Um Caminho Para O Coração
Capítulo 48 — Nenhuma Noite é Tão Longa
Rosalie estacionou seu carro ao lado da velha caminhonete de Emmett, na entrada de veículos, no jardim da casa deles.
Era bom estar de volta, sem a agonizante preocupação de encontrar a casa destruída pelas chamas, como foi em sua ida anterior a Atlanta. Seus dois amores se encontravam em segurança, a sua espera. As luzes estavam acesas no interior da casa. Imaginou o que estariam fazendo enquanto a esperava.
— Rose chegou — Emmett avisou a Olívia, que desenhava apoiada a mesinha de centro, ao perceber as luzes do farol iluminar o jardim. Ele deixou o controle da televisão de lado e se levantou.
Olívia largou o giz de cera. Ficou de pé com um pulo. Apressou-se até a porta da frente, aguardando o momento de Rosalie entrar. O barulho na fechadura a deixou inquieta, subindo e descendo nos calcanhares.
O rosto de Rosalie se iluminou com um sorriso ao encontrá-la do outro lado da porta.
— Mamãe! — se alegrou Olívia diante Rosalie.
Rosalie soltou as sacolas que trazia para abraçar a menina.
— Meu amor — cantarolou Rosalie.
Olívia se agarrou a cintura dela. Rosalie a pegou no colo, cobrindo o rosto salpicado de sardas com seus beijos.
— Quem aguenta um amorzinho desses? Quem aguenta? — brincou, apertando os lábios nas bochechas de Olívia. — Não consigo ficar tanto tempo longe de minha pequena. Não consigo.
Olívia deu uma risadinha.
— Fiz um desenho para você — contou.
— Ah, é? — A colocou de volta no chão.
— Uhun. Vou pegar nesse instante. — Olívia voltou correndo, onde estava antes, para buscar o desenho.
Rosalie encontrou Emmett com o sorriso no rosto, olhando para elas. Foi ao encontro dele, sem perder o contato visual.
Emmett alcançou a cintura dela com as mãos. Aproximou um pouco mais o corpo dela ao seu. Seus lábios se tocaram com um beijo.
Olívia aguardou, com o desenho nas mãos, sorrindo.
Emmett encostou a testa a de Rosalie ao final do beijo.
— Senti sua falta — confessou em um murmúrio.
Rosalie beijou o rosto dele, e novamente os lábios.
— É bom tê-la de volta — ele tornou dizer. Segurou firme o corpo dela junto ao seu. Beijou-a no pescoço e então a deixou.
Olívia sacudiu a folha com o mais novo desenho.
— Fiz para você, mamãe.
Rosalie recebeu o desenho em uma das mãos, usando a outra para afagar o rosto da menina.
— Que lindo, meu amor. Adorei o desenho. Irei guardar, com carinho, junto a todos os outros que me presenteou até hoje. Minha pequena artista.
Olívia deu pulinhos de alegria, por ela gostar do desenho.
— Também tem flores — contou. — Eu ajudei o papai escolher.
O olhar de Rosalie cruzou com o de Emmett. Ele lhe deu uma piscadela, antes de se afastar para pegar as flores na sala de jantar.
Rosalie se movimentou pela casa. Parou diante a mesa na sala de jantar, olhando o que eles prepararam para ela.
— Que lindo.
— Ajudei o papai preparar tudo — se orgulhou Olívia.
— Está tudo lindo. Posso apostar que muito saboroso também.
Emmett chegou mais perto para lhe entregar as flores.
— Obrigada, amor. — Ela apertou o rosto dele em uma das mãos. E o beijou novamente. Voltou olhar as flores. — São lindas. Eu adorei. Obrigada aos dois pela surpresa. Vou colocá-las em um vaso bem bonito.
— Mamãe, o que são nas sacolas? — Olívia perguntou, retornando ao local onde ficaram as sacolas.
— São presentes para você, seu papai e o vovô.
Emmett pôs a mão sobre a de Rosalie.
— Deixe que eu coloque as flores no vaso para você — ofereceu.
— Obrigada. — Ela entregou as flores, para ir atrás de Olívia.
— Você comprou tudo isso, mamãe? — surpreendeu-se a menina com a quantidade de sacolas agora em cima do sofá.
— Na verdade, não. Minha amiga, Isabella, te mandou alguns presentes.
— Que legal, mamãe.
— Meu pai também.
— O seu papai também mandou presente?
— Sim, ele também. — Ela sorriu.
— Uou — murmurou Olívia, abrindo o presente enviado por Geoffrey. — É um tabuleiro de xadrez. — Terminou de rasgar o embrulho com agilidade. — É tão lindo. Ele disse mesmo que me daria um desses. Ele disse, mamãe.
Rosalie sorriu.
— Mas ele também disse que me ensinaria como jogar…
Roalie tocou na pontinha do nariz dela.
— Ele mandou dizer que em breve estará aqui, jogando xadrez com você.
Um sorriso desenhou os lábios de Olívia.
Rosalie entregou todos os presentes. Olívia os abriu um a um. A sala ficou abarrotada de papel de presente rasgado. Em cima do sofá, roupas e brinquedos.
Emmett abriu também os presentes que ganhou. Entre os quais, encontrou um par de sapatos novos e também um cinto.
Rosalie ficou encostada a Emmett no sofá, trocando carinhos, enquanto Olívia aproveitava os brinquedos novos.
— Não demora — começou Emmett —, não terá mais onde guardar tantos brinquedos. — Os dedos entrelaçados aos de Rosalie. — Já tem brinquedos aqui, na casa de Norman e também na casa de Esme.
— Terá também em nosso apartamento, em Atlanta — emendou Rosalie. — Porque quero que voltemos lá, os três juntos, a passeio.
Emmett beijou na têmpora direita dela.
— Está com fome? — perguntou. — Porque estou faminto.
Rosalie meneou a cabeça.
— Vamos jantar. — Ela levantou. — Deixe só eu recolher todos esses papeis.
— Todos nós iremos recolher — Emmett lembrou. — Não é, Olívia?
A menina deixou os brinquedos de lado para ajudar.
— Sim, papai.
[…]
Olívia sorriu para o espelho após finalizar a escovação dos dentes, de pé na escadinha. Rosalie estava de pé ao seu lado.
— Temos dentinhos novos querendo sair nessa janelinha — brincou, olhando o sorriso da menina no espelho.
— Uma janelinha engraçada — disse Olívia.
Rosalie guardou ambas as escovas de dente.
— Vamos lá?
— Sim. — Olívia pulou da escadinha no chão. Ofereceu a mão pequena a Rosalie. E saíram do banheiro juntas. — Mamãe.
— Sim?
— Eu senti saudade.
Rosalie sorriu.
— Eu também senti saudade sua.
Entraram no quarto da menina. Olívia chegou perto da cama, puxou o lençol e se enfiou debaixo dele. Rosalie sentou ao lado dela, na beirada do colchão. Olívia pegou, ao lado do travesseiro, o livro que estava lendo e entregou a ela. Rosalie pôs o cobertorzinho junto ao peito de Olívia. A menina encostou o cobertorzinho ao nariz e aguardou.
— Pronta? — pediu Rosalie.
Um leve movimentar de cabeça mostrou que sim.
Rosalie abriu o livro na página marcada.
— Muito bem… — Iniciou a leitura, parando para responder uma pergunta ou outra.
Emmett parou no limiar da porta, observando as duas, os braços encruzados. Sorriu a uma das perguntas de Olívia. Rosalie olhou para a porta.
— Aí está você — disse.
— Aqui estou eu — respondeu ele, num tom brincalhão. Entrou no quarto. Chegou perto da cama, curvando-se para beijar Olívia na testa.
— Te amo, amorzinho.
— Te amo, papai.
Emmett afagou os cabelos da filha. Rosalie prosseguiu com a leitura. Emmett se encaminhou a porta, parou um instante, olhando para trás.
— Estarei te esperando lá embaixo — avisou.
Estava no sofá da sala, trocando de canal na televisão, quando percebeu passos na escada. Virou a tempo de vê-la descer o último degrau.
— Olívia já dormiu?
— Estava cansadinha — comentou. — Parece que o último dia de aula foi bem agitado.
Emmett sinalizou que ficasse ao lado dele no sofá.
— Amor… — Ela se aproximou. A voz soando apreensiva. — Nós precisamos conversar.
Emmett desligou a televisão. Rosalie sentou ao lado dele com um envelope branco na mão.
— O que tem aí? — quis saber ele.
— É sobre o que tem aqui que vamos falar. — Ela balançou o envelope antes de entregar na mão dele.
Emmett olhou o objeto de um lado e do outro.
— É importante? — tentou.
Rosalie anuiu.
— Preciso que leia com atenção.
Emmett ficou inquieto, parecendo nervoso.
— Estou com medo — confessou.
— Medo do quê? — ela tentou descobrir, olhando no rosto dele.
— Não sei…
Rosalie o ajudou, abrindo o envelope.
— Preciso que leia… faça isso com atenção.
Emmett estudou o rosto dela, uma mão no envelope, outra no papel no interior dele. Puxou devagar. Encontrou os dados do hospital no topo da folha. Olhou no rosto de Rosalie outra vez.
— Você está doente?
Rosalie notou a mudança na respiração dele. Ansiedade e medo.
Emmett pôs a mão em seu rosto. Rosalie descansou a mão na dele.
— Estou bem — garantiu.
— Então…
Rosalie afagou o rosto dele.
— Leia o restante.
Ele retirou toda a folha do envelope.
— Preciso mesmo fazer isso?
— Sim.
Os olhos dele seguiram as letras escuras na folha com receio.
Rosalie acompanhou de perto a mudança na expressão dele conforme descobriu o conteúdo. Angústia alcançou os lindos olhos azuis dele. O rosto se tornou sério. Ele colocou o laudo médico no sofá. Levantou, quase como em câmera lenta, caminhou alguns passos, passou as mãos pela cabeça. Olhou para trás. Sacudiu a cabeça como não suportasse o que acabou de descobrir.
— Não… — uma única palavra deixou os lábios dele. Nela havia um tom de angústia e medo que poucas vezes Rosalie presenciou. Os olhos dele tornou-se o reflexo do medo. Aquela aflição chegou a ela em ondas de arrepios. Emmett caminhou toda a sala de estar como não soubesse o que fazer. Agiu como fosse socar alguns móveis, parando ao olhar no alto da escada. Um rosnado preso no fundo da garganta. O monstro dentro dele sendo controlado pelo fato de Olívia estar na casa.
Ele caminhou em direção à porta da frente.
— Emmett — Rosalie o chamou. As lágrimas se acumulando nos olhos.
Emmett moveu a mão, sem conseguir olhá-la.
— Eu não posso… — Abriu a porta e saiu para a varanda.
Rosalie aguardou ele voltar, de olho na porta aberta. As lágrimas molharam seu rosto. Emmett não voltou, em vez disso, ouviu o barulho do motor da caminhonete. Os faróis iluminando o jardim. Restando apenas o silêncio. Levantou e foi até a porta. Espiou no lado de fora, a brisa noturna soprou seu rosto com leveza. Fechou a porta, incapaz de conter o choro. Retornou a sala. Olhou o laudo em cima do sofá, abandonado. Um silêncio doloroso. Levou ambas as mãos à barriga, respirou fundo e se encaminhou a escada, subindo um degrau de cada vez.
Chegou ao quarto deles chorando. Sentou na poltrona ao lado da janela, com as pernas encolhidas, aguardando ele voltar. Tentou telefonar, e acabou descobrindo que o celular dele ficou na casa.
[…]
Emmett dirigiu sem destino certo pelas ruas silenciosas. Tranquilas estradas rurais. Não soube ao certo por quanto tempo dirigiu só que acabou às margens do rio Chawan. Deixou a porta da caminhonete aberta. Caminhou nas proximidades das castanheiras que margeavam a água, a luz da lua.
Lembrou a última vez que esteve ali. Rosalie estava com ele quando deixou para trás as alianças de seu casamento com Sarah, atirando-as na água. Recordou como Sarah foi arrancada de sua vida repentinamente. O medo de que a história se repetisse o levou aquele lugar no meio da noite. Sentou no chão encoberto de folhas e cascalhos. As lágrimas se perdiam na grossa camada de barba em seu rosto bonito. Viu-se implorando, a uma força maior, que a história não se repetisse.
[…]
— Mamãe — Olívia estava no limiar da porta, com o cobertorzinho nos braços.
Rosalie deixou de olhar na direção da janela para olhar a menina.
— Oi, meu amor. Teve um sonho ruim?
Olívia confirmou com um leve balançar de cabeça.
Rosalie secou os olhos com a mão, na pouca luz em que se encontrava o quarto deles. Abriu os braços.
— Venha ficar com a mamãe. — Colocou Olívia no colo assim que ela se aproximou.
— Cadê o papai? — pediu, aconchegada a Rosalie na poltrona.
— Ele está lá embaixo. — Passou a mão na testa da menina e deixou um beijo ali. — Volte a dormir — sugeriu. — Mamãe está aqui com você. Vai ficar tudo bem.
Cerca de vinte minutos mais tarde, Rosalie deitou Olívia na cama de casal e a cobriu. Voltou sentar na poltrona, olhando na janela, encolhida, o coração apertado, aguardando Emmett voltar.
[…]
Cansado de ficar no chão, Emmett voltou para o carro, bateu a porta e recomeçou dirigir sem rumo. Acabou na casa em construção onde ele, Jacob e Kalel trabalhavam recentemente. Permaneceu um tempo no interior do carro, antes de finalmente sair. Caminhou pelo pedaço de terra, onde seria a entrada de veículos de acesso à garagem. Entrou na garagem ainda sem porta. Moveu-se de um lado a outro. Sentou sobre a pilha de madeiras. Todos os pensamentos voltados a coisas ruins. O medo de perder novamente um amor o estava atormentando. Tateou os bolsos a procura do celular, pensando ligar para o terapeuta, mas não o encontrou.
As horas se passaram. O sol começou sair no horizonte.
A caminhonete preta de Jacob se aproximou com a carroceria cheia de material de trabalho. Reconheceu a velha caminhonete de Emmett estacionada. Parou, olhando para o lado de fora. Pegou o copo de café para viagem no porta-copos. Não esperava encontrar Emmett àquela hora da manhã. Tinham combinado que ele chegaria mais tarde hoje.
Aproximou-se do carro do amigo, olhando o lado de dentro pela janela. A chave estava ao volante. Havia algo errado. Fez o mesmo caminho que Emmett fez na madrugada quando chegou ali. Encontrou o amigo sentado, com as costas apoiada a parede, o pescoço inclinado para um lado, dormindo. Deixou o copo de café em cima da madeira e chegou mais perto.
— Emmett — chamou. Como ele não respondeu, tentou novamente. — Emmett. — Cutucou o braço do amigo. — Acorda, cara.
Emmett moveu o pescoço dolorido, parecendo confuso. Abriu os olhos deparando-se com Jacob e sua expressão de quem não fazia ideia do que estava acontecendo.
— O que está fazendo?
— Eu sou quem pergunto — rebateu Jacob. — O que faz dormindo aqui? Pensei que seus dias de bebedeira tivesse ficado para trás.
Emmett se mostrou incomodado com o comentário de Jacob quanto à bebida.
— Não bebi… — Ele caminhou como não reconhecesse onde estava.
— É difícil de acreditar. — Jacob mostrou a pilha de madeira onde o encontrou. — Estava dormindo aqui.
Emmett passou a mão na cabeça.
— Eu sei, mas não bebi.
O olhar de Jacob dizia não acreditar.
— Rose está grávida — contou.
— Parabéns, cara.
— Não — Emmett o cortou. — Rose está grávida — repetiu.
— Eu entendi.
— Não estou pronto — sua voz soou desesperada. — Vai acontecer outra vez…
— O que vai acontecer outra vez?
— Não posso perder Rose também.
— Não vai perder.
— Já perdi um amor uma vez. Não posso perder outro.
— O que aconteceu antes… a morte de Sarah… você sabe que foi uma fatalidade. Não é uma regra, Emmett.
— Não estou conseguindo organizar os pensamentos. Sinto que estou ficando maluco.
— A deixou sozinha após revelar a gravidez?
— Não estou fazendo as coisas com clareza. Estou apavorado.
— Emmett, você pode perdê-la, sim, mas não por se repetir o que aconteceu a Sarah. É por fazê-la pensar que não a ama. Que não deseja o bebê que está esperando.
Emmett moveu a cabeça, como fosse loucura o que estava dizendo.
— Meu Deus, eu a amo.
— Então volte para casa. Demonstre que a ama ficando ao lado dela. Aposto que não conseguiu dormir esperando você voltar. E Olívia, o que vai pensar quando descobrir que ficou fora toda a noite? Se retrate ou realmente irá perdê-la.
Emmett anuiu.
— Não volte aqui mais hoje. Fique um tempo com elas. Pare de esperar o pior.
— Obrigado, Jacob.
Jacob bateu a mão na lataria da caminhonete, enquanto Emmett punha o motor para funcionar. Acenou quando saiu com o carro.
Emmett estava ansioso, quando estacionou ao lado do carro de Rosalie na entrada de veículos. Saltou, chegando à varanda a passos largos. Chegou à sala. Avistou o laudo médico em cima do sofá, da mesma forma que deixou ao sair. Recolheu, levando com ele ao andar de cima. A porta do quarto estava aberta. Alcançou o limiar. Avistou Rosalie encolhida na poltrona.
Ela virou o rosto na direção da porta ao sentir sua presença. Seus lindos olhos de cor âmbar estavam inchados e levemente vermelhos, entregando haver chorado.
Apressou-se até ela, movido pelo impulso do pedido de perdão. Ficou de joelhos no chão, abraçou a cintura dela, chegando descansar a cabeça em seu colo. O laudo médico ficou no canto da poltrona.
— Me perdoe — pediu. — Me perdoe. — Beijou as mãos e barriga dela.
Rosalie engoliu o choro de queixo erguido. Relutou com a mão erguida, a vontade de tocar os cabelos dele.
— Onde você estava? — perguntou.
— Perdido, igual ao dia em que você nos encontrou. Vagando sem rumo pela vida.
Rosalie finalmente tocou o rosto dele. Presos em uma troca de olhar onde transparecia medo.
— Estou apavorado — ele revelou. — Te amo demais. Não posso te perder. Só consegui pensar que não quero te perder.
Segurando o rosto dele entre as mãos, Rosalie lhe disse:
— Não vai me perder.
— Preciso de ajuda.
— Eu vou te ajudar… confie em mim.
— Me perdoe. — Ele se levantou. Mergulhou os dedos das mãos na nuca dela, chegou mais perto e a beijou.
— Não volte a fazer isso… me deixar a noite inteira esperando você voltar.
— Me desculpe. — Ele passou um braço por debaixo das coxas dela, outro por detrás das costas, erguendo-a da poltrona nos braços.
— Ollie está na nossa cama — Rosalie lembrou.
— O que aconteceu?
— Ela teve um sonho ruim durante a noite.
— Achei que isso tinha acabado.
Emmett a levou para a cama e a colocou ao lado de Olívia. Então, deitou ao lado de Rosalie. Descansou a mão na barriga dela murmurando:
— Não posso perder a nenhum dos três. Simplesmente, não posso.
Rosalie encostou a testa a dele.
— Te amo.
Emmett acariciou os cabelos louros dela e também seu rosto cansado. Rosalie o abraçou, descansando a cabeça no ombro dele.
Olívia acordou, levantou a cabeça e os encontrou dormindo abraçados. A luz do dia entrando pela brecha na cortina. Passou a mão no rosto de cada um deles. Tornou deitar a cabeça no travesseiro, o cobertorzinho junto ao rosto, e voltou a dormir.
Acordou minutos mais tarde. Olhou os dois, ainda dormindo. Deixou o cobertorzinho na cama, então levantou. Saiu do quarto com os cabelos bagunçados, os pés descalços, andando pelo corredor. Desceu a escada, segurando no corrimão, passou pela sala correndo, chegando imediatamente à cozinha.
No armário embaixo da ilha, encontrou a bandeja de servir café na cama. Levou para a mesa. Na geladeira, encontrou algumas frutas. Colocou o pão na torradeira. Enquanto ficava pronto, acrescentou à bandeja pasta de amendoim, geleia de morango e iogurte. Três copos com leite até a metade. Acrescentou também guardanapos de papel.
Deu um pouco de trabalho subir a escada carregando a bandeja, levando um tempo maior que o esperado para chegar ao quarto.
Emmett e Rosalie haviam acabado de acordar. Ela entrou no quarto, com a bandeja, bem no momento que Rosalie chamava seu nome.
— Bom dia — os cumprimentou com alegria.
Ambos sorriam ao vê-la tão cuidadosa com a bandeja de comida.
— Bom dia — disseram os dois.
— Preparei nosso café da manhã.
— Obrigada — disse Rosalie.
— Parece que dormirmos mais do que devíamos — concluiu Emmett.
Emmett recebeu a bandeja, passando então para Rosalie. Em seguida, ergueu Olívia para cima da cama. E beijou no rostinho dela.
— Obrigado, amorzinho.
Olívia encolheu os ombros, risonha.
Rosalie mordeu um morango.
— Que delícia.
Emmett pôs um morango inteiro na boca.
— Como adivinhou que o papai estava faminto? — falou de boca cheia. Apertando os lábios na bochecha de Olívia, propositalmente.
— Você é um papai urso bagunceiro.
— Papai é um urso bagunceiro? — ele repetiu.
— Bagunceiro e carinhoso também.
Emmett deu risada. Passou pasta de amendoim e geleia na torrada e entregou para Rosalie morder.
— Sua mamãe Rose é o quê? — continuou falando com Olívia.
— Uma ursa carinhosa e valente.
— Tudo isso?
— Uhun. Uma família de ursos bem legais.
— Te amo, ursa pequenina. — Ele beijou no rosto dela após uma mordida na torrada. Olívia se encolheu, rindo.
[…]
À tarde, eles saíram para dar uma volta no quarteirão para que Olívia pudesse andar de bicicleta. Devidamente equipada, a menina seguiu na frente deles pela calçada que antecedia o gramado dos vizinhos. Emmett e Rosalie de mãos dadas. Quando voltavam, Olívia avistou Esme no jardim da casa dela, anteriormente endereço da senhora Smith.
— A vovó está no jardim — falou, olhando para trás. — Posso ir lá?
— Pode — disseram os dois.
Olívia fez a curva com a bicicleta ao entrar no jardim da avó.
— Vovó. — Parou e saltou da bicicleta.
Esme levantou a cabeça. O chapéu de abas largas fazendo sombra em seu rosto. Deixou o regador de lado.
— Oi, meu anjo. Veio visitar a vovó.
Olívia chegou mais perto. Ambas se abraçaram.
Esme afagou as tranças nos cabelos da menina.
— Quem está com você?
— Mamãe e papai.
Esme avistou aos dois se aproximando. Acenou de volta quando Rosalie acenou para ela. Eles entraram no jardim ainda de mãos dadas.
— Que calor que está fazendo — se queixou Rosalie.
— Estava pensando a mesma coisa — concordou Esme. — Vamos entrar um pouco. — Tocou na ponta do nariz de Olívia. — Vovó comprou seu sabor de suco favorito. E o sorvete que você gosta, também.
Olívia sorriu.
— Em alguns dias — lembrou Emmett — chega à cidade o parque de diversões itinerante.
— Sempre gostei muito desses parques. Famílias reunidas e crianças se divertindo — acrescentou Esme.
— Mamãe e papai irão me levar — contou Olívia. — Vai ser minha primeira vez no parque.
— Não gostaria de ir conosco? — ofereceu Rosalie.
— Adoraria — respondeu Esme. Ela segurou a mão de Olívia. — Venha, vamos entrar para tomar um suco gelado.
— Megan vai pedir para a mamãe dela, se pode vir para fazer guerra de bexigas num outro dia.
— Parece bastante divertido.
— É divertido, vovó. O vovô Nor comprou as bexigas. A mamãe vai encher todas com água. Você pode brincar também vovó.
— Obrigada, querida.
[…]
— Tchau, vovó — disse Olívia, no jardim, pronta para montar na bicicleta novamente. Na cestinha, levava a boneca de pano, com roupas de bailarina, que pegou na casa da avó.
— Tchau, meu anjo. Vá com cuidado.
Olívia montou na bicicleta enquanto os adultos se despediam. Desceu o caminho de cimento, virando na direção contraria a casa deles.
Na esquina, no outro lado da rua, avistou um carro preto estacionado.
— Olívia — Emmett chamou seu nome. Ele chegou à calçada, olhando onde ela tinha ido. — Olívia.
A menina voltou pedalando. Ela parou, pôs os pés no chão e olhou para trás. Viu o carro preto voltando de ré até sumir de vista. Emmett não chegou notar o carro.
— Venha, amorzinho. Nós vamos para casa agora.
A menina manobrou a bicicleta com os pés no chão.
Rosalie chegou ao lado dele, com Esme logo atrás. Os três aguardando a criança se aproximar.
— Por que foi para lá? — Emmett pediu, pondo a mão no guidão da bicicleta.
— Levei a Loli para passear.
— Loli quer ir para casa agora. Ela está com sono. — Ele ajudou Olívia pôr a bicicleta na direção correta.
Olívia deu risada.
Esme voltou para o interior da casa. Os três refizeram o curto caminho até a casa deles. Foram direto ao jardim dos fundos.
Emmett e Rosalie sentaram no banco sob o caramanchão. Olívia largou a bicicleta ao lado da casinha de bonecas, levando a boneca Loli para a vila de fadas.
— Precisamos contar para ela — comentou Emmett.
Rosalie moveu a cabeça, concordando.
— Tem razão — fez-se silêncio alguns instantes. — Acha que ela vai gostar? — Olhou Olívia brincando.
— Não temos como saber. — Ele segurou na mão de Rosalie. — Porém, é necessário enfrentar esse momento — afirmou.
— É. — Ela moveu a cabeça devagar.
Emmett a beijou nos lábios, e lhe afagou o rosto.
— Ollie — Rosalie chamou. — Venha até aqui, meu amor.
Olívia virou o rosto na direção deles, as tranças balançando. Levantou com a boneca nos braços e se aproximou.
Rosalie sorriu no automático ao ver a menina sorrindo para eles. Os dedos de Emmett se apertaram aos seus.
— Vamos brincar, mamãe? — Olívia convidou.
— Daqui a pouco. Antes, precisamos conversar com você.
Olívia se aproximou, saltitante.
— Sobre o que querem conversar?
Rosalie a colocou no colo. Afagou o rostinho corado, as tranças e por fim pôs as mãos sobre as dela.
— Falaremos sobre… amor.
O rosto de Olívia se alegrou com mais um sorriso.
Emmett acariciou o queixo da filha. Em seguida, repousou a mão grande sobre as mãos de ambas.
— Amor — repetiu Olívia. — Amor é o que sinto por você, mamãe.
Rosalie apertou a menina em seus braços.
— É o que sinto pelo papai. As duas vovós, o vovô Nor…
— É o que todos nos sentimos por você também — emendou Rosalie. — Outro tipo de amor uniu o papai e a mamãe. Dessa união nossa família irá aumentar.
Olívia permaneceu em silêncio, olhando o rosto dela, aguardando por mais.
— Teremos um novo membro na família em breve.
— Quem? — Ela passou a mão no rosto, afastando alguns fios que escaparam do penteado.
Rosalie encostou a própria mão à barriga.
— Aqui, na barriga da mamãe, tem um bebê crescendo.
O rosto de Olívia se mostrou sério. O silêncio estava de volta. De repente, pediu:
— Me mostre.
Emmett sorriu.
Rosalie afastou do rostinho dela os fios que o vento soprou de volta.
— Não tem como fazer isso, meu amor. — A expressão no rosto da menina pareceu de decepção. — Mas, você poderá vê-lo no exame de ultrassom.
— O que é isso?
— É um exame que as mamães fazem quando estão grávidas para saber como está se desenvolvendo o bebezinho na barriga.
— Quanto tempo ele vai ficar na sua barriga?
— Nove meses é o tempo esperado. Mas pode ser que venha antes.
— Eu também fui um bebê. Eu estava na barriga da mamãe Sarah.
Rosalie sorriu, emocionada.
— Isso mesmo, meu amor.
Os olhos de Olívia marejaram.
— Você não vai morrer, não é?
Outra vez Rosalie a abraçou apertado.
— Não, minha pequena. — Ela afagou as costas da menina. — Vai ficar tudo bem. Não vai acontecer nada.
Olívia olhou no rosto dela.
— Tá bom — disse em voz baixa.
Rosalie afagou o rostinho angustiado.
— Mamãe.
— Sim? — Ela sorriu. Amava cada vez que Olívia a chamava de mamãe.
— Você ainda irá me amar… quando o bebê chegar?
— Irei te amar para sempre. — Segurou o rosto de Olívia entre as mãos. — Você foi meu primeiro arco-íris. Nunca irei deixar de amar você. — Beijou no rosto da criança.
Olívia passou os braços em volta do pescoço dela, com um suspiro de alívio.
Emmett beijou no rosto da filha e também no de Rosalie.
— É menino ou menina? — Olívia quis saber.
— Ainda não sabemos — afirmou Rosalie.
Emmett aproveitou para perguntar:
— Você quer que seja menino ou menina?
— Eu não sei…
— Tudo bem. O papai também não sabe. — Ele sorriu para a filha.
— Você está feliz, papai?
— Estou. — Tocou o rostinho dela. — Tenho meus dois amores bem aqui comigo. Em breve, três amores.
— Tem mesmo um bebê na sua barriga? — questionou, pondo as mãos na barriga de Rosalie. — Não parece nada.
Sorrindo, Rosalie respondeu:
— É que ainda vai crescer. Vai ficar um barrigão, você vai ver.
— Como ele foi parar aí dentro?
— Esse é um assunto para outro momento.
— Quando?
Emmett interferiu, pondo fim ao assunto.
— Quando você tiver dezoito anos.
— Tudo isso?
Rosalie não conseguiu segurar o riso.
— Foi por uma sementinha — disse.
— Que sementinha?
— Que o papai deu.
— Mas, por quê?
— Chega com essa conversa de sementinha — resmungou Emmett.
Rosalie não conseguia parar de rir. Olívia riu junto, mesmo sem saber o que era tão engraçado.
— Que cara mais séria — brincou Rosalie, passando a mão no rosto de Emmett.
— Estou constrangido.
Olívia reparou numa borboleta voando próximo de onde estavam. Pulou no chão para vê-la de perto.
— Uau! Que linda — murmurou.
Rosalie sussurrou para Emmett.
— Não se atreva dar a mesma sementinha para mais ninguém. — E voltou a rir.
Emmett finalmente riu com ela.
— Você é a única em muito tempo.
Ela parou de rir, pôs a mão na dele, sabendo o que significava.
— Eu te amo — disse.
— Olha, mamãe — Olívia chamou aos sussurros, mostrando a borboleta a pousar em seu dedo polegar.
Rosalie beijou Emmett de forma breve. Levantou-se e foi ao encontro da criança.
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