No capítulo anterior…

(...)Me jogo no chão exausta. Se segurar emoções é assim, tenho um gostinho de como ele se sente. Estou exausta. Me ajeito melhor no chão e encosto as pernas nas barras. Já que não tenho mais o que fazer vou meditar… Quem disse que tem posição para isso?

— ...desculpe por antes… – Hum? Apareceu alguém? Anthor? – Melhor selar minha pele novamente… – Eu não pretendia agir daquela forma. Estava descontrolado. Eu sinto muito. – Ah tudo bem Anthor, só não me toque tá? Eu estou demorando bem mais para sair e me selar. – Katia? Você está bem? – Estou ótima. Minhas pernas já estão seladas, minhas mãos, … Ele toca no meu ombro e me chacoalha. – Katia?! – Que bom que no ombro sempre tem a proteção de tecido, logo… Abro os meus olhos arregalados, uma dor imensa se espalha por todo o meu corpo. Vejo Anthor ajoelhado à minha frente, soltando rapidamente as mãos meus ombros e se afastando.

— M… mer-da de… regatAAAAAA – Sinto uma pressão por todo o meu corpo, logo a pressão em meu joelho aumenta e eu ouço e sinto ele se quebrando… Vagamente escuto James entrando na sala e perguntando o que aconteceu… Depois de Anthor explicar tudo, James explodir e se acalmar, alguém diz “Merda. A primeira transformação é sempre a pior”. Mas eu não registro isso muito bem, estou distraída com TODOS OS OSSOS DO MEU CORPO SE QUEBRANDO! Assistir é foda? Imagine sentir… Pelo amor… – GAAAAAAAAAAAH – Por favor me diz que a minha coluna não vai quebrar também… Sinto uma pressão enorme nela se esticando eternamente e quando acho que o pior já foi, a dor no corpo se intensifica, esticando os meus músculos, o final da minha coluna dói até um ponto que eu nem sabia que tinha, eu… – Guh! – Não consig… – AAAH – Pensa...reito – Hah – Resp… Vo...ou me c... na – Uggh – Re…

Depois de uma eternidade sem conseguir pensar direito, só tentando manter minha atenção da respiração e em momentos mais lúcidos implorando mentalmente para desmaiar, a dor começa a diminuir e sobra apenas uma onda quente aliviando os resquícios da dor e sensação da pele formignado. Ainda fico um tempo na mesma posição, esperando para ver se não voltaria, na última vez que achei que estava acabando, começou a mudar o meu rosto e olha, quando ele começou a se esticar… Eu tinha certeza que estava morrendo. Ia ser naquele momento. Mas não foi. Só Sofri eternamente. Suspiro. Acho que agora não volta mais. Começo a me mover lentamente, sentindo a tensão nos ossos, não aguentando mais ficar naquela posição, finalmente me levanto. Parcialmente pelo menos, abro os olhos em surpresa e fico ainda mais surpreendida. Não porque minhas patas viraram, espera, minhas mãos viraram patas, minha visão está com essa tonalidade… sei lá, minhas orelhas estão em uma posição estranha e eu tenho quase certeza de que tenho um rabo, não, isso tudo parece estranhamente normal, mesmo que por um segundo eu tenha esquecido que este era o motivo de tanta dor. Mas o estranho mesmo é a minha localização. A transformação começou na caverna e eu tenho certeza de que eu não me movi. Alguém pode ter feito isso por mim, até porque eu estava beem distraída. Mas quem? E por quê? Ou melhor, por quê aqui? Penso olhando para a pedra “A rocha (...) é parte do que já foi um local sagrado para nós. O local ainda tem uma grande concentração de energia e proteção(...)” Hum… Pode ser o motivo. Mas se foi o James ou o Anthor, onde eles estão?

— Creck – Escuto o som de um galho se quebrando, minha orelha vira em direção ao som e em poucos segundos estou virada em direção à floresta e de costas para a rocha, protegendo a entrada. Cara como isso é legal, adorei essa forma. De instinto, assumo uma posição de ataque, os braços… Hum, as pernas? da frente levemente dobradas, o pescoço esticado para baixo, os olhos varrendo a floresta, concentrados. Vejo um vulto na beira da floresta vindo em minha direção. Meus lábios se repuxam, os dentes saltam para fora e um rosnado se forma no fundo da minha garganta. Um lobo sai de dentro da floresta, anda em minha direção até ser completamente iluminado pelo sol e para. Ele não parece uma ameaça. Saio da minha posição e paro de rosnar. Mas ainda não libero a entrada.

...Este lobo me parece estranhamente familiar. Viro a minha cabeça para o lado, o fitando. Ele se aproxima um pouco mas logo para quando eu assumo a posição de ataque de novo, que no caso é defesa, defesa do túnel e de quem pode estar lá. Eu nem penso em fazer isso, acontece naturalmente. ...Eu estou defendendo o meu território, como um verdadeiro Lobo. Eu queria muito rir da minha cara mas acho que saíria bem estranho neste momento e forma. Volto à uma posição normal e observo o outro Lobo tentando entender como o conheço. Olhar para ele me traz uma sensação tão reconfortante, quando percebo estou me movendo em sua direção. Me seguro no lugar. Pode ser uma armadilha. Sei lá de onde tirei isso, mas a necessidade de defender o lugar é maior. Fecho os olhos, tentando entrar em contato comigo, eu Kátia, não eu Lobo e quase me desequilibro com o baque de energia que sinto. Olho em volta abismada, de onde veio isso? Não encontro nada que possa explicar o que senti. O outro Lobo não se mexeu um milímetro então fecho os olhos e tento de novo, quando o baque vem de novo me concentro nele e mexo minha cabeça em sua direção. O baque de energia começa a me puxar e neste momento o reconheço, é ainda mais forte que o que senti da primeira vez que o segui até aqui. Abro os olhos vendo o Lobo à minha frente, logo o reconheço também. James! A sua forma de Lobo é o baque forte que senti no primeiro dia. Sem nem pensar corro em sua direção e o derrubo no chão. Ou melhor, ele se deixa cair. Será que não está me reconheceu? O ruim é não poder falar. Suspiro, ou melhor, bufo na cara dele. Ops. Desculpa!

Seus olhos começam a brilhar, sua boca se estica e ele meio que começa a rir. Os sons saem muito estranhos pela boca de um animal. Ainda assim, tento sorrir de volta para ele. Ficamos alí naquela posição estranha, só olhando um para o outro. Até que percebo algo incomodando o meu nariz. Estou tão acostumada com os meus sentidos normais que nem lembro de me concentrar nos novos. Faço isso então e me concentro no olfato. Puta Merda que cheiro bom! Doce, cítrico e picante. Perfeito para ele, super controverso, não consigo me enjoar. Quando percebo estou com o focinho enfiado no seu pescoço. Ele se remexe debaixo de mim e se afasta me dando as costas. É ótimo entender algumas coisas do ponto de vista dele mas isso é bem frustrante também. Vou levar um tempo para entender ele nesta forma. Quer dizer, da outra vez foi tão fácil, por que não hoje? Ele se vira para mim uma vez antes de voltar para a floresta. O que? Eu quebrei alguma regra dos Lobos? Porque aquela desculpa de que tem medo de perder o controle do Lobo é bem ridícula, principalmente agora, tipo, qual é? Suspiro/bufo e foco na minha audição, se eu seguir pela floresta vou acabar indo para a escola, meus instintos estão muito apurados para entender que não posso procurá-lo lá. Vou matar todo mundo do coração e eu não sei como voltar a forma humana então não tenho muito o que fazer. Escuto ele não ir muito longe antes de parar, já pode voltar também! Um baixo grunido sai da sua boca e escuto os músculos e ossos retraindo. Quando percebo o que estava acontecendo paro de ouvir para lhe dar um pouco de privacidade. Uma coisa que aprendi ouvindo e por observação é que ele não gosta que o vejam no retorno à forma humana e nisso não tem nada haver com confiança, é uma característica dele simplesmente. Acho que tem algo haver com não gostar de ser visto fraco, mas se for realmente isso logo nós damos um jeito. Me sento no chão o esperando e não demora muito para ele aparecer através da floresta, andando de forma estranha, provavelmente por causa da dor.

— Pfff Hahahaahahaha – Ele explode quando me vê. – Agora eu entendo o que você quer dizer. Essa cena está hilária! – Ele toma fôlego algumas vezes e eu deixo ele se divertir. Eu já tirei sarro dele, por quê tiraria o direito de ele fazer o mesmo comigo? Ele se aproxima de mim me olhando com carinho, um meio sorriso no rosto. Supiro/Bufo na cara dele de novo e depois arregalo os olhos em desculpa. Ele continua me olhando da mesma forma. – Você está uma graça assim. Muito fofa. – Eu o encaro por um tempo e chacoalho a cabeça. Que homem. Logo paro e me volto para ele virando a cabeça em dúvida. Por quê ele se transformou de volta? – Achei que estávamos precisando de um pouco de comunicação. – Arregalo os olhos surpresa. – Eu convivi com por um pouco mais de tempo com Lobos. – Diz sorrindo. Eu aceno que sim e saio daquela posição, estava ficando desconfortável. – Vem cá. Quero testar uma coisa. – Não entendo muito bem o que quer dizer, já que estou bem perto dele já e ele não se moveu do lugar então dou um passo para mais perto e inclino a cabeça em sua direção. Ele estica a mão e a coloca na minha cabeça. Na hora sinto meus ossos, músculos e pelos retraindo, como um elástico. Não sinto nenhuma dor apenas uma onda fria na medida que vou voltando à minha forma humana mas estranhamente não sinto frio. Com a sua mão ainda na minha cabeça e meus olhos nos seus por todo o processo, finalmente retornei a minha forma real. – Anthor ficou com um pouco de medo mas eu sabia que seu corpo se adaptaria melhor que o nosso, você é mutante por natureza. – Ele sorri fazendo carinho no meu rosto e me olha encantado. – Você é tão incrível. – Eu sorrio de volta para ele um “eu sei” ecoando dentro de mim me deixando ainda mais feliz. Não é sempre que alguém é finalmente aceito como é em vez de “estranho”, “assustador”, “perigoso” ou tudo que já ouvi na minha vida ao mesmo tempo que percebe sua própria aceitação. Ela já aconteceu faz algum tempo, com meu auto aprendizado e conhecimento sobre mim mesma, mas nunca caiu de forma tão concreta como um confiante “eu sei”. Sorrio enormemente para ele, meus olhos brilhando, eu brilhando, figurativamente, óbvio. – Mas agora, vamos arranjar algo para você vestir? Anthor vai voltar logo… – Eu olho para baixo e me encontro realmente, completamente nua.

— Eita. – Olho de volta para ele e começamos a rir. – Estamos quites. – Ele fica vermelho como um tomate, a boca escancara em incredulidade, após um momento de choque ele começa a rir enquanto balança a cabeça. Ele entra no corredor ainda rindo e eu o sigo. Chegamos à caverna e ele aponta para um conjunto de roupas na cadeira. Vira de costas para me dar privacidade. Fico curiosa. – Você tem problema com meu toque mas não com a minha nudez? – Ele ri baixinho.

— Óbvio. O que me encanta em você não envolve necessariamente seu corpo. Eu me encanto com quem você é. Quanto a atração e desconcerto, ele me atrai sim e ele é parte de você então sim, ele me desconcerta. Mas não é porque está nua que tenho qualquer direito sobre ele ou você. Sem contar que, o que me desconcerta mesmo, são suas atitudes e seu toque. Sabe como eu reajo. – Ele inclina a cabeça e eu corro para terminar de me vestir. Quero muito vê-lo. Quando termino, me aproximo rapidamente e puxo-o pelo ombro, virando-o. Ele agora está com um meio sorriso nos lábios. – O que não pode ser dito por você. – Ele diz irônico. – Eu, nós, sabemos como você reage a minha nudez. – Agora foi minha vez de ficar chocada

— Seu… Ser binário controverso bipolar! – ele ri e me abraça.

— Você adora. – Eu o fulmino com os olhos, os reviro e suspiro.

— É verdade. – Ele sorri triunfante e só para provocar, levo minhas mãos para o seu pescoço, bem devagar, de leve, quase não o toco. Ele vira os olhos fechando-os e inclina a cabeça para trás meio gemendo meio suspirando. Eu estava certa! Ele é sensível no pescoço e por isso fugiu de mim! De leve raspo as minhas unhas e ele treme de corpo inteiro. Sinto aquele cheiro característico que senti como loba emanar dele e inclino hipnotizada na direção de seu pescoço.

— Ah não. Quer descobrir todos os meus pontos fracos para só me deixar louco sem fazer nada direito? – Eu recuo olhando para ele e inclino a cabeça confusa… Ah. Dou um sorriso para ele e o olho provocativa.

— Se queria que eu te beijasse era só falar. – Ele cora arregalando os olhos, depois seus olhos brilham e ele recupera aquele meio sorriso.

— Me beije. – Mas que p… Que homem. O agarro pelo pescoço mesmo e o puxo em minha direção já pensando em seus caninos sensíveis e em como ia fazê-lo se arrepender de… Bom, divar assim, como ele faz naturalmente.