Ah, a noite dos Namorados.... a noite mais romântica do ano, onde os casais apaixonados aproveitam a companhia um do outro, onde nada mais importa a não ser o amor.

Sim, isso é verdade, mas não quando se é um desses casais...

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Elena e Chris

Eu passei o dia todo esperando por esse momento, pelo exato momento em que a campainha iria tocar e eu iria ter a minha primeira noite verdadeiramente romântica!

E como demorou, achei que o Chris não iria chegar nunca!

Como pode ser são atrasado? Que ódio.

Porém, por mais que eu estivesse uma pilha de nervos por dentro, por fora eu tinha que parecer tranquila, calma e serena, pois cada vez que eu olhava para a tela do meu celular para saber as horas eu conseguia ver o sorrisinho de canto do meu pai.

— Acho que ele não vem... - Foi o que me disse depois da décima olhada.

Respirei fundo.

— Ele vem, só está cinco minutos atrasado. – Falei com toda a calma e elegância possível.

Por dentro eu já estava querendo esganar o meu namorado, pensando se uma bola de basquete era o suficiente para dar na cabeça dele e mandá-lo para o hospital.

Papai continuou a me olhar e me encarar.

— Posso ajudar em alguma coisa? – Perguntei depois que ele me encarou por dois minutos sem piscar!

— Vai com estes saltos? – Ele olhou para o meu pé. Para falar bem a verdade, ele tinha odiado o meu vestido (o que não é nenhuma novidade!), meu cabelo, minha maquiagem e agora estava pegando literal e figurativamente no meu pé.

— Vou.

— Sabe andar com isso na calçada sem cair?

Ele tinha um ponto.

— Vou conseguir. – Afirmei e olhei para a tela do celular.

— Isso se o seu namorado vier...

Se eu não amasse tanto o meu celular, eu juro que jogava na testa do meu pai.

— Ele vai vir.

— Não vai não. – Papai retrucou. – Já são o que? Quinze minutos de atraso?

Valha-me Deus! Por que tão ciumento?

Ele vem.— Garanti.

— Vamos apostar, Elena? Te dou o que você quiser, até um carro. Ele não vem.

— Papai, não comece.

— Um carro Elena. Você termina com ele e eu te dou um carro.

Me levantei de onde estava e me sentei ao lado do meu pai, no caminho tropecei no tapete e papai deu outro sorriso vitorioso.

— Pai... sabe que a sua proposta é até tentadora? – Falei e ele ficou todo feliz. – Mas acontece que eu prefiro que o senhor guarde o seu dinheiro para que eu possa pagar a minha inscrição na universidade. Não fique triste, um dia o senhor vai querer me dar um carro por motivos de bom comportamento! – Dei um beijo na bochecha dele e antes que ele pudesse falar qualquer coisa, a campainha tocou. – Eu atendo! – Respondi cantando.

Andei o mais rápido que os meus enormes saltos me permitiam e abri a porta, Chris estava lá, todo lindo de terno e gravata. Dei espaço para que ele entrasse, meu pai sempre tinha que dar aquele monte de aviso, eu nem ligava, desde que eu pudesse sair.

— Você está atrasado. – Sibilei assim que ele passou na minha frente e meu pai não pode me ver.

— Desculpe. Precisei abastecer o carro.

Encarei os olhos azuis do meu namorado.

— Mentira.

— Depois de conto.

— Acho bom.

Papai acompanhou a nossa pequena conversa com interesse.

— Senhor Hotchner, boa noite. – Chris o cumprimentou.

— Está atrasado. – Foi o que papai disse. E dessa vez eu concordei com ele.

— Tive um imprevisto.

— No Dia dos Namorados? – Meu pai encarou Chris com muito interesse, pegando a mentira no ar.

Se eu não estivesse tentando manter as aparências perto do meu pai, juro que tinha soltado aquele famoso “Fatality”, mas como para mim tudo estava normal, fiquei quietinha observando a conversa.

— Parece estranho, Senhor Hotchner, mas é verdade.

Meu pai não estava convencido e nem eu, contudo ele nem quis saber e já foi soltando:

— Elena tem que estar dentro de casa às 23:30, sem atrasos. Um minuto a mais, garoto. – Papai deixou a frase no ar.

— Ela vai estar, senhor. Vou deixá-la aqui no horário.

— Mas se você quiser me fazer feliz, se atrase, Christopher.

E a minha mão coçou para arremessar o controle da TV no meu pai que estava pior do que nunca hoje.

— Então, nós já vamos. – Peguei meu namorado pelo braço e tentei arrastá-lo para a porta. Nesse meio tempo, mamãe desceu, em um vestido vermelho maravilhoso e saltos mais altos do que meu, mas diferente de mim, ela sabia usá-los.

— Adeus, Elena. E juízo vocês dois! – Ela disse com um sorriso e foi o que bastou para minhas bochechas pegarem fogo e meu pai fechar ainda mais a cara.

— Senhor Hotchner, Senhora Hotchner. – Chris meneou a cabeça e eu puxei para fora antes que meu pai desse um tiro em nós dois.

Fechei a porta e antes mesmo de descer o degrau, tropecei.

— Elena, você não prefere trocar os sapatos não? – Chris me perguntou. – Não que eu não esteja gostando da sua roupa, é que você....

— Se você me chamar de estabanada, Chris, eu juro que te arremesso esse sapato na cabeça, você já chegou atrasado, não tem direito nenhum de reclamar sobre alguma coisa. – Disparei.

E meu desabafo foi alto demais porque escutei a gargalhada do meu pai:

— Pelo menos nisso, Elena, eu concordo com o moleque.

Por que eu sou tão perseguida assim?

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Eu levei quase cinco minutos para ir da porta da minha casa até o carro de Chris, e eu poderia ter aproveitado o tempo para dar nele uns bons tapas, porém, eu precisava do apoio dele se quisesse terminar a noite com os sapatos e não uma bota ortopédica, assim fiquei calada.

Já no carro, ele foi logo se desculpando.

— Eu sei, estou atrasado, seu pai deve ter falado até na sua cabeça, mas é porque isso aqui, demorou para ficar pronto... – Ele me entregou o meu presente.

Abri a caixa surpresa, quando vi o que era, toda a minha raiva passou instantaneamente.

Chris tinha me dado uma linda pulseira cheia de berloques. Sim isso é fácil de se achar, acontece que um dos berloques não era. Pois era um cristal em formato de floco de neve com uma data gravada. A data do baile do inverno!

Eu amo o meu namorado!

Entreguei o presente dele, não era nada personalizado como o que ele me deu, mas era o que ele vinha falando há tempos que queria.

Agora, o que um jogador de basquete vai fazer com uma câmera go pro é um mistério para mim.

Eu poderia mostrar toda a minha gratidão por ele com um beijo, mas logo vi que meus pais saiam da garagem, os beijos e amassos ficariam para outra hora....

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Eu não sabia para qual restaurante nós íamos, Chris só havia me falado que eu deveria usar uma roupa bem elegante.

Era o que estava usando. E na hora que ele parou na porta...

— Tem certeza? – Olhei da porta do restaurante para ele.

A resposta foi só um sorriso.

Eu já disse que amo o meu Namorado?

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Eu sou a única pessoa do planeta que consegue arruinar a Noite Perfeita. E não foi só a minha, foi a do restaurante inteiro.

Definitivamente eu tenho que ser estudada. Mas lógico, não aqui, do lado de fora do Restaurante mais caro de Washington enquanto todos os ocupantes do lugar me olham como se quisessem me matar...

Na verdade, eu acho que eles vão me matar.

Peraí... eu conheço essas vozes...

Ah não... isso não. Por favor, Deus, sua filha está pronta, me leve agora antes que...

Tarde demais. Eles me viram.

Eu sou azarada demais.

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Duas horas antes....

Eu não conseguia acreditar em toda a elegância do lugar. Sim, eu já estivesse em restaurantes assim, na verdade, eu já estive nesse restaurante, é um dos favoritos da minha mãe.

Mas não acompanhada somente do meu namorado.

Todo o lugar estava devidamente arrumado e decorado para a noite mais romântica do ano.

Flores e velas, deixavam o ambiente aconchegante e totalmente no clima para a noite.

Cada uma das mesas estava afastada da outra, para dar privacidade aos casais.

Fomos levados para uma mesa perto da janela lateral. Agrademos à atendente e nos sentamos.

Se alguém pensou que nós somos o tipo de casal meloso que fica dando as mãos e se encarando com ar de apaixonado um ao outro, errou feio.

Nós dois falamos pra caramba. Muito. Sobre tudo, mas, principalmente, nerdices.

Coitado de quem estava perto de nós. Saiu sabendo tudo sobre Star Wars, Star Treck, o MCU e o DCU.

Tudo estava perfeito, a entrada veio e nós nos divertimos quando notamos que não sabíamos ao certo qual dos muitos talheres teríamos que usar.

— Espera. Eu já vou descobrir. – Falei, me levantei e fingi ir a toalete.

Fiz uma hora lá dentro e depois voltei.

— É com esse aqui! – Apontei assim que me sentei na mesa.

— Você deu essa volta toda só para descobrir com qual talher nós temos que comer a entrada?

— Agora a gente sabe. – Dei de ombros.

Comemos a entrada sem nenhum problema.

A refeição principal foi outra história.

Tudo estava indo às mil maravilhas até que, juro que não foi de propósito, um pedaço do meu filé de atum voou diretamente na camisa branca do meu namorado...

Sim, o meu prato principal ficou carimbado na camisa chique dele. E nem adiantava tentar limpar, a coisa só estava piorando. E a cada nova tentativa nossa, os casais das mesas ao lado ficavam nos olhando.

— Me desculpe... – Falei toda sem graça

— Se você não fizesse algo assim, não era você Elena! – Chris me respondeu rindo.

Eu não estava achando toda essa graça, mas se ele levou na boa, não era eu quem iria discordar.

— Agora imagina se fosse na minha calça? – Ele perguntou rindo ainda mais.

— Vamos trocar de assunto? – Pedi.

— Aí sim esse povo ia ter o que comentar...

— Chris! – Dei um tapa na mão dele. – Só pare!

Graças ao Pai, o restante do prato principal correu sem nenhum incidente constrangedor

Então era hora da sobremesa. Sim, nosso jantar estava acabando e tudo o que eu pedia era que nada mais de estranho ou absurdo, ou completamente eu, acontecesse.

Nossa sobremesa era nada mais, nada menos que um inofensivo fondue de chocolate e morangos.

Eu já tinha cansado de comer isso, o máximo que desastre que aconteceu foi pingar chocolate na toalha. Nada demais.

Mas eu sou Elena Prentiss-Hotchner, a garota mais zicada da face da Terra, ou melhor dizendo da Galáxia.

Porque deu errado. Deu muito errado.

E eu nem sei como foi que tudo começou.

Em um segundo tudo estava lindo, estávamos comendo os morangos mergulhados no chocolate, conversando e rindo.

No outro eu acho que espirrei, ou foi o meu celular que vibrou, ou eu fui buscar pelo copo de água.

Só sei que a panelinha tombou e a vela foi junto. Essa vela em particular não apagou, mas começou a queimar a toalha... tentamos apagar o fogo, mas tinha mais velas ali perto e do nada a cortina começou a incendiar também. E eu soltei um grito de:

— FOGO!!!

Quando notamos, todo mundo que estava do nosso lado estava saindo correndo.

Um vexame total.

E lógico, o sistema anti-incêndio funcionou perfeitamente, jogando água fria em cada um dos casais que estavam dentro do restaurante.

Como ninguém viu onde o fogo começou, eu e Chris estamos com cara de paisagem olhando para a parte do restaurante que pegou fogo, completamente molhados e morrendo de frio.

E foi aqui que a coisa ficou preta.

Porque dentre todas as pessoas que poderiam estar dentro desse restaurante, quatro não deveriam estar aqui....

Eu já falei que sou azarada? Se já, multiplica por mil e depois eleva à vigésima potência.

De todas as pessoas tenho certeza de que, ao menos duas dessas reconheceram a minha voz quando eu gritei.

E elas não terão misericórdia de mim...

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Emily e Aaron

Eu não podia me arrumar em paz. Não tinha cinco minutos que Aaron tinha descido e eu já estava escutando ele perturbar Elena sobre o namorado dela estar atrasado.

Ele não estava de todo errado. O primeiro Dia dos Namorados e o rapaz atrasa. Ficou muito feio para ele. E se eu conheço a minha filha, sei que ela vai dar um jeito de conversar amigavelmente (só que não) sobre isso. Espero que ela não termine a noite brigada com ele.

As provocações continuaram no andar de baixo, Aaron chegou ao cúmulo de oferecer um carro novo para Elena para que ela terminasse o namoro nessa noite.

Quanto ciúme da garotinha do papai.

Não consegui escutar o que Elena respondeu, só sei que logo em seguida a campainha tocou.

Bem atrasado e, espero que com uma boa desculpa, meu genro chegara.

Deixei Aaron dar o seu sermão de sempre sobre o horário, que dessa vez veio carregado de sarcasmo por conta do atraso do garoto.

Eu tive que conter a risada quando consegui ver a expressão de Elena, ela se recusava internamente a concordar com o pai, mas era o que ela estava fazendo.

Até que Aaron soltou a pérola da noite:

— Mas se você quiser me fazer feliz, se atrase, Christopher.

Vi Elena olhar tentadoramente para o controle da TV. Já era mais do que hora de fazer alguma coisa.

— Então nós já vamos. – Ela desistiu do controle e pegou o namorado pelo braço, arrastando-o para a porta.

Eu não resisti à cena e muito menos em não provocar Aaron, assim que desci a escada, soltei:

— Adeus, Elena. E juízo vocês dois!

Elena ficou vermelha de vergonha na hora e Aaron vermelho de ódio. Minha noite só estava começando.

Os dois saíram e Aaron olhou para mim:

— Mas o que foi isso?

— Estava brincando com a sua cara e com a cara de Elena. E pelo visto deu certo. – Falei sem pesar algum.

— Você acabou de insinuar...

— Eu não insinuei nada, Aaron. Só disse para que os dois tenham juízo. E vindo de Elena, isso significa várias coisas. – Afirmei.

Aaron iria me responder qualquer coisa quando escutamos:

Elena, você não prefere trocar os sapatos não? – Era a voz de Chris. – Não que eu não esteja gostando da sua roupa, é que você....

Meu marido viu vermelho depois da segunda frase e eu tive que segurá-lo. Mas aí o temperamento explosivo de Elena entrou em ação:

— Se você me chamar de estabanada, Chris, eu juro que te arremesso esse sapato na cabeça, você já chegou atrasado, não tem direito nenhum de reclamar sobre alguma coisa.

E quanto a essa resposta, Aaron soltou uma gargalhada sem nem tentar disfarçar que tinha escutado tudo e ainda soltou:

— Pelo menos nisso, Elena, eu concordo com o moleque. – Falou rindo e olhou para mim. – O que? – Perguntou mais baixo.

— Deixe sua filha em paz, Aaron. Ou eu volto lá para cima e já era a nossa noite!

Ele ficou quieto.

— Assim está bem melhor. Agora vamos esperar os dois irem embora para podermos ir. E falando nisso... – Olhei com a melhor cara de desinteressada que podia: - Esqueci o nome do restaurante...

— Eu não te contei, Em.

— Mas alguém deve saber? Elena?

— Eu e Elena não conversamos muito hoje.

— Mas é claro que não, você só soube perturbá-la por tudo.

Ele deu de ombros.

— Vamos aonde? – Perguntei, dessa vez, curiosa ao extremo.

— Você vai ver. – Ele se levantou e me estendeu a mão. Peguei e assim que estava de pé, ele me deu um beijo de tirar o fôlego.

— O jantar é realmente necessário? Não podemos pular para a sobremesa? – Tentei a sorte.

— Vamos, Emily, os dois já devem ter saído para o McDonald’s mais próximo.

Fiz um bico, contudo não reclamei... ainda tinha tempo.

Abrimos a garagem e lá ainda estavam os dois. Aaron não gostou em nada de ver a filha dando um beijo no namorado dentro do carro. Porém, assim que eles nos viram, Chris deu partida no carro e partiram para onde quer que eles iriam.

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Aaron fez hora com a minha cara para chegar até ao restaurante. Ele praticamente fez um city tour por Washington, tudo para que eu não descobrisse o nosso destino. Não reclamei, estava muito bom ficar do lado dele desse jeito. Era tão raro termos um momento só nosso.

E para a minha total surpresa, ele me levou ao mesmo restaurante onde ele havia me pedido em casamento.

Tudo bem, ao lembrar disso tive que conter as lágrimas. A noite só estava começando e eu já queria chorar.

Todo cavalheiro ele desceu do carro, deu a volta e abriu a porta para mim, me estendendo a mão para me ajudar a sair.

— Sem beijo dessa vez? – Fingi reclamar.

Ele riu. E era a melhor resposta que eu poderia ganhar.

De mão dadas, subimos os poucos degraus até a entrada. A hostess nos levou até a nossa mesa, um dos melhores lugares do salão e logo o maître, com a carta de vinhos, veio nos atender.

Curiosa, dei uma olhada em volta, não tinha ninguém que eu conhecia ali, pelo menos não nesta parte do salão. Mas também, em um ambiente todo decorado com flores e iluminado somente com velas, é difícil de conseguir enxergar alguém. Além do mais, minha atenção estava totalmente voltada para o meu marido.

Quanto tempo tinha que nós dois não tínhamos uma noite assim? Os últimos anos foram tão caóticos. Era basicamente um milagre que nada, nem ninguém, ainda tivesse nos interrompido.

E nós dois ficamos ali, completamente absorvidos pela presença do outro, diria que em nossa bolha particular.

Era até estranho pensar que ainda podíamos ser o mesmo casal de quando começamos a sair. Quando ainda não tínhamos todas essas responsabilidades sobre nossas costas.

Para falar bem da verdade, não prestei muita atenção no que comia, o que notei era que a hora estava passando rápido e já estávamos na sobremesa quando tudo aconteceu.

Alguém, do outro lado do salão, gritou FOGO! E por uma fração de segundo eu pensei que conhecia aquela voz.

Seguindo as ordens dos garçons, fomos para saída, mas não rápidos o suficiente, pois logo o sistema antifogo começou a funcionar e ficamos encharcados.

Nem sei porque me dei o trabalho de pegar o meu casaco... era difícil saber o que estava mais molhado, eu ou ele.

Aaron olhou para mim e para a parte do restaurante de onde saía uma fumaça preta.

— Não foi assim que imaginei a nossa noite.

Segurei a risada.

— Bem, mas vamos combinar que é uma história e tanto e como não sabemos o que aconteceu, podemos aumentar para uma briga entre um dos casais. – Falei rindo.

Hotch me acompanhou na risada e fomos procurar o nosso carro. Não tínhamos mais nada para fazer ali.

Foi quando eu vi. Parada no meio da multidão, completamente encharcada e abraçada ao namorado, Elena. E ela olhava com a maior cara de paisagem a cena à frente.

E o que para muitos era uma cara de choque, para mim significava outra coisa.

Significava 1ue ela era a culpada por tudo. E eu achando que ela não poderia fazer mais nada para me surpreender.

De repente ela virou a cabeça e seus olhos se arregalaram quando ela nos viu. Ela tornou a olhar para Chris. Ele olhou para onde minha filha, com toda certeza, pediu que ele não olhasse e eu acenei na direção dele.

Christopher estava mais branco que papel. E ficou completamente sem reação.

Elena tentava a todo custo puxar o namorado pelo braço, para tirá-lo do nosso alcance, porém o garoto ficou tão abismado de nos ver ali que não conseguia se mexer.

Cutuquei Aaron e ele resolveu que ainda tinha negócios pendentes no meio da multidão e lá fomos nós na direção do casal mais novo entre todos os que estavam olhando abismados para o restaurante.

— Vejo que vocês dois não foram no McDonald’s no final das contas. – Hotch cutucou.

Elena que estava batendo queixo de frio apenas se encolheu.

— Era melhor termos ido... – Ela murmurou.

— Mas aí seria uma lanchonete e não um restaurante cinco estrelas que estaria pegando fogo, não é, Elena?

— Eu não fiz isso, papai! – Ela respondeu, mas o tique dela de morder o lábio inferior quando falava mentira a entregou.

— Como você conseguiu essa façanha? – Perguntei.

— Eu não fiz nada! – Ela ainda tentava se defender.

— Elena, você realmente acha que nos engana?

— Mas mãe... foi realmente um acidente! – Ela sussurrou a resposta.

Pensei no prejuízo que íamos ter para pagar o conserto do restaurante.

— Como você fez isso? – Aaron puxou a filha pelo braço e a levou para a calçada. Eu e Chris fomos juntos.

— A vela do fondue...

— Você arremessou a vela na cortina ou o que?

— A vela tombou, senhor Hotchner. Quando tentamos apagar o fogo, a cosia alastrou. – Chris tentou ajudar minha filha.

A coisa alastrou? Isso poderia ter sido muito pior do que foi, vocês têm sorte de que ninguém se feriu. – A voz de Aaron subiu algumas oitavas e eu fui obrigada a intervir.

— Falem mais baixo. Foi realmente um acidente, Aaron. E tenho certeza de que o restaurante tem seguro. E que vão culpar uma das muitas velas que estavam espalhadas. – Tentei acalmar os ânimos, pois um casal vinha falando um pouco mais perto de nós.

Me virei para ver quem falava que tal prato era amaldiçoado quando dei de cara com...

— Não é possível! – Elena gemeu e enterrou o rosto no ombro do namorado.

O casal parou e nos encarou, depois olharam para Elena e começaram a sorrir. É, não éramos os únicos que sabíamos do lado encrenqueiro da nossa filha.

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Jenny e Jethro

— Você realmente conseguiu folga hoje, Jethro? Tem certeza? – Perguntei para meu marido, enquanto ainda tentava decidir se acreditava nele ou não.

— Jen... eu consegui.

— E quem vai ficar de plantão? Porque nos anos anteriores você falou a mesma coisa e mal colocamos o pé para fora de casa e alguém tinha morrido, sido sequestrado, abduzido, explodido...

— Você está passando muito tempo com a nossa filha! Que história é essa de abduzido? – Ele me encarou.

— Como você disse, nossa filha. E sim, ando escutando as reclamações dela o bastante.

— Principalmente hoje. – Jethro abriu um sorriso.

— Você não coopera, não é? – Dei um tapa na mão dele e fui dar uma conferida no corredor, Liz não estava em nenhum lugar próximo de nosso quarto. – Será que poderia ser um pouco mais gentil com o fato de que a sua filha vai passar o primeiro dia dos namorados, longe do namorado dela?

O sorriso dele aumentou mais ainda.

— Seu sem coração. Ela está chateada.

— Eu avisei para que ela começasse a namorar depois dos trinta e cinco. – Me respondeu indo para a porta. – Saímos em quarenta minutos, Jen. Se apresse.

— Você tem certeza disso? Eu não vou me arrumar toda para parar em uma cena de crime com você pelo terceiro ano consecutivo. – Reclamei.

— Ah, você bem que gostou de correr atrás do culpado no ano passado, se me lembro bem, você o nocauteou com uma sapatada.

— Alguém tinha que correr atrás dele, não é? Você já tá velho, Nick estava em outra galáxia, Tim e Tony estavam e estão fora de forma... – Dei de ombros.

— Trinta e cinco minutos, Jen. – Jethro ajeitou a gravata, que continuou torta. – Quer que eu chame a sua ajudante?

— Pode chamar. Ou ela vai ficar ainda mais depressiva com você perto dela.

— Eu não vou deixá-la depressiva. – Ele se defendeu.

— Jethro, só o seu sorriso já vai indicar para Liz que você está mais do que feliz que ela está sozinha nessa noite. Você não me engana.

— Mas você está enganada, Jen, estou feliz porque temos uma noite só nossa.

Encarei Jethro e apontei para a porta, ele entendeu o recado.

— Trinta e três minutos. – Disse descendo as escadas.

— Continue me apressando e você vai jantar sozinho e dormir acompanhado por Ice, no sofá da sala! – Sibilei.

— O sofá é meu! Mande o papai para o porão! – Liz soltou da sala.

— Sua mãe está te chamando, Senhorita Desolada Porque Meu Namorado Me Deixou Sozinha em Pleno Dia Dos Namorados. – Jethro falou para a filha.

Ouvi Liz suspirar e depois subir degrau por degrau sem animação nenhuma.

— Chamou, mamãe? – Ela perguntou da porta, A pobrezinha tinha os olhos vermelhos e a carinha mais triste que já vi desde que Ginger, a gata mais alucinada do planeta, teve que ser sacrificada.

— Feche a porta. – Pedi.

Liz entrou e se sentou na cama, me olhando pelo espelho.

— Precisa de que?

— Só fique aí, por aqui está tudo controlado. É só para te tirar de perto de seu pai.

Ela deu uma risada.

— Cuidado com o que fala, ele pode estar atrás da porta. – Ela me avisou. – Vai com esse vestido?

— Não gostou?

— Esse não é o que a senhora comprou para a festa de aniversário do papai? Aquela que não existiu porque ele deu um jeito de ficar de plantão a noite inteira?

— Exatamente.

— É um vestido zicado. Escolhe outro. – Ela falou se jogando na cama e apoiando os pés na cabeceira.

— Eu o comprei e nunca usei. Vai ser esse.

— Se prepare para a zica, então.

— Você tem andando muito com a Abby. – Mencionei quando me sentei para começar a me maquiar.

— Abbs acredita em vudo, não em coisas zicadas. – Ela me respondeu. – O delineado está torto.

— Você está de ponta cabeça e conseguiu ver que o meu delineado está torto? – Perguntei injuriada.

Lizzy jogou as pernas para fora da cama e ficou de pé.

— Deixa que eu faço isso. A senhora definitivamente não consegue fazer nada quando o papai te coloca sob pressão. – Ela riu e tirou o delineador da minha mão, começando a me maquiar. – Vão aonde?

— Não sei, ele não me falou. – Dei de ombros.

— Fica quieta, ou vai ficar borrado! – Liz me alertou.

— Vinte minutos, Jen! – Jethro gritou do pé da escada.

— Ele adora te deixar nervosa, né? – Liz começou a rir.

— Você não viu quando eu era Diretora do NCIS. Ali sim era o caos.

— Ele não queria receber ordens da senhora ou só queria ver se a senhora cederia a ele? – Liz perguntou curiosa e depois deu um passo para trás para conferir a minha maquiagem.

— Acho que os dois.

— A senhora não acha. Sempre tem certeza.

— A segunda opção.

— JEN! – Jethro gritou muito perto de onde estávamos.

— Ela tá quase pronta! – Liz o respondeu.

— Eu só estou escutando vocês duas fofocando.

Liz olhou para mim e sussurrou:

— Ele está atrás da porta!

— Sem fazer barulho, vai lá e abra. – Respondi no mesmo tom e me levantei.

Pé ante pé, Liz foi até a porta e sem que Jethro a escutasse, a abriu, como ele estava escorado no outro lado, quase caiu de cara no chão. Se levantou rápido e ao invés de encarar a filha que ria da cara dele, encarou a mim.

— Ela está pronta, apressado. Até parece que vão para um casamento... – Liz comentou e saiu do quarto, descendo as escadas correndo.

— Não vai falar nada? – Perguntei para Jethro que ainda me encarava.

— Temos quinze minutos. – Ele respondeu com uma voz rouca. E eu entendi que ele tinha gostado do vestido.

Descemos e antes de sair lancei um olhar para a adolescente ruiva que estava de ponta cabeça no sofá, trocando incessantemente os canais da televisão.

— Para que ficar de ponta cabeça?

— Circulação sanguínea. – Ela me respondeu.

— Você tem certeza de que vai ficar bem, Liz? – Perguntei genuinamente preocupada com a saúde mental da minha filha.

— Mamãe, eu não vou ser vela. Vou ficar bem, só eu achar o filme certo!

— E qual seria? – Jethro quis saber e desistiu da resposta ao ver como a filha estava deitada.

— Qualquer um que eu precise de uma capa de chuva para não morrer afogada em sangue...

Jethro olhou espantado para a filha e eu o puxei para fora.

— Ela vai ficar bem, só está esperando que nós dois saiamos para começar a chorar.

Ele ainda ficou observando a claridade vinda da sala e a luz piscando, o que indicava que Liz ainda não tinha achado o filme que procurava.

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Achei que Jethro faria hora para chegar até o restaurante, mas não o fez, simplesmente dirigiu direto para um dos restaurantes franceses que tinha em Washington.

Descemos do carro, ele me estendeu a mão para me ajudar.

— Não vai soltar nenhuma piada hoje, Jen?

— Não comece, Jethro. – O adverti.

Nos levaram até a nossa mesa, a decoração do local, toda cheia de flores e velas, era um convite a se esquecer onde estava. Logo estávamos degustando um vinho e esperando pela entrada. E cada segundo eu temia que o celular de Jethro tocasse.

— Não vai tocar, Jen. Ficou em casa.

— Agora você lê mentes também, Jethro?

— Você está olhando para o meu bolso com mais frequência do que olha para mim.

— Velhos hábitos não morrem. – Foi a minha desculpa.

— E o seu? Não vai tocar.

— Infelizmente está descarregado. – Falei sem culpa alguma.

Jethro deu aquele sorriso de lado e trocou de assunto.

E assim ficamos, conversando e aproveitando a noite até que alguém gritou FOGO!

Olhei para o lado e uma das cortinas do outro lado da divisória estava em chamas.

Algumas pessoas saíram correndo, Jethro me puxava pela mão quando o sistema anti-incêndio começou a funcionar.

— Espero que a maquiagem que a sua filha usou em você seja a prova d’água, Jen. – Ele brincou.

Verdade seja dita, eu nunca imaginei que um jantar do Dia Dos Namorados pudesse terminar dessa forma, com nós dois encharcados, do lado de fora de um restaurante parcialmente destruído pelo fogo.

— Pensa na história que isso vai virar. Será que foi uma briga? – Perguntei ao olhar a lateral destruída.

— Não sei. – Jethro deu de ombros. – Vamos embora, não temos nada o que fazer aqui. – Ele me pegou pela mão e me ajudava a descer os degraus.

— Bem que a Liz falou que o vestido era zicado. Comentei.

— Como assim, Jen?

— Não daria sorte, se bem que acho que não foi esse vestido, foi o prato que comemos.

— Jen, você não está fazendo muito sentido.

— É sério, Jethro, pense bem, a primeira vez que comemos steak au poivre, você foi baleado, na segunda vez, eu tomei um tiro, na terceira, seis pessoas morreram... nas duas últimas, logo em seguida você conheceu aquela Coronel sem sal e depois eu tive que fingir a minha morte. Esse prato é amaldiçoado!

A resposta que recebi, um tapa na parte de trás da minha cabeça. E ele, com certeza iria falar mais, se nós não tivéssemos encontrado com a Família Hotchner.

Emily e Aaron estavam parados encarando Elena que, de alguma forma, tentava se esconder dos olhares dos pais.

E eu não precisei de muito para registrar quem causou toda a essa bagunça, depois de Liz, só tinha uma pessoa no mundo que poderia fazer tamanha confusão.

Emily se virou na nossa direção, como que já sabendo o que passava na nossa cabeça.

— Como você conseguiu fazer isso, Elena? – Jethro a perguntou.

A garota só se encolheu no abraço do namorado.

— Nem pergunte, Gibbs. – Hotchner disse com cara feia.

— Liz não está por aí, não, está? – Emily me perguntou.

— Não. Sean está de serviço. – Informei.

— Tadinha. Bolo no dia dos namorados! - Emily foi solidária com minha menina.

— Acontece quando se namora um fuzileiro. – Disse. – Mas vocês estão todos bem?

— Sim. Sem danos. A não ser o restaurante. Elena se superou dessa vez. – Emily disse entre o desespero e a incredulidade.

— Mamãe! – Elena gemeu.

— Só mais um acidente para a conta dela, então. – Brinquei com Emily.

— Eu sou muito azarada! Parece que a cidade inteira está aqui. – Elena gemeu.

Jethro e Hotchner seguraram a gargalhada.

— Pense bem, Elena, isso vai ser uma história engraçada daqui há alguns anos. É só você não falar o nome do restaurante. – Falei para ela.

Elena me olhou e disse com um muxoxo.

— Posso garantir para a senhora que todo mundo vai ficar sabendo. Não tem nada que fique escondido quando se trata da minha família...

— Quanto a isso, concordo com você. – E continuei. – Vai para o carro, Elena, aqui fora está gelado e tudo o que você não vai querer é terminar a noite no hospital.

Ela meneou a cabeça em concordância comigo e foi para perto da mãe. Jethro e Hotchner estavam conversando algo muito interessante para o meu gosto.

— Vocês não estão planejando acabar com os relacionamentos das suas filhas, não é?

— Não, Jenny, só falando que vocês dois têm sorte do fuzileiro estar de serviço. O namorado da Elena quase a matou.

Isso era um exagero, mas se tem algo que eu aprendi desde que Liz começou a namorar e pelas histórias que Elena contou, é que tanto Hotchner quanto Jethro são extremamente ciumentos e contradizê-los é querer começar uma guerra.

Assim, me despedi dos Hotchners e puxei Jethro para o carro, falar mal do genro era o novo passatempo preferido dele e se deixasse ele falava por horas.

A viagem de volta foi rápida e quando chegamos em casa vimos que Liz ainda estava acordada.

— Pelo menos toda essa história da Elena quase ter incendiado um restaurante vai animar a Ruiva um pouco. – Jethro falou ao abrir a porta.

Lizzy não estava na sala, pensei que ela tinha ido dormir e nos deixado uma luz acessa, porém, essa ideia foi logo descartada assim que vi o taco de beisebol de Jethro coberto de sangue.

Em um instante Jethro pegou nossas armas no cofre e fomos vasculhar a casa, ele no porão e eu no andar de cima. Nada estava fora do lugar.

— Limpo. – Falamos quando nos encontramos na sala.

— Elizabeth?

— Ela não está lá em cima. – Falei.

Era uma péssima hora para deixar o meu celular descarregado. Assim, corri escada acima atrás do jurássico aparelho que Jethro usa.

Achei a coisa e comecei a digitar os números do celular de Liz.

Ela atendeu no segundo toque.

— Onde você está? – Perguntei assim que ela disse “Oi papai.” E Jethro tomou o aparelho da minha mão para colocar no viva voz.

— Ah.. oi mãe. Tá tudo bem, não se preocupe.

— Onde você está, Elizabeth? – Jethro rosnou.

— No Hospital Geral de Washington. Mas tá tudo bem, agora pelo menos...

— Estamos indo. – Falei.

— Não precisa, a Ziva tá aqui.

Você chamou a Ziva em pleno dia dos namorados, Liz? – Perguntei descrente.

— Não. Eu não chamei, ela chegou aqui um pouco depois de mim. É uma longa história...

— Que a mocinha vai nos contar assim que chegarmos aí. – Falei e desliguei o telefone.

—-----------------------

Elizabeth e Sean

Parecia até surreal que os meus pais estavam saindo para uma noite romântica e eu, que supostamente tenho um namorado, estava ficando em casa. SOZINHA.

Como diria o Scar: A vida não é justa.

Claro, tinha uma excelente explicação para isso, meu lindo, destemido e completamente suicida namorado estava de serviço. Em Pendleton. Eu sei, há quatro semanas eu dei a louca e fui para uma rave, sem falar com ele. Isso meio que causou uma pequena discussão, mas ainda estamos juntos. Tão juntos quanto uma pessoa que mora em Alexandria e a outra na Califórnia podem estar.

Diante desse pequeno imprevisto, que já era mais do previsto por nós dois, estamos passando o nosso primeiro dia dos namorados separados.

Enquanto todos os outros casais estão juntos, curtindo essa noite, eu estou aqui, de ponta cabeça, procurando um filme bem sangrento para ver.

Mas a televisão não quer cooperar comigo. Pelo amor de Deus, por que passar filmes românticos? Todo mundo que está vendo tv nessa noite ou tá solteiro, ou tomou um fora ou teve que adiar os planos, como eu, vamos passar algo mais emocionante, como Duro de Matar, John Wick, Jogos Mortais, Corrida da Morte ou qualquer filme do Tarantino que escorra o melado pela tela da televisão. Nós já estamos depressivos o suficiente sozinhos sabendo que tem gente lá fora que está com a sua alma gêmea, não precisamos que a felicidade alheia seja jogada na nossa cara.

Vasculhei todos os 250 canais da tv, de filmes e séries até os de esporte e notícias, e nada. Não tinha nada para me tirar da depressão.

Mas eu tinha algo que poderia me ajudar. Assim, corri para o meu quarto e achei. O box com todas as temporadas de Magnum P.I. que Tony havia me dado de presente.

Voltei para a sala, ajeitei o DVD e fui na cozinha fazer um balde de pipoca, aproveitando para pegar um sorvete também, porque não sou de ferro. Me joguei debaixo da coberta e dei o play. Vamos para o Hawaii, baby.

Já estava na metade do segundo episódio e me divertindo com Zeus e Apollo correndo atrás de Magnum quando escutei um barulho. De início achei que fosse no vizinho, mas estava alto demais e perto demais.

Procurei ajuda no meu cachorro, porém, Ice, que já está velho que tá dando dó, nem se mexeu.

— Ice, hei, escutou alguma coisa? – Cutuquei o husky que dormia no sofá ao meu lado.

O cachorro só soube roncar.

— Grande ajuda. – Dei um tapinha nas costas dele e fiquei quieta, queria confirmar se realmente o som vinha de dentro de casa.

E lá estava, o mesmo som de novo.

Eu estava sozinha, tinha que me defender de alguma forma. Sabia onde as armas dos meus pais estavam guardadas, todas elas, e sabia a combinação do cofre, mas eu não seria a exagerada que sairia atirando só porque um esquilo resolveu fazer parkour no telhado. Então, peguei o taco de beisebol de papai, o mesmo que Diane sentou na testa dele quando os dois se divorciaram... e fui checar a casa.

A porta da frente estava trancada, a dos fundos também, conferi o porão, nada lá. Todas as janelas do primeiro andar estavam fechadas e com a tranca.

Era hora de ir para o segundo andar. Subi devagar, com as costas apoiadas na parede para não ser surpreendida e o taco pronto para acertar o primeiro idiota que cruzasse o meu caminho.

Já no alto, olhei em volta, a janela do final do corredor estava trancada. O próximo passo era o quarto dos meus pais, tudo certo, o quarto que era de Kelly estava arrumado como sempre, o escritório de minha mãe fechado.

Faltava o meu quarto. E antes que eu abrisse a porta, novamente escutei o barulho.

— Esse desgraçado vai me pagar, justo aqui! – Sibilei e delicadamente virei a maçaneta.

Antes de abrir a porta, apaguei a luz do corredor, eu tinha uma vantagem, conhecia cada pedaço daquele cômodo como a palma da minha mão.

Entrei, e pude notar que tentavam subir pela árvore que dava para a minha janela, se a pessoa não fosse realmente muito boa na escalada, ia acabar se esborrachando no chão, pode ter certeza, eu sabia disso.

Vi que a burra se esqueceu de trancar a janela, parabéns Elizabeth, merece um dez no quesito lerdeza.

Empunhei o taco com mais força e me escondi na sombra ao lado da janela, assim que colocassem a cabeça para dentro, ia ser de uma vez só.

A janela fez um suave click, se eu estivesse no andar de baixo, com certeza não ouviria, e uma mão se apoio no beiral.

A minha vontade de quebrar aqueles dedos com o taco foi maior que tudo, mas só a mão não iria ajudar, a pessoa poderia descer ou cair e ainda fugir antes que eu chamasse a polícia. Ou o NCIS. Assim eu esperei, e abriram mais um pouco a janela.

Me preparei para o golpe assim que o homem pisou no chão do meu quarto.

É só acertar bem no alto, a pessoa desmaia e eu a prendo com silver tape ou uma corda ou qualquer outra coisa que ela não vá se soltar. – Eu mentalizava minhas ações.

O rapaz ficou de pé, e droga, era alto. E eu estava descalça. Antes que ele se virasse para procurar qualquer coisa, falei:

— Pode ir parando aí!

O rapaz mal se virou na minha direção e tomou uma das maiores porradas da vida dele. Bem no meio da testa. Diane sabia das coisas quando deu uma tacada na testa do meu pai. Isso realmente funciona.

Ele caiu no chão, sem se mexer, eu sabia que não estava morto, ali não era uma região perigosa, porém, eu precisava ser rápida se quisesse prendê-lo. Acendi a luz do meu quarto para achar a silver tape que tinha por ali, achei na gaveta da minha escrivaninha e assim que me virei para amarrar o meliante...

— POR ODIN!!! SEAN!!! – Gritei!

Sim, eu tinha acabado de acertar a cabeça do meu namorado com um taco de beisebol.

Bem, me ensinaram a nocautear o inimigo, não a socorrê-lo. O que eu faria agora?

Tinha que estancar o sangramento da testa primeiro, depois tentar pará-lo com uma compressa de gelo?

Corri para o banheiro e peguei uma toalha. Me ajoelhei ao lado meu namorado desmaiado e fiz pressão no local onde sangrava.

— O que você tem na cabeça? – Perguntei para o belo adormecido no chão.

A pressão que eu estava fazendo era pouca, o corte – que diga-se não era pequeno – continuava sangrando, então tive que pressionar mais, e deve ter doído porque os olhos de Sean se abriram no mesmo segundo e ele agarrou o meu pulso.

— Está tudo bem... – Tentei acalmá-lo.

— Liz?

Quem mais ele acha que encontraria dentro da minha casa? A Natasha Romanoff?

— Sim... Fica quietinho aí... eu tenho que estancar o sangramento da sua testa.

— Eu caí? – Ele levou à mão até a toalha.

— Mais ou menos... – Internamente eu torci que ele perdesse a memória dos últimos dez minutos.

Foi então que ele viu o taco de beisebol ensanguentado atrás de mim.

Acompanhei o olhar dele e só pude fazer cara de paisagem.

— Foi você quem me acertou? – Ele me acusou.

— O que você queria? Entrando dentro do meu quarto quase às dez da noite pela janela?

— Queria te fazer uma surpresa.

— Era para você estar em Pendleton. Eu não esperava ninguém.

— Então por que a sua janela estava destrancada? – Ele me desafiou.

— Porque eu sou lesada!

Ele me encarou, eu encarei de volta e a toalha estava encharcada de sangue.

— O que você tem na cabeça? Poderia ter sido o meu pai no meu lugar, e ele não iria usar o taco de beisebol, ia usar a arma de serviço.

— Eu sabia que ele não estava em casa. – Sean disse com convicção.

— Você mentiu para mim falando que estava na Califórnia durante todo o dia? – Apertei mais a testa dele e ele gemeu de dor.

— Diminui na força. – Ele pediu, segurando o meu pulso.

Foi aí que apertei mais ainda.

— Não fuja da pergunta. – Sibilei e ele fez uma careta para a pressão excessiva que eu fazia na sua testa.

— Cheguei ontem à noite.

Soltei a toalha e dei um tapa nele. E foi tão forte que ecoou pelo quarto.

— Isso doeu.

— Que ótimo. Era para ter doído mesmo.

Sangue começou a escorrer da testa dele.

— Você precisa de pontos. – Informei.

— Eu levo uma tacada na cabeça e é você quem fica mal-humorada?

— Você quase me matou de susto, entrando pela janela e, além do mais, mentiu para mim. Não espere compaixão.

— Então não me leve para o hospital.

— E ser acusada de homicídio culposo, por que não te dei o socorro apropriado? Não, obrigada.

Ele não se mexeu e nem eu, ficamos nos encarando por um bom tempo.

Sean foi o primeiro a se levantar, e sem conseguir ficar de pé direito por conta da pancada, se escorou na minha cama.

— Vem, eu te ajudo. – Me coloquei ao lado dele e o escorei até o andar de baixo.

— Vai continuar sem falar nada? – Ele me perguntou, enquanto eu apoiava o taco em algum lugar e molhava uma outra toalha com água fria para que ele colocasse na testa.

— Falar o que Sean?

— Pode começar com: “Desculpa, Sean, por ter acertado a sua cabeça em pleno dia dos namorados!”

Voltei para onde ele estava e pressionei a toalha molhada na testa dele.

— Minha família não pede desculpas, é um sinal de fraqueza. Além do mais, eu não tenho que tratar bem uma pessoa que invadiu a minha casa.

Era uma surpresa, Elizabeth.— Ele tornou a me dizer.

— Sean, se você estava o dia todo na sua casa e sabia que meus pais não estavam em casa, por que não bateu na porta?

Eu tinha um ponto e ele sabia disso, só que ele jamais concordaria comigo em voz alta.

— Achei que eu poderia fazer que nem você e entrar pelo seu quarto. – Ele tinha um sorriso zombeteiro ao lembrar da noite que em que eu fiquei pra lá de Bagdá.

Grunhi.

— Você não vai esquecer essa história, vai? – Perguntei.

— É claro que não. Vou contar para nossos filhos como a mãe deles quase se matou tentando entrar pela janela do quarto mais bêbada que um gambá!

Filhos?! – Olhei para ele. Acho que acertei a cabeça dele com mais força que pensei.

— Sim. Dois acho que está bom.

— Eu tenho dezessete anos, não penso em filho ou filhos... tenho a faculdade e a tentativa de arranjar um emprego pela frente... – Falei.

Ele me deu um sorriso.

— Eu sei, Liz. Mas vai ser legal contar isso.

— Não deixe de fora o dia em que eu quase te matei. – Avisei.

— E nem quando o seu pai quis atirar em mim.

— Te garanto que ele não vai ficar só na ameaça se escutar o que você acabou de falar. Fique aqui e segure essa toalha, vou calçar um sapato e pegar a minha bolsa.

— Para que? Vai me levar para jantar? – Ele brincou.

— Vou te levar para um hospital. Não me deram treinamento de socorrista, então não sei dar pontos, mas sei que isso aí vai precisar de alguns.

Sean se ajeitou no sofá enquanto subi para o meu quarto, por via das dúvidas, fechei e travei a janela, um intruso era o suficiente para a noite. Troquei de roupa, peguei minha bolsa e dei uma ajeitada nas coisas, peguei a toalha ensopada de sangue e a coloquei de molho.

— Vamos. – Estendi a mão para ele e o escorei. – Vai ter que ser no seu carro, o da minha mãe está na revisão.

Ele me entregou a chaves.

— Não bata a minha Ferrari. – Brincou.

— Até parece que você tem uma. – Abri a porta da caminhonete dele para que ele subisse.

— Isso aqui é só um disfarce.

— Tudo bem, Thomas Magnum, vou fingir que acredito. – Dei a partida e fui na direção do hospital mais próximo.

— Qual vai ser a desculpa que vamos dar? – Ele me perguntou.

Eu não tinha pensado nisso.

— Porque você sabe... se eu falar que a minha namorada me acertou com um taco de beisebol, isso vai virar caso de polícia. Vão chamar o NCIS e um tal de Agente Gibbs vai querer te interrogar para saber o motivo de você ter espancado um pobre fuzileiro. – Ele fez piada.

— É bem provável que o tal do Agente Gibbs mande alguém acabar com o pobre fuzileiro sem deixar vestígios, por ele ter sido idiota o suficiente para invadir a casa da namorada pela janela do quarto dela.

— Apanhar da Ziva deve ser ainda mais doloroso. – Sean comentou.

— Ela já usou o Tony de cobaia uma vez, o pobre saiu com duas costelas fraturadas e era só uma demonstração.

Ele engoliu em seco.

— Nós podemos falar que você bateu a cabeça em alguma prateleira, ninguém vai verificar se é verdade. Mas eu ainda tenho uma perguntinha. – Olhei para ele enquanto esperava o semáforo abrir.

— Eu não estou gostando do seu sorriso, Lizzy.

— Você vai contar a verdade para o seu superior?

— Eu bati a cabeça em uma prateleira, Liz. Foi isso o que aconteceu. – Ele falou sério, me encarando de volta.

Tive que rir, é lógico que ele jamais contaria que tinha sido nocauteado pela namorada dois anos mais nova.

Chegamos no hospital e logo na sala de triagem, a primeira pergunta foi o que tinha acontecido.

— Bateu a cabeça na prateleira da cozinha. – Afirmei.

A enfermeira nos olhou estranho.

— Tem certeza de que não foi na cabeceira da cama?

Eu senti o meu rosto pegando fogo.

— Senhora, foi na prateleira, estávamos fazendo o jantar. – Sean afirmou.

— Tudo bem, você vem comigo, rapaz. Na hora que você estiver liberado e chamo a sua namorada. – A enfermeira o levou para uma sala.

Voltei para a área de recepção e me sentei em uma das cadeiras. Nessa hora me lembrei que não tinha avisado os meus pais...

— Droga, vou levar um sermão daqueles. – Suspirei enquanto tentava ligar para a minha mãe. O celular só caía na caixa postal.

Foi quando eu escutei um homem gemendo. Gemendo muito.

— Esse aí deve ter apanhado pra caramba. – Pensei. E quando me virei para ver quem era o coitado.

Eis que...

Eu tinha acertado Sean na testa, mas parecia que tinha uma outra pessoa que tinha exagerado no carinho....

—-------------------------

Ziva e Tony

Como ele pensa que pode fazer isso comigo? Ele passou o dia inteiro, inteirinho, sem proferir uma única palavra. Nada.

Eu achei que ele falaria algo logo no café da manhã, que me prepararia algo especial, mas ele não fez nada. Absolutamente nada.

No caminho até o NCIS, Tony teve a cara de pau comentar sobre filmes, isso não era novidade, a novidade era ele começar a falar de filmes de zumbis.

Com coisa que aconteceria uma invasão zumbi em Washington em pleno dia dos namorados.

Esperei por alguma gentileza a mais, um beijo roubado dentro do elevador ou até mesmo um presente escondido na mesa ou um buquê de flores que fora entregue mais cedo na agência.

Não tive nada disso.

Até o McGee que vive se esquecendo desta data parecia ter se lembrado e Tony não.

Como sempre, Abby estava em festa, toda data comemorativa era motivo de alegria para ela. Sendo assim, eu tentei arrancar dela se DiNozzo tinha preparado algo.

Abby não entendeu as minhas indiretas, que olha, foram bem diretas e a certo ponto eu não tive alternativa, ou encarava o fato de que Tony havia se esquecido do dia, ou que ele iria aprontar algo.

Esquecer a data estava até impossível. A grande maioria das pessoas estavam falando dos planos para a noite, até Ducky tinha um encontro. Pelo que escutei de uma conversa de Gibbs ao telefone, ele iria levar Jenny para jantar. McGee tinha encomendado o presente de Delilah de última hora, mas tinha pagada ainda mais caro para entregarem hoje. Em resumo, Tony tinha que ter notado algo.

E ele continuava calado. Eu juro, eu quase atirei nele uma certa hora, quando Abby passou distribuindo rosas negras e chocolates para cada um, e Tony se fez se besta – que eu começo a achar que ele é uma – e nem ligou.

Se meu marido estava agindo assim, eu preferia acreditar na segunda opção.

Que ele tinha armado alguma coisa.

Mas como?

Ele passa vinte e quatro horas no meu campo de visão, não teve uma única oportunidade para que ele pudesse fazer algo extraordinário. E ainda tinha Tali, nossa filha não desapareceria ao nosso bel prazer por uma noite, para que pudéssemos ficar às sós, ela requeria cuidados e principalmente uma babá caso saíssemos para algum lugar...

Então, sem alternativas, deduzi que ele tinha se esquecido e não estava nem um pouco culpado por isso.

Caramba, custava muito ele falar que tinha esquecido, que me compensaria em outra noite ou em final de semana só nosso? Eu até preferia, porque assim poderíamos deixar Tali com algum de nossos amigos, até mesmo com Liz, e assim ficaríamos só nós dois...

Para me deixar ainda mais nervosa, tivemos um dia morto, parado, sem nenhum caso, só papelada. E a cada palavra que eu era obrigada a corrigir ou toda santa vez que Tony abria a boca para chamar McGee por um dos muitos apelidos que ele tinha inventado, eu me imaginava acertando um lápis no meio da sua testa, só para ele aprender a nunca mais ignorar o Dia dos Namorados.

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O expediente já estava acabando quando Ellie me chamou. Ela precisava da minha ajuda para qualquer coisa relacionada com o jantar que ela faria para Nick.

— Vai lá com ela, eu tomo conta da Tali. – Tony me avisou.

Assim, segui a falante loira. E como ela falou. Ela precisava da minha opinião para tudo.

Como eu me meti nessa?

Só fui voltar para casa quase oito da noite, e por todo caminho eu vi os casais nas portas dos restaurantes, felizes.

Tive que apertar o volante com força para conter a vontade de estragar a noite de alguém.

A única coisa que eu pedia agora era que Tony tivesse ensinado para Tali todo o dever de casa, que ela já tivesse jantado e estivesse só esperando dar o horário para ir para cama.

E foi com esses pensamentos que cheguei na porta de casa. E o apartamento estava estranhamente silencioso...

Abri a porta e a sala estava escura. Não me diga que Tony e Tali estavam brincando de cowboys e índios de novo! Da última vez quebraram uma janela...

Sinceramente, eu não sei como tudo aconteceu, eu agi mais por instinto e treinamento do que por vontade.

Eu tinha acabado de fechar a porta e estava pronta para chamar por Tali, Tony não merecia a minha preocupação, quando eu senti algo escorregar pelo meu pescoço.

Anos de treinamento me deixaram em alerta, qualquer coisa que chegue por trás e passe perto do seu pescoço significa perigo.

Então, assim que senti, reagi.

Meu corpo tensionou, meus braços se levantaram e eu agarrei quem me atacava pelos pulsos, depois, com um movimento de pés, o joguei por cima de mim, arremessando-o no chão, entre os dois degraus da entrada, com prazer escutei algum osso se quebrando.

Só que ninguém tentava me atacar.

Era Tony.

E ele tinha algo em suas mãos.

Meu presente do Dia dos Namorados. Um cordão.

— TONY! – Chamei exasperada.

— Feliz Dia dos Namorados, Zee-vah! – Ele falou ainda do chão, estava esfregando a clavícula e olhava descrente na minha direção.

— Eu achei que era alguém querendo me atacar. Você está bem?

— Preciso de um hospital. – Ele gemeu.

— Não te arremessei com tanta força. – Tentei me defender. Nisso Tali apareceu.

— Aba, você já deu a parte um do presente da Ima?

— Tem mais? – Me senti culpada.

Tony se levantava com dificuldades do chão e Tali olhava preocupada para ele.

— O que aconteceu, Aba?

— O Aba escorregou. – Falei.

— Eu disse para ele, Ima, ficar no escuro não era uma ideia boa...

— Realmente não foi. – Concordei com a minha filha.

— Será que alguém pode me ajudar? – Tony pediu. Quando o peguei pela mão, ele soltou um grito, olhei para o pulso dele e estava ficando roxo.

— Acho que é uma torção...

Tony me encarou.

— E eu tenho certeza de que quebrei algumas costelas e desloquei o ombro.

— Ima, temos que levar o Aba para o hospital! – Tali clamou.

— E nós já vamos. Vá pegar um casaco.

Tali correu para o quarto e olhei para Tony.

— Me desculpe...

— Ziva, nós já conversarmos, a ninja assassina fica no prédio do NCIS...

— Tá muito ruim?

— Eu tô todo doendo.

Tali voltou e trazia um ursinho de pelúcia.

— Aqui, Aba. – Ela estendeu o ursinho. – Toda vez que eu tenho que ir no médico eu levo o Fofucho que o vovô Ducky me deu, ele me dá coragem. Agora eu vou te emprestar, assim você também vai ser corajoso.

Minha menina era um verdadeiro encanto!

— Obrigado, princesa. – Tony beijou a testa dela e pegou o ursinho.

Dirigi o mais cuidadosamente que pude, pois Tony não pode colocar o cinto, e assim que chegamos no hospital, ele descobriu que deveria estar com mais ossos quebrados do que ele tinha pensado.

Fomos andando até a recepção, a cada passo, o exagerado gemia, carregando o ursinho e de mãos dadas com Tali. Assim que abri as portas duplas eis que...

— Lizzy? – Perguntamos ao mesmo tempo.

— Oi! O que aconteceu com vocês? – Ela perguntou se levantando e indo ajudar Tony.

— Pergunto o mesmo.

— Versão resumida. Dei uma cacetada na cabeça do Sean. Despois conto a versão sem cortes. – Liz falou.

— Por que você acertou o Sean? Eu gosto do Sean. Ele é legal. Sempre tem um doce pra mim! – Tali disparou a falar.

— Foi sem querer, Tali. – Liz acalmou a minha filha. – Mas e você Tony?

— O Aba tropeçou no escuro e escorregou. Batendo no degrau lá de casa. – Tali passou na nossa frente. E eu vi que Liz não acreditou muito nisso não.

— E o ursinho, é seu, Talinha? – A ruiva perguntou.

— Eu emprestei para o Aba, para que ele seja corajoso quando for ver o médico.

— Ah... – Liz tentou segurou a risada. – Então, ele vai entrar na sala de emergências com o seu ursinho?

Tali balançou a cabeça concordando.

Enquanto as duas conversavam, Tony tentava achar uma posição menos dolorida para ficar sentado nas cadeiras de plástico.

— Você é o próximo. – Falei para ele e me sentei do seu lado. Ele apoiou a cabeça do meu ombro.

— Então, Liz. Eu achei que o Sean estava de serviço....

— Ele queria fazer uma surpresa. Aí apareceu lá em casa, tentando entrar pela janela do meu quarto...

Ela nem tinha terminado e eu já estava rindo. Tony por sua vez, a cada risada dava um gemido de dor.

— Eu escutei a barulhada e peguei o taco de beisebol.

— ME FALA QUE FOI O MESMO QUE A DIANE USOU NO SEU PAI! – Tony se empolgou.

— Exatamente esse. E quando Sean ficou de pé no meio do meu quarto... vocês podem imaginar.

Eu ria de chorar, o que esse fuzileiro tinha na cabeça?

— Ele deu sorte que foi você, se fosse o Chefe.

— Amanhã estávamos em um funeral. – Completei.

— Eu falei isso para ele. – Liz deu de ombros.

Tali estava só observando a nossa conversa. Acho que não tinha entendido muita coisa.

— Por que o Sean não bateu na porta? – Ela quis saber.

— Porque ele é lerdo. – Liz respondeu.

— Tem que dar um tapão na cabeça dele para ele aprender a bater na porta! – Tali continuou.

Nisso, chamaram Tony, ele, muito discretamente, ia deixando o ursinho de pelúcia para trás ao seguir a enfermeira, até que...

— Aba!!! Você esqueceu o Fofucho!! – Tali correu atrás do pai para entregar o bichinho.

Liz segurou a risada, eu olhei para o outro lado, a Tony não restou alternativa a não ser levar com ele o Fofucho. A cara da enfermeira era impagável.

— Eu tenho quase certeza que essa enfermeira já viu de tudo, menos um marmanjo igual ao Tony carregando um ursinho de pelúcia. – Liz comentou enquanto Tali observava o pai desaparecer pelo corredor.

— E uma namorada dando uma cacetada na cabeça do namorado. – comentei.

— Não foi essa a história que contamos... – A ruiva disse sem graça.

— E qual foi? – Fiquei curiosa.

— Que ele bateu a cabeça na prateleira da cozinha, mas ela está convencida que ele bateu a cabeça em outro lugar.

Liguei os pontos e caí na gargalhada.

— Não é para rir! – Liz estava vermelha igual a um tomate.

— Ah, é sim. Estou imaginando a cara de vocês!! – Eu ria. Tali logo voltou e se ajeitou no meu colo.

— Aba vai ficar bem, não vai? – Ela me perguntou.

— Ele está com o Fofucho, nenhum mal vai acontecer a ele. – Garanti para minha filha. – Agora, vamos tentar cochilar um pouco, vamos demorar aqui.

Tali fechou os olhos e eu comecei a cantarolar, ela estava quase dormindo quando o celular de Lizzy começou a tocar.

— Me desculpe. – Ela pediu toda sem graça. – Mas é o Todo Poderoso.

— Boa sorte! – Falei em direção a ela que saia para atender a ligação.

Tali adormeceu e Lizzy voltou. Com uma cara e tanto.

— E o veredito é?

— Eles estão vindo para cá. Parece que achar um taco de beisebol ensanguentado apoiado na mesa da cozinha foi demais para os dois. – Ela é comentou.

Não deu quinze minutos e os dois passavam igual um furacão pela porta.

— A mocinha pode ir se explicando! – Gibbs foi pedindo.

— Não foi nada demais. Sean já deve estar saindo... – Liz tentou se esquivar. – Além do mais, ele não é o único que veio parar na emergência.

Gibbs e Jenny olharam em volta e foi só aí que me viram.

— Tony?!

— Foi sem querer... – Eu comentei.

E o casal vinte ficou encarando a nós duas.

— Não foi a nossa culpa! – Falamos juntas.

— Mas o que eles fizeram? – Jenny quis saber.

Liz olhou para mim, ela também não sabia da história.

— Uma surpresa. – Falei por fim.

— Tony tentou te surpreender? Ele não aprendeu nada nos últimos anos? – Gibbs perguntou.

— Pelo visto não... – Dei de ombros.

— E o Sean? – Ele continuou.

— Mesma coisa. Só que ele tentou entrar pela janela do meu quarto. Não deu outra, acertei em cheio a testa dele. – Liz falou sem emoção.

Gibbs queria começar a rir, Jenny foi mais controlada e perguntou:

— Você nocauteou o seu namorado, Elizabeth?

— Sim...

— Essa é a minha garota! – Gibbs se sentou do lado da filha e a abraçou. – Aliás, parabéns para as duas.

— Pai! O Tony tá todo quebrado! – Liz protestou.

— E o Sean?

— Tá fazendo exames.

Com pouco duas enfermeiras chegaram. Era atualizações.

Tony tinha duas costelas quebradas, um ombro deslocado e um pulso torcido.

Ao ouvirem isso, tanto Gibbs quanto Jenny pediram licença e foram para o corredor, mas ainda era possível ouvir a risada dos dois.

Sean tinha uma concussão leve e precisou levar quinze pontos.

Liz se encolheu. E a gargalhada do Gibbs foi ainda mais alta.

A boa notícia, todos dois teriam alta ainda nessa noite. Era só esperar um pouco.

E ficamos nós cinco sentados na recepção. Foi quando eu notei um cheiro de fumaça.

— Por que vocês dois estão com cheiro de fumaça? – Perguntei.

Lizzy se interessou e encarou os pais.

— O restaurante pegou fogo. – Gibbs disse por fim.

— Meu Deus! E vocês estão bem? Onde vocês foram?

— Estamos bem, Ziva. Foi só um acidente. – Jenny respondeu sem detalhes.

— Como um restaurante pega fogo em pleno dia dos namorados? – Lizzy quis saber.

— Quando a Elena está por perto, qualquer coisa é possível. – Gibbs nos respondeu.

— A Elena colocou fogo em um restaurante?! – Perguntei chocada. Lizzy estava rindo, muito.

— Sim, ela conseguiu fazer isso. – Jen respondeu. – E estragou a noite de muita gente, incluindo a dos pais dela.

— Fala sério!!! Tô passada! – Lizzy ria.

— Tá rindo por quê? Você nocauteou o seu namorado!

— Mas pai, o prejuízo foi só no Sean, o resto da casa tá inteira. Elena destruiu um restaurante. Não tem como ganhar disso.

— Eu concordo com ela. – Falei.

— Vocês duas, ou melhor, três são um perigo. – Ele apontou tanto para mim quanto para a filha e ainda incluiu a herdeira do FBI.

— Não é para tanto... – Me defendi. – Acidentes acontecem.

E nesse momento ouvimos um grito.

— PELO AMOR DE DEUS! POR QUE NÃO ME FALOU QUE DOÍA TANTO?

— Os pulmões do Tony estão muito bem. – Jen comentou.

Eu me mantive quietinha, por que meu marido era tão escandaloso?

Mais vinte minutos e os dois apareceram na sala de espera.

Sean tinha a testa enfaixada e ficou muito sem graça ao encontrar os sogros o esperando. Já Tony...

Tony sempre foi um caso a parte, porém hoje ele tinha se superado.

Tinha um braço em uma tipoia, por conta do ombro deslocado. O pulso do outro braço estava imobilizado, pois tinha sido torcido e espremido entre o braço imobilizado e o tronco dele, estava Fofucho, o ursinho de pelúcia.

— Bonito companheiro Tony. – Gibbs falou.

— É da Tali.

— Claro que é... – Jenny tentava não rir.

— É dela. – Mas Tony tinha desistido e resolveu jogar o bichinho para o fuzileiro que estava um tanto desorientado do lado dele. – Toma Sean, fica com o Fofucho.

— Eu não! – Sean jogou o bichinho de volta.

— Tá com medinho que do que as pessoas vão pensar se te virem carregando um bichinho de pelúcia, fuzileiro? – Tony provocou.

— Não, não estou. Mas você está precisando mais dele do que eu, afinal, quem gritou igual a um bebê foi você, DiNozzo.

Tony ficou calado.

— Podemos ir? – Liz perguntou sem graça.

— Claro! – Me levantei com Tali nos braços.

— Precisa de ajuda, Ziver?

— Agradeço, Tali está bem pesada. – Respondi para o meu segundo pai.

Estávamos quase na porta quando notei que Gibbs que ainda ria.

— Posso saber o motivo da sua felicidade, Jethro? Ninguém aqui teve a noite do dia dos namorados que esperava. – Jenny reclamou.

— Não, ninguém teve, mas história para contar não vai faltar.

— Pai, por favor. – Liz pediu.

— E espero que tanto o Tony quanto o aspirante a fuzileiro tenham aprendido a lição.

Vi que Tony e Sean trocaram olhares confusos. Eu olhei para Liz e ela deu de ombros.

— Jethro, não me faça ter que perguntar! – Jenny estava perdendo a paciência.

— Ninguém pega as minhas meninas de surpresa, Jen. Ninguém.

— Lição aprendida, Chefe! – Tony tentou esfregar uma costela quebrada.

— Pode ter certeza de que aprendi, senhor. – Sean respondeu.

Pode não ter sido o Dia dos Namorados que eu queria, mas, como Gibbs disse, era uma boa história para se contar e para rir.

Daqui uns cinco ou dez anos, porque hoje...

Hoje eu só consigo pensar no fiasco que esse Dia dos Namorados foi para todo mundo.

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Dizem que a noite dos namorados é a noite mais romântica do ano. Talvez para 99,9% da população mundial porque para cinco casais em Washington, a pedida para essa noite foi sobreviver.

Sobreviver à estabanada Elena, que nem em um jantar romântico consegue não aprontar uma.

Sobreviver às exageradas Elizabeth e Ziva, que ao invés de perguntar primeiro, foram reagindo ao extremo.

E essas três vão ter que sobreviver os próximos 365 dias ouvindo a mesma história repetidamente... e de novo e de novo... a menos que alguma delas apronte novamente....

A menos não. Tão certo quanto o dia vai nascer de novo, é que tanto Elena quanto Elizabeth vão aprontar. Resta só saber quem será a próxima vítima....

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.