Muito, muito longe no mar desconhecido, escuro como a noite sob um céu nebuloso e acinzentado de uma tempestade, havia uma série de luzes que brilhavam no horizonte ao longe, sem dar qualquer pista de onde estavam, ou o que queriam, elas apenas brilhavam. Não havia terras, não havia pessoas por perto, elas apenas brilhavam.

Um capitão de um navio pesqueiro um tanto rudimentar, mas com alguma tradição e boas histórias para contar estava olhando com os olhos melancólicos para as luzes no horizonte, cachimbo na boca meio caído, sorriso mareado. Um de seus marinheiros, apreensivo com as luzes, se aproximou do capitão e perguntou nervoso:

– Capitão, o que são essas coisas?

O velho capitão alargou mais lateralmente o sorriso e disse:

– Ora, são faróis. Eles nos guiarão por nossa viagem.

E assim o fizeram. Por dias o capitão seguiu unicamente a luz que vinha dos misteriosos faróis perdidos nas névoas misteriosas, ignorando sua bússola, as estrelas e os precisos conselhos do álcool. Ele apenas seguia os faróis, nada mais além deles.

Certo dia, porém, abateu-se sobre eles uma enorme tempestade. O céu e o mar se tornaram negros como piche, um disputando com o outro o título de mais nervoso. Os céus lançavam ventos traiçoeiros e torrentes de água perigosas, as quais o mar respondia com ondas ousadas e violentas.

Na violenta disputa, as névoas medrosas se esconderam sob um manto sombrio, obscurecendo a visão dos faróis, que se perderam na imensidão caótica. Os marinheiros se tornaram desesperados, sem saber mais para onde seguir, temendo pela sanidade de seu capitão, que encarava o horizonte com os mesmos olhos mareados e sorriso salgado. Mesmo sem ver os faróis, o capitão parecia saber exatamente para onde eles apontavam.

E durante dias e dias assim eles seguiram. Os mares e os céus se tornavam cada dia mais violentos, porém o navio seguia sempre firme, seguindo e mudando de direção guiado por algo que ninguém além do capitão parecia entender. Depois de muitos dias, quando a água e a comida já estavam acabando, um dos marinheiros aflitos foi ter com o capitão, que estava em sua habitual posição, olhando para o horizonte.

Antes, porém, que ele pudesse falar, o céu e o mar de repente pareceram se entender, como duas partes em uma guerra, e a tempestade desmanchou, abrindo-se um céu claro e limpo, um mar verde e transparente, e, ao longe, era possível avistar terra. No entanto, lá longe, não ofuscadas pela claridade do céu, mas sim meramente moldadas por ela, estavam as luzes daqueles misteriosos faróis, ainda guiando o barco.