(Ásgeir – Was There Nothing)

Aquele dia estava particularmente diferente de todos os outros em Southampton, havia chuva, nuvens escuras e carregadas, prestes a despejar sobre todo aquele lugar as suas águas torrenciais. Ao contrário de tantos outros dias ensolarados margeados de alegria, descontrações e calor humano, aquele dia, estava devidamente caracterizado para os sentimentos expostos ali, naquele funeral. Enquanto o caixão descia para o seu pouso final, Thomas aproximou-se saindo de baixo do meu guarda-chuva e deixando-se molhar pelas gotas que ainda caiam finas, deu um beijo dolorido e choroso no lírio branco que segurava, e jogou sobre a urna que levava consigo algumas coroas de flores, olhou para o lado avistando o avô lhe encorajando com um acenar, e virou para mim vindo ao encontro de um abraço. Por fim, agarrou firme em minha mão e buscou com a outra, a mão de Faith que estava também do seu lado:

– Por favor, me tirem daqui! – Pediu com uma voz sufocada, cheia de angustia e arrastando um choro oprimido. Faith me olhou sentida, deixando rolar uma lágrima em seu rosto, passou as pontas dos dedos sobre a franja de Thomas arrumando-as, deu um beijo em seu rosto e cercou a cintura dele com seu braço. Continuei agarrado em sua mão, sutilmente direcionando-os para fora do pequeno tumulto.

– Nós podemos ir no meu carro! – Sugeriu Faith se aproximando do estacionamento.

– Pode ser. – Respondeu Thomas sucinto. – Entramos no carro, e ele decidiu que iria no banco de trás junto comigo, sentei-me no canto atrás do motorista e puxando-o para perto de mim, que apenas afastou a cintura dando espaço para que pudesse deitar sua cabeça no meu colo. Ele então fechou os olhos suavemente, e me pus a acariciar as mechas de cabelo que lhe caiam sobre a tez. Olhei para o retrovisor e pude observar Faith chorando silenciosamente, abaixei minha cabeça e olhei para Thomas a fim de cuida-lo, enquanto rolavam suavemente lágrimas de seus olhos, e com uma das mãos ele ia limpando-as.

O trajeto até a casa dele, não era muito demorada, mas fora o suficiente para aquele silêncio dentro do carro ser entristecedor, mais do que já estávamos.

– Eu não quero ir pra casa agora – sussurrou ele – Faith – disse ele sutil – se você não se importar, eu quero ir pra casa do Pim! Você pode nos deixar lá?! – Sugeriu.

– Claro! – Exclamou com uma voz trêmula – O melhor que você tem a fazer agora é exatamente isso, estar rodeado de pessoas que te amam!

– Eu me esqueci de avisar o meu avô que estava voltando com vocês, ele deve estar preocupado! – lembrou-se.

– Fica tranquilo, assim que chegarmos, eu ligo para ele avisando que te deixei com o Pim. Ok?!

– Ok! – respondeu ele voltando a fechar os olhos sobre o meu colo. Eu havia me silenciado desde o dia anterior, sequer conseguia dizer algo para ele de fato, a minha dor, obviamente não era maior que a dele, mas a minha inércia diante toda a sua dor, me deixara sem saber como agir. Eu só queria poder abraça-lo e apenas com esse abraço, livra-lo de tudo o que lhe afligia, assim, como num estalar de dedos. O funeral havia sido terrivelmente triste, e, sobretudo para Thomas, o fato de seu pai não estar lá, lhe doeu mais ainda.

O silêncio ainda reinava no carro, quando então Thomas num súbito rompeu-se num choro desesperador, me levando e Faith juntamente, também ao desespero. Ele gritava, gritava e esmurrava as costas do banco passageiro com toda a força do mundo, e o choro era avassalador.

– Thomas... Thomas por favor, se acalme – eu dizia a fim de apazigua-lo, mas sem reação alguma diante tudo aquilo – Please Thomas!

– Fuck... fuck... fuck – ele gritava nervoso – se encolhendo em si mesmo e chorando. Abracei-o da melhor maneira possível e junto com Faith tentávamos de alguma forma dizer algo que lhe fizesse acalmar.

I’m sorry, I’m sorry I know it’s your mom, I know it’s hurting you, but please... please calm down!

– It hurt so fucking bad – disse ele em prantos – I can’t breathe, I can’t… - repetia.

– Thomas, Thomas look at me… look at me! – Ele então levantou o rosto enxugando algumas lágrimas – I Love you... I Love you Thomas Green, and I swear you we’ll get through this together… Isn’t Faiht – atei olhando para ela.

Sure it is... – respondeu com a voz embargada.

– Por tantas vezes nós estivemos juntos, e por tantas vezes você me ajudou a passar tantos momentos, eu tenho cada minuto com você, Tom, gravado bem aqui – disse lhe apontando com o seu dedo no meu coração – e nada, absolutamente nada, vai tirar isso tudo que vivemos, todos esses momentos em que estivemos um pelo outro! Porque Thomas, desde o primeiro dia, o primeiro momento em que eu vi o seu rosto tampando o sol que tomava o meu rosto, enquanto eu estava deitado naquela praia, mexendo e zoando comigo, desde aquele pequeno gesto seu, em algum ponto dentro de mim eu já sabia que nós ficaríamos juntos, e que pra isso, passaríamos por tudo o que passamos, mas a gente esta aqui! Eu estou aqui por você... So stay with me! Don’t lose yourself. – Ele me observou por alguns segundos em seguida selou meus lábios com um beijo suave e gentil.

...

Chegando à frente da casa do Charlie, avistamos o carro dos Cohen chegando em seguida. Despertei Thomas de seu pequeno transe e abrindo a porta segurei-lhe na mão levando-o para fora.

– Faith... Obrigado pela carona, você não gostaria de ficar para jantar com gente – sugeri.

– Obrigado Pim, mas, eu preciso de um banho, de dar uma relaxada também... Thomas – disse ela se aproximando dele – Fica bem – sussurrou no ouvido dele dando-lhe um beijo – qualquer coisa você pode me ligar. Beijos – acenou um leve tchau, e saiu com o carro.

– Você precisa descansar um pouco – sugeri entrando na casa junto com ele.

– Procurei por vocês dois logo em seguida, mas não os vi – disse minha mãe adentrando a casa com o restando do pessoal – mas imaginei que estivessem juntos.

– Sim mamãe, o Thomas estava muito cansado pra aquela rotina de beijos e abraços, ele preferiu vir de uma vez.

– Não há problemas querido – interferiu Mrs. Cohen – Thomas meu filho, você pode ficar com a gente o tempo que for necessário, só peço para que avise o seu avô.

– Claro Mrs. Cohen, obrigado pela atenção, e pode deixar vou avisá-lo agora mesmo, na correria me esqueci... Mas não se preocupe, eu só vou ficar aqui mais um pouco, quero conversar um pouco com o Pimmie e logo à noite eu vou pra casa.

– Não há necessidades meu filho, podes dormir aqui se quiser, temos quartos de sobra, pedirei à empregada que deixe a casa de piscina arrumada de qualquer forma, e fica seu critério!

– Mais uma vez, muito obrigado senhora Cohen, mas não será necessário. – Pimmie...

– Mrs. Cohen – interrompi-a – A senhora se importa se ele subir comigo no meu quarto? – Perguntei receoso.

– Claro que não filho – disse ela olhando sincera para minha mãe e Mr. Cohen – podem subir, conversem, descansem um pouco essas cabecinhas, e, sobretudo você Thomas, vou fazer um chá de erva-doce para vocês... Tudo bem?

– Claro! Obrigado – agradeci cordial e subindo as escadas com Thomas.

Chegando ao quarto ele se jogou sobre a minha cama chamando-me para o seu lado, mas antes disso tirei-lhe os seus sapatos, fazendo-lhe tirar o blazer, enquanto desafivelava a sua cinta.

– Relaxa um pouco – falei me ajoelhando sobre a cama com as pernas abertas e sentando-me na sua cintura – Esta mais calmo? – atei passando minha mão sobre seu rosto que buscava o meu toque enquanto lhe acariciava.

– Desculpe o ataque no carro – disse ele envergonhado – eu... Eu me desesperei, foi como se subitamente nada mais fizesse sentido. Se não fosse por suas palavras naquele momento...

– Você não precisa se desculpar de nada, essa reações são normais, você esta passando por muita coisa! – concluí.

– Obrigado por estar comigo. – Respondeu baixinho.

– Eu te amo – atei indo ao encontro de seus lábios – nos beijamos por mais alguns segundos e por fim levantei-me, sugerindo que ele tomasse um banho para relaxar um pouco mais, ele então foi para o banheiro enquanto cochilei na cama a espera dele.

Acordei com ele me chacoalhando docemente, estava apenas com a toalha enrolada na cintura, dizendo que minha mãe batia na porta.

– Volta pro banheiro e põe uma roupa – risos – se minha mãe te ver assim, isso não vai dar certo! – Sugeri, fazendo-o rir – já vou abrir mamãe – atei.

– Antes de qualquer coisa, deixe a porta aberta – ralhou ela sutil – eu sei que vocês não estão fazendo nada demais, mas não é a nossa casa querido!

– Desculpa mamãe, eu sei!

– O Thomas esta melhor?

– Sim, ele esta tomando uma ducha, caí num cochilo pesado aqui, a senhora podia pegar alguma camiseta e uma bermuda do Sammy pra ele vestir, vai servir melhor...

– Ok! Outra coisa, o Tito esta na biblioteca, veio se despedir de você.

– Nossa! Eu me esqueci por completo dele com isso tudo...

– Sim é norma! – respondeu minha mãe – Enquanto você vai falar com ele, eu vou ajeitar as roupas para o Tom – disse ela saindo em direção ao quarto do Sam.

– Tom! – Bati na porta para que ele ouvisse – Eu vou descer o Tito esta lá embaixo, veio se despedir, termina o seu banho eu já subo... Ah! – exclamei – não coloque as mesmas roupas, minha mãe foi pegar uma camiseta e uma bermuda limpa pra você.

– Ok! Mas não precisa, eu ponho as minhas – atou.

– Deixa disso! – retruquei – já volto.

(Low Roar – Give Up)

Entrei na biblioteca e Tito estava de costas folheando um livro qualquer, chamei-lhe a atenção dando uma leve tossida, fazendo-o virar para mim com um semi sorriso.

Hi! – Disse ele vindo ao meu encontro e me abraçando – Como você está? – perguntou depois de dar uma leva suspirada.

– Bem, eu poderia estar melhor! – respondi – mas tudo vai se ajeitar – concluí.

– Vai sim, pode ter certeza disso, gostaria de dar uma caminhada comigo na praia, nada demorado...

– Claro! – concordei lhe acompanhando para fora. Andávamos lado a lado e por alguns minutos nos permanecemos sem dizer absolutamente nada um para o outro, apenas caminhamos ombro a ombro, absorvendo a areia molhada, o tempo nublado, como se aquilo fosse um prólogo de uma despedida triste.

– Acho melhor eu falar algo – disse ele rindo – kiddo, eu... Eu simplesmente tive a oportunidade de conhecer uma das pessoas mais incríveis do mundo, que mesmo todo cheio de conflitos e tão mais novo que eu, quer dizer – risos – nem tanto, mesmo assim, me ensinou tanto, e me permitiu também ensina-lo, claro, naquilo que me cabia – atou sorrindo e parando em seguida – obrigado por tudo, obrigado por fazer parte de mim em tão pouco tempo, e por me deixar ser parte de você! E confessando, como eu gostaria ter sido muito mais – argumentou abaixando a cabeça e levantando-a novamente com os olhos lacrimejados – Me me desculpe não tenho esse direito – disse ele secando as lágrimas.

Hey! – Respondi levando a minha mão no seu rosto e acariciando-o – eu tenho certeza absoluta que você vai encontrar alguém tão maravilhoso que em algum ponto, você vai dizer “porra como eu pude querer ficar com aquele moleque bipolar” – atei rindo e fazendo-o rir junto comigo – eu sei T, parece tão clichê esse meu discurso, mas tenha a certeza de uma coisa, a vida conspira para aqueles que fazem o bem, e inegavelmente, você sempre quis e fez para mim muito bem! E se tem alguém aqui que realmente aprendeu algo, essa pessoa sou eu! Porque eu não poderia ter feito amizade melhor, se não a sua, e ter, sobretudo aprendido dela. – Ele olhou para mim enfiando as mãos nos bolsos da calça olhou para os lados e disse baixinho:

– Posso te dar um beijo? – lhe observei receoso, mas ao mesmo tempo solicito ao seu pedido, me aproximei da sua boca e selei-a delicadamente e dizendo voltando ao meu lugar.

– Não aceite isso como um beijo de pena, ou misericórdia, mas sim, de despedida, e de um amigo que nunca, absolutamente nunca vai te esquecer! – concluí dando-lhe um abraço apertado.

– O Jake vai comigo para Boston, e de lá eu volto para o Brasil e ele segue também pra sua cidade – argumentou ele observando ao redor com o olhar distante – é engraçado como tudo nas férias representam exatamente isso, começo, meio e fim! – Atou – e aqui estamos nós, cumprindo todos esses rituais.

– Não é o fim – sugeri – Não é o fim...

Ficamos mais alguns minutos juntos, rindo e conjecturando sobre novos encontros, e por fim ele se fora, deixando para trás suas pegadas firmes na areia, assim como ficaram firmes em meu coração. Voltei para casa a fim de retornar o mais rápido possível para Thomas, naquele momento ele precisava de mim, e eu não podia oferecer nada menos do que isso.

– E então, deu uma relaxada – perguntei-lhe deitando ao seu lado na cama.

– Sim! – respondeu – eu só queria que isso passasse de pressa...

Duas semanas depois...

(Dashboard Confessional – Don’t Wait)

Ready! – gritou Thomas sorrindo ao lado de Sammy e Faith, segurando o celular e filmando enquanto eu dava um último suspiro antes do salto.

GO! – Gritou o instrutor. E Saltei, era incrivelmente alto, e pular de bungee-jump, era certamente a maior loucura de toda a minha vida. Enquanto eu gritava de braços abertos saltando aquela porra toda, meu coração e sensação foram de um êxtase alucinante, aquilo era definitivamente eletrizante, e a adrenalina que eu sentia naquilo tudo era indescritível.

Gritei a plenos pulmões – Suck that destiny, suck that Mr. bully, suck that, fuck son of a bitch – vociferava – suck it... – vociferava cada vez mais, fazendo com que todos rissem alto, principalmente Thomas.

...

– Te falei que era bom seu puto – disse Tom vindo ao meu encontro enquanto eu me desvencilhava do equipamento, e me lançando um beijaço ao meu saltar em seus braços.

Get a room! – sugeriu meu irmão rindo, fazendo Faith rir junto com ele.

Best Summer ever – respondi para Thomas sorrindo.

Best summer ever – remendou ele me beijando de novo.

– Pessoal... último dia mesmo? – Perguntou Faith nos fazendo lembrar que aquele era definitivamente nosso último dia em Hamptons, e que na próxima semana, estaríamos em nossas casas, de volta as nossas vidas, escolas e tudo quanto nos esperava depois daqueles meses incríveis.

– Para de me torturar Faith – ralhei brincando, mas ao mesmo tempo sentido pela verdade. E principalmente pelo medo que me tomava em deixar Thomas sozinho, ele havia decidido morar com o avô no interior do país, distante o suficiente para vermo-nos somente nos feriados, e aquilo, ainda que eu disfarçasse bem, estava me aniquilando por dentro.

– Relaxa! - disse ele observando os meu olhos – eu sempre vou estar aqui – e apontou para o meu peito – Bom! Quem está com fome? – atou ele nos levando para almoçar na sua casa.

...

– Vovô, cheguei! – Gritou adentrando pela cozinha – Nossa, que silêncio... Vovô? – Continuou seguindo pela sala.

– SURPRESA! - gritou alguns amigos seus em coro, junto com eles Charlie, minha mãe, seu avô e os Cohen.

Pimmie You bastard, you caught me your son of...

Hey! – Alertou minha mãe alertando-o e rindo quanto ao palavrão.

Sorry Mrs. Cohen– atou Tom envergonhado.

Not Mrs. Cohen yet... – respondeu minha mãe dando um riso anasalado.

You already are Ann – concluiu Charlie lhe dando um beijo.

– Seu filho mentiu pra mim! Disse pra gente fazer algo de boa a noite, e olha isso! – Argumentou ele rindo e me abraçando.

– Você acha mesmo que eu ia deixar passar seu aniversário em branco, seu bobão – complementei lhe retribuindo o abraço.

– O melhor quatro de setembro de todos – disse ele enquanto me abraçava – só esta faltando minha mãe...

– Eu sei – acenei com a cabeça – sinto muito!

– Mas... Eu não vou ficar triste, ela não gostaria disso!

Estávamos ali, felizes, contemplado seu aniversário, comemorando e trocando risos, olhares, agrados, toda aquela sensação de vida boa e completa por pessoas que te amam.

– E afinal, - gritei no meio de todos chamando a atenção de Sammy e Faith que estava no canto da sala – quando é que esse relacionamento de vocês dois vai sair do armário? – Todos então riram, fazendo com que Faith e Sammy corassem de vergonha.

Shut the fuck up Pim! Is not what you think…

– Oh… or is not what you think? – sugeriu ela levantando o dedo indicador em reprovação e olhando para ele fazendo gestos, enquanto Sammy tentava concertar a fala dando-lhe um beijo

Yeah! Essa é a Faith que eu conheci...

– Eu concordo plenamente – disse Thomas nos fazendo gargalhar com a cena.

– Pim – disse minha mãe se aproximando de mãos dadas com o Charlie – Bem, eu queria esperar mais um pouco pra te falar isso, mas, não querendo roubar o brilho do aniversariante – risos – bem...

– Mamãe fala logo, a senhora esta me deixando nervoso – atei lhe observando.

– Bem... Eu estou grávida! – disse ela colocando as mãos sobre a barriga.

What the Fuck! – respondi surpreso!

– Pim? – Arqueou uma das sobrancelhas em dúvida e esperando uma reposta, digamos mais convencional.

Mom... this is awesome! – Concluí abraçando-a – eu não acredito, é menino ou menina?

– Calma – risos – ainda é muito cedo pra sabermos!

– Cara, que legal, vou ter mais um cunhadinho ou cunhadinha – gargalhou Thomas.

– Todo mundo já sabe? – perguntei.

– Já – respondeu receosa.

– E não me falou antes por quê? – perguntei puto.

– Tem certeza que você não sabe o porquê Pim? – disse Tom me olhando entre risos como se dissesse – seu mimadão – eu então olhei para minha mãe e abracei-a.

I Love you mom!

– I Love you too hunny...

E nos abraçamos por longos segundos nos permitindo sentir toda aquela felicidade que tomava-nos. O dia pelo jeito, seria longo.

...

(Passenger – Beautiful Birds)

– Enfim sós! – disse ele com um sorriso, trancando a porta do seu quarto enquanto eu me sentava em uma das poltronas perto do vitral gigante que dava acesso a sacada particular do seu quarto. Era quase sete da noite e todos haviam ido embora. Eu então me levantei me direcionando para a sacada e me debruçando sobre ela sentindo a brisa suave e o entardecer que se fazia, era o ultimo ali. Thomas se aproximou tirando a camiseta que vestia e me abraçou por trás cruzando os braços em minha cintura, em seguida dando um beijo no meu ombro e sussurrando:

– O que essa cabecinha tanto reflete? – Perguntou ele suave e gentil.

– Nada demais – respondi da mesma forma – estou apenas observando o horizonte – atei me virando pra ele que continuava abraçado e me olhando.

What you scared of? Pimmie boy... I will not leave you! I Can’t, I won’t… - disse ele me olhando.

Suspirei profundo deitando minha cabeça em seu ombro, embalado por seus braços, respondendo em seguida – Eu sei disso – sussurrei – Mas, a gente lutou tanto pra isso, pra ter exatamente momentos como esses e... Bem, eles já estão acabando. Afinal de contas – argumentei rindo – nós travamos mais lutas contra, do que a favor – risos – e quando de fato nos acertamos, passou tão rápido...

– Eu sei, e como eu sei... Lutamos muito contra os nossos próprios sentimentos, mas saiba que não foi na intenção jamais de magoar...

I Know that – interrompi-o dizendo.

– Ok! Pimmie, não acabou – respondeu – Não acabou! Você esta sofrendo por algo que ainda nem aconteceu, eu sequer fui embora, então aproveita esse momento aqui, comigo, nós estamos juntos não estamos? Então tire proveito disso – argumentou levando a cabeça para trás e me dando um beijo. Alisou meu rosto sutil e entrou no seu quarto, me deixando ali na sacada. Olhei para o horizonte mais uma vez e com os olhos marejados acompanhei-o em seguida.

I’m sorry – entrei dizendo, enquanto ele tirava a calça jeans – I’m sorry for being such ass...

Ele então deu um sorriso daqueles de estalar os dentes, e se aproximou me abraçando, encostando seu corpo semi nu, ele estava apenas de cueca, e dando um cheiro no meu pescoço respondeu – You’re not a ass, but... I like yours – atou rindo e me fazendo rir junto com ele, aquela piada era definitivamente, ruim!

Gosh! – respondi rindo – I can’t believe you Said that! – Ele então olhou para mim retribuindo o riso e começou a tirar minha camiseta, em seguida foi para o banheiro me puxando junto com ele, ligou o chuveiro e pediu para que eu tirasse o restante da roupa e entrou, deixando o box aberto para mim. Em fração de segundos ele estava absolutamente teso e excitado. Entrei no chuveiro sendo arrebatado em seus braços, e tomado de beijos quentes e desejosos, enquanto suas mãos passeavam sobre meu corpo alcançando minhas nádegas e apertando-as com vontade. Eu então retribui os beijos e toques, laçando minha boca sobre seu torso e mamilos, encostei-o no Box levantando seus braços fortes e torneados, enquanto beijava suas axilas e bíceps com gosto e desejo, ajoelhei-me em seguida, entregando meus lábios, língua e vontade sobre seu abdômen, passando sobre seu umbigo e por fim, onde ele ansiava, e sutilmente ele apenas comandava com as mãos sobre minha cabeça, suas vontades.

...

(Ásgeir - Going Home / The Toe Rag Acoustic Sessions)

– Esse momento podia ser eterno – sugeri deitado sobre ele, nu, em sua cama, apenas coberto por um fino lençol de seda que mexia suavemente quando era tocado pelo vento fresco que vinha de fora, fazendo nossas peles arrepiarem ao sentir a brisa.

– Eterno, infinitamente, duas vezes – atou Tom escorregando a mão em minhas costas, e se ajeitando para sentar-se na cama encostando-se na cabeceira e me puxando para encostar-me nele, entre suas pernas que cruzavam em cima das minhas – Houve momentos da minha vida que cheguei a duvidar que seria feliz... E caralho, fui ser feliz da forma mais inacreditável possível, me apaixonando por um garoto! – Eu então ri com suas palavras acariciando suas coxas e apertando mais os seus braços sobre o meu corpo.

– São as voltas que a vida dá! E justo eu, tão incrédulo, sisudo, e extremamente bipolar, fui me apaixonar também, por um garoto – risos – quer dizer, isso eu já sabia que de uma forma ou de outra aconteceria, mas que jamais, seria pelo garoto da casa ao lado, e ainda mais você! É... Definitivamente são as voltas que a vida dá, mas que bom, elas acertaram, essas voltas maravilhosamente acertaram.

Ele levantou-se da cama buscando por um copo de água no frigobar, e céus, aquele copo nu, era ridiculamente perfeito. Olhou para mim enquanto eu babava com os olhos e riu anasalado engolindo o ultimo gole de água – Eu sou gostoso pra caralho, pode falar – brincou rindo e se jogando em cima de mim.

– Sim! É gostoso pra caralho, e também bastante convencido – atei.

– Para – disse ele beijando meus lábios – você gosta! E desceu passando a língua em todo meu corpo até o ápice entre as minhas pernas. Jogou-me pra cima dele já sentado na cama encaixando meu quadril no seu, e colocou-se num movimento frenético e suado, me adentrando com força e desejo, fazendo-me revirar os olhos e arder em seus braços em volta do meu corpo já tão suado quanto o dele.

Após algum tempo depois, tomamos banho e dessa vez separadamente, descemos para procurar algo na geladeira da cozinha, afinal, tudo aquilo havia dado uma fome absurda.

– Vovô – alertou Thomas – O senhor não foi deitar ainda?

– Oi Thomas, eu acabei cochilando aqui no sofá, que horas são?

– Onze e meia! Quer que eu te acompanhe até o quarto?

– Não é preciso filho... E vocês dois, vão deitar cedo também, afinal amanhã é dia de irmos embora!

– É nem me lembre – concluiu Tom – mas não se preocupe, eu vou comer algo com o Pim, levar ele até a casa dele e já volto.

– Ok! Até amanhã filho – e subiu as escadas assoviando alguma melodia antiga.

– Seu avô é um fofo – comentei gentil enquanto íamos para a cozinha.

– Sim – risos – ele é... Está aceitando isso tudo da melhor maneira possível, apesar de que, bem, de certa forma deve ser pelo fato da minha mãe...

– Shhh! – Interrompi-o – não subestime a capacidade do seu avô em entender o que a gente sente um pelo outro, concordo com você que ele possa sim, estar fragilizado pela perda da sua mãe, mas nem por isso. Se ele fosse uma pessoa retrograda, com sua mãe aqui ou sem ela, ele continuaria sendo do mesmo jeito.

– É você tem razão, é que, eu sei que não serão somente flores, eu sei que, nós vamos enfrentar muitas coisas, principalmente estando ainda no colegial, você sabe como as pessoas podem ser más! – Respondeu.

– Eu sei, e como eu sei... E não estando nós, um junto do outro, talvez possa soar pior ainda, eu tremo, só de pensar, mas eu tenho certeza que no momento que houver qualquer provocação, ou xingamento, você vai se lembrar de tudo o que eu sinto por você e eu também... Daí então qualquer bully, soco, empurrão no corredor da escola, provocações, vão se tornar insignificantes perto do que a gente é um para o outro.

– Eu te amo – respondeu ele segurando meu rosto e dando um beijo.

– Eu te amo mais – atei. Sentamos em volta do balcão da cozinha e comemos alguns snacks que haviam sobrado do seu aniversário, e entre um riso e outro, um toque de mão, olhares e risadas soltas, passamos mais um longo tempo ali, até ele me levar para casa.

...

(Chris Pureka – These Pages)

Well were here – disse Thomas me olhando, Charlie colocava minha mala no carro da minha mãe, que lacrimejava os olhos enquanto Mrs. Cohen vinha ao encontro dela para um abraço doce. No canto oposto Sammy abraçava Faith dando-lhe um beijo delicado e acariciando seus longos cabelos loiros, e Charlie já voltava para os braços de minha mãe a fim de consola-la. Aquilo tudo parecia um eterno fim. O sentimento de abandono, solidão, de deixar alguém que você ama tanto para trás, era insuportável e rasgava meu coração peito a fora.

Olhei para Thomas com os olhos cheios d’água e abracei-o tão forte, ao ponto de perder minhas forças, ele então retribuiu o abraço dando-me um beijo no rosto e passando o dedão nos meus lábios dizia:

– Eu estarei junto de você tão rápido quanto você possa imaginar – E me deu um beijo na boca, como se nunca quisesse mais parar.

Entramos todos no carro sobre os acenares de despedida, e aos poucos ia se afastando lentamente da casa dos Cohen, à medida que minha respiração ficava cada vez mais ofegante e sôfrega. E por mais dramático que tudo isso pareça ser, bem, tente deixar alguém que você ama tanto, mas tanto, ao ponto de doer, isso, era exatamente o que eu sentia ali.

Hunny, please, don’t cry... You will see him soon! I promise you. - Dizia minha mãe com uma voz suave e tentando me acalmar – logo todos nós estaremos juntos, eu e o Charlie vamos nos casar em breve, vamos morar juntos, seremos uma família unida, você vai poder chamar o Tom para o casamento, e se verem sempre que possível for... Então, ânimo!

I’m sorry mom, I’m sorry for being such spoiled… - argumentei cessando as lágrimas.

– Não há necessidade de se desculpar querido. Bom, a viagem será um pouco longa, então vamos conversar – risos.

A cada quilometro que o carro se distanciava, eu ia pensando em todos os momentos que havia passado em Hamptons, todos aqueles dias e pessoas incríveis a qual eu tinha conhecido. E como cada detalhe, cada lembrança me fazia sofrer, pois aqueles eram momentos que eu jamais me esqueceria, e definitivamente, aquele verão, não havia sido o melhor verão de todos, mas sim, o verão da minha vida, pois ele inquestionavelmente não havia definido somente pessoas em meu caminho, mas sim, definido o que eu realmente sou hoje. Livre! O tempo passou, entre risos, lembranças, cochilos, algumas paradas e alternadas de volante entre minha mãe e Sammy. Após algumas horas estávamos em frente de casa, Riverdale, parecia que tínhamos ficado anos fora dali, acredito que todos os acontecimentos, me fizera pensar assim.

Adentrei a casa trazendo minhas malas e arrastando as da minha mãe enquanto Sammy guardava o carro, larguei-as no hall de entrada, (morávamos em sobrado no subúrbio), dei uma olhada em volta e pude perceber tudo em seu devido lugar, observei as escadas de mogno escuro dando um leve sorriso e dizendo em voz alta – Home!

Yes hunny, home – disse minha mãe atrás de mim – Suba com suas malas e as minhas, depois desça o que já tiver que lavar, enquanto isso vou preparar algo para jantarmos.

– Ok! Posso ligar para o Dylan vir jantar conosco, ele me mandou uma mensagem, esta morando aqui com a mãe dele de novo.

– Claro querido, claro que pode.

Depois de ter subido com todas as malas e ter feito o que minha mãe havia me pedido, enfim fui tomar um banho, mas não antes de ligar para o Thomas, nos falamos por uns quinze minutos aproximadamente, e em seguida fui para a ducha. Quando desci, o jantar já estava posto na mesa, era uma lasanha descongelada – risos – e uma bela salada, com todo aquele cansaço de viagem, aquilo era única coisa que minha mãe de fato havia conseguido preparar. Atendi Dylan que tocava a companhia e fomos todos para a mesa “celebrarmos” o retorno. Aquilo era definitivamente como minha vida sempre fora, aquela rotina simples, de garoto adolescente morando com a mãe, o clima leve, as conversas, risadas, havia por fim tudo voltado ao seu normal, ou melhor, ao meu normal.

– Bem... Te vejo na escola segunda feira então? – Perguntou Dylan enquanto se despedia.

– Claro! Eu conto com você – respondi recebendo um abraço dele.

Were bros, don’t you ever forget that – concluiu subindo em seu skate e sumindo ao virar a esquina.

Entrei e minha mãe retirava a mesa junto com Sammy – Isso é tão maravilhoso meu filho, que bom que o Dylan vai estar com você esse ano...

– É mamãe, muito bom mesmo! A senhora quer que eu lave a louça? Não querido, não se importe, pode ir por seu quarto descansar.

Já no meu quarto deitado em minha cama, eu olhava para um teto cheio de estrelinhas e pequenos cometas que meu pai havia adesivado quando eu tinha uns seis anos de idade, comecei a rir lembrando-me de momentos da infância, quando minha mãe entrou em meu quarto.

Hunny!

– Hi mom...

– Eu só vim te avisar que seu pai estará aqui semana que vem! Acabei de falar com ele no telefone.

Well, this is going to be tough – sugeri.

– Não Pim, não se preocupe, eu conheço o seu pai, ele não é esse tipo de homem, amanhã como é domingo podemos ir ao cinema, eu você e seu irmão, o que acha?

– Claro mamãe! – ela desatou um sorriso me dando um beijo na testa e saindo do quarto. Olhei para mais alguns pôsteres e quadros nas paredes e aos poucos os olhos foram pesando, até que eu por fim pegasse no sono.

Quando você se da conta de que tudo esta dando certo, você deseja infinitamente que isso não passe apenas de um sonho, que cada coisa no seu lugar, não seja apenas devaneios, e que por fim, você esta vivendo os momentos que merece viver. Bem, a vida, a partir dali, não seria fácil, mas tudo o que eu estava vivendo naquele instante, estava certamente me dando munição para qualquer coisa que viesse, a partir dali, eu estava pronto.

Segunda-feira, Riverdale High 1° Dia de Aula.

(Mikki Ekko – Kids)

Parei em frente à escola lotada e suspirei profundamente soltando todo o ar dos meus pulmões, aquilo parecia um campo de batalha. Olhei por cima para ver se avistava Dylan, mas fora em vão, eram tantos entrando e atravessando o gramado da escola. Na verdade eu queria dar meia volta dali e sumir, olhei para o celular e coincidentemente recebi uma mensagem do Tom.

[Tom] Good Morning baabe... Hows your first day?

[Pim] Awful as possible :(wish you were here!

[Tom] Well… sorry :(

[Pim] Sorry… hows yours?

[Tom] – fine as possible! :)

[Pim] – Well… this is good. Im gonna get inside – luv u J

Olhei mais uma vez para a escola, saquei meu celular do bolso e coloquei meus fones de ouvido, ameacei caminhar em direção ao portão de entrada, quanto senti alguém segurando minha mão. O toque era familiar, mas eu não podia imaginar. Era Thomas, com um sorriso de canto de boca me fazendo espantar com sua presença.

What? What you doing here? – perguntei eufórico.

– I Am here with you – respondeu dando uma piscadinha e apertando minha mão.

But...

It’s a long history, but first, let’s get inside.

Seguimos de mãos dadas, e mais alguns passos à frente Dylan nos encontrou e nos acompanhou com um sorriso, havia olhares, sim eles haviam, mas bem, aquilo já não me importava mais.

“And I’ll fucking do what I want”

– FIM -

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.