Um Novo Aluno

Cap. 07 Música!


Na aula de música, Finn impressionou-se com a sala de aula. Embora fosse igual a de Etiqueta, seu interior, ao invés de ser preenchido por mesinhas delicadas era cheio de instrumentos de variados tipos. Marshall, em um esforço hercúleo para não gritar com Jujuba e Marceline, que nem sequer se olharam o lanche inteiro, ocupou-se em explicar ao loiro sobre o método de ensino do professor Vulcan.

— Você escolhe um instrumento e ele te ensina o básico, depois, todas as aulas são de ensaio.

O humano passou os olhos em alguns tambores, guitarras e nas duas baterias ao fundo. Embora a tensão gerada pela Princesa doce e a Abadeer fosse capaz de deixar qualquer um desconfortável, Finn não conseguia frear sua animação e Marshall parecia fazer o possível para tranquiliza-lo:

— Amanhã mesmo estarão se falando, não podem evitar, adoram se alfinetar. — sussurrou quando as duas se afastaram em busca de instrumentos.

O loiro o olhou e constatou que o vampiro falava aquilo mais para si mesmo do que para ele. Os olhos negros brilhavam de irritação.

— Está tudo bem mesmo? — Finn perguntou quando Marshall pegou uma guitarra azul.

— Não realmente, quero dar uns cascudos nelas, mas isso não às fara amigas. E essa sensação de que não posso fazer nada para muda-las é sufocante. — disse suspirando e para mudar de assunto, abriu um sorriso não tão grande quanto os outros que dedicava a Finn e perguntou — E então, o que vai ser? Um sax, um violino, uma bateria?

— Bem, na verdade eu sempre quis aprender a tocar flauta. — Finn respondeu desviando os olhos e se sentindo meio ridículo.

O vampiro segurava uma guitarra maneira e ele ali, querendo tocar uma simples flauta.

— Legal, nunca fui muito bom em instrumentos de sopro. — o vampiro disse e o loiro o fitou, seu sorriso parecia maior — As presas atrapalham sabe?

Finn ignorou as batidas de seu coração, que ficaram mais fortes, e procurou uma flauta nas várias caixas e cantos da sala. Quando foi abrir um baú para conferir se havia o determinado instrumento, acabou tocando em uma mão rosada. Recolheu seu braço rapidamente ao erguer a vista e dar de cara com um Chiclete sorridente, sua expressão de triunfo causou uma coceira nas palmas de Finn.

— Achou mesmo que eu deixaria barato o que aquela idiota da Marceline me fez? A senhora Schmid disse que prepararia um discurso sobre a imundície da Noitosfera para a próxima aula de Etiqueta. Fico feliz por você ter encontrado pessoas de seu nível para andar, plebeu.

Finn preparou uma resposta ácida para Chiclete, não o conhecia há dois dias e já o detestava a ponto de ter vontade de batê-lo. O primo de Jujuba parecia-se muito com seus ex-colegas de escola.

— Não entre no jogo dele Finn. — a Princesa disse — Está o provocando porque sabe que está junto de nós.

O humano olhou por sobre o ombro e viu Jujuba. A garota tinha dado um jeito nos cabelos, mas uma de suas bochechas continuava vermelha, e o loiro pensou que o tapa que a Princesa doce levara da vampira devia ter realmente doído. Desejou fazer um estrago semelhante na cara de Chiclete, contudo resolveu dar ouvidos a nova amiga.

— Ah, olha só para você prima, tentando dar uma de civilizada mesmo depois do que aconteceu na biblioteca, é comovente.

Chiclete zombou antes de empinar o nariz, dar meia volta e seguir para o grupinho de Lumpy.

O professor chegou instantes depois de Finn encontrar uma flauta. Ele tinha contado a Marshall o que Chiclete o dissera e o vampiro pareceu estremecer de fúria.

— O garoto novo, venha logo aqui para frente com o instrumento escolhido. O resto comece a se aquecer.

Finn segurou firmemente a flauta e foi até o professor, ansioso, o som de instrumentos variados sendo tocados e afinados encobriu a sala em uma cacofonia. Olhou para trás e viu Marshall e Jujuba fazendo um legal com o polegar. Sentiu-se mais seguro e encarou o professor Vulcan nos olhos. Era um homem de sua altura e parecia feito de pedras e fogo. Estralando os dedos pedrados, Vulcan encarou o instrumento na mão de Finn.

— Vejamos o que temos aqui. — ele desviou os olhinhos de chamas para o rosto do loiro.

Finn corou, pensou que “devia mesmo ter escolhido uma guitarra ou qualquer outra coisa mais legal”, mas Vulcan lhe deu um sorrisinho cúmplice.

— Enfim alguém que quer toca-la.

O garoto demonstrou confusão e o professor esclareceu:

— Essa flauta era minha, sabe? Dos meus tempos de escola, sempre gostei muito do som dela, mas faz anos que os alunos a ignoram. Acham muito mais interessante pegar uma guitarra ou uma bateria.

Finn ficou meio desconcertado, pois havia pensado há poucos segundos que deveria ter pegado um instrumento mais “interessante”. Contudo, saber que o professor Vulcan ficara feliz com sua escolha o deixou aliviado.

— Bem, vamos começar. — ele exclamou alto para sobrepujar o barulho na sala.

O loiro esperou que Vulcan o ensinasse alguns acordes e a ler partituras, entretanto, tudo o que ele fez foi ordenar:
— Feche os olhos e relaxe.

Finn o obedeceu, engolindo em seco quando o vermelho que via através de suas pálpebras ficou escuro. O professor tinha uma mão em frente ao rosto do garoto.

De repente, o humano teve um pequeno estremecimento e seu corpo inteiro se aqueceu.

— Pronto, agora só precisa ir praticar.

Finn abriu os olhos, praticar? Mas não sabia acorde nenhum! Abriu a boca para dizer isso, porém...

— Sente-se naquele banquinho, tem algumas partituras ali. — Vulcan disse apontando para o canto direito da sala.

O loiro olhou para a direção e viu, de fato, um banquinho de três pernas e algumas folhas que ele imaginou serem as partituras. Lançou um olhar intrigado para o professor, mas tudo o que Vulcan falou antes de se afastar de Finn foi:

— Confie em mim garoto.

Com isso, Finn e a flauta foram até o canto. A sala silenciou-se de uma vez, e antes de Finn se sentar ele sentiu que alguém o observava. Virou-se e se deparou com os olhos negros de Marshall o encarando. O vampiro moldou as palavras com os lábios ”tudo ok?”.

Com o rosto pegando fogo, o loiro assentiu levemente com a cabeça em um silencioso “sim”.

— Ótimo, cadê meus dois ídolos? — a voz de Vulcan perguntou à sala — Isso mesmo Marshall, Marceline, venham para frente, sabem que quando se trata de vocal vocês são os melhores.

Finn olhou por cima do ombro mais uma vez e viu os dois vampiros se dirigindo ao meio da sala, de frente ao professor. Marshall com a guitarra azul e Marceline com um baixo preto.

— Então, todos ainda lembram-se da letra da última aula? — ninguém se pronunciou, o que Vulcan entendeu como um “sim” coletivo — Certo, estão esperando o que então?

O som de um piano solitário soou na sala e Finn procurou quem tocava e se deparou com uma Jujuba de olhos fechados, dedilhando as teclas de um grande piano em um canto da sala. Então o baixo de Marceline a acompanhou, grave e melancólico, daí outros alunos também fizeram o mesmo com seus instrumentos, e o último foi Marshall com sua guitarra.

— Vamos garoto, eu disse para praticar, quanto mais rápido pegar o jeito mais depressa os acompanhara. — a voz de Vulcan fez Finn se sobressaltar, nem tinha notado a aproximação do professor.

Virou-se para as partituras e, sem explicar como, sabia a forma exata de segurar a flauta, entendia os acordes na partitura e tinha uma certeza absurda de que seus dedos sabiam onde precisavam ficar para formar o dó, o fá e o mi.

O loiro comprimiu os lábios e espantou-se ao perceber que também sabia como devia soprar para que o som saísse da flauta. Entretanto, ao tentar reproduzir aquilo que seu cérebro estranhamente conhecia, Finn desafinou miseravelmente e seus dedos não acompanhavam os acordes no tempo certo da melodia.

Ainda assim, ficou assombrado pelo novo e súbito conhecimento e ao olhar para cima, os olhos de Vulcan o observavam, risonhos.

— Não fique tão impressionado garoto, posso te passar o básico, mas você ainda precisa praticar para pegar o jeito. — comentou depois de dar uma sonora gargalhada.

Finn compreendeu que o professor, de alguma forma, havia enfiado aquele conhecimento em sua cabeça. Retornou a partitura, pronto para tentar mais uma vez, porém, teve de parar para apreciar a voz agradavelmente rouca de Marshall, que invadiu a sala em harmonia com a melodia formada pelos instrumentos.

“Take away all your things and go

You can’t take back what you said, I know

I’ve heard it all before, at least a million times

I’m not one to forget, you know”

O loiro se arrepiou, não entendia a letra, mas o vampiro cantava tão bem que quase sentia o que ela significava.

“I don’t believe, I don’t believe it

You left in peace, left me in pieces

Too hard to breath, I’m on my knees

Right now”

Então, Finn prendeu a respiração quando Marceline acompanhou Marshall no refrão, os dois eram realmente incríveis!

“I’m so sick of that same old love,

That thing, it tears me up

I’m so sick of that same old love,

My body’s had enough

Oh, that same old love”

Ele pensou em se virar para ver os dois, mas raciocinou melhor e decidiu voltar a praticar, quando ficasse melhor na flauta poderia acompanhar as aulas de música com seus amigos.

E com a música como fundo, Finn se esforçou para se concentrar em terminar a partitura. Vulcan interrompeu o som umas duas vezes, corrigindo alguns alunos que erravam. No final da aula, o loiro já se acostumara com o instrumento e quase tinha pegado o jeito.

— Muito bem turma! — Vulcan elogiou quando todos recolhiam suas coisas ou guardavam os instrumentos para ir embora — Até sexta-feira.

***

No ônibus, o loiro se impressionou com a capacidade que Jujuba e Marceline tinham de se ignorar, sentavam-se uma ao lado da outra, mas cada uma agia como se estivesse sozinha. E Finn se pegou desejando que voltassem a discutir como antes.

— O que achou da aula de música? — Marshall perguntou ao humano, a guitarra parecia ter arrancado toda a sua irritação.

— Demais! — disse e acrescentou — Você e sua irmã cantam muito bem!

— É, bem, é. — o vampiro respondeu encabulado, as bochechas corando e começou a tirar a franja dos olhos, disfarçando.

O coração de Finn pulou e ele se viu desejando que Marshall olhasse para ele. Porém, o moreno decidiu que a paisagem do lado de fora da janela era incrivelmente interessante.

— Finn, Marshall. — uma voz desagradavelmente anasalada chamou — O diretor mandou avisar que é para vocês cumprirem seu castigo este sábado!

Lumpy parecia tão satisfeita em espalhar para todo mundo do ônibus que os dois estavam de castigo. Finn ficou irritado, mas Marshall sussurrou:

— Então, eu te pego sábado?

O loiro o fitou, os olhos arregalados, porém, ao ver o olhar divertido do vampiro entendeu que ele se referia a busca-lo em casa para leva-lo até a residência do Rei de Ooo.

— Tem uma mente muito perversa, Finn. — o moreno comentou segurando o riso e o humano corou.

***