Wedge Antilles calçou as suas luvas, puxando-as bem para ajustá-las nos dedos. A unidade R2 já tinha sido encaixada no lugar apropriado no seu caça X-Wing e fazia as verificações habituais antes da descolagem. Os motores, recentemente ligados, aqueciam e rugiam, criando uma ventania artificial nas suas costas. Ele olhou por cima do ombro e viu os outros quatro pilotos a ultimarem os respetivos preparativos. Um enfiava o capacete, outro sentava-se na apertada carlinga do caça, um terceiro fazia um ritual supersticioso junto à escada, o quarto calçava, como ele, as suas luvas.

O ataque à base imperial de Dantooine iria finalmente começar. As ordens tinham sido recebidas nessa madrugada numa mensagem encriptada proveniente da própria base, dos alojamentos que ele supôs, corretamente, estarem a ser usados por Luke Skywalker, o líder da missão, e restantes companheiros que se tinham enfiado de propósito no covil da besta. Fora uma jogada arriscada e ele ainda não estava seguro de que tinha sido a melhor coisa a fazer, naquela ou noutras circunstâncias. Não tinha tempo para elaborar conjeturas sobre o que já tinha sido preparado e firmemente decidido, era-lhe exigido que passasse à ação e era o que ele fazia, com a adrenalina a inflamar-lhe o corpo à medida que vencia os degraus metálicos que o levavam à carlinga do seu caça X-Wing.

Sentou-se, ligando os terminais do seu fato de voo ao painel de instrumentos. Já tinha colocado o seu capacete e as luvas estavam bem calçadas. Para ele era um pormenor importante, as luvas. A unidade R2 apitava enquanto fazia as verificações habituais, com os motores a zunirem de forma cada vez mais ruidosa, a fuselagem a abanar loucamente, a nave quase implorando para sair do chão.

As ordens eram simples e continuavam a seguir o plano inicial, o que significava que não tinha acontecido nada de extraordinário ou de imprevisível que tinha motivado a alteração para o plano contingencial. Os caças dariam cobertura à investida terrestre, que seria protagonizada pelos dezoito soldados que seriam transportados até ao local nas naves TC9 e desembarcados numa clareira previamente identificava, situada próxima da base, que possibilitaria um pouso relativamente normal. Entretanto, Skywalker e a sua equipa estariam na base a operar como reforço à investida terrestre. Objetivo: capturar o comandante da base imperial, capturar o máximo possível de prisioneiros, desmantelar o recinto, terminar com as comunicações hostis e retirar para Yavin Quatro.

A carlinga fechou-se com um estalido, Wedge agarrou-se aos comandos da nave e com um toque suave, instintivo, fez a nave subir dançando, devagar, ligeira, quebrando assim a desnecessária ligação com o chão. Um caça tinha sido construído para voar. Por cima dele, através do vidro da carlinga, viu os transportadores cruzarem o céu. Ativou o intercomunicador.

— Daqui Líder Vermelho. Comuniquem, por favor. Escuto.

Os quatro pilotos responderam com o respetivo nome de código, Vermelho Três, Vermelho Sete, Vermelho Dez e Vermelho Onze.

— Sigam a minha liderança – disse Wedge levando o caça para o céu, atrás dos transportadores que esperavam pela escolta. Sentiu aquela liberdade única de quando pilotava, a impressão de não ter constrangimentos de qualquer espécie, de ser inatingível nas alturas, quer fosse na atmosfera de um planeta ou nas profundezas do espaço. – Terminem com todas as comunicações até chegarmos à base imperial. Silêncio rádio obrigatório. Qualquer problema deverá ser comunicado através das unidades R2 e em baixa frequência. Terminado.

A resposta veio afirmativa do quarteto de pilotos que seguiam na sua esteira, que também tinham levantado voo, imediatamente atrás dele. O ar parecia pesado e difícil de vencer, a nave abanava por todos os lados, luzes de alarme intermitentes piscavam no painel defronte dele. Wedge disse para o seu astromec, segurando a manete com força:

— Verifica os estabilizadores. A calibração com a atmosfera do planeta não me parece a mais adequada. Algum cálculo diferente?

O astromec negou com alguns apitos. Wedge ajeitou-se no assento. Alguma coisa lhe parecia diferente ou seria ele que estava nervoso. Não quis pensar na última hipótese, seria descabida, inapropriada e desconcertante. Nunca tal lhe tinha acontecido, nem em face da monstruosidade metálica da Estrela da Morte.

O caça continuava a subir, balançando como se puxado por forças opostas. A unidade R2 apitava enquanto ia corrigindo a situação reportada, mas as oscilações persistiam. Quando acelerasse, pensou Wedge tranquilizando-se por ver que os estabilizadores estavam a responder aos ajustes do astromec, o X-Wing voaria com firmeza. Não via qualquer razão para aquele comportamento. Os caças tinham sido inspecionados em Yavin Quatro pelas equipas de manutenção e ele vigiara-os, juntamente com os seus camaradas pilotos, durante o curto tempo que tinham passado escondidos em Dantooine. Para mais, tinham todas as informações pertinentes sobre o planeta, já que a Aliança ali tinha operado durante um considerável período de tempo, e computara outras que tinham sido inseridas nos computadores de bordo. Wedge respirou fundo. Estava a deixar-se intimidar por fantasmas inexistentes.

De seguida, abriu o canal para os transportadores e falou para as três naves ao mesmo tempo, embora se dirigisse ao tenente que liderava o pequeno contingente de tropas rebeldes.

— Daqui Líder Vermelho. Sigam atrás dos X-Wing e aterrem no local combinado previamente. Ativem os intercomunicadores uma vez estacionados e prossigam com o ataque por via terrestre logo que o sinal seja enviado para a base imperial, de acordo com o esquema tático definido pelo comandante Skywalker. A vossa ordem primordial é a captura de Evret Vikasterr. Escuto.

— Compreendido, Líder Vermelho. Terminado.

— Terminado.

O nome do comandante do quartel-general inimigo tinha sido comunicado já em Dantooine, pelo grupo rebelde inserido na base. Era a Jenna Shmura quem operava o transmissor clandestino rebelde e que lhes tinha passado as últimas informações, fundamentais para a conclusão daquela missão. Wedge admirava a coragem da mulher. Tanta coisa poderia correr mal durante aquela operação secreta e, se o sinal tivesse sido detetado, ela seria torturada sem piedade. Ele conhecia bastante bem os métodos refinados com que o Império tratava os seus inimigos, tinha assistido a muitos interrogatórios e a outras situações difíceis. Geralmente, os interrogados não sobreviviam.

O X-Wing sobrevoava uma vasta área arborizada do hemisfério sul do planeta e o seu voo era, agora, mais regular, o que agradou a Wedge que de pronto olvidou todos os pensamentos negativos que estavam a ocupar-lhe a mente desnecessariamente.

Não era só a Jenna Shmura que arriscava o pescoço. O perigo estendia-se também a Luke e aos outros, que estavam tão expostos ao inimigo quanto ela, ao se encontrarem no interior da base que Vikasterr comandava. Também se estendia a ele próprio e aos pilotos dos caças que voavam atrás dele, aos soldados nos transportadores. À própria Rebelião se falhassem e se fossem capturados com vida. O Império adoraria arrancar-lhes a confissão mais estimada daqueles tempos para o governo totalitário da galáxia: onde se escondia a base da Aliança.

Wedge acelerou o caça e logo os outros quatro seguiram-no na mesma velocidade. Ligou a camuflagem que o faria, a longa distância, invisível aos radares montados próximo da base imperial, que serviam para prevenir aproximações de veículos aéreos não identificados e não autorizados. Desligou as comunicações e empurrou a manete um pouco mais. O seu X-Wing seguia a baixa altitude, a ponta de uma formação em V com os restantes caças idênticos, firmes nos seus lugares na mesma formação. Menos rápidos, os transportadores acompanhava-os a uma distância razoável que se iria alargando até atingirem o ponto de chegada, mas o cronograma pressupunha esse atraso. Era também fundamental que o ataque terrestre se seguisse a um primeiro varrimento de fogo dos caças, destinado precisamente a neutralizar pontos fulcrais defensivos da base imperial e a abater armas que, de outro modo, atingiriam fatalmente os homens no terreno.

Passaram o equador. Seguiam a uma velocidade constante, com a rapidez suficiente para que aquela viagem não lhes mexesse demasiado com os nervos por ser excessivamente demorada. O alvo estaria à vista dentro de menos de três minutos-padrão. Wedge e os outros pilotos conseguiam controlar não apenas o tempo, mas também as milhas que faltavam para chegarem ao local que iriam atacar, por um pequeno monitor que lhes transmitia essa informação através das medições do computador de bordo que analisava constantemente o seu banco de dados e o terreno que se desenrolava por debaixo dos caças, entre florestas, rios e prados. Ajeitou-se no espaço exíguo da carlinga, mais para fingir que se colocava confortável, do que efetivamente para mudar o corpo de posição. Ele mal se conseguia mexer ali dentro.

Menos de dois minutos-padrão.

Dantooine era um planeta simpático, com paisagens bonitas e harmoniosas, pacífico e muito interessante, com uma população variada de humanos e alienígenas que conviviam bastante bem com as suas diferenças, bem organizado e com alguns recantos misteriosos que se prestavam à curiosidade e à exploração. O que muitos desconheciam, incluindo todos aqueles que participavam naquela missão e a esmagadora maioria dos habitantes da Base Um de Yavin Quatro, era que ele, Wedge Antilles, já tinha morado em Dantooine e que já tinha experimentado as maravilhas daquele mundo. Aliás, tinha sido aquela a primeira base da Aliança que ele conhecera logo que desertara das forças armadas do Império Galáctico.

No monitor iniciou-se a contagem regressiva, faltava menos de um minuto-padrão, os números só cessariam quando atingissem o zero, indicando a chegada ao alvo definido. O caça desacelerou quando as asas S-Foil se abriram, criando a forma cruzada que lhe dava o nome, um X gigante e ameaçador, nas pontas dos quais se montavam os letais canhões laser. Os caças na retaguarda imitaram-no.

Wedge esboçou um sorriso. Estava a regressar a uma casa que tinha conhecido muito bem… Infelizmente, vinha para destruir as derradeiras lembranças que conservava dali. Quando faltavam trinta segundos-padrão avistou as primeiras torres e os muros da base imperial no horizonte, depois das árvores. Ligou o rádio, os quatro pilotos estariam a fazer o mesmo. Nos transportadores, que se aproximavam do seu local de pouso, ligeiramente distante, nas margens de um extenso lago que bordejava os muros mal cuidados do recinto inimigo, repetia-se a mesma ação.

— Sigam o líder. Primeiro ataque, disparos intensos e constantes. No segundo ataque, dividam-se e procurem pelos alvos prioritários do vosso setor. Terminado.

A sua unidade R2 laborava incansável.

— Sim, os estabilizadores continuam a não responder como deviam – concordou Wedge verificando o monitor quadrado onde apareciam leituras de desempenho da nave, após um relance ao que via no exterior pela carlinga. – Corrige!

A ponta do seu X-Wing mergulhou sobre o perímetro militar que se desenhava abaixo, construções cinzentas e negras que tinham conquistado a natureza verde do planeta, e começou a disparar. O brilho incandescente dos tiros laser, de onde jorravam fagulhas brancas, iluminou-lhe o olhar, atrás da viseira do capacete. Sabia, sem o ver, que estava a causar o caos lá em baixo, a surpresa, a incredulidade, a raiva.

Ótimo! Que ficassem enraivecidos e com vontade de ripostar! Não teria piada se fosse apenas um ataque sem resposta, desejava uma boa luta, embora soubesse que seria difícil que conseguissem enviar os seus caças para que os enfrentassem em combate aéreo. Um dos alvos prioritários era a destruição da escassa frota de caças TIE à disposição naquela base, com o objetivo simples de impedir que fosse uma ameaça para os rebeldes.

Puxou a manete e o X-Wing descreveu uma curva apertada, para depois tornar a mergulhar sobre o complexo militar. Outros disparos, outros brilhos. Os seus camaradas já não o seguiam. Viu dois deles, o Vermelho Sete e o Vermelho Onze a voar à sua frente, atingindo com uma precisão invejável as torres onde se alojavam os canhões da defesa antiaérea. Surgiram tiros verdes, adversários. Ele desviou-se, fazendo o caça dançar com elegância no meio da confusão e do fumo.

— Atenção! Não atinjam a pista principal dos hangares. Lembrem-se de que a Millenium Falcon encontra-se aí estacionada e de que o capitão Solo vai precisar da sua nave para sair daqui, juntamente com o comandante Skywalker e o seu grupo. Escuto.

— Compreendido, Líder Vermelho. Está a ser uma festa interessante. Escuto!

Passado um pouco, durante a terceira passagem sobre a base, Wedge recebeu o sinal de que a ofensiva terrestre tinha começado. Os soldados já tinham desembarcado dos transportadores e liderados pelo seu tenente e dois sargentos invadiam a base imperial. Wedge ordenou aos caças que retirassem e que se mantivessem a postos para ripostar apenas se fossem atacados. Por terra e também pelo ar.

Nem sinal de um único caça TIE nos céus. Lamentavelmente…

Enviou uma comunicação para verificar o estado dos caças, solicitando um ponto de situação. Apenas o Vermelho Sete apresentava problemas, pois tinha sido atingido. Perguntou-lhe se conseguia aguentar, o piloto respondeu-lhe que tudo estava bem. Ele desconfiou que não. Preparou-se para protegê-lo e manobrou o seu caça para se juntar ao X-Wing danificado.

Disse de si para si:

— Vamos lá, Luke. Sai daí para podermos acabar… com esta festa interessante!

***

O maxilar de Jenna Shmura desenhou-se sob a pele macia do seu rosto quando ela apertou os dentes com força. Declarou apreensiva:

— O Vikasterr escapou.

Luke murmurou uma imprecação.

— Como sabes isso? – perguntou Han.

— Acabaram de lançar o código de evacuação. Presumo que se destine ao comandante e aos oficiais de topo que o acompanham nesta comissão, capitão Solo. Não estou a ver o Império preocupado com os stormtroopers.

O contrabandista relevou o sarcasmo da resposta, tinham outros problemas imediatos para resolver, sendo o mais importante e prioritário encontrar o caminho certo para chegarem à pista onde estava a Millenium Falcon, que os levaria para fora da confusão e da gritaria em que se tinha transformado a base com o início do ataque rebelde.

Artoo ligava-se ao computador central e fazia algumas verificações da situação atual, tanto a pedido de Luke, como a pedido de Jenna, mais familiarizada com a maneira de operar do Império Galáctico e que, ao quebrar os códigos listados por Artoo, dava-lhes informações precisas muito úteis. Threepio, atrás deles, agitava-se inquieto, voltando-se amiúde para o fim do corredor onde tinham parado para aceder ao sistema computorizado. Chewie também fazia as vezes de vigia, observando atento as movimentações que fossem ameaçadoras.

O wookie estava armado com uma espingarda laser E11 que tinha sido roubada a um stormtrooper abatido, o mesmo acontecendo com Han e Luke. A Jenna tinha-se armado com uma pistola laser SC-4 roubada ao oficial que comandava o pelotão que eles tinham encontrado e afastado, saídos dos seus alojamentos, pouco tempo depois de Luke ter enviado a ordem que desencadeou o assalto rebelde à base. A mulher carregava ainda, às costas, ao lado da sua mochila, o equipamento portátil de comunicação, não se quisera desfazer do aparelho apesar dos protestos de Luke.

Até ali estava tudo a correr conforme planeado e esperado, mas Luke começava a ficar impaciente. Saber que Vikasterr tinha sido evacuado irritou-o a sério. Han tentou acalmá-lo dizendo-lhe que o objetivo secundário estava cumprido, pois tinham terminado com a tal comunicação que procurava pela Estrela da Morte e tinham ganhado o tempo de que a Aliança precisava para uma evacuação tranquila.

— Com o Vikasterr à solta, não vamos ter uma saída fácil do sistema – explicou Luke consternado, mais inquieto do que Threepio. – Vamos ser perseguidos. Mas se eu contactar o Wedge…

— Esquece, miúdo! – avisou Han. – Só temos cinco caças, não vão conseguir intercetar a nave de transporte do Vikasterr com sucesso, que estará protegida por caças TIE em número muito superior ao nosso.

Luke baixou a cabeça, apertou o intercomunicador na mão esquerda.

— Temos de continuar a andar e chegar aos hangares. Já temos toda a informação de que necessitamos. Não é assim, Shmura?

Ela concordou, embora contrariada.

— Não vamos conseguir conquistar totalmente esta base, mas os estragos já estão feitos – prosseguiu o contrabandista, na mesma tentativa de acalmar Luke. – Seria excelente levarmos o Vikasterr como nosso prisioneiro, um importante trunfo para que a Aliança pudesse negociar com o Império e ganhar ainda mais tempo para a evacuação de Yavin Quatro, mas não foi possível. De qualquer modo, as nossas táticas de guerrilha não permitem melhor do que este ataque repentino com uma fuga a seguir.

Chewie rosnou. Um segundo pelotão de stormtroopers aproximava-se a correr, conseguia escutar os seus passos pesados. Threepio guinchou:

— Oh, céus! Rápido, rápido! Não podemos esperar mais, temos de sair daqui.

— A nossa fuga vai ser complicada – apontou Luke frustrado.

Han rasgou um sorriso.

— Excelente! Adoro fugas complicadas!

Luke ordenou:

— Desliga-te, Artoo! Vamos, Jenna, temos de prosseguir.

— Às tuas ordens, Skywalker.

Correram para se afastarem do pelotão que os perseguia. Com a sua habitual coragem, o contrabandista seguia na dianteira, com a espingarda laser a postos para disparar contra o que quer que encontrasse pela frente, Chewbacca seguia na retaguarda, com a mesma prontidão. Viraram esquinas, desceram plataformas, percorreram galerias iluminadas e desertas, conseguiram fazer um percurso relativamente desimpedido. Estavam próximos dos hangares quando uma explosão gigantesca atirou o grupo contra uma parede que se quebrou com o impacto de tantos corpos, incluindo um wookie, e dos androides.

Uma chuva de destroços caiu sobre eles num ruído infernal, o ar encheu-se de fumo, veio quente por causa do fogo que surgiu entre os novelos negros. Protegeram-se como conseguiram, encolhendo-se atrás da ruína da parede, levantando um braço sobre a cabeça, juntando-se num aglomerado de gente.

— O que foi isto? – perguntou Jenna.

— Antilles, reporta! O que se passou? Escuto! – pediu Luke, ligando o intercomunicador.

O Vermelho Sete foi abatido. Escuto— revelou Wedge num tom esganiçado.

— Os caças TIE descolaram? Escuto.

Afirmativo! Conseguimos destruir alguns no solo, mas houve outros que apareceram de uma pista secreta, a escoltar um transportador imperial. A maioria seguiu com o transportador, mas quatro deles foram destacados para combate direto contra nós. Escuto— acrescentou Wedge.

— O Vikasterr! – exclamou Jenna.

Luke olhou para Han.

— São quatro contra quatro, mas os X-Wing são superiores aos TIE. Confirma, Antilles. Escuto.

Sim, Skywalker. Iremos abatê-los, sem problemas. Escuto.

— E onde estão os nossos soldados? Escuto.

No lado leste da base. Conseguimos vê-los do ar. Não estão com problemas em avançar. Escuto.

O contrabandista negou vigorosamente.

— Não vamos conseguir chegar até eles, Luke, nem eles vão se encontrar connosco. O despenhamento do nosso caça cortou-nos o caminho, temos de rodear a torre sul para chegarmos ao hangar onde está a Millenium Falcon e mesmo que não encontremos mais stormtroopers vai ser complicado, pois vamos atravessar de certeza uma zona muito destruída. A conquista da base deixou de ser prioritária, o Vikasterr escapou. Diz ao tenente para retirar as nossas tropas, encontramo-nos no espaço. Ativas os códigos secretos a solicitar auxílio e seguimos a rota secreta de retirada. Já perdemos um caça, podemos perder mais. Vamos tentar escapar desta sem aumentar as nossas baixas.

Comandante Skywalker, aguardo ordens. Escuto— solicitou Wedge.

Uma pressão na nuca causou-lhe uma súbita dor de cabeça e Luke fechou os olhos. Tinha um nó na garganta seca, o descalabro pesava-lhe nos ombros como se estivesse a arrastar os destroços da base, da missão, do planeta inteiro, daquela guerra civil.

— Destruir todos os caças TIE e retirem – respondeu a Wedge forçando a voz para que lhe saísse firme. – Sigam para o espaço e aguardem nova comunicação. Terminado.

Compreendido. Terminado.

Depois, contactou com o tenente que comandava os soldados no terreno e deu-lhe a mesma ordem. Retirar, regressar aos transportadores TC9, viagem para o espaço e aguardar nova comunicação. Iria utilizar os cartões que Leia lhe tinha entregado antes da partida de Yavin Quatro e sentia-se mal por isso. Sentia que tinha falhado. Mas Han estava coberto de razão. Naquela fase não era inteligente insistir na tomada da base, significava apenas um lugar, edifícios esventrados, uma ruína escavada por crateras provocadas por implacáveis disparos laser. Não simbolizava nada de vitorioso, uma conquista memorável, motivo de uma segunda condecoração, outra medalha de bravura.

Raios vermelhos sibilantes estouraram por cima da sua cabeça, cortando-lhe os pensamentos. Abrigou-se atrás de Han, que tomou a iniciativa de começar a disparar a sua espingarda laser contra a ameaça. Jenna encolheu-se junto a Chewbacca que, com o seu corpanzil peludo, era o escudo dos dois androides. Luke disparou também, saindo momentaneamente do recesso onde se abrigavam.

— Fomos descobertos!

Han berrou sobre o ruído dos tiros:

— Cortaram-nos a saída. Esquece a torre sul.

— Como podemos chegar à Millenium Falcon?

— Estou aberto a sugestões!

O que queria dizer que não tinha nenhum plano. Bem, o líder da missão era ele e Luke começou a raciocinar depressa, tentando inventar uma solução, mas parecia que por mais que tentasse, não conseguia pensar em nada. O cheiro a queimado, o fumo intenso, os disparos laser e a urgência de abandonarem aquele sítio confundiram-no miseravelmente.

Um toque no ombro, ele viu o braço da Jenna a apontar para diante:

— Ali… Estou a ver uma porta.

— Está aberta?

— Que importa? Abrimos à força!

Fora uma pergunta totalmente idiota e Luke mordeu a língua.

Analisou o cenário com uma observação rápida. Os stormtroopers emboscavam-se no fim de um corredor largo que se abria para outras passagens mais estreitas, uma das quais estava a ser usada pelo grupo que se abrigava aí dos raios que despejavam sobre eles de forma ininterrupta, para os obrigar a sair e finalmente se renderem, para atingi-los e debilitá-los. A porta apontada por Jenna situava-se na passagem oposta e para alcançá-la teriam de vencer um espaço aberto demasiado grande. Esteve tentado a descartar aquela ideia, mas não tinha argumentos que suportassem a sua decisão, nem tinha outra ideia melhor. Deu uma cotovelada em Han e também lhe apontou a porta.

— Excelente, miúdo! – O contrabandista disparou uma rajada. – Como chegamos lá?

Jenna empunhou a sua pistola laser.

— Preparem-se para correr.

— O que vais fazer? – perguntou Luke alarmado.

— Oh, céus! Não seria melhor que nos entregássemos? – sugeriu Threepio.

Artoo apitou indignado. Chewie rugiu a mandar calar o androide.

— Vou distrair aqueles stormtroopers e desviar os disparos para que possam chegar à porta.

— E tu?

Ela não lhe respondeu e saltou para o exíguo átrio, lançando uma saraivada de tiros laser que teve o mérito de terminar com o fogo inimigo. Pelo menos naqueles milissegundos iniciais que Luke levou a processar a ação de Jenna e as suas inevitáveis consequências. A cena quedou-se suspensa num vazio desprovido de movimento e de som. A seguir, chamou por ela:

— Jenna!!

Chewie desatou a correr para a porta, atrás dele foram Threepio e Artoo. O astromec ligou o seu apêndice metálico aos comandos que destravavam o mecanismo que fechava a porta. O contrabandista correu atrás do wookie e dos androides, Luke seguiu-o, maquinalmente, instintivamente. Viu Jenna a rebolar, pareceu-lhe que fora atingida. Estava ferida. Ela encostou-se a uma parede e com algum esforço segurava na pistola laser e premia o gatilho. Havia muito fumo, labaredas, coisas a rebentar, raios vermelhos. Os soldados do Império não desistiam, ela também não. Luke tornou a gritar e deu um passo na direção dela:

— Jenna!!

Han puxou-lhe pelo braço.

— Já nada podes fazer por ela. Vamos, miúdo! Temos uma nave para apanhar.

— Mas… – choramingou Luke, com os olhos inflamados por causa do imenso fumo. – Mas se eu tentasse dar a volta pelo outro lado, conseguiria…

— Nem penses! Demasiado arriscado.

— Han, por favor… Não podemos deixar a Jenna para trás!

— Ela fez a escolha dela, para que nós pudéssemos escapar. – O amigo agarrou-o pelos ombros, os mesmos ombros pesados, agora mais pesados do que nunca. – O sacrifício dela não será em vão!

Luke tossiu. Lágrimas começaram a escorrer pelas faces, totalmente involuntárias mas era quase impossível não reagir ao fumo. Han torceu-se incomodado, pensando que ele chorava por causa da Jenna Shmura.

— Ela… não será esquecida. Nem nenhum dos que ficaram aqui.

A estranheza da frase, a solenidade do contrabandista, o baque no coração perante a evidência de que o destino da Jenna seria mesmo a morte fez com que Luke se sentisse a endurecer como uma autómato a quem lhe desligavam as baterias para sempre.

— Sim… – respondeu com a voz fraca, limpando a cara que ficou com dois rastos negros onde as lágrimas tinham corrido.

— Mas, primeiro… temos de chegar até à Aliança!

Passaram pela porta que Artoo acabava de abrir. Correram, fugiram dos stormtroopers e do fumo, encontraram um caminho secundário e chegaram ao hangar. Ver a Millenium Falcon sem qualquer dano, pousada calmamente na pista, rodeada por um silêncio artificial, foi um alívio tão grande que Luke susteve a respiração. Sabiam que estavam salvos, que iriam sair dali. Escutaram outra explosão que fez tudo tremer. Esperavam que fosse um caça TIE abatido durante a retirada dos X-Wing. Subiram a rampa na mesma correria urgente, Luke ainda olhou para trás e esperou.

Com uma esperança louca, aguardava por Jenna Shmura. Queria vê-la a chegar ao hangar, a correr, talvez a coxear, a carregar nos ombros a sua mochila e o transmissor portátil, iria rir-se por vê-lo à espera dela, no meio da rampa. Mas como ela não chegava e os motores da nave estavam a ser ligados, a rampa recolhia-se e o incêndio que deflagrara nas vizinhanças fazia parte do teto do hangar desabar, mesmo no local de onde eles tinham vindo, de onde Jenna poderia vir, Luke deu meia volta e foi o último a entrar na Millenium Falcon.