Um Sonho Sem Fim

Capítulo 1 - Anciosa Ao Extremo


Já faziam cinco dias que eu não comia. Na verdade, eu não fazia absolutamente nada a cinco dias. O relógio virara meu fiel companheiro e eu já não suportava ter que esperar por aquele show. Na verdade, tudo começou, quer dizer, o ''sonho'' começou nesse clima estúpido e chato de mesmice que é a minha vida. Em uma noite estranhamente fria, estava em meu quarto, deitada em minha cama, literalmente pensando na vida, pensando em como a minha vida estava uma droga, eu já não tinha vontade de fazer nada... Todas as coisas, rotineiras ou não eram chatas e um martírio para mim, era tudo uma bela droga. Eu só tinha vontade de fazer uma única coisa: ouvir nirvana, respirar nirvana, falar nirvana, pensar em nirvana...eles eram a única razão da minha existência, pricipalmente Kurt Cobain. De uma maneira muito estranha eu me viciara nele completamente, foi como se em Kurt eu me refugiasse, me libertasse, me esquecesse de toda aquela merda que me cercava. De um dia para o outro ele se tornara a pessoa mais importante da minha vida, mais importante que minha família, que meus amigos, ele era um Deus para mim, tudo para mim.

Depois que minha melhor amiga Patrícia me mostrou a banda e eu parei para ouví-los minha minha vida nunca mais foi a mesma... eu mudei da água para o vinho. Lembro-me que comecei a usar roupas pretas, a não me preocupar mais com a aparência, a ouvir música até a madrugada, a responder meus pais, andar com a turma dos ''rebeldes'' da classe... Até parece que foi a tanto tempo atrás ...


Me recordo que ouvi minha mãe quase que gritar meu nome. Estava tão concentrada em meus pensamentos que dei um salto de susto. Eu já estava imaginando: Já que faltavam exatamente 7 dias para eu fazer 18 anos, com certeza minha mãe estaria me chamando para marcar mais um dos chatos e irritantes passeios em família que fazemos todo ano no meu aniversário. Mas para a minha surpresa, ela gritou de novo e acrescentou :


– Gisele, vem cá agora, temos uma surpresa pra você !


Então eu pensei: Não é aquela mísera viagem, pois nós fazemos isso todos os benditos anos! A curiosidade subiu a minha cabeça, mesmo que algo de extraordinário não seria, já que se tratava da minha família. Mas mesmo assim fui até a sala. Meu pai estava super sorridentes e escondia algo nas mãos que, naquele momento, estavam em suas costas. Eu queria imaginar o que era, mas por mais que eu me esforçasse não conseguia pensar em nada possível.


– O que foi, gente?


– Filha,é que... Não tem aquela banda que você tanto adora,o nirva... - Antes que minha mãe terminasse de falar,eu completei :


– Sim, o nirvana. O que que tem eles? - A tensão aumentou dentro de mim... Parecia ser uma coisa boa, a atmosfera estava diferente...


– Bem, querida, levando em conta que você vai fazer 18 anos, que você está virando uma mulher e que essa é uma data super especial na vida da gente... Resolvemos caprichar no presente deste ano. Já basta daqueles passeios de sempre, né ?


– Ah, já era tempo né, pensei que iria fazer 50 anos e ainda iríamos viajar no meu aniversário! Mas fala logo mãe, tá me deixando nervosa. - Me arrependi um pouco de ser irônica, mas aquilo estava entalado na minha garganta.


Eu estava nervosa, não aquentava mais tanta enrolação. Na verdade, eu sou nervosa por natureza... tudo me irrita fácil e ficar nervosa é uma tendência a que, a esse ponto eu já seria obrigada a me acostumar... Então, enfim minha mãe continuou:

– Filha, espero que você goste muito deste presente, o escolhemos e o compramos com muito carinho, especialmente pra você. Marcelo, dá pra ela o presente.


Meu pai olhou pra mim, já esperando uma reação. Devagar ele tirou as mãos de suas costas, mas antes:

– Fecha os olhos, Gisa ! - Gisa é o meu apelido carinhoso, só pra família .


– Ah não, pai ! - Estava tão curiosa que até gritei com um tom autoritário, mas, para não dar um ar de filha ingrata ...


Sim, resisti àquele tipo de tortura. Fechei meus olhos e estendi minhas mãos. Depois de uns cinco segundos senti um pequeno papel, liso e quente, parecia ter acabado de sair da máquina. Olhei para baixo e num instante senti um aperto em meu coração e o instinto me fez gritar :


– Ahhhhhh...Meu Deus, não acredito! Pai, mãe, obrigada! Eu amo vocês, vocês são de mais!


Aquele pequeno papel, era simplismente, nada mais e nada menos, do que um ingresso para um show do nirvana! Enfim, meu ''sonho'' estava realizado, eu poderia finalmente ver seu rosto, ver aquela pessoa que, para muitos, era o viciado, drogado, perdido, estranho... mas que para mim era o motivo de eu continuar viva.


'' Nem pude imaginar que esse seria apenas o começo, o começo de algo que poderia mudar minha vida, talvez. Se eu quisesse. Se eu permitisse e se eu o aproveitasse profundamente... '' .


Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.