–– Gual é o seu Broblema? Perguntou com a língua toda enrolada.

–– Entra ai. – disse colocando Claudia debaixo do chuveiro gelado. – e é melhor ficar calada, não quero que minha mãe te veja assim.

–– Bor que está fazendu izu? Ela tentou ficar em pé sem se segurar.

–– Por que me importo com você. – disse.

Fui até o meu quarto onde Lucas estava sentado me esperando.

–– Ela vai ficar bem?

–– Vai, só precisa de um banho e de uma boa noite de sono. – disse respirando fundo. – Vai dizer a sua tia que ela vai dormir aqui?

–– Vou. – ele olhou para a hora no relógio. – Acho melhor eu ir, se não vai ficar muito tarde.

Eu assenti.

Despois de acompanhar Lucas até o portão voltei para o banheiro para dar uma olhadinha em Claudia. Ela estava sentada no chão tentando segurar o sabonete.

–– Por que estava bebendo com aqueles garotos? Perguntei depois de ajuda-la a se vestir.

–– Não sei. Emi disse que eles eram legais e quando percebi já estava bêbada. – disse se deitando na cama.

Respirei fundo, ela era mais esperta que isso. Não ia sair com uns garotos porque alguém disse que eram legais.

Apaguei a luz e deixei que ela descansasse. Ela acordaria com uma baita ressaca na manha seguinte.

–– O que sua amiga tem?

Quase deixei o copo de agua cair quando ouvi a voz de meu pai. Não sabia que ele tinha me visto chegar.

–– Ela brigou com a mãe dela, e então eu a convidei para dormir aqui. – disse.

–– Elas brigaram porque ela bebeu? Perguntou pegando uma xicara de café.

–– Mais ou menos. – disse.

–– Por que deixou que ela bebesse? Perguntou parecendo curioso.

–– Eu não deixei... Ela não estava comigo.

–– Sempre pensei que Claudia fosse uma boa garota, mas as pessoas sempre nos surpreendem. Quem diria que aquela garotinha meiga e envergonhada estaria se drogando hoje em dia. – disse sarcasticamente.

Eu revirei os olhos e saí da cozinha. Estava demorando para ele pegar no meu pé por causa da Claudia também.

Estava absorta em meus pensamentos, quase dormindo quando o meu celular vibrou.

Era uma mensagem de Lucas, avisando que tinha chegado bem e estava me desejando uma boa noite.

Que fofo ele.

Acabei dormindo rapidamente, estava exausta.

***

Acabei acordando antes de Claudia. Sabia que ela estava chateada comigo, mesmo sem motivos aparentes.

Tomei café em silencio. A casa estava vaia, era domingo, e minha mãe provavelmente estaria na casa de uma de suas amigas.

Comecei limpando a cozinha, coloquei o fone no ouvindo e aumentei o volume. A casa estava limpa um pouco tempo. Sabia que Claudia ainda demoraria para acordar. Não passava das 10 da manha, e ela iria acordar com uma bela ressaca.

Não sabia bem o que fazer, já que estava tudo limpo e Claudia continuava dormindo.

Peguei o livro abandonado ao lado de minha cama, e me deitei na cama. Li um pouco até Claudia acordar.

–– Ai, minha cabeça. – ela disse.

Eu apenas ergui o olhar para ela.

–– O que eu estou fazendo aqui? Perguntou me olhando torto.

Fechei o livro e deixei ele de lado.

–– Você estava bêbada ontem, e eu não podia deixar você aparecer bêbada na sua casa. – foi só o que eu disse.

Não sabia se Claudia ainda estava brava comigo.

–– Minha mãe sabe que eu estou aqui? Perguntou alarmada.

Eu assenti.

–– Quer tomar café? Perguntei me levantando.

Ela fez cara feia.

–– Acho melhor voltar para casa. – disse ela calçando os sapatos.

–– Não vai sair daqui antes de comer alguma coisa.

Acabei convencendo Claudia a tomar o café da manha e então fui com ela até sua casa. Seria meio estranho se eu não fosse, ainda mais depois dela ter dormido na minha casa.

–– Olá meninas, como foi a noite de vocês? Perguntou a mãe de Claudia quando entramos.

–– Foi... divertida... Conversamos até tarde. – disse Claudia me cutucando. – Não foi?

Eu assenti.

–– Aonde está o Lucas? Perguntou por fim.

–– Deve estar no quarto jogando vídeo game – disse.

Acompanhei Claudia até o quarto onde Lucas estava.

–– Ei, como está a cabeça? Perguntou assim que entramos no quarto.

–– Está doendo um pouco, mas não é nada de mais. – disse. – Obrigada por perguntar.

Eu me sentei na cama e deixei que eles conversassem como se eu não estivesse ali. Na verdade eu realmente não queria estar ali.

–– Você está quieta. Aconteceu alguma coisa? Perguntou.

Não achei que a pergunta tinha sido feita para mim, então não disse nada.

–– Fernanda, o que deu em você hoje? Perguntou Claudia se jogando ao meu lado.

–– Ah, desculpa. Não sabia que estava falando comigo. – disse.

–– Bom, eu até estou tentando conversar com você, mas pelo que parece, você está me evitando. – disse irritada.

–– Me desculpe, eu não sabia se você estaria falando comigo. – disse na defensiva.

–– Por que eu não estaria? Disse toda indignada.

Minha boca se escancarou.

–– Por que você disse que não falaria comigo até eu me desculpar...

–– Tudo bem, se não quer que eu fale com você, eu não falo. – Claudia virou de costas pra mim de um jeito totalmente infantil.

–– Meninas, por favor. – Lucas se levantou de onde estava. – Não vão começar a brigar de novo, vão?

–– Não sou eu quem está com gracinhas...

–– Gracinhas? Eu elevei minha voz. – Não sou eu quem sai e volta bêbada para casa, não sou eu quem está mentindo para a minha mãe. Quem é que está com gracinhas? Perguntei.

–– Shiiii – ela fez pra mim. – Você está ficando doida? Minha mãe está na sala, ela pode te ouvir. Quer me deixar de castigo?

–– Pra mim chega. – disse saindo do quarto.

–– Nanda, espera. – Lucas me chamou no corredor.

Eu parei emburrada.

–– De uma chance a ela. – disse.

Encarei aquele rosto cheio de expressão, Lucas parecia um pouco confuso.

–– Como é que eu posso dar uma chance pra ela, se ela só sabe pensar nela mesma. – disse tentando manter a calma.

–– Nanda...

–– Não me peça pra tentar entende-la. Não consigo mais.

Não olhei para traz e Lucas não tentou me impedir de partir.

Voltei para casa me sentindo um lixo. Por que é que mesmo fazendo a coisa certa, eu continuava me sentindo tão mal? Talvez pelo fato de saber que Claudia precisava da minha ajuda.

Não fui para casa, fiquei andando pelas ruas sem um rumo.

–– Ora, ora. A gente encontra cada lixo andando por ai. – Emília disse me encarando.

–– Não estou a fim de brigar, então com licença. – pedi.

–– Calminha ai. Eu só quero conversar. – disse me impedindo de passar.

–– Eu não tenho nada para conversar com você. – disse dando um paço para traz.

–– Mas eu tenho muita coisa para falar com você.