Eu e o James passeamos por toda a escola, mostrei onde o Anthor me treina, onde eu estudo, faço minha meditação… Enfim, passeamos por toda a escola várias vezes só para aproveitar o tempo juntos. Quando percebi já estávamos de mãos dadas, grudados um no outro andando super lentamente e perdidos em conversas aleatórias, o local já não importava mais. Mas como nós não somos muito normais, logo começamos a quebrar o momento “fofura” com provocações. James aleatoriamente puxou o assunto Lobo e focou aí. Eu não sabia se ficava brava com as provocações ou se me deixava levar por aquela situação bobona, acabou ficando um meio a meio estranho, mas enfim.

— Caramba! Você sabe mesmo se comportar como um Lobo. – James ironizou com sei lá o que eu tinha acabado de fazer. Eu o encaro feio e finalmente me irrito de vez com o sorriso metido e desafiador dele. De impulso alcanço o fio prata sem saber direito o que queria fazer ou o que ia acontecer. Logo em seguida sinto meu rosto mudar levemente e meus dentes crescerem. James me olha assustado e eu satisfeita mostro o meu linguão de lobo para ele. Me transformando de volta logo em seguida. Ele começa a rir e sussurra alguns “desculpa” enquanto me dá pequenos selinhos, corando no processo. Por fim, para olhando para mim, um sorrisão no rosto e os olhos brilhando. – Capaz de você conseguir se transformar completamente em poucos meses se continuar treinando. – Ele suspira encostando nossas testas e fechando os olhos. – Você é tão incrível, Katia. – Eu amoleço. Sentindo todo meu amor… Amor? Haha, sim. Meu sorriso cresce. Todo o meu amor e carinho por esse ser maravilhoso transbordando no meu rosto e me inclino para beijá-lo quando me assusto um um enorme estrondo e vejo alguém pulando para fora de uma das salas. A pele toda suja e marcada de veias saltadas, enormes olheiras pretas debaixo dos olhos saltados para fora de um rosto magro e distorcido. Ódio, repulsa, decepção, é difícil citar todas as emoções negativas que marcam a sua expressão… Não conheço ninguém que aparenta carregar essa carga negativa dentro de si, mas ainda assim essa pessoa parece estranhamente familiar.

— Você! Você é a última que eu esperava que se deixaria manchar. – A pessoa aponta para mim e ao desviar os olhos para as minhas mãos junto às do James, sua expressão consegue ficar ainda mais marcada e seus olhos brilham fazendo-a parecer completamente louca. – É VOCÊ! SEU LOBO IMUNDO. O QUE FEZ COM ELA, MONSTRO?! – Sua ira se volta para James e eu aperto sua mão e me posiciono na sua frente como que para o proteger, meus músculos tensionados, prontos. Ela se inclina ameaçadoramente e um flash passa rapidamente pela minha visão me fazendo arfar surpresa.

— Fabrina?! – Eu já vi uma expressão como essa, quando eu fui apresentar o Anthor a ela. Achei que tivesse sido a minha imaginação... Mas mesmo naquela vez não estava tão ruim como agora. Não sei como me sentir quanto a isso, eu a tenho de volta, mas ela não é de longe a mesma. Solto minha mão de James e me posiciono na sua frente tentando mudar a direção do seu olhar para mim. Sua expressão e olhar suavizam levemente, é quase imperceptível. A olho triste e as palavras do diretor passam pela minha cabeça novamente. “Cuidado em quem você confia... Pessoas escondem segredos sombrios. O ódio é um veneno para a alma…”. Eu já sabia, mas não queria acreditar… – Fabrina… – Eu repito, procurando trazer para mim um pouco mais da que eu conheço. – Eu senti tanto a sua falta. Eu te procurei feito louca... – Minha voz falhando um pouco no final. Sinto que qualquer palavra errada pode acabar com a minha tentativa de ancorá-la. – Olha para você, está precisando de um pouco de carinho e sono. – Tento brincar com ela, cuidando para que meu rosto transmita apenas amor e cuidado. Seu braço se tensiona e eu sigo meu olhar em direção à suas mãos. Na mão direita tem uma bola de algum material flexível e parece der algum líquido alí dentro… Com as sobrancelhas franzidas viro em direção ao seu braço esquerdo, não tem nada em suas mãos mas o braço está todo roxo e com marcas de agulha. Desvio os olhos em dor e encontro no chão, perto da porta uma seringa contorcendo os lábios reparo no restinho do líquido no frasco, não é muito mas reconheço aquilo em qualquer lugar. A olho assustada. – Fabrina! O que você está fazendo? Como pode fazer isso consigo mesma? Não sabe como isso é perigoso? Você é humana! – Eu explodo e ela me olha com expressão vazia e olhos obscuros. Me encolho sabendo que fiz merda.

— O que eu estou fazendo comigo mesma? O que fui obrigada a fazer! Esses Monstros destroçaram a minha família na minha frente… Só por diversão. Meu pai cooperou com tudo! Deu nossa poupança, nossa casa, a fazenda, tudo. Mas o que eles queriam mesmo era a carnificina. O destino me poupou por um e apenas um motivo, a vingança. Não vou desperdiçar esse presente. – Seus lábios se puxam em um sorriso macabro e assustador. – Eu vou fazer o que for necessário, até que eu MORRA! – Seus olhos escurecem mais e se tornam fendas. – E vou levar comigo quem eu puder. – Ela ataca sabe se lá o que é o que estava em sua mão e eu pulo para trás em reflexo. Não sou atingida pelo líquido que se espalha quando o objeto estora no chão mas logo evapora transformando o corredor em um breu branco.

Meus olhos de gato se ativam na hora e eu escuto um rosnado vindo de James. Ele vai atacá-la. Infelizmente não tem muito o que fazer nessa situação. Me movo para fora da fumaça pensando em qual cópia que poderia me ajudar agora e se realmente vale a pena me arriscar em alcançá-la. Não sei o que as outras cores significam e se eu errar posso me tornar inútil. Se pegar o fio do Lio por exemplo, não sei como vou reagir. Ficar sofrendo com o crescimento de asas não é o que preciso no momento. Saio do breu e encontro James lutando com a Fabrina pouco mais a frente. Ela está se movendo rapidamente com uma faca em sua mão. Me movo rapidamente em sua direção para dar meu apoio ao James que por algum motivo já parece estar bem cansado. Lhe acerto um golpe lateral para afastá-la dele mas antes disso ela consegue acertar um golpe em sua perna e o meu movimento faz com que o corte aumente e a faca voe para dentro da sala. Tenciono o maxilar e sem desviar os olhos dela estico meu braço na direção do James para ver se está bem. Ele segura meu antebraço para dizer que sim e vendo ela se levantar eu respiro fundo fechando rapidamente os olhos, liberando da minha mente qualquer pensamento e juntando meu treinamento de meditação com os ensinamentos do Anthor volto a atacá-la, me deixando mover por instinto. James se move junto comigo. Mesmo atacando os dois ao mesmo tempo, ela está muito forte e rápida e James é atingido mais algumas vezes. No último ataque ela o acerta tão forte que ele voa para perto da porta. Eu sei que ele não está mais em condições de lutar, deveria, mas ele não está se recuperando. O gás deve ser a razão. E isso só confirma também que ela é o observador. E que ele não vai conseguir se curar. Se ficar aqui pode até ser pior, inspirar aquilo duas vezes é com certeza pior do que apenas uma.

— James, vai procurar alguém para ajudar. Eu seguro aqui enquanto isso. – Eu escuto um grunido. Ele não vai desistir tão fácil. Em qualquer outra situação a teimosia dele seria fofa mas agora não vai ajudar muito. ...Tive uma ideia. – Procura o Anthor, ele vai saber o que fazer. Ghn. – Desvio de mais um ataque, o nome dele lhe causou uma reação. Para bem ou para mal ele vai servir para algo aqui. Me deixo escorregar para trás com um de seus golpes e me apoio na parede para pegar impulso. Ele me permite aumentar a força de meus golpes e consigo acertar alguns seguidos. Ela perde um pouco o equilíbrio. Franzo a testa e me concentro melhor nela. É quase imperceptível, mas ela está um pouco mais lenta e está recebendo meus golpes com um pouco mais de dificuldade.

É claro! Ela não conseguiria lutar conosco nem em situações normais, fraca e magra como ela aparenta estar então! Minha energia é a única coisa que está mantendo ela em pé, e provavelmente é o que está derrubando-a também. Seu corpo não tem estrutura para suportar esse impacto, energia e poder. É capaz de desmaiar depois de todo esse gasto de energia… Então o que eu preciso fazer é deixar ela me atacar. Atacá-la só vai me deixar mais fraca e permitir que a luta dure mais tempo. Ela precisa me atacar até cansar. Eu sorrio. Tudo bem, eu sou boa em aguentar golpes. Ela mira na minha barriga e mesmo percebendo eu não desvio. Vôo alguns metros para trás e tusso algumas vezes já me colocando de volta em pé.

É bom mesmo eu conseguir aguentar, porque a diferença de energia que vai ser gasta comigo desviando dos golpes e com o contato é bem grande. O máximo que posso fazer é bloquear. Ela tenta chutar meu pé para me derrubar e eu pulo para longe. Tão burra eu também não sou. Ela continua me acertando e eu continuo permitindo. Percebo ela ficando mais cansada. O problema é que eu também estou. Preciso de um empurrãozinho de energia. Decido alcançar o fio prata para juntar minha força à do lobo e acabo me transformando levemente.

— Você se transformou mesmo em um monstro como eles! Eu não queria acreditar, mas você não tem mais salvação. – Antes que eu pudesse reagir ela saca duas adagas e me acerta nas pernas. Eu caio imediatamente. Me esforço para levantar o mais rápido possível apesar da dor mas quando o consigo, sou acertada no peito com aquela substância. Caio para trás com a força e logo sou envolvida pela fumaça branca. Algo estranho acontece com o líquido que atingiu diretamente a minha pele, ao invés de evaporar, minha pele absorveu e foi aí que eu soube. O líquido é a minha energia transformada. Uma má adaptação dos experimentos que ela realizava. Rindo eu me levanto inspirando profundamente. Me sinto renovada com a energia absorvida e as feridas na minha perna estão já terminando de curar por causa da influência loba. Saio de dentro da fumaça com ainda mais energia que entrei e encontro uma Fabrina assustada e confusa.

— Sinto muito te desapontar. Eu ainda sou uma mutante. A forma lobo faz parte de mim mas não é só isso que eu sou. Eu não virei uma mutante Lobo. A forma lobo se adaptou à minha natureza mutante e isso significa que suas bombas não terão efeito negativo em mim. Até porque, você usou a minha energia para criá-las e ela está mais do que feliz de voltar para a dona. – Avanço para atacá-la quando percebo que ela vai tentar fugir. Ela mal dá conta de meus golpes mas ainda procura se defender. Me distraio rapidamente vendo Anthor entrando no corredor com um James mancando e machucado do seu lado e ela acerta um golpe na minha perna me derrubando. Em seguida olha para a porta para entender minha distração e começa a correr loucamente.

— VOCÊS NÃO ME PEGARÃO VIVA! EU NÃO VOU PERMITIR! EU NÃO VOU PERMITIR! – Anthor corre atrás dela rapidamente a alcançando enquanto eu me levanto do chão. A segura pelos braços com suas costas para ele. Ela não para de chutar e se debater loucamente enquanto ele tenta arrastá-la para fora dali – VOCÊS NÃO VÃO ME PEGAR VIVA! VOCÊS NÃO VÃO ME PEGAR VIVA! VOCÊS NÃO VÃO ME PEGAR VIVA! VOCÊS NÃO VÃO ME PEGAR VIVA! VOCÊS NÃO VÃO ME PEGAR VIVA! VOCÊS NÃO VÃO ME PEGAR VIVA!... – Eu suspiro e me concentro tentando identificar o fio do Bryan no emaranhado de poder. Um de tom de azul vibrante chama a minha atenção e certa de que esse é o correto abro os olhos e vou em direção aos dois. – VOCÊS NÃO VÃO ME PEGAR VIVA! VOCÊS NÃO VÃO ME PEGAR VIVA! VOCÊS Nã… – Sua voz some no momento que toco sua testa e ela apaga desmaiada. Passo o máximo de energia e de cura para o seu corpo sem sobrecarregá-lo. Ele não está mais acostumado em ser saudável.

— Shhh. Você vai ficar bem, vai ficar bem. – Digo acariciando sua testa e cabelo. James manca até o meu lado e segura meu cotovelo para me dar apoio. Me viro para o Anthor. – E agora? – Ele me olha triste.

— Vou levar ela para um centro de tratamento especializado em humanos viciados em substâncias não naturais… Lá vão conseguir tratar corpo e mente. Depois podemos transferir para onde ela precisar mais, corpo… – Ele suspira triste ajeitando seu corpo para que fique aconchegado em seus braços. – ou mente. Tem uma ambulância preparada fora da escola… Leve James para a caverna e dê uma olhada na extensão de seus machucados, logo eu volto lá e aí vemos o que podemos fazer. – Eu aceno que sim e vejo ele sair do corredor. Me viro para James e nos ajeito para o sustentar melhor.

— Ei. – Ele fala chamando a minha atenção. Eu o olho e ele está sorrindo para mim. – Me lembre de nunca te irritar. – Eu arregalo os olhos para ele e começo a rir loucamente. Só paro quando começo a perder o equilíbrio. Só ele mesmo para me fazer rir agora. Estava esperando que dissesse algo motivacional ou carinhoso mas não, ele tinha que tirar sarro da situação. Suspiro me sentindo mais leve e balanço a cabeça. Ele realmente sabe o que fazer para eu me sentir melhor. – Outra coisa.

— O que foi agora? – Olho já rindo para ele.

— Você ainda está barbuda. Não que eu me importe. – O sorriso dele só vai aumentando na medida que vai terminando de falar. Eu arregalo os olhos e percebo que realmente ainda estou em contato com o fio prateado. O solto rapidamente. Eu consegui acessar o poder do Bryan junto com o de Lobo? Interessante. Mas é preocupação para outra hora. Olho James nos olhos de novo e me inclino para conseguir aquele beijo que eu queria mais cedo. Ele fecha os olhos e se inclina também. Nossos lábios se tocam e eu gemo deliciada. Já levo minha mão ao seu pescoço e o puxo na minha direção para aprofundar o beijo. – Gnnh. – Ele geme de dor e eu me afasto rápido pedindo desculpa. Olhando um para o outro começamos a rir e nos movemos em direção à caverna.

Chegando à abertura vejo várias sombras e escuto diversas vozes. Me posiciono na frente do James e me direciono a entrada. O local parece minúsculo com a quantidade de gente que ocupam o espaço. Alguns me chamam a atenção. Senhores mais velhos mas com corpo treinado me lembrando Anthor, a Loba que vi aqui mais cedo, suspiro, ela realmente não perdeu tempo. E mais a frente de todos, um homem que bate com a descrição que o James fez do Kalie. Ele dá um passo para frente.

— Finalmente encontrei o seu esconderijo James. – Ele dá um sorriso metido. – Não tem mais para onde fugir. Lute comigo agora, ou desista.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.