresce! Fui observado sob um silêncio brutal naquele momento, e em seguida fui embora, enquanto Genie me gritava tentando acompanhar meus passos.

– Pimmie, Pimmie... Por favor, posso te explicar, Pimmie! Por favor!

– Volta pro Tom Genie, não tem nada a ser explicado! Pimmie – me repreendendo aos berros – Eu não disse nada pro Tom, nada! Então me virei a fim de olhar para a cara dela e confirmar sua mentira, o que não acontecera. – Pimmie, foi só uma brincadeira do Tom, mais uma entre muitas que você já deveria ter ser acostumado. Eu não disse nada. Com meu irmão sim, eu comentei, você já sabe disso, mas com o Tom, ele apenas brincou, ele ainda me disse antes de vocês voltarem, eu vou zoar com eles, eu jamais faria isso Pimmie. Naquele instante então eu gelei, e pude ver que realmente Genie contava a verdade, e percebi ali, que se havia alguém que me delatara naquela noite, esse alguém era eu mesmo.

– Eu não acredito que eu fiz isso! Respondi.

– Eu acho melhor você voltar, e se explicar, ou vai ficar pior!