Acordou de um chacoalhão. Assustada, levantou de um só impulso embaiando somente um de seus sais (ela não se lembrava onde havia deixado o outro.

"Oh, me desculpe se a assustei, mas por favor, não me mate!" - gritou apavorado um rapaz magricelo, com os olhos arregalados voltados para a arma de Gabrielle.

"Pelos Deuses Damian, por pouco eu não o matei! Por que me acordou desta maneira? Eu não avisei que detesto que me despertem?" - Questionou Gabrielle, enquanto seus olhos deslizavam pela habitação à procura de sua outra afiada adaga.

O jovem, ainda visivelmente abalado pela situação, explicou trêmulo: "O capitão mandou acordar a todos a bordo pois estamos prestes a ser abordados por um outro navio. Ao meu ver, não parece ser pirata mas, o capitão não tem certeza de que sejam confiáveis".

"Está bem, eu já vou subir. Dê-me um tempo para me arrumar... Obrigada por avisar e, me desculpe pelo de antes... Eu não queria te assustar também" - lamentou-se ela.

O rapaz apenas acenou, a esta altura ele já estava ao pé da porta e a fechou.

Gabrielle estava envergonhada. Ela poderia tê-lo matado acidentalmente, pois não estava alerta como Xena a tinha ensinado. Seus sentidos foram totalmente embriagados por um quantidade elevada de garrafas de vinho. Todas as noites eram assim agora, só conseguia dormir depois de embebedar-se até apagar e cair em um reconfortante estado de esquecimento total.

Se não fosse o fato do rapaz não representar nenhum perigo, ela poderia estar morta agora, certamente estaria. Teve sorte mais uma vez mas, até quando?

Sentiu vergonha pela embriaguez de cada noite, por não estar vigilante e também por colocar a vida daquele jovem e a sua própria, em risco.

"O que Xena diria?" - cobrou-se. "Bom, para dizer algo ela teria de estar aqui e ela não está!" - pensou amargurada, olhando para seu chakram e fixando-o à cintura, caminhando em direção a porte de saída do aposento.

Chegando à proa, avistou o capitão segurando o que seria um telescópio, por onde observava se aproximar, rapidamente a estibordo, um grande navio que levava as cores azul e negro estampadas na flâmula arvorada no mastro principal.

"O senhor reconhece esse navio, capitão" - perguntou Gabrielle ao perceber como o capitão estava perturbada ao abaixar o instrumento.

"Eu não posso dizer que o conheço em específico mas já tinha ouvido falar dessa flâmula, dessas cores."- respondeu com um olhar distante e, virando-se para seus homens no convés, continuou em alto e bom tom: "Seremos atacados em instantes. Preparem-se para a batalha de suas vidas. Aí se aproximam Os Carniceiros".