Um Segredo Entre Nós

Quando eu tive um déjà vu - parte 2


Regina tinha que admitir que estava adorando Nottingham. Diferente de Londres, a cidade era alegre e calorosa, mesmo com as temperaturas quase abaixo de zero. Todos com quem tinha topado eram gentis e solícitos, agora ficara fácil entender o que Robin vira naquele lugar. E claro, o local era circundado de florestas e se as árvores não tivessem nuas por causa do inverno, tinha certeza que veria uma explosão de verde. Era o conjunto perfeito para ele.

No dia seguinte, Robin tinha ligado a pedido de Louise convidando-a para dar uma volta no bosque perto da casa onde morava. Ela estava hesitante, não queria se intrometer nos momentos dele e da filha, porém, a menina insistiu tanto que não lhe restou escolha. Tinha sido uma tarde muito divertida.

Locksley continuava a dar-lhe um ombro frio e ela sinceramente agora entendia de quem Louise tinha puxado aquelas birras. Por Deus! Custava ouvi-la? Quando se sentaram em um banco, observando-a correr com o coelhinho nos braços, finalmente Regina vira um espaço para abordar o assunto do beijo. Ela chamou por ele um pouco hesitante e suspirando o loiro se virou, fitando-a. Quando ela ia começar seu discurso, Louise gritou e ambos se levantaram em alerta, procurando-a.

A garotinha estava deitada na grama fria, apertando Batuffolo contra seu peito e uma criatura toda enlameada estava sobre ela. Regina entrou em pânico e tanto ela como Robin começaram a correr o mais rápido que puderam em direção a eles.

Ao se aproximar mais, notaram que o animal era um cachorro e que aparentemente era inofensivo, só estava lambendo Louise e o coelhinho. Ambos suspiraram em alívio e tiraram o cachorro de cima deles. A pobre criatura estava imunda e Regina lamentou quando vira o estado que ele havia deixado sua filha, o coelho e até mesmo Robin que o pegara nos braços para tirá-lo de cima de Lou Lou.

Agora o animal estava olhando pra ela, com a língua para o lado de fora, mirando sua última vítima ainda limpa, pronto para saltar.

— Ah não, não se atreva cachorro! – ela disse firme, mas o peludo muito contente pulou contra ela a derrubando no chão. Robin e Louise caíram na gargalhada e ela claro, estava bufando.

Depois de ver que ninguém se aproximava para reivindicar o animal, Lou Lou implorou para levá-lo para casa:

Papi, por favor, nós podemos ficar com ele? – fez seu habitual biquinho fofo.

— Louise, você não pode fazer seu pai ficar com todos os animais que vê por aí – explicou – fora que ele deve ter um dono.

— Sua mãe tem razão filha – Robin também tentou convencê-la .

— Mas a gente não pode deixar o pobrezinho aqui no frio – Louise e o cão, que estava sentado ao lado dela, fizeram o mesmo olhar suplicante e Robin sorriu enquanto Regina revirava os olhos. Já sabia que ele diria sim. Ainda não sabia resistir aos encantos daquela espertinha.

— Ok – ela se segurou para não protestar, afinal, não era uma decisão dela, cabia só a Robin deixar ou não o cachorro ficar em sua casa – ele vem com a gente, mas só até acharmos o dono e antes de tudo, tomar um belo banho.

— Ebaaa – Louise festejou abraçando o cachorro com um braço, já que com o outro segurava o coelho.

— Lou Lou chega de abraçá-lo, pelo menos até o limparmos – rogou.

— Tá bom mamãe – ela concordou e os “cinco” partiram rumo a casa de Robin.

No caminho Robin implicitamente quase implorou para que o ajudasse com a filha e o cachorro e ela quase disse que não, aquela criatura tinha sujado e quase destruído seu casaco caro! Contudo, revirando os olhos, balançou a cabeça e aceitou.

Ao entrar em sua casa tinha sido invadida por um sentimento acolhedor inexplicável. Podia notar sua marca em cada cômodo pelo qual passava, os instrumentos musicais em um canto da sala lhe causaram um sorriso espontâneo e deveria dizer que estava impressionada em não ver não muita bagunça, só alguns brinquedos de Lou Lou espalhados e qualquer louça sobre a pia. Robin realmente tinha crescido. Ele a tirou de seu torpor, lhe mostrando aonde era o banheiro e logo ela tratou de dar um banho na filha enquanto ele fazia o mesmo com o cachorro e o coelho.

Já imaginavam, mas depois lavar toda a lama, descobriram que se tratava de um Golden Retriever e que na verdade era ela e não ele. Louise estava muito empolgada e já estava escolhendo até um nome para a cachorrinha.

Regina via a cena e balançava a cabeça. Se aquela cachorra não tivesse um dono que a estava procurando por aí, tinha certeza que jamais sairia daquela casa. Robin a convidou para ficar para o jantar como forma de agradecimento pela ajuda e ela acabou aceitando.

Tinha sido uma noite tão simples, com Robin preparando um macarrão ao pesto enquanto ela colocava a mesa e Louise brincava com seus bichinhos. Quando percebeu o cenário tão cheio de significado quis chorar. Seu coração pulsava daquele sentimento que ela estava aprendendo a reconhecer. Deveria ter sido sempre assim. Eles três, jantando juntos após um dia livre no parque e rindo sobre as aventuras da filha, como hoje.

Quando tudo estava limpo e organizado, Regina percebeu que era sua deixa para ir. Mesmo que quisesse muito um momento a sós com ele para conversarem.

— Está ficando tarde, acho melhor eu ir – constatou enquanto enxugava as mãos em um pano de prato – ainda não sei andar muito bem aqui. Graças a Deus pelo GPS – descontraiu.

— Muito obrigado pela ajuda hoje com Louise e o cachorro – agradeceu sincero.

— Não foi nada. Mesmo que aquela cachorra tenha me derrubado no chão e me sujado toda – afirmou mostrando sua calça empoeirada – espero que você encontre os donos logo – Robin alongou o olhar para a sala de estar, aonde Louise estava deitada no sofá abraçada ao coelho e a cachorra abraçando a ambos enquanto assistiam algo na tv.

— Isso vai partir o coração dela – torcendo o canto dos lábios, ele abaixou a cabeça suspirando. Regina apertou sua mão que descansava sobre a mesa da cozinha.

— Eu sei que você só quer fazê-la feliz, entendo também o quanto seja difícil dizer não, mas algumas vezes é necessário – o consolou. Entendia melhor que ninguém o significado.

— Você tem razão – ele a encarou com um meio sorriso, então percebeu que estava fazendo círculos carinhosos na mão dela que repousava sobre a sua e se afastou como se tivesse levado um choque, preparando-se para ir da cozinha até a sala.

— Robin, espera – Regina o alcançou, segurando seu pulso, ele se virou e por um momento se arrependeu. A mãe de sua filha estava muito perto, o encarando por baixo daqueles cílios grossos e grandes, com aqueles maravilhosos olhos castanhos. Merda! Agora queria beijá-la. Engolindo a seco, continuou encarando-a – eu queria falar com você.

— Sobre o que? – sua voz era um fio acima do considerado um sussurro. Tudo parecia em slow motion e tinha medo de que se acelerasse o ritmo perderia o controle.

— Você sabe que nós precisamos falar sobre o que aconteceu e... sobre tudo – Regina continuava fitando-o, como se o desafiasse. E dado o estado em que aquela proximidade o estava afetando, sabia que perderia. Então preferiu desviar o olhar para o lado, tentando se concentrar em qualquer coisa que não fosse o calor que emanava do corpo dela.

— Não quero falar sobre o que aconteceu Regina. Eu disse que não aconteceria de novo – contudo, ele mesmo não acreditava naquela afirmação. Não quando o novo perfume que ela usava parecia agora entranhado em cada canto de sua casa. Não era mais aquele cheiro de maçãs verdes frescas, ainda tinha aquele toque, mas agora parecia mais sedutor, com um toque de canela ou qualquer outra especiaria que o estavam deixando completamente encantado.

— E por que você está me encarando como se fosse me devorar por completo? Sua boca diz uma coisa, mas seu corpo está me dizendo outra totalmente diferente Robin. Você está me olhando com tanto desejo agora mesmo que a única coisa que me impede de te beijar é nossa filha ali no sofá e o fato deu saber que você vai fugir de mim de novo depois – Robin arregalou os olhos. Não esperava que ela fosse ser tão direta. Estava ofegante quando a advogada o soltou e se afastou, indo até uma sonolenta Louise e beijando sua testa. Ela vestiu seu casaco sujo, pegou sua bolsa e enquanto fazia tudo isso ele permanecera ali no mesmo lugar, tentando entender se aquele momento tinha acontecido ou se era produto de sua mente. Locksley só pareceu despertar de seu estupor quando Regina se materializou novamente em sua frente, o encarando outra vez – você não pode fugir de mim para sempre. Mas tudo bem, quando você estiver pronto – e então ela partiu.



* * *

Ester tinha ligado no dia seguinte, convidando-a para tomar um café no shopping já que ela precisava pegar uns últimos presentes. Regina aceitou, com o mesmo pensamento de comprar alguns presentes como forma de agradecimento. As duas mulheres tinham tido um tarde muito agradável e Mills estava começando a gostar muito da loira.

Quando após algumas voltas e muitos presentes, decidiram tomar outro café, Ester não se conteve e lhe perguntou a respeito de Robin. Regina riu meio sem graça, mas foi completamente sincera. Confessou que tinham se beijado, o momento na cozinha de Locksley e que tudo havia partido dela, que aquela tinha sido a confirmação de que seus sentimentos por ele estavam vivos e eram muito reais. Contudo, entendia que talvez aquele não fosse momento, já que Robin parecia estar com Zelena.

Ester segurou o sorriso, porém não negou. Ia deixar que seu amigo lhe dissesse a natureza da relação dele e sua prima caso quisesse. Regina continuava dizendo que ela e Robin tinham um péssimo timing, que pareciam aqueles casais de enamorados literários que estavam fadados a não estarem juntos. O que era muito injusto.

Após sua confissão, a gentil jovem senhora apenas segurou suas mãos juntas e lhe falou algo que permaneceria para sempre em sua mente:

— Você acredita em almas gêmeas Regina? – a morena sorriu.

— Eu acredito sim Ester, acredito porque é a única explicação para o que sinto por Robin não ter acabado depois de tudo o que vivemos. Mas acho também que nós somos aquele tipo de almas gêmeas castigadas a estarem vagando sem suas metades para sempre – torceu os lábios.

— O amor minha cara, sempre tem um momento certo para acontecer, é tudo questão de tempo e paciência. Confesso que para alguns flui mais facilmente – pensou a si e seu marido – mas para outros, ele vem ensinando lições importantes. E isso exige tempo e maturidade. Talvez seja o caso de vocês. Quando duas pessoas estão destinadas, existe um fio que liga suas almas e esse fio sempre vai atrair um para o outro. Veja só vocês dois. Aonde estavam meses atrás?! Nem sabiam o paradeiro um do outro e você acabou de me confessar que se beijaram há dois dias. Viu só? É o fio do destino que já os colocou frente a frente Regina. Agora é só questão de tempo. Seja paciente – Ester sorriu e deu uma piscadela. Muito intencionada em dar uma mãozinha ao destino e juntar esses dois de uma vez por todas. Ela só esperava que a magia do natal ajudasse.

* * *

A casa dos Little estava completamente decorada e cheia. Tinha uma abundância de comida, bebidas e alegria. Era assim quando a grande e atípica família deles se reunia. Robin adorava. Esse ano era ainda mais especial, pois tinha Lou Lou consigo. Teria até mesmo a presença de Regina. Se o tivessem dito isso 5 meses antes ele teria sorrido esperançoso. Agora, não sabia bem como se sentia. Na verdade, ele sabia, mas estava sendo muito teimoso consigo próprio para admitir.

As crianças corriam de um lado para o outro, volta ou outra indo até os pais implorando para abrir os presentes, Liam e Jacob, que tinha chegado antecipado, dois dias após seu chá de bebê, eram os mais mimados. Tinha visto até mesmo Regina segurando os pequenos uma ou outra vez.

A propósito, ela havia tentado chamá-lo para conversar, mas ele alegou que não era uma boa hora e se afastou deixando-a frustrada no corredor aonde o havia “encurralado”. Jhon que tinha ido até a cozinha pegar mais petiscos, vira a cena e quis dar um belo cascudo no amigo.

Não era tudo o que ele sempre quisera? Tê-la de volta? Deixando a vasilha com os petiscos sobre o balcão da ilha, seguiu casa a dentro a procura de Robin. Encontrando-o, pegou pela barra do moletom de natal e levou-o até o escritório que tinha virado uma sala de brinquedos onde não tinha ninguém.

— O que foi man? – Robin perguntou pela forma um pouco inesperada que seu amigo o puxou até o cômodo.

— O que deu em você? – Jhon o olhou com o cenho franzido.

— Como assim o que deu em mim Jhon? – o loiro continuava sem entender aonde o amigo queria chegar.

— Por que você está evitando Regina? Eu vi quando ela te chamou para conversar – Robin bufou revirando os olhos.

— Eu só não quero falar com ela, ok? – devolveu ele.

— Robin, ser assim tão ranzinza não combina nem um pouco contigo – o grandalhão estremeceu. Estava perdendo a paciência com a teimosia do amigo. Era pior que uma criança – Passei anos vendo você pedindo por uma segunda chance com essa mulher e agora que ela está aqui, diante dos seus olhos, livre e claramente interessada, pedindo, talvez até implorando para resolver as coisas, você simplesmente não quer falar com ela? Que diabos buddy??

Locksley pareceu abaixar a guarda, seus ombros até mesmo caíram:

— Sei que estou sendo um pouco ridículo.

— Pelo menos concordamos em algo – Jhon soltou um pouco irônico.

— Eh só que não é tão simples. Regina mexe comigo e sei que vou acabar fazendo algo a respeito se eu ficar sozinho com ela.

— E não é tudo o que você sempre quis? – o moreno o olhou confuso.

— É sim Jhon, só que a situação é diferente agora mate.

— Diferente sim, concordo. Porém agir como você está agindo só vai piorar as coisas. Você só está fazendo-a sofrer e acaba sofrendo junto ignorando-a assim.

— Eu sei... – suspirou cansado.

— Se você sabe que machuca porque você está agindo assim então? – interrogou seu amigo.

— Eu nem sei direito Jhon. Ás vezes eu acho que inconscientemente só queria fazê-la sentir como eu me senti. Ouvindo você falar agora percebo o quão ridículo soa.

— Então talvez você não a ame mesmo – Robin o encarou um pouco chocado – O amor não é sobre vingança ou sobre quem mais machuca, e sim sobre perdão e recomeços. Você viu como Will olhava e exibia o pequeno Jacob hoje como se fosse o tesouro mais precioso do mundo? Nosso amigo nem mesmo sabe se aquela criança é dele, mas decidiu que aquilo não importava e perdoou Ana. Você acha que ele estaria tão pleno como agora se tivesse escolhido o remorso e rancor ao invés de perdoá-la? Você acha que eles estariam dando certo e reconstruindo a relação se ele tivesse escolhido fugir e se esquivar, ao invés de ouvir e reconsiderar? Você sabe o que tem que fazer Robin, se você acha que o amor que sente vale a pena que terá que pagar, pague-a.

* * *

Robin ainda podia sentir as palavras de Jhon ecoando em sua mente. O que ela o fazia sentir valia seu orgulho? Sua expiação? Valia o recomeço? Seus sentimentos por Regina ainda eram reais, muito latentes dentro dele, não tinha como negar aquele fogo que muitas vezes parecia quase apagado, todavia, quando olhava dentro dos olhos dela e parecia ver todo seu futuro escrito naquelas fascinantes orbes castanhas, era impossível não sentir a brasa arder outra vez.

Principalmente depois daquele beijo, do momento na cozinha de sua casa. Fechou os olhos revivendo ambas as sensações que experimentara e sentiu seu corpo o trair e um sorriso brotar em seus lábios. Que tipo de sentimento era aquele? Capaz de sobreviver a tantos desencontros, segredos e conspirações? Ele ouviu a risada de Louise ecoar pelo corredor que levava a cozinha enquanto Tuck perseguia as crianças em uma brincadeira divertida pela sala. Era amor. O mesmo amor que tinha gerado aquele serzinho cheio de luz e que trazia tanta alegria para seu coração.

Regina tinha feito uma escolha no passado, influenciada ou não, mas que o tinha ferido demais, que o tinha roubado muito, entretanto, ela tinha lhe dado Louise e apoiado o relacionamento dos dois desde o início. Ela tinha crescido aquela garotinha fantástica e tão especial. Ele sabia que devia muito a ela também.

Por Louise, por ele próprio e por seus sentimentos, havia decidido que terminaria com a birra infantil e não ignoraria mais a conversa que deveriam ter tido após terem se beijado na apresentação de natal da ONG, aliás, da conversa que deveriam ter tido muito tempo atrás.

Com isso em mente, Locksley saiu pela casa na intenção de encontrá-la na sala junto dos outros, entretanto quando estava em seu caminho, notou a porta janela de vidro que dava para a varanda com uma pequena fresta e a viu, sentada na escada de 3 degraus que ligava a casa ao gramado.

Foi inevitável não voltar 6 anos antes, naquela festa de sua fraternidade, na primeira vez que a vira, em uma situação muito parecida, admirando o céu estrelado como agora. Passando pela porta deslizante, se aproximou, descontraindo:

— Acho que estou tento um déjà vu... – ela girou a cabeça o suficiente para olhá-lo de canto, igual tinha feito no passado e sorriu mordendo o lábio inferior. Dando mais alguns passos, se encostou despojado na coluna de madeira que segurava a cerca da varanda, ao lado dela – o que você está fazendo aqui fora? Está fazendo um frio horrendo! Tem até previsão de neve.

— Eu sei, mas vocês aqui em Nottingham têm uma vista incrível do céu. E olha só como as estrelas estão espetaculares hoje a noite – ela indicou e o loiro acenou. Ele concordava. Admirar o céu dali era uma visão e o jardim de Jhon tinha uma clareira que ajudava muito.

— Isso é porque você não o viu do terraço de Lion Heart Hall, é de tirar o fôlego.

— Eu me lembro de você comentar algo a respeito – sorriu nostálgica – Então você acabou voltando lá?

— Eu descobri que a casa é minha, na verdade...

— Oh – Mills procurou seus olhos, sorrindo genuinamente – isso é maravilhoso Robin! Você ama aquele lugar, nada mais justo.

— Minha mãe tentou esconder de mim esses termos do testamento de meu avô quando eu sai de casa. Esconderam muito de mim nos últimos tempos – olhou significativamente para ela, porém, Regina se sentiu envergonhada e desviou o olhar. Robin se abaixou, sentando-se no espaço vago ao lado dela – Desculpe, eu não estava falando de você especificamente.

Regina voltou a encará-lo, seus olhos estavam vidrados, mas ela engoliu o nó em sua garganta e respondeu:

— As vezes você fala e olha pra mim como se tudo o que eu mais desejasse era ter ido embora grávida aos 19 anos, ter criado nossa filha sozinha por 5 anos e passar por todas as provações que eu passei sem o apoio do homem que eu amava. Eu não planejei nada disso Robin, aliás, isso está bem longe do que eu tinha em mente para nós – respondeu firme.

— Por que então você não me contou logo que descobriu que estava grávida Regina? – interpelou.

— Porque eu estava apavorada Robin! – exasperou contida.

— Com a possibilidade deu não querer mais você? De não te ajudar com o bebê? Se é isso, só mostra o quanto você não conhecia a profundidade dos meus sentimentos por você – ele franziu o cenho, chateado.

— Não, não era isso – a morena meneou a cabeça tentando fazê-lo entender suas motivações – Robin, eu confiava em você com minha alma e coração – declarou segurando seu olhar – Mas eu estava apavorada com a possibilidade de você acreditar nas insinuações de sua mãe, de que ela fosse entrar na sua cabeça e fazer você me ver como uma golpista oportunista. Tanta coisa passou pela minha mente – suspirou pensando na garota de 19 anos ainda tão insegura sobre tudo – Eu sei que estava surtando. Então ri da minha própria tolice, você tinha o coração mais lindo que eu conhecia, claro que era uma loucura pensar que você não ficaria nada além de feliz com a notícia. Até que veio a noite da sua formatura – a expressão dele tinha suavizado um pouco e Regina sentiu o peito apertar ao reviver aquele dia – sua mãe me tratou com um lixo, me senti tão mal, porque agora todos nós estávamos conectados através do nosso bebê e acabei ficando tão triste por perceber que eu e ele nunca seríamos bem aceitos pela sua própria família, só de pensar que ela poderia fazer meu filho se sentir tão mal quanto ela me fez sentir aquela noite me dava arrepios... – a mulher estremeceu e Robin se compadeceu. Ele já tinha visto sua mãe humilhando muita gente e sabia bem como era. Só de imaginar que ela pudesse dizer coisas como as que disse muitas vezes a Regina fazia seu sangue ferver.

— Por isso você estava lá fora quando eu estava prestes a entrar para pegar o diploma... – Mills acenou – por isso estava agindo tão estranhamente – deveria ter imaginado que deixá-la sozinha na mesa com sua família tinha sido uma péssima ideia.

— Eu não queria causar uma ruptura entre vocês, porque era sempre assim quando nós todos estávamos no mesmo ambiente. Brigas e comentários horríveis. Eu quase te disse ali, quando você me confrontou o motivo deu estar tão preocupada com a opinião deles a meu respeito, quando eu estava deixando escapar, Kilian te chamou.

Maldição!

— Aquela família tinha rupturas desde muito antes de você Regina. E eu deveria ter ignorado Kilian aquele momento – fez uma carranca – Eu sentia que algo não estava certo. Deveria ter seguido meus instintos.

— Sua mãe teria vindo te buscar de qualquer jeito – ela meneou a cabeça – teria sido muito pior.

— Não me importava, parei de me importar quando ela ignorou e reduziu o que eu sentia por você a uma “brincadeirinha”. Eu te disse naquela noite que teria aberto mão do que fosse por você – reafirmou a promessa feita tantos anos atrás.

— E eu tinha acreditado Robin! – sorriu sem humor nenhum – Então no dia seguinte você me contou a história com Marian e eu só te vi escorrendo pelos meus dedos, parecia realmente que tudo contribuía para que não estivéssemos juntos.

— Você abriu mão de mim, de nós, muito rápido.

— Não diga isso, nunca mais! – Regina apontou o dedo indicador para ele – Porque eu esperei que você cumprisse a promessa que tinha me feito Robin, eu realmente esperei. Eu te liguei marcando um encontro, eu queria consertar as coisas entre nós!

Robin amaldiçoou sua mãe por isso. E a si próprio, porque ele estava tão envergonhado pela suposta traição que demorou demais para tomar um atitude.

— Indo embora? – mesmo assim não se conteve em inquirir sarcasticamente. Se arrependendo em seguida. Contudo, precisava colocar todos os sentimentos presos para fora.

— Não seja cruel – ela pediu – porque você sabe que não foi culpa minha. Deus sabe como eu queria ter aberto aquela maldita porta quando você foi até minha casa! – ela fechou os olhos. Ambos chateados pelas intempéries as quais haviam sido submetidos.

— Eu também queria que fosse você – suspirou sabendo que não podia sentir raiva por aquilo. Eles foram enganados. Não tinha sido culpa de falta de amor, tinha sido um malabarismo cruel de terceiros.

— Você tem noção do que eu senti? – perguntou com os olhos marejados – Eu tinha confiado em você, eu tinha me entregado de corpo e alma ao amor que tinha por você e acabei indo embora achando que você tinha desistido de mim por causa do seu dinheiro.

— Enquanto eu estava na verdade fazendo exatamente o contrário – constatou ainda com uma pitada de rancor.

— Mas eu não sabia! – Regina lamentou – Minha única alternativa foi aceitar a proposta do meu pai e seguir em frente com minha vida em outro lugar, eu tinha um bebê que dependia de mim. E sei que de fora, parece que foi fácil, mas precisei fazer terapia para conseguir fazer isso, se não a dor teria me sucumbido. Porque eu vi meu corpo mudando, um lembrete de que dentro de mim crescia o seu filho e depois ter que olhar nos olhos daquela criança todo dia e ver um reflexo dos teus próprios olhos, ver que por mais que ela fosse a minha cara, tinha seu espírito, sua áurea. Você acha que foi fácil superar tudo o que eu sentia tendo-a? – a essa altura Regina chorava – Tendo um pedaço seu comigo? Você acha que era essa tortura que eu busquei? – Robin engoliu a seco, sentindo a última parte de sua alma que ainda tinha qualquer queixa contra ela a perdoando – E não me entenda mal, porque eu amo Louise com tudo que existe em mim. Eu só passei pelo inferno que passei e estou viva por causa dela – enxugando as lágrimas que tinham escorrido pela bochecha com o dorso das mãos cobertas pelas luvas, Mills o encarou e pediu – Então por favor, não olhe para mim como se meus sonhos e anseios não fossem o contrário do que eu tive. Porque em todos eles você estava conosco – Robin ofegou. Ela tinha toda razão – Posso imaginar que você também teve seu próprio inferno para superar – suspirou enquanto pegava o lencinho de papel que ele lhe oferecera – eu só precisava colocar para fora.

— Eu passei todos esses anos esperando por você – ele finalmente falou, depois de alguns minutos em silêncio digerindo o que ele falava – Idealizando um futuro incerto mas muito desejado ao seu lado, então quando eu finalmente te encontrei e te vi seguindo em frente com outro cara, foi como cair de um prédio muito alto em concreto duro. Eu fiquei tão furioso, mesmo que não tivesse esse direito. E sei que tudo isso é porque – ele a olhou fixamente por alguns milésimos de segundos antes de prosseguir – eu te amava demais. Eu nunca tinha sentido e tido aquilo que nós compartilhamos antes, acho que perceber que talvez eu tenha sentido tudo isso sozinho me quebrou.

Regina baforou uma risada irônica em meio às lágrimas remanescentes. Era tudo menos aquilo.

— Eu estava seguindo em frente com minha vida, é verdade, tenho certeza que poderia ter me casado e sido feliz com Daniel. Mas nunca teria sido como era quando estávamos juntos. Por isso decidi terminar com ele. Porque eu sempre soube que faltava algo, por mais maravilhoso que fosse. E sabe como eu descobri o que faltava? – ele meneou e ela sem titubear foi adiante – Quando olhei nos seus olhos naquele escritório Robin – ela o fitou tão profundamente que fora obrigado a suspirar – Parecia incompleto com ele porque sempre foi você aquele destinado a mim. O que eu experimentei com Daniel foi doce, foi especial. Todavia, o que eu tive contigo... – suspirou – foi transcendental, uma conexão de outras vidas, foi algo que fez eu entender o conceito de almas gêmeas.

Locksley engoliu a seco, ainda sem saber o que responder. Regina estava lançando por terra todas as suas queixas sem que ele nem mesmo as tivesse declarado.

— Enfim... eu acho que preciso te pedir perdão por ter te beijado no dia da apresentação e depois por ter meio que te encurralado na cozinha de sua casa – Regina mordeu o lábio inferior, hesitante e ele desconfiou que ela não sentia tanto assim – Eu só... é que... – deu de ombros meio perdida – ouvir você cantar aquela música mexeu comigo e não sei o que deu na minha cabeça. Espero não ter te colocado em uma situação ruim com sua namorada.

— Quem? A Zelena? – Regina acenou e ele soltou uma risada – nós só somos amigos. E de todo jeito, não peça desculpas por me beijar – o loiro piscou malandro, sorrindo de canto.

Regina sorriu tocada, ajeitando uma mecha de cabelo que havia escapado do gorro. Em seguida, estendeu a mão para tocar uma das bochechas dele, porém, parou o movimento no ar.

— Eu sei que você disse que não queria uma segunda vez, mas preciso dizer que... – ela umedeceu os lábios tomando coragem – mesmo depois de tudo, meus sentimentos por você ainda existem e depois que eu te beijei outro dia, eu os sinto ainda mais intensos aqui dentro. Eu... – ele a interrompeu, talvez não preparado para ouvir o que viria a seguir.

— Eu sei Regina – tomando o rosto dela em suas mãos, aproximou-os até que pudesse encostar sua testa na dela, continuando – tentei te odiar, Deus sabe o quanto eu tentei! E até consegui, mas não por muito tempo, você chorou nos braços uma vez e já senti tudo aquilo se esvaindo. Não posso, não posso te odiar, não posso fugir do que sinto por você porque está entranhado em mim tão profundamente que já faz parte do meu ser e eu não consigo me imaginar não te amando. Não quando eu olho para nossa filha e vejo seu rosto estampado no dela, no sorriso perfeito, nos cabelos de ébano, nos modos refinados – sorriu com a imagem – Eu te amei tanto que em algum momento acabei esquecendo de mim. Que acabei me perdendo no meio da intensidade dos meus sentimentos. Estou finalmente me encontrando e entendendo. Estou tão feliz com Louise. Talvez... – abriu os olhos e se afastou um pouco para fitá-la – ela seja a concretização do nosso destino, talvez... tenhamos vivido tudo o que tínhamos para viver...

Regina podia ver o conflito interno através dos olhos dele, ela entendia todas as suas razões. Só que não queria perdê-lo uma segunda vez, estava decidia a lutar por ele, diferente da última vez agora não tinha ninguém entre eles além deles mesmos. Então, não desistiria até que ele o dissesse para fazê-lo com todas as letras.

Tinha começado a nevar, ela percebera enquanto buscava uma resposta que o fizesse ver que a história deles não tinha terminado, pelo contrário. Ainda nem tinha começado.

— Você se sente realizado Robin? – perguntou colocando o rosto dele entre suas mãos – Sente como se tivéssemos vivido tudo o que o destino preparou para nós? – acariciou sua barba por fazer – Como se a nossa história estivesse concluída? – Robin engoliu a seco, encarando-a sem palavras – Tudo bem, você não precisa responder. Você esperou por mim, agora é a minha vez. Quando você estiver pronto – ela deixou um longo beijo em sua testa, se levantando e voltando para dentro da casa enquanto ele ficara lá fora por mais alguns minutos, apreciando a neve cair, deixando as palavras dela ecoarem dentro dele e sentindo-se muito mais leve por ter aberto seu coração e se permitido liberar de tudo aquilo que estava preso. Seria tudo realmente uma questão de tempo para eles?

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.