Um Ano

Capítulo 1


Elisabeta Benedito Williamson colocou um ponto final na frase. Um ponto final que marcava também o fim de seu livro. Mal podia crer que, um ano após o lançamento de seu primeiro livro estaria prestes a finalizar o terceiro. Este era sobre as mulheres de São Paulo. As operárias das fábricas, as modistas, as vendedoras, cozinheiras, mães e donas de casa. Suspirou satisfeita consigo mesma.

Seus pés doíam. Não demoraria muito para o seu segundo filho nascer e Thomas mal podia conter a alegria por ter um irmão ou irmã. Elisabeta não conseguia opinar sobre o sexo do bebê, mas Darcy... bem, Darcy achava que não haveria como Elisabeta não ser presenteada com uma menina para chamar de sua. E por isso Elisabeta volta e meia pegava-se imaginando uma pequena garota com cabelos ao vento.

Se fosse sincera, desejava demais uma menina. Queria ensinar sua filha a ser exatamente como ela: dona de si, batalhadora, disposta a escrever seu próprio destino. Não que fosse ensinar qualquer coisa diferente à Thomas. Seu filho já era um pequeno cavalheiro, e após um ano no Vale do Café, era também um dos meninos mais levados da família Benedito.

Elisabeta ficava feliz por isso. Thomas era uma criança retraída e solitária na Inglaterra. Focado sempre nas atividades dos adultos, com dificuldade de se relacionar com outras crianças. Darcy dizia ser normal, que era apenas uma característica que havia puxado do pai. Mas Elisabeta sentia que seu filho poderia ser mais feliz. E o Vale do Café trouxe exatamente a felicidade esperada.

Thomas agora corria descalço atrás dos primos, sumia por horas apenas para aparecer repleto de novas aventuras. E nada trazia um sorriso maior à seu rosto do que ver seu pequeno arteiro com um sorriso – agora banguela – no rosto. Uma batida na porta de seu escritório interrompeu seus pensamentos. Elisabeta encarou a porta ainda fechada, que segundos depois se abriu revelando seu marido.

— Incomodo? – Darcy perguntou, com um sorriso.

— Você nunca incomoda, Darcy Williamson. – Elisabeta sorriu. – Terminei o livro.

— O que? – Darcy perguntou, surpreso. – Já? Eu achei que você não estava nem na metade...

Elisabeta sorriu, travessa. Havia dito à Darcy e à todos de sua família que estava com dificuldades para escrever o livro e que certamente só terminaria após o bebê nascer. Era a forma de mantê-los despreocupados, já que se soubessem que estava em vias de finalizá-lo, todos os familiares tentariam convencê-la de que era esforço demais para o fim da gestação.

— E você me deixaria em paz se soubesse que eu estava terminando? – Elisabeta levantou-se, indo em direção ao marido.

— Elisabeta, você deveria descansar. Não vai levar muito tempo para nossa filha nascer. – ele respondeu, preocupado, encarando seu ventre.

— Eu estou ótima. – Elisabeta sorriu, passando os braços ao redor do pescoço de Darcy. – E não sabemos se será uma menina.

— Eu sei que será. Uma linda menina, exatamente como você. – Darcy deu um beijo de leve em seus lábios.

— Acho que prefiro que nosso bebê tenha os seus olhos. – ela respondeu.

— Thomas já tem os meus olhos, e mal posso acreditar no quanto ele cresceu no último ano.

— São os ares do Vale do Café.

— Essa foi a melhor decisão que você podia tomar, Elisa. – Darcy sorriu, a puxando para um abraço. – Não há nada melhor do que criar Thomas aqui, em meio à nossa família, livre pelo campo.

— Quem diria que aquele homem turrão que eu conheci na alfaiataria diria isso? – Elisabeta riu. – Você mal podia esperar para voltar para a cidade.

— Eu confesso que quando cheguei ao Vale do Café eu imaginei que seria temporário. – Darcy suspirou. – Mas quando a vi pela primeira vez, Elisabeta Benedito...

— Williamson. – Elisabeta o interrompeu. – Benedito Williamson .

— Oh, sim. Verdade. Quando a vi pela primeira vez, Elisabeta Benedito Williamson, eu soube que meu lar seria onde você estivesse.

— Mesmo enquanto tentava arrancar aquela calça das minhas mãos e insultava minha família? – disse, em tom de brincadeira.

— Eu nunca insultei sua família. Eu apenas nunca havia conhecido pessoas tão genuinamente especiais. Era uma novidade que pessoas pudessem ter corações tão bons e nenhum interesse em posses.

— Em sua defesa, a dona Ofélia sempre quis maridos com posses para as filhas. – Elisabeta disse, fazendo Darcy rir.

— Mas teria aceitado qualquer um que trouxesse sorrisos para suas filhas. – Darcy a beijou novamente.

— Você não respondeu a minha pergunta, Darcy. – Elisa cutucou o ombro do marido.

— Pois bem, soube desde que disputamos aquela calça, desde que a vi naqueles trajes no baile. – o sorriso dele se alargou. – Soube no nosso primeiro beijo e quando a vi apenas de roupa de baixo naquele morro.

— E o que mais? – ela gracejou.

— Soube quando você recusou o meu pedido de casamento e quando decidiu morar num quarto de cortiço. E quando enfrentou o meu pai. E soube especialmente quando você não teve medo de demonstrar seus desejos. – Darcy sorriu malicioso. – Que felizmente me envolviam.

— Ainda envolvem. – Elisabeta piscou para ele.

— E por fim, Elisabeta Benedito Williamson, soube quando me pediu em casamento e quando nos casamos naquela igreja vazia, em meio a um temporal. E finalmente me senti em casa quando a vi pela primeira vez com nosso filho nos braços.

— Você sabe como agradar sua esposa, Darcy Williamson. – Elisabeta sorriu abertamente.

Ela se aproximou o suficiente para juntar seus lábios aos dele. Estavam sendo mais cuidadosos com o fim da gestação, mas Elisabeta mal podia se conter quando Darcy a beijava daquela forma. Mal podia crer em sua sorte por ter um marido como ele, tão apaixonado e apaixonante.

Mas Elisabeta estranhou quando aquele beijo despertou dor. Estava acostumada a ter muitas sensações com seu marido, mas dor não era uma delas. E então a dor se intensificou e uma pressão em seu ventre fez com que se afastasse subitamente de Darcy. Ele a encarou com surpresa, mas antes que pudesse perguntar o que acontecia Elisabeta deixou escapar um gemido de dor, levando as duas mãos à barriga.

— Meu amor, eu acho que você está prestes a se sentir em casa de novo. – Elisabeta tentou sorrir, quando um novo choque passou por seu corpo.

— Você está falando sério? – Darcy perguntou, embasbacado.

— É claro que eu estou, Darcy. Peça para alguém chamar o médico. – Elisabeta contraiu o corpo.

E todo o resto foi um borrão. Houve dor, correria e lágrimas. E então, tudo se transformou em luz quando Elisabeta viu o rosto de seu bebê. Era uma criança pequena, vermelha e que chorava a plenos pulmões. Elisabeta sorriu, e encarou Darcy, que tinha um sorriso de gato no rosto.

— Eu falei que seria a sua menina. – ele alargou o sorriso. – O mundo precisa de mais Elisabetas...

Elisabeta sorriu, encarando sua filha. Era mais uma Benedito no mundo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.